Vinte Um

Arquivo : Nocioni

Nas quartas de final, Argentina e o carma. E dava para ser diferente?
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Giancarlo Giampietro

Deu Brasil x Argentina nas quartas de final de Londres-2012. Mesmo.

E… Dava para ser de outro jeito?

Se é para conseguir sua redenção olímpica, para tentar redimir uma geração esculhambada durante toda a década passada, talvez todo o carma do mundo exigisse que tivéssemos esse clássico sul-americano pela frente, como vamos relembrar agora.

Não curto muito escrever em primeira pessoa: nós (nós quem, cara pálida?) contra eles. Mas vocês deem um passe-livre nesta ocasião, por favor:

Varejão x Oberto

O jovem Anderson Varejão disputa rebote com Fabricio Oberto – Rogério Klafke também estava lá

– Eles nos derrotaram no Mundial de 2002, em Indianápolis, onde seriam vice-campeões. A seleção ainda era treinada por Hélio Rubens, havia dois irmãos Varejão no garrafão, Tiago Splitter estreava com 17 anos, Nenê já estava fora, e dividiam a armação Helinho e Demétrius, hoje assistente do técnico, então deles, Rubén Magnano. O primeiro tempo terminou empatado em 29, mas os caras abriram boa vantagem no terceiro quarto e triunfaram por 78 a 67.

– Eles repetiram a dose no Pré-Olímpico de 2003. Um ano depois, se consagrariam como campeões olímpicos em Atenas. Em San Juan, Porto Rico, ajudaram a empurrar ladeira abaixo a seleção, agora com Lula Ferreira e renovada. Os ainda garotos brasileiros sofreriam mais três reveses – até para o México de Nájera! – e seriam eliminados. Aquele foi um jogo feio, arrastado e equilibrado do início ao fim, com 35 (!!!) desperdícios de posse de bola.

– Avançamos no tempo consideravelmente agora, ignorando a esvaziada Copa América de 2005, e chegamos a Las Vegas, 2007. Só jogatina e ressaca: nós sem Anderson Varejão, mas com Splitter já bem crescido na Europa e Nenê retornando após quatro anos, e eles sem: 1) Ginóbili, 2) Nocioni, 3) Oberto e 4) Herrmann, mas foram duas derrotas: uma pela segunda fase e a outra, valendo vaga olímpica, pelas semifinais. Este blogueiro aqui estava lá, ganhou muitos pontos na escala de animosidade com boa parte do atual grupo, num ambiente tumultuado e extremamente tenso. Luis Scola jogou demais, Delfino acertava tudo de fora, Kammerichs tinha o bigodão mais legal do basquete, e foram duas pauladas bem doloridas que custaram a demissão de Lula. What happens in Vegas, stays in Vegas, baby!

Marcelinho x Delfino

Em Las Vegas-2007, Marcelinho viu a Argentina de Delfino vencer mais uma vez

(- Agora estamos em 2009, com o tiozão Moncho Monsalve no comando, bem piradão, e voltamos a San Juan, pela Copa América, para enfim derrotar uma Argentina que tenha escalado o tal do Scola. Foi pela primeira fase, não tinha vaga em jogo, nem nada. Eles tinham apenas o ala-pivô número 4 e Prigioni de suas principais peças, enquanto jogamos com Varejão, Splitter, Huertas, Leandrinho, Alex e, sim, Duda! Injusto? O trauma era tão grande, que não importava.)

– Em 2010, Mundial de Istambul, ainda ouvindo instruções em espanhol, mas com um sotaque argentino: Magnano foi contratado para o lugar de Moncho. A seleção apresenta uma defesa combativa de um modo nunca visto nesta geração, quase derrota os Estados Unidos, mas é eliminada pelos caras nas oitavas de final. Foram 37 pontos de Scola, santamãe, com um quarto período, infelizmente, inesquecível. Para completar, Delfino e Jasen mataram juntos 21 pontos de longa distância. Nocaute.

–  Que tal lavar, um pouco, da alma, então, derrotando nossos arquirrivais logo na casa deles, em Mar del Plata-2011? Foi o que a seleção de um Marcelinho Huertas dominante na armação e de um Hettsheimeir surpreendente fez, não importando que os ícones da Geração Dourada estivessem reunidos por ali. Um triunfo que encaminhou nossa equipe para a primeira vaga olímpica desde Atlanta-1996. Já classificados, os dois times se enfrentaram, então, na final: de moicano, e ressaca das boas, a trupe perdeu por cinco pontos.

Não dá para dizer que é um tira-teima, né? Não depois de tantas derrotas assim. Apenas valeria se nos limitássemos aos confrontos do ano passado para cá, incluindo os dois (nada) amistosos deste ano, com acusação de roubalheira em Buenos Aires, mãos no vácuo na hora de cumprimentar por lá, empurra-empurra e dedos em riste em Foz do Iguaçu. Foram duas vitórias para cada lado.

Neste confronto, não precisa nem de análise de vídeo: nossos pivôs já estão cansados de enfrentar Scola. Ginóbili sabe muito bem como Alex é um pé na sacola na marcação. E por aí vai. São personagens que se enfrentam há dez anos – Marcelinho Machado, por exemplo, estava em todos os jogos listados acima.

Desta vez os times se enfrentam com o que têm de melhor, ou quase. Prigioni ainda não se recuperou de cólicas renais. Nenê sofre com dores crônicas no pé e, segundo Magnano, é dúvida.  Quem perde mais nesta? O Brasil perde um ótimo defensor contra Scola. A Argentina fica sem seu jogador mais cerebral.

Nas próximas horas, esses protagonistas todos podem tentar minimizar qualquer noção de rancor e tal. Splitter e Scola são muito amigos, por exemplo. O catarinense se dá bem pacas com Ginóbili em San Antonio. Magnano tem o respeito de todos do outro lado. Quando a bola subir, porém, lembre que há fortes recordações em jogo.


Nocioni provoca e coloca em dúvida favoritismo dos EUA
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Giancarlo Giampietro

Depois de a Argentina fazer um jogo duro e um tanto conturbado contra os Estados Unidos neste domingo, perdendo por apenas seis pontos (86 a 80), o ala Andrés Nocioni fez questão de colocar mais lenha no forno para provocar os norte-americanos. Tudo de acordo com sua especialidade, como nós conhecemos muito bem.

“Os Estados Unidos mostram que fisicamente são muito superiores a qualquer equipe Fiba, mas, quando alguém joga de igual para igual, eles começam a se fazer muitas perguntas. De modo que são totalmente mortais e vão ter de trabalhar muito duro para conseguir o ouro e não estou tão certo de que o consigam”, afirmou o ala, de quem, no fim, os norte-americanos também se recordam. “Demos um susto importante neles.”

Nocioni em ação contra os Estados UnidosEm seu auge físico, o Chapu peitava, trombava e batia sem dó na NBA, tendo virado um dos jogadores favoritos dos torcedores de Chicago. Também agradava aos seus treinadores pela dedicação em cada treino. Não aliviava para ninguém.

É um veterano guerreiro e não perdeu a chance de atiçar alguma fagulha contra um rival que vão enfrentar na primeira fase em Londres-2012. Quanto mais tumulto, neste caso, melhor para Nocioni e Argentina.

Neste domingo, em Barcelona, após uma falta antidesportiva de Chris Paul em Facundo Campazzo, Luis Scola e Kevin Durant se estranharam por um bom tempo, LeBron James entrou na parada, Ginóbili foi junto, e, a partir dali, os campeões olímpicos de 2004 só subiram enquanto os atuais campeões patinaram. Dessa vez foi Kevin Durant a acertar algumas bolas de três a mais – das sete que converteu no jogo, glup – nos minutos finais para conter a reação.

Os EUA haviam passeado em quadra no primeiro quarto, e a Argentina, preocupante, parecia pronta para tomar mais uma surra daquelas, assim como no confronto com a Espanha. “Viemos para cá preparados para jogar uma grande partida, a sair melhor para a quadra, mas não foi algo que obviamente não aconteceu. Contudo, conseguimos nos recuperar num jogo que parecida perdido já no primeiro quarto. Fizemos o que tínhamos de fazer: jogar da melhor maneira que podíamos, jogar duro e de modo físico e tratar de lutar”, afirmou o ala.

Nocioni, então, respirou fundo antes de finalizar dizendo que a Argentina está no páreo, apesar de alguns amistosos não muito empolgantes.  “Foi muito importante. A verdade é que estávamos passando por aí uma imagem de (que estávamos) um pouquinho fora de ritmo. Hoje demonstramos que estamos bem, na linha que deveríamos estar e ainda faltam sete dias. Teremos mais alguns treinamentos duros aqui na Espanha e creio que, com esta atitude, vamos com muita fé.”


Em clima nada amistoso, Brasil vence e vê Splitter de volta
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Giancarlo Giampietro

Com torcedores dos dois lados no ginásio em Foz do Iguaçu, velhos rivais vindo de uma partida que já não havia terminado bem em Buenos Aires, não era de espantar que tivesse confusão em quadra. Fazia tempo que não víamos dessas, mas estava latente.

Os argentinos já se irritaram muito com um empurrão de Marcelinho Machado em Luis Scola, posicionado para um corta-luz, logo nas primeiras posses de bola. Foi um encontrão duro, mas nada fora do comum.

A partir dali, Julio Lamas se descontrolou e soltou cobras e lagartos para cima do trio de arbitragem brasileiro, recebendo falta técnica e, nem assim, aliviando. Teve vários momentos de “fala muito” durante os dois primeiros quartos até chegarmos ao empurra-empurra geral depois de Leo Gutiérrez e Marcelinho se estranharem. Clima amistoso o escambau.

Machado e Leo foram expulsos. Nocioni acabou excluído com cinco faltas, claro. Agora… Não me venham com ofensas a argentinos, por favor. É jogo, não guerra.

Brasil x Argentina em Foz do Iguaçu

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Em quadra, na bola, a seleção atacou, enfim, com seus pivôs, refreando seu ímpeto de três pontos. A combinação Splitter-Varejão voltou a funcionar – lembrem do que fizeram juntos na Copa América de 2009 em Porto Rico. A ação interior nos primeiro e quarto períodos fluiu com estilo e eficiência sob a orquestração de Huertas e os dois grandões cortando direto para o aro.

Splitter, em particular, lavou a alma. Foi sua primeira atuação nesta série de amistosos que seguiu o padrão ao qual nos habituamos nos últimos torneios oficiais. Ou seja: alto nível. Colocou toda sua habilidade no jogo de pés para dar um baile nos adversários no garrafão.

Quando Nenê entrou, o aproveitamento caiu, mesmo com o pivô isolado no poste interior contra rivais mais baixos e fracos. Não foi eficaz. Só não é para detonar o são-carlense, que não está 100%, mas precisa ser envolvido, sim, para chegar bem a Londres.

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Juan Gutiérrez dessa vez foi colocado no bolso, como deve ser. Nossos pivôs são bem mais ágeis, versáteis e igualmente fortes.

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Larry Taylor marcou muito bem, usando sua capacidade atlética para pressionar seu jogador, que invariavelmente tinha dificuldade para criar. No ataque, fora da bola, ele também se mexeu bastante naquela que foi sua melhor partida pela seleção até aqui. Só não confundam uma coisa: não é porque ele jogou ao lado de Huertas e Raulzinho que significava uma dupla armação para o Brasil. O norte-americano jogou basicamente como um ala.

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O desfalque de Leandrinho (somado ao eterno de Marquinhos) ainda impede que Magnano tenha seus 12 atletas em quadra por uma vez sequer e nos impede também de saber qual exatamente é a rotação que o técnico tem em mente para os Jogos. Algo importante também dentro do grupo: ajudaria que ninguém crie falsas expectativas sobre suas funções durante a competição.

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A vitória em si pode ser comemorada, mas o placar final não chega a ser totalmente realista, já que os argentinos, no fim, nos dois minutos finais, estavam sem cinco de seus principais jogadores – Ginóbili, Delfino, Scola, Nocioni e Leo Gutiérrez. Muita coisa comparando com Leandrinho, Marquinhos e Machado. Explicando: a vitória foi mais que justa, o Brasil foi superior, mas houve condições atípicas no jogo também.

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Alguém viu aí qual o lance em que o Scola se lesionou no quarto período? Que fase a do argentino, hein? Acabou de ser dispensado pelo Houston Rockets e ainda termina um Brasil x Argentina no vestiário para ser examinado.