Splitter se entrosa com Duncan, cresce em quadra e vira peça-chave pelo Spurs
Giancarlo Giampietro
Por Rafel Uehara*
O Vinte Um já cobriu exaustivamente como o San Antonio Spurs continua um concorrente legítimo ao título, mesmo que sem badalação. Tim Duncan permanece um dos jogadores mais impactantes da liga aos 36 anos de idade, Tony Parker lidera um rolo compressor ofensivo com sua capacidade de criar no pick-and-roll, e Greg Popovich controla os minutos de seus veteranos como um mago. Muitos pensam, incluindo este que os escreve, que o time da temporada passada (que em um momento venceu 20 jogos seguidos a caminho das finais da conferencia oeste) deveria ter ganhado o título, não fosse o crescimento do jovem e superatlético Thunder.
O argumento pode ser feito que o time deste ano seja na verdade ainda melhor que o da temporada passada, devido a sua melhor capacidade defensiva. O Spur tem permitido a quarta menor taxa de pontos por 100 posses do adversário. Em 2011-2012, ficaram em 11º nesse departamento. E o brasileiro Tiago Splitter, titular em 17 dos 39 jogos da equipe em 2012-2013, é um dos motivos pra isso. Depois de um primeiro ano em que mal viu a quadra e um segundo ano de avanço, mas ainda sem total confiança de Popovich, Splitter é agora peça-chave em San Antonio.
O desenvolvimento de Splitter para esta temporada era visto como crucial para os Spurs, devido ao panorama da Conferência Oeste. O Thunder de Kevin Durant e Russell Westbrook ainda era previsto como o time a ser batido (mesmo após trocar James Harden), sendo um caso especial, graças ao porte físico de suas estrelas. De resto, todos os demais concorrentes ou semi-concorrentes à vaga nas finais apresentam torres gêmeas no garrafão: o Lakers com Pau Gasol e Dwight Howard, o Grizzlies com Zach Randolph e Marc Gasol e o Clippers com Blake Griffin e DeAndre Jordan. Para ir à guerra contra estes, San Antonio necessitava que o par Duncan-Splitter desenvolvesse melhor sincronia e, para isso, que Splitter fosse mais confiável.
Em maior tempo de quadra na temporada passada, ficou evidente que Splitter tem talento pra jogar na NBA. Seu entrosamento com Manu Ginóbili e Stephen Jackson nos pick-and-rolls o permitiu várias oportunidades para contribuir no ataque. Mas, em vários momentos, Splitter levou Popovich à loucura com erros de atenção na defesa e falta de firmeza ao finalizar contra contato ao redor da cesta. Isso agora é coisa do passado, e Splitter tem sido um dos jogadores mais consistentes, produtivos e efetivos em toda a liga.
Splitter tem o sétimo maior PER entre alas-pivôs, com 19,87 (na merdição desenvolvida pelo hoje vice-presidente do Memphis Grizzlies e ex-analista da ESPN, John Hollinger, que avalia a produção estatística dos jogadores por minuto). De acordo com o portal mysynergysports.com, Splitter é o segundo maior anotador por posse em pick-and-rolls, marcado em média 1,39 ponto a cada jogada. Também está entre os 25 melhores defensores em post-ups, jogadas em que se recebe a bola de costas para a cesta próximo à linha de fundo, e entre os 40 melhores defendendo o pick-and-roll. E, de acordo com NBA.com/advancedstats/, com Splitter em quadra, o Spurs permite menos pontos que o Grizzlies, segunda melhor rankeada defesa na liga, e marca em média 9,5 a mais que o adversário em comparação a 6,3 com ele de fora. Esses dois números, em especial, são fantásticos.
Tem mais: de acordo com 82games.com, Splitter e Duncan estiveram em quadra 222 minutos juntos até o momento e, nesse tempo, San Antonio marcou um total de 95 pontos a mais que o adversário.
A maior preocupação com relação a formações envolvendo Duncan e Splitter juntos (motivo pela qual Popovich as usou em apenas 48 minutos na temporada regular passada) era o espaçamento do ataque. Matt Bonner e Boris Diaw proporcionam melhor espaçamento devido as suas habilidades de acertar tiros de três pontos com consistência.
Mas, segundo Zach Lowe, do site Grantland, a combinação tem funcionado melhor esse ano devido a maior variação de armações, inteligente visão de quadra e passes de ambos os pivôs, e a crescente química entre eles. Eles constantemente se posicionam em lados opostos de quadra, às vezes armam corta-luzes um para o outro, e a comissão técnica é atenta em sempre orientar um para que faça algo que chame a atenção da defesa quando o outro arma um corta-luz para Parker.
O brasileiro deve ganhar alguma consideração para o prêmio de quem mais evoluiu na temporada, o MIP (“Most Improved Player”), mas será difícil que ele ganhe, considerando que o Spurs está sempre fora do radar e que estrangeiros que não são estrelas já recebem menor atenção pra começo de conversa – aliás, mesmo se o caso não fosse esse, o montenegrino Nikola Pekovic tem tido um maior impacto em Minnesota.
Isso não muda o fato, porém, de que Splitter tem tido em temporada fenomenal e se desenvolveu em parte essencial para as aspirações do time. Agora não só por seu potencial, mas, mais importante, por sua produção.
*Editor do blog “The Basketball Post” e convidado do Vinte Um. Você pode encontrá-lo no Twitter aqui: @rafael_uehara.