Vinte Um

Euroligado: após jogaço, estupidez e morte

Giancarlo Giampietro

Torcida do Galatasaray apoia muito seu clube, mas também aponta para os rivais

Torcida do Galatasaray apoia muito seu clube, mas também aponta para os rivais

O fenômeno da estupidez tem alcance global.

Depois de uma partida histórica em Istambul contra o Galatasaray, um torcedor do Estrela Vermelha acabou morto por uma facada em confronto dos torcedores/paramilitares de sempre nos arredores do ginásio Abdi Ipekçi. Marko Ivkovic tinha 25 anos e foi apunhalado no coração. Ele acompanhava um contingente de centenas de hooligans do clube sérvio – estima-se que 400 viajaram até a Turquia. Trata-se, sabidamente, de um time encrenqueiro, com muitas histórias sangrentas para contar. Foram recebidos dentro da arena por cartazes de mal gosto, bandeiras da Armênia e gritos de ''Kosovo'' por parte dos anfitriões. Obviamente que nada de positivo poderia sair de uma situação dessas.

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Se o episódio já não cumprisse com toda a cota de tragédia e demência que uma semana esportiva pode pedir, o técnico Ergin Ataman, da seleção nacional turca e do tradicional clube, foi no mínimo imprudente ao declarar em entrevista ainda no ginásio que os seguidores adversários eram todos verdadeiros terroristas – sem, no entanto, dirigir nenhuma palavra contra a torcida de seu próprio clube. Ele soltou a frase antes de tomar nota a respeito da morte do turista e se viu obrigado a pedir desculpas públicas horas depois, sem se livrar de um incidente diplomático. As desculpas que não foram aceitas pelo primeiro ministro sérvio Aleksandar Vucic, que declarou que Ataman não seria mais uma figura bem-vinda nas fronteiras de seu país.

Algumas imagens da confusão:

Foi uma grande rodada da Euroliga, que acaba perdendo em repercussão para esse tipo de incidente que teima em acontecer. Barcelona, CSKA Moscou e Olympiakos seguem invictos e já estão garantidos na fase de Top 16. Restam três vagas, então.

O jogo da rodada: Galatasaray 110 x 103 Estrela Vermelha
Pode corrigir aí: foi o jogo da temporada até o momento. E, a partir daqui, vale o esforço para nos concentrar apenas no que aconteceu em quadra, em partida que tive a sorte de transmitir pelo Sports+, ao lado do Marcelo do Ó. Dupla prorrogação, uma cesta de três pontos quase do meio do quadra para forçar o primeiro tempo extra, um time de veteranos pressionados de um lado, uma das equipes mais jovens da competição do outro, disposta a aprontar.

O contexto do time turco era preocupante. Perderam para o Fenerbahçe no clássico pela liga nacional e, durante a semana, ainda tiveram de lidar com uma briga em treinamento envolvendo Carlos Arroyo e o gigantesco Nathan Jawai. Já o Estrela vinha de sua primeira vitória fora de casa, sobre o Laboral Kutxa, e em grande estilo. Na Liga Adriática, o clube, que tem no americano Marcus Williams, de 29 anos, seu atleta mais velho, estava invicto, fazendo grande campanha, com oito vitórias.

Num terceiro período avassalador, com Williams bastante inspirado na condução da equipe, o Estrela Vermelha venceu por 23 a 9 e chegou a abrir uma liderança de 11 pontos. Os donos da casa, porém, tiveram sangue frio para reagir. Foi um desfecho emocionante, no qual o ala-pivô Zoran Erceg, grande nome da partida, acertou a seguinte bola para empatar a partida contra seus compatriotas:

O Estrela Vermelha não se desesperou, manteve a compostura e contou com boas jogadas do ala Nikola Kalinic e lances livres do gigante Boban Marjanovic para se manter com chances. Os visitantes venciam por 96 a 94 com Marjanovic na linha. Arroyo igualou o marcador, na mesma moeda. Williams buscou uma infiltração no último ataque, mas não conseguiu cavar uma falta e nem completar a bandeja, fazendo um turnover.  Na segunda prorrogação, os veteranos do Galatasaray mostraram que ainda têm muita perna para render. O pivô Keren Gonlum, que completa 37 anos neste sábado, foi um guerreiro nos rebotes. Mas quem cresceu foi Arroyo, que adora esse tipo de confusão, como bem sabemos. Ele converteu três bolas de longa distância para levar sua torcida ao delírio e afastar de vez a garotada sérvia da vitória.

Alguns números desse jogo épico: Erceg terminou com 32 pontos em 41 minutos, sete rebotes, duas assistências, dois roubos de bola e 100% nos lances livres com 14 batidos, para alcançar um índice de eficiência de 41, levando o prêmio de MVP da jornada; aos 35 anos, Arroyo jogou todos os 50 minutos da partida, anotando 26 pontos, 18 deles em chutes de fora (mas com um detalhe: ele arriscou nada menos que 17 tiros de três); Williams estabeleceu um recorde de 17 assistências na competição; Marjanovic foi mais uma vez uma força irresistível no garrafão, com 23 pontos e 17 rebotes (oito ofensivos) e índice de eficiência de 39; o talentoso Kalinic marcou 21 pontos  em 25 minutos e surpreendeu com 3/5 nos arremessos de fora; Luka Mitrovic, de apenas 21 anos, alcançou um recorde pessoal: 30 pontos, em 33 minutos, lidando com problemas de faltas durante todo o segundo tempo.

Carlos Arroyo, quem dirai, viron um Ironman aos 35 anos

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Os brasileiros
Marcelinho Huertas fez sua melhor partida na competição até aqui, dando o tom na tranquilíssima vitória do Barcelona sobre o Bayern de Munique na quinta-feira, na Baviera. O clube alemão jogou com uma intensidade deprimente, sem reação, vendo o time catalão abrir larga vantagem já no segundo período e caminhar para um triunfo por 99 a 77. O armador somou 15 pontos, deu 6 assistências, pegou 4 rebotes e matou 6 de seus 7 arremessos, com ótimo aproveitamento dentro do perímetro (5/6 – para alguém que havia acertado apenas 5/25 no primeiro turno). Huertas esteve agressivo desde o princípio, batendo com facilidade os defensores adversários, abrindo uma porteira para a boiada. O Barça acertou 55,3% de dois pontos, 46,2% de dois e bateu 24 lances livres. Um passeio do líder.

JP Batista foi fundamental numa reação do Limoges contra o Maccabi Tel Aviv, mas, no finalzinho, Jeremy Pargo resolveu jogar para dar aos atuais campeões o triunfo fora de casa: 79 a 73. Com o pernambucano em quadra, o time francês tirou no quarto período uma vantagem de até 11 pontos dos israelenses, chegando a assumir a liderança a quatro minutos do fim. João Paulo não pontuou muito nesse quarto, mas teve papel tático relevante com sua presença física no garrafão, atraindo os defensores e limpando quadra para rebotes, chutes e infiltrações de seus companheiros. O pivô marcou 9 pontos, cinco deles em lances livres, e apanhou três rebotes em 19 minutos. Para diminuir seu impacto, o técnico Guy Goodes se viu obrigado a sacar o ágil Alex Tyus para por em quadra o massa bruta Sofo Schortsanitis. Um movimento irônico, já que, em geral, é o pivô grego que força o ajuste por parte dos oponentes.

De Colo, recomeçando na Rússia

De Colo, recomeçando na Rússia

Lembra dele? Nando De Colo (CSKA Moscou)
O ala-armador francês, ex-Spurs e Raptors, mostrou que está recuperado de uma fratura na mão que o tirou de ação da última Copa do Mundo ao liderar o sexto triunfo seguido para o clube russo, agora arrasando o Alba Berlin em casa, por 95 a 68. De Colo teve mais oportunidades com a bola devido ao desfalque de última hora de Milos Teodosic e aproveitou ao máximo, com 22 pontos em 25 minutos, acertando todos os seus 4 chutes de três pontos e 8/12 no geral.

Em números
88 – O saldo de pontos do CSKA Moscou em seis partidas, com média de 14,6 por confronto. Sob comando de Dimtris Itoudis, o clube russo está voando nessa Euroliga, sem sentir a menor carência de Ettore Messina. Esse é o maior saldo da competição até o momento, acima dos 69 do Barcelona e dos 60 do Real Madrid. Lembrando: em chaves diferentes, eles não tiveram a mesma tabela.

31 – Reconhecido no mercado europeu como um armador que mais serve aos outros do que define as coisas por conta própria, Thomas Heurtel liderou o ataque do Laboral Kutxa com 31 pontos, mas sua equipe perdeu para o Neptunas Klaipeda, fora de casa, por apertadíssimo 80 a 79, ficando numa situação difícil pelo Grupo D. Essa foi a terceira vitória do estreante lituano em seu ginásio, o que, por ora, vai lhe garantindo um lugar no Top 16. Heurtel acertou 80% de seus arremessos, e com um número bastante elevado: impressionantes 8/10. Simas Galdikas fez a cesta da vitória a 13 segundos do fim, depois de seu time ter perdido uma vantagem de até 18 pontos no terceiro quarto.

24,17 – É o índice de eficiência de Marjanovic nesta temporada, sendo disparado o jogador com a produção mais qualificada até aqui. Seu concorrente mais próximo é o armador Taylor Rochestie, do Nizhny Novgorod, que foi o cestinha da vitória do time russo, outro estreante, sobre o Dínamo Sassari por 89 a 82, com 29 pontos. De 29 anos, Rochestie é desses americanos que jogam na Europa já há um bom tempo. Formado em Washington State, disputa sua terceira Euroliga, pelo terceiro clube diferente.

13 – O garoto croata Mario Hezonja recebeu tempo de quadra inesperado na partida contra o Bayern: 13 minutos, escalado até mesmo como titular. O ala de 19 anos só havia jogado 18 minutos em toda a temporada, com duas participações no primeiro turno. Coincidência ou não, o movimento do técnico Xavier Pascual aconteceu depois de o superagente Arn Tellem, um dos representantes de Hezonja, ter feito uma visitinha a Barcelona durante a semana. O croata somou 3 pontos, 3 assistências, 3 rebotes, 1 toco, 1 roubada de bola e 1 turnover.

3 – O Grupo D, no momento, é o mais equilibrado. Se o Olympiakos já está classificado para o Top 16, as outras três vagas estão em aberto. No momento, são três clubes empatados com… 3 vitórias e 3 derrotas: Estrela Veremelha, em segundo com o melhor saldo – e de longe –, Galatasaray, em terceiro, e Neptunas, em quarto. O Laboral aparece em quinto, ainda sonhando, com 2 vitórias e 4 derrotas.

Tuitando

Ataman tentando se justificar

É mais provável que os clubes terminem com as segunda e terceira posições do grupo, mas vai que…

Sinan Guler, um dos ídolos do basquete turco e um verdadeiro guerreiro. Mas só na acepção esportiva do termo.

 Problema generalizado, nas palavras de um site atualizado por gregos.

Para melhorar um pouco o astral, as 10 jogadas da semana.