Seleção volta a vencer o Uruguai. O que dá para tirar do 3º amistoso?
Giancarlo Giampietro
Algumas notas sobre a seleção brasileira depois da terceira vitória em jogos preparatórios para a Copa América, que começa no dia 30 de agosto, em Caracas. Nesta quarta-feira, a equipe voltou a vencer o Uruguai, em São Carlos, a terra do Nenê, por 83 a 69. Vamos lá:
* * *
Do jogo de sábado (triunfo por 92 a 71), mudou o quê?
No selecionado brasileiro, saíram Rafael Mineiro, Raulzinho, Cristiano Felício e Leo Meindl e entraram Lucas Mariano, Scott Machado, Caio Torres e JP Batista. Os vizinhos do Sul vieram reforçados. Esteban Batista, Leandro Garcia Morales e Nicolás Mazzarino, três figuras fundamentais nos planos celestes, aproveitaram a viagem para conhecer o interior paulista e bater uma bolinha. Destes, Mazzarino foi quem menos jogou – é o mais velho também e estava bastante enferrujado nos poucos minutos que teve de ação.
Em termos de padrão estratégico, tático, não houve muita alteração – e nem dá para esperar muita coisa além disso. A seleção marcou muito bem novamente, cobrindo bem as tentativas de jogo de dupla dos uruguaios, desestabilizando um cestinha como Garcia Morales em diversos momentos. Por outro lado, seria necessário checar também o quanto esses atletas que não participaram do Super 4 treinaram com os demais companheiros. Alguns erros cometidos explicitaram uma falta de sintonia entre eles. O quanto disso tem a ver com a disciplina defensiva dos rapazes de Magnano ou o quanto é puro desentrosamento nós só vamos ver mais para a frente.
* * *
A CBB improvisou, mas conseguiu disponibilizar as estatísticas do jogo antes do fechamento deste post.
A princípio, escreveria aqui ter uma impressão sobre um volume altíssimo sobre os chutes de média e longa distância da seleção em situações de meia quadra, com muita eficiência, diga-se. (No fim, o scout mostrou 23 arremessos de três no total, com excepcional aproveitamento de 52%. Em arremessos como um todo, o rendimento foi de 53%, também elevado.)
Mas foram poucos ataques desacelerados que terminaram com uma bandeja ou enterrada.
A ofensiva tem girado muito em torno das ações drive-and-kick, seja numa investida de um-contra-um ou num pick-and-roll em que o pivô cortando para a cesta não é acionado. Algo de certa forma compreensível com armadores de drible fácil como Huertas e Larry, por exemplo. Mas, na hora da competição para valer, será que os brasileiros vão ter tanta liberdade assim para matar esses chutes? No primeiro período, Lucas Mariano acertou três consecutivos, de frente para a tabela (mais sobre isso um pouco abaixo). Num torneio em que todos estudam todos, essa bola obviamente passaria a ser marcada. E aí como faz?
O recomendável seria desde já, nos amistosos, buscar mais variações, rodar de um lado para o outro da quadra, apostando também em maior movimentação fora de bola. Maior concentração de passes para pivôs que não se chamam Rafael Hettsheimeir também valem. Ok, são apenas os primeiros jogos, Magnano vem rodando bastante sua equipe, e tal. Mas tem de se tomar cuidado para não se apoiar demais nesse velho vício dos três pontos e não saber o que fazer lá na frente se a defesa apertar.
* * *
É o pega-pra-capar. Que deixa mesmo um treinador experiente como Magnano ''confuso'', como ele disse ao SporTV numa rara entrevista pós-jogo. O momento é de ganhar conjunto, identidade coletiva em quadra e, ao mesmo tempo, fazer a peneira para definir os 12 convocados da Copa América. Do que vimos até aqui e, em alguns casos, do já sabíamos há tempos, Huertas, Larry, Alex, Benite (sim), Marquinhos (*se o joelho permitir), Giovannoni e Hettsheimeir já estão lá. Restariam cinco vagas para serem preenchidas, com oito atletas na briga.
* * *
Com suas surpreendentes – e meio impensáveis – bolas de três pontos, o garoto Lucas Mariano (4/5 nos tiros de longe, segundo minhas contas não-oficiais) se colocou de modo enfático nessa discussão. O treinador obviamente ficou impressionado com o pivô de Franca, de apenas 19 anos. Agora, não é só um jogo que pode definir uma convocação.
Essa propensão ao arremesso de longa distância, na verdade, já vinha sendo sinalizada desde a Universíade, realizada em julho, na Rússia. Com a diferença de que lá os resultados foram calamitosos: no geral, com aproveitamento de apenas uma cesta em 14 tentativas. No NBB, em toda a sua carreira, ele nunca fez sequer uma cesta de fora.
Então… Será que a mão está tão certeira assim nos treinamentos? E de uma hora para outra? Teve a ver com seus treinamentos personalizados em Los Angeles – ao lado de Raul, Bebê e Augusto no período pré-Draft – ou foi alguma ideia da comissão técnica de Magnano. Para o SporTV, Lucas deu a entender que é coisa de Magnano, de fazê-lo jogar mais aberto, assim como ocorreu com Mineiro no Super 4 argentino. ''Aqui na seleção estou numa posição diferente'', disse o francano.
* * *
E lá estava o Scott Machado de verde e amarelo. Mais um calouro na seleção principal, o nova-iorquino jogou por 12 minutos e demonstrou uma ansiedade normal. Penúltimo a se apresentar, com menos treinos com os novos companheiros, assimilando as (incessantes) orientações de Magnano, o jogador, que ainda tenta garantir seu espaço na NBA, cometeu quatro desperdícios de bola e anotou dois pontos. Não foi a melhor estreia, claro, mas seria absurdo concluir qualquer coisa tão cedo.
* * *
O Uruguai não é o time com o garrafão mais forte, muito menos atlético que vamos enfrentar em Caracas. De qualquer forma, pudemos ver hoje o estrago que um Esteban Batista (12 rebotes, cinco deles ofensivos, mais da metade do total brasileiro – 23) sem ritmo já pode causar, atacando a tábua quando o Brasil está jogando com um trio como Rafael-Larry-Benite no perímetro. Qualquer quebra defensiva vai gerar um desequilíbrio e uma consequente uma rotação de emergência em quadra. Resulta dessas trocas que um dos ''baixinhos'' pode sobrar com um grandão lá dentro. E, aí, em muitas ocasiões não vai importar o quanto de fundamento tem esse atleta. Dependendo do adversário, por mais que se mantenha um posicionamento adequado para bloqueio de rebote ou de contestação ao arremesso, a diferença de altura pode ser tamanha que saem, mesmo, os dois pontos, uma falta, ou uma nova posse de bola para o oponente. É de se monitorar se isso vai se repetir nas próximas partidas amistosas. Para ver como esse tipo de situação vai se desenvolver e se o eventual retorno de Marquinhos – não necessariamente o jogador mais vigoroso do país, mas com altura suficiente para atrapalhar mais – pode ajudar. Em São Carlos, os adversários ganharam a disputa nos rebotes por 25 a 23.
* * *
Ainda sobre os uruguaios, pensando na Copa América, restando pouco mais de 20 dias para a competição, fica a dúvida se poderão contar com os veteranos Martin Osimani e Mauricio Aguiar em sua equipe. Os dois estão afastados por ora, devido a problemas físicos – Osimani, inclusive, nem teria se apresentado, fazendo tratamento em Buenos Aires. Devido a sua experiência, controle de bola e poderio defensivo, o armador em especial faz/faria/pode fazer toda a diferença nesta equipe, pensando numa disputa por vaga no Mundial. Estivesse o barbudo em quadra, a dinâmica dos dois amistosos seria bem diferente para a seleção brasileira. Seria uma boa chance, bem mais interessante para checar o quanto a marcação pressionada exigida por Magnano poderia incomodar um jogador desta categoria.
* * *
Clique aqui para ler o comentário sobre a primeira vitória contra o Uruguai e aqui para o comentário do segundo amistoso, contra o México.