Vinte Um

Arquivo : Messina

Quais são os favoritos ao título da Euroliga?
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Giancarlo Giampietro

O atual campeão Maccabi Tel Aviv, creiam, não tem vez aqui. O time não só perdeu muitos dos seus principais atletas, como perdeu aquele que era o melhor técnico do continente: David Blatt. Seu ex-assistente Guy Goodes é um cara bacana, segundo registro de muita gente, mas a missão de substituir uma lenda viva israelense como Blatt é pesada demais. Então tem espaço para quem na competição que começa nesta quarta-feira, com transmissão exclusiva no Brasil pelo canal Sports+, da SKY? Veja a lista, em ordem alfabética, para não dar problema:

Tomic e Pleiss, agora lado a lado: duas torres para Huertas assistir

Tomic e Pleiss, agora lado a lado: duas torres para Huertas assistir

Barcelona: o (excessivamente) metódico Xavier Pascual perdeu Erazem Lorbek, Kostas Papanikolau e Joe Dorsey. E tudo bem: o Barça deu um jeito de ficar ainda mais forte, sendo provavelmente hoje o time mais caro da Europa. Muitos armadores europeus estão morrendo de inveja de Marcelinho Huertas. O brasileiro, que já tinha desenvolvido ótima química com o talentosíssimo Ante Tomic, agora também vai ter o alemão Tibor Pleiss como opção a ser abastecida no jogo interno. Esperem uma dose pesada de pick-and-rolls com a coordenação do paulistano, que agora tem a companhia dois dos pivôs mais altos, ágeis e técnicos da Europa ao seu dispor. Se não fosse o bastante, contrataram também o ala-pivô americano Justin Doellman. Quem? Somente o MVP da última Liga ACB, pelo Valência. Doellman é destes americanos que passou batido pelo radar da NBA, mas se transformou em um grande jogador trabalhando sério na Europa. A rotação de grandalhões de Pascual ficou realmente apelativa.

Por outro lado, a saída de Kostas Papanikolau pode significar um rombo defensivo para uma equipe que já sofre um pouco para esconder Juan Carlos “La Bomba” Navarro. DeShaun Thomas – escolha de Draft do Spurs em 2013 – foi o escolhido para o seu lugar, mas sempre foi muito mais reconhecido como um cestinha, dos tempos de Ohio State. Foi uma decisão peculiar, talvez num momento de baixa do mercado. No ano passado, o Barça levou uma surra do Real na semifinal da Euroliga. Recuperou-se, todavia, para conquistar a liga espanhola. Com as contratações que fez, o bicampeonato é o mínimo que se vai cobrar de seu treinador.

CSKA Moscou: Ettore Messina chegou a declarar na campanha passada que não prestava mais para ser técnico do gigante moscovita, que seus jogadores já não atendiam mais aos seus pedidos e tal. Estresse geral. Mesmo após a dolorosa derrota para o Maccabi no Final Four da Euroliga, o time ao menos conseguiu um milagre na Liga VTB ao virar um confronto de quartas de final com o Lokomotiv Kuban (saindo de 0-2 para 3-2) e conquistar o título regional. O troféu, porém, não iria mascarar as frustrações de Messina, que se mandou para a NBA, para ser auxiliar de Gregg Popovich em San Antonio, numa aliança bastante promissora.

Itoudis, agora técnico principal, com senhora responsabilidade

Itoudis, agora técnico principal, com senhora responsabilidade

A vaga do italiano foi ocupada, então, pelo grego Dimitris Itoudis, assistente do Panathinaikos por uma década, aprendendo bastante com Zeljko Obradovic, até assumir o Banvit, da Turquia em 2013. Acabou liderando o clube a uma campanha surpreendente na riquíssima liga turca e, de cara, foi promovido a comandante de uma potência como o CSKA. Ao seu dispor, vai ter o craque Milos Teodosic (dependendo de seu nível de motivação, sempre),  a liderança e a versatilidade de Victor Khryapa, a explosão de Sonny Weems e a fortaleza chamada Sasha Kaun. Como reforço,  ganhou a criatividade de Nando De Colo, de volta ao continente depois de passagem apagada pelos EUA, e os chutes de longa distância do geórgio Manuchar Markoishvili e do americano Demetris Nichols, ex-Bulls e Knicks. É um baita elenco, cheio de expectativas. A equipe russa não ganha o troféu desde 2008, mesmo tendo ficado fora de apenas um Final Four desde então.

Fenerbahçe: agora vai? Há pelo menos duas temporadas que o clube de Istambul sonha em dar o grande salto e se tornar o primeiro de seu país a conquistar o título europeu. Para isso, atropelou qualquer noção de austeridade ou responsabilidade fiscal para montar elencos caríssimos e tirar o genial e tempestuoso Obradovic da aposentadoria. O problema é que seus dirigentes caíram naquela armadilha de buscar sempre os nomes de impacto, sem pensar ao certo em como seria a química dessas estrelas em quadra, com muitos cestinhas brigando por uma só bola. Para ajudar, o próprio treinador se mostrou (ainda) mais esbravejador no banco, com atitudes ensandecidas – como expulsar seus próprios jogadores no meio de uma partida:

Para esta temporada, a política de investimento bruto foi mantida. Numa primeira impressão, com atletas cujas características que parecem se encaixar melhor num ideal de time. Destaque para a nova dupla de armadores americanos Ricky Hickman (figura elementar no Maccabi campeão) e Andrew Goudelock (um arremessador de mão cheia, conhecido dos fãs do Lakers e do Spurs, hoje um dos cestinhas mais temidos da Europa), além do tcheco Jan Vesely, que tenta redescobrir seus talentos depois de protagonizar mais piadas do que grandes jogadas em Washington. A missão do ala-pivô tcheco, a princípio, é de ajudar na cobertua e na coesão defensiva, com sua capacidade atlética formidável, ao lado de Emir Preldzic. Menção obrigatória também para o ala-armador Bogdan Bogdanovic, o prodígio sérvio, que assume a vaga de seu xará Bojan Bogdanovic. No papel, não há como excluí-lo dessa lista, embora já tenhamos visto este filme antes. Cabe a Obradovic esfriar e usar a cabeça para ordenar esta rapaziada. Campeão turco num final para lá de controverso e vexatório – no qual o Galatasaray simplesmente se recusou a entrar em quadra no sétimo e derradeiro jogo, alegando roubalheira generalizada –, o Fener só quer saber, mesmo, da Europa.

Real Madrid: você, fã do Barcelona, por favor, não se deixe tomar pela raiva. Mas o que aconteceu com o Real Madrid na temporada passada foi uma história bastante triste: era um timaço, pronto para realmente fazer história, acumulando vitórias e recordes, e que acabou naufragando nas últimas semanas. A equipe de Pablo Laso primeiro perdeu de modo surpreendente a final continental para o Maccabi e, depois, se despedaçou diante de seu arquirrival na decisão da Liga ACB. Você faz como depois de uma decepção dessas? Troca tudo, não?

Ayón, grande presente para Laso para o pressionado Real Madrid

Ayón, grande presente para Laso para o pressionado Real Madrid

Pois a diretoria merengue, por algum milagre, decidiu segurar as pontas e manteve o treinador – que em muito simboliza a obsessão do clube para reconquistar a Europa, uma vez que era atleta madridista no tão distante título de 1995. Além disso, manteve praticamente toda a sua base, tendo de lidar apenas com a importantíssima baixa de Nikola Mirotic, que enfim foi jogar em Chicago. É praticamente impossível encontrar um atleta com as características do ala-pivô. Então o que eles fizeram foi seguir na direção oposta, fechando com Andrés Nocioni. Sai a finesse, entra a brutalidade (nas palavras do próprio Chapu). Além do mais, o Real conseguiu dar uma última cartada após a Copa do Mundo ao contratar Gustavo Ayón, cujos direitos na Espanha pertenciam ao próprio Barça. O mexicano tem tudo para ser dominante em seu retorno ao basquete europeu e deixa a rotação de pivôs também bastante congestionada. Em vez de ser demitido, Laso ganhou um presente desses. Seu time dificilmente vai alcançar o padrão de excelência da campanha passada, já que química não é algo que se replique facilmente. Se os resultados forem diferentes no final, talvez nem importe.

Correm por fora: Olympiakos e Anadolu Efes.
É difícil descartar os campeões de 2012 e 2013, que mantiveram a base do ano passado e adicionaram mais dois americanos muito atléticos a este conjunto – o ala Tremmell Darden, ex-Real, e o pivô Othello Hunter, ex-Siena. A sorte do clube grego, porém, gira em torno do estado físico de Vassilis Spanoulis. O genial armador grego sofreu com tendinite na reta final da última campanha, mas se preservou nas férias. Se estiver inteiro, seu time obviamente sobe de patamar, independentemente da saída do técnico Georgios Bartzokas.

Já o Efes segue um pouco da receita de seu conterrâneo Fenerbahçe, pagando uma nota para reformular seu elenco e tirar do ostracismo outro célebre treinador balcânico, Dusan Ivkovic. Em longo depoimento ao site oficial da competição, porém, Ivkovic faz questão de dferenciar as coisas. Seu plano é também desenvolver os mais jovens, que vão ganhar papel importante ao lado de veteranos como Nenad Krstic, Stratos Perperoglou, Stephane Lasme e Dontaye Draper, todos veteranços de Euroliga e vindo de times vencedores. Aliás, essa é uma área na qual o treinador realmente se destaca, despertando muito interesse sobre seu envolvimento com o ala-pivô croata Dario Saric e do ala-armador turco Cedi Osman, duas das maiores promessas do continente.

O problema é que, com Saric, as coisas não começaram bem. O jogador selecionado pelo Philadelphia 76ers no último Draft não vem sendo nem relacionado nas primeiras partidas do clube, levando seu pai, Predrag, ao desespero. “Acho que já é hora para ficar alarmado. O Dario está deprimido, nada está claro”, afirmou. “Se o Efes continuar mantendo-o fora, vamos procurar alguém que possa pagar a rescisão de contrato. O Dario tem de jogar, não pode ficar assistindo aos jogos da arquibancada. Ele está saudável. O Ivkovic está me deixando maluco.”

Vale lembrar que o papai Saric era um defensor ferrenho da ideia de que o filhote ficasse no basquete europeu para conseguir maior rodagem e se desenvolver, antes de assinar seu primeiro contrato de NBA.

Vai começar
A Euroliga vai ser transmitida com exclusividade no Brasil pelo Sports+ (canais 28 e 228 da SKY). Vou participar da cobertura pela terceira temporada seguida, na companhia de Ricardo Bulgarelli, Maurício Bonato, Marcelo do Ó e Rafael Spinelli. Sempre um prazer. Nesta quarta, entramos ao vivo com o duelo entre Laboral Kutxa e Neptunas Klaipeda, a partir de 15h15 (horário de Brasília). Na quinta e na sexta, rodada dupla! Cedevita Zagreb x Unicaja Málaga + Estrela Vermelha x Galatasaray e Real Madrid x Zalgiris Kaunas + Barcelona x Bayern de Munique, respectivamente.


Dois finalistas, duas jornadas diferentes na Europa, um título marcante
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Giancarlo Giampietro

O show do Real Madrid

O show do Real Madrid

O que dá mais confiança? Um atropelo contra seu arquirrival ou uma vitória de virada com cesta nos últimos segundos? Difícil dizer, ainda mais para quem acompanhou os dois belos jogos desta sexta-feira pela semifinal da Euroliga, mas o certo é que Real Madrid e Maccabi Tel Aviv vão para a decisão de peito estufado, em busca de uma conquista marcante.

Aí você fala: “Ô, cara, e que título não seria marcante? Seu bobo alegre”.

Tudo bem, tudo bem, pode falar.

Mas é que realmente há razões muitas razões para ambos os finalistas celebrarem, para tornar o troféu a ser entregue no domingo mais especial do que o normal.

O Real, por exemplo. A equipe jogou o basquete mais bonito, vistoso e, ao mesmo tempo, eficiente de toda a temporada. E pode incluir aqui NBA, ACB, NBB e qualquer sigla de sua preferência. Os caras cumprem uma temporada histórica, cheia de brilho, que merece todos os troféus possíveis para completá-la. Se for para interromper um jejum que já dura 18 anos, tanto melhor – a última vez que conquistaram o continente foi em 1995, e pensar que a turma do futebol merengue reclama que a Champions não sai desde 2002…

Nesta sexta, no segundo jogo do dia, os madridistas aplicaram mais uma clínica gratuita e impiedosa, vencendo seu confronto por inacreditáveis 100 a 62. Já seria um placar absurdo contra qualquer oponente, o maior em semifinais da Euroliga. Mas quando você sabe que o Barcelona estava do outro lado, as coisas ganham contornos épicos – também foi o maior em Superclássicos em competições europeias, superando os 21 pontos na temporada 1993-94.

Esse é um termo que tem corrido um sério risco de cair num poço banal. Qualquer coisa hoje é épica, qualquer zé mané pode ser eleito um mito graças a uma pedrinha atirada de modo que ela quique na água sem afundar. Mas se a gente pega um Real que chegou a vencer 31 partidas consecutivas e já ganhou a Supercopa e a Copa do Rei em solo espanhol, com ambas as finais contra o mesmo Barça, e soma nessa conta o atropelo cometido em Milão, tudo fica muito grandioso, mesmo.

O Real, a essa altura, luta muito mais do que pelo título. O time de Pablo Laso luta para estourar a porta da história, entrando com tudo, como Cosmo Kramer costumava entrar no apartamento do Jerry. Com pompa e de modo estrondoso. Não será apenas uma equipe listada em meio a tantos outros campeões. Será um grupo relembrado para sempre, mesmo que não consigam repetir taças e o mesmo rendimento avassalador nas próximas campanhas.

O que não quer dizer que não houvesse um suspense para mais um duelo com o Barça em Milão. Marcelinho Huertas e seus companheiros haviam acabado de bater seu principal oponente no fim de semana passado, interrompendo uma sequência de três triunfos dos merengues.

Foi uma vitória com alguns asteriscos (Felipe Reyes, um líder e ainda um baita jogador, não jogou e Rudy Fernandez foi excluído por duas faltas técnicas e o Real tinha a liderança da liga nacional assegurada), é verdade, mas era algo que com o devido contexto colocava o favoritismo do clube blanco em dúvida. Afinal, o Barcelona já havia feito a melhor campanha do Top 16 da Euroliga e vinha numa arrancada na Liga ACB, com o maior saldo de cestas das últimas dez rodadas. Além disso, eles surraram o Real em quadra – embora o placar final tenha sido de 86 a 75, durante a partida a vantagem chegou aos 20 pontos. Tudo isso fazia a semifinal continental ainda mais e mais e mais interessante.

No primeiro quarto, um empate por 20 a 20 aumentava a tensão. O Real apresentou um ataque travado por uns seis, sete minutos – com um jogo atipicamente individualista, com poucas trocas de passes e precipitações na hora de concluir. Do outro lado, a equipe cometia muitas faltas, dando ao adversário o luxo de bater lances livres já a partir da marca de 6 minutos, enquanto Huertas brilhava em suas conexões com Ante Tomic.

Até que Laso chamou do banco de reservas seu MVP, Sergio Rodríguez, um pouco mais cedo do que o usual. E o panorama da partida se alterou drasticamente. O barbudo botou pressão para cima do armador brasileiro, levou ainda mais vantagem contra Victor Sada, e a intensidade de seu time começou a entrar nos conformes. Reyes e o tunisiano Salah Mejri também deram um bom empurrão na equipe, enquanto Nikola Mirotic atacava de modo exuberante, deixando qualquer pessoa ligada ao Chicago Bulls com água na boca.

O primeiro tempo terminou com uma vantagem já mais confortável, de oito pontos (47 a 35), mas era muito difícil prever o que viria a acontecer na segunda etapa. O Barça não conseguiu marcar mais de 14 pontos nos dois quartos, enquanto o Real acumulou 28 e 27. Um espanco, como diria Maurício Bonato. E as pancadas vinham de todos os lados.

Rodríguez foi mais uma vez fenomenal, 21 pontos em 20min51s, sem falar do aproveitamento de 4-5 (80%) nos chutes de três e as seis assistências, dos sete lances livres cavados e toda encheção que ele causa na defesa. Mirotic terminou com 19 pontos em 24 minutos, matando 6 de 8 arremessos de quadra e também foi presença constante na linha de bonificação. Reyes, Sergio Llull e um contido Rudy Fernández também superaram os 11 pontos. Só o caçula Daniel Diez, que entrou em quadra nos últimos 3min21s não fez cesta. Mais números: 60,5% nos chutes de dois (contra 43,6%), 48,3% de três, num número elevado de tentativas, 29, mas com bolas majoritariamente equilibradas (contra 27,8%) e 17 assistências para meros oito turnovers.

Os atletas do Barcelona perderam a compostura em quadra, ficaram desnorteados. Foi um nocaute literalmente técnico. Ainda tentaram apelar para a catimba e algumas faltas mais duras aqui e ali. Kostas Papanikolau, que lutava pelo tricampeonato, chutou a placa de publicidade e bateu boca com torcedores. Ficou feio.

Então percebem como esse título seria algo maravilhoso para o Real, né?

Tyrice Rice e Alex Tyus, decisivos no quarto período em vitória incrível

Tyrice Rice e Alex Tyus, decisivos no quarto período em vitória incrível

Agora, o Maccabi também te seus argumentos. Em Israel, estão acostumados a reinar de modo absoluto, mas ultimamente alguns concorrentes impertinentes vêm dando trabalho. No ano passado, o Maccabi Haifa, liderado por Gael Mekel – hoje reserva do Mavs –, ousou destroná-los na liga nacional. Nesta temporada, o time azul e amarelo ocupa a liderança, mas constantemente pressionado. É algo que incomoda, muito. Mas muito mesmo. Quase como uma nuvem de pernilongos carniceiros.

Em meio a esse desconforto, o clube chegou a perder quatro partidas seguidas – entre liga israelense e Euroliga –, e houve, acredite, quem especulasse ou pedisse a demissão de David Blatt. Algo inconcebível. Para ver como ficam mal-acostumados com o sucesso.

Pois bem. Sofrendo um pouco, o Maccabi conseguiu se desvencilhar de Bayern de Munique e Lokomotiv Kuban, e avançou aos mata-matas com a terceira colocação de seu grupo no Top 16, atrás de CSKA e Real. Nas quartas, derrubaram o Olimpia Milano para assumirem a condição de estraga-prazeres oficial do torneio continental, tirando os anfitriões do Final Four da competição, numa série encerrada em 3-1, mas com jogos duríssimos.

Mesmo os jornalistas locais mais camaradas admitem que este elenco de Blatt é o mais fraco do time de Tel Aviv a chegar ao Final Four nos últimos anos. De qualquer forma, depois de algumas semanas de turbulência, conseguiram se colocar entre os quatro melhores, encerrando um intervalo de dois anos.

Contra o CSKA, eu os colocava como azarões. E por três quartos o time moscovita fez valer esse palpite, chegando a abrir 15 pontos no placar. Na parcial final, no entanto, o armador Tyrese Rice, mais uma dessas formiguinhas atômicas – quase xará e sósia de Ty Lawson –, resolveu barbarizar. O baixinho se esbaldou contra Milos Teodosic, invadindo o garrafão russo quando bem entendia. De pouquinho em pouquinho, seja com suas bandejas ou com os rebotes ofensivos de Alex Tyus – livre, uma vez que os pivôs tinham de sair para tentar bloquear Rice, e a rotação defensiva de Ettore Messina não estava afiada o bastante para reagir rapidamente.

Aliás, um parêntese: após o fiasco de Zeljko Obradovic com seu milionário e caótico Fenerbahçe, dessa vez foi a vez de outra lenda viva do basquete europeu patinar. Um tanto impaciente durante a temporada, soltando os cachorros a toda hora, especulado como possível alvo do Utah Jazz, Messina claramente não soube potencializar todo o talento que tinha ao seu dispor. E, neste quarto período, deixou as coisas saírem totalmente de controle.

Demorou a pedir tempo, fez poucos ajustes e não encontrou um meio de frear Rice. Está certo que o armador Aaron Jackson, um defensor muito mais indicado que Teodosic, foi retirado lesionado nos minutos decisivos. Mas não há muitas desculpas além dessa para justificar o colapso do CSKA. Até que o mesmo Rice fez a cesta da vitória a 5s5 do fim, aproveitando-se de um desperdício de posse de bola infantil dos oponentes, com Victor Khryapa entregando o ouro bandido (aliás, valeu, Czar! A reputação agradece…). O clube russo ainda conseguiu deixar Sonny Weems (fora de sintonia no ataque, talvez cansado por perseguir Rick Hickman na defesa, anulando mais um dos destaques da fase final apontado por um certo bobão) livre na linha de três para um último chute, em vão.

O Maccabi perdeu o jogo praticamente todo e, completamente desacredito, aqui está na decisão. Então não há como eles não acreditarem que o título é possível, mesmo que o Real Madrid tenha feito uma apresentação soberba logo na sequência.

Confiança é uma coisa complicada, da qual não se pode duvidar. Pode equilibrar as coisas entre uma máquina de fazer cestas e um patinho feio nada pelas beiradas.

Se for para dar um palpite, fico mesmo com o Real. Só não digam aos rapazes de David Blatt que seria mais justo que a taça fosse para os espanhóis. Aos trancos e barrancos, também se constrói uma história marcante.


Há muito basquete além da NBA: a Euroliga começa a pegar fogo
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Giancarlo Giampietro

Sonny Weems, da NBA para o CSKA

O superatlético Sonny Weems substitui Andrei Kirilenko em Moscou

Por Rafael Uehara*

(Nota/Ótima notícia no Vinte Um: convidado do blog durante o mês de dezembro, o Rafael veio para ficar. Semanalmente, ele vai publicar um artigo por aqui. Aproveitem!)

O mundo não acabou, mas 2012 sim, e, com a virada do calendário, as principais ligas do mundo começam a pegar fogo nessa arrancada em direção ao fim da temporada. No caso da Euroliga, principal competição de clubes do continente Europeu, isso é sinalizado pelo TOP 16, que teve sua segunda rodada disputada na semana passada. Com a mudança de formato a partir dessa temporada, a segunda fase da Euroliga terá 14 rodadas para definição dos oito classificados para as quartas de final, ao invés de apenas seis em anos anteriores. Há ainda muito chão pela frente, mas já é possível se ter uma ideia de quais times são concorrentes legítimos ao título e quais precisam de mudanças drásticas para voltar à briga.

O Barcelona de Marcelinho Huertas foi à Rússia na semana que passou e perdeu apenas pela segunda vez na competição, 65-78 para o BC Khimki, mas não há dúvida de que a máquina catalã é a força mais respeitável do basquete europeu no momento. Mesmo com um elenco composto de menos jogadores de pedigree defensivo como no ano passado, liderado pelo técnico Xavi Pascual, o Barcelona está a caminho de igualar marcas históricas registradas em 2011-2012. De acordo com o site gigabasket.org, o Barcelona tem permitido apenas 88,8 pontos a cada 100 posses do adversário, marca muito similar ao 87,3 da temporada passada, o que é fantástico especialmente considerando que o time substituiu Boniface N’Dong, Fran Vázquez e Kosta Perovic por Ante Tomic e Nathan Jawai no pivô.

Juan Carlos Navarro, La Bomba

Um Barça menos dependente de Navarro no ataque para tentar o título

Tomic e Jawai foram incorporados ao time em uma tentativa de adicionar maior criatividade ao ataque, que sofreu demais contra o Olympiacos no Final Four do ano passado. Pascual fez as mudanças necessárias, incluindo maior envolvimento de Huertas, e o resultado tem sido um time muito menos dependente de Juan Carlos Navarro e Erazem Lorbek e que tem marcado em média três pontos por cada 100 posses a mais do que na temporada anterior. Graças à boa química entre Huertas, Jawai e Tomic no pick-and-roll, o Barcelona lidera a Euroliga em pontos no garrafão. Com esse ataque renovado e uma defesa histórica, o time catalão é, em minha opinião, o principal favorito ao titulo.

Talvez os rivais de Madri estejam no mesmo nível. O Real Madrid de Pablo Laso também está tendo um ano fantástico. Entre supercopa da Espanha, campeonato espanhol e Euroliga, os merengues perderam apenas quatro jogos até o momento, sendo um deles para o Barcelona semana passada. Com uma filosofia oposta aos inimigos catalães, o Real tem se estabelecido como o ataque mais feroz do continente. No momento, é apenas o terceiro classificado em pontos por posse (marcando em média 109,7 a cada 100), mas isso é porque o Montepaschi Siena e o Zalgiris Kaunas estão fazendo campanhas históricas em termos de eficiência. Com a adição de Rudy Fernandez (um talento fora de série no continente) e o desenvolvimento de Nikola Mirotic (a caminho de se tornar o melhor ala-pivô na Europa), o Real não tem como ser parado, apenas contido. Mas esse já era mais ou menos o caso na temporada passada. O que faz do time merengue um concorrente legítimo ao titulo este ano é a melhoria em prevenção, setor no qual o time subiu de 13º para terceiro em pontos permitidos por posse.

É o que diferencia o Real Madrid do Montepaschi Siena, por exemplo. O Siena tem o melhor ataque do continente, marcando em média 115 pontos a cada 100 posses de bola. Bobby Brown tem sido fantástico e lidera a competição com 252 pontos em 12 jogos após uma exibição magnífica de 41 pontos em apenas 18 tiros de quadra contra o Fenerbahçe, em Istambul semana passada. O Siena tem superado as expectativas pra esse ano. Devido a problemas financeiros do patrocinador, Banco di Monte Paschi, o time teve que se despedir de medalhões como Simone Pianigiani, Bo McCallebb, Rimantas Kaukenas, David Andersen, Nikos Zisis e Ksystof Lavrinovic e remontar um elenco com soluções mais baratas do que a torcida estava acostumada. O Siena começou o TOP 16 com duas vitórias, sobre Maccabi e Fenerbahçe, mas ainda é difícil vê-lo como concorrente ao título. Com a terceira pior defesa da competição, e a expectativa é que em algum momento sua falha retaguarda pesará.

Kaukenas fazendo das suas

Kaukenas encontra espaço para a bandeja pelo ataque sensacional do Zalgiris

Já o Zalgiris Kaunas de Joan Plaza não pode ser visto da mesma forma. Havia muitas dúvidas com relação à idade avançada do elenco e como esse time defenderia, mas o atual campeão lituano é o sexto colocado em pontos permitidos por posse, mesmo que apenas Tremmell Darden e Ibby Jabber sejam atletas de porte físico invejável. Essa aplicação no setor defensivo, mesmo que não seja de elite, tem sido o suficiente para dar suporte ao segundo melhor ataque do continente. É uma dinâmica curiosa e fenomenal: o Zalgiris marca a segunda maior taxa de pontos por posse e, ao mesmo tempo, tem a menor taxa de posses por jogo. Isto é, faz o máximo com menos. Plaza formatou uma maneira de jogar que minimiza os fatores idade e a falta de porte físico do time. Será interessante ver se o clube lituano conseguirá impor seu ritmo de jogo contra Real Madrid e CSKA Moscow, dois dos times mais atléticos do continente e dos poucos com atletas ao nível de NBA. Mas o que eles já têm feito até agora é suficiente para se estabelecer como força a ser respeitada.

Falando em CSKA Moscou, o time de Ettore Messina (que voltou pra casa após três anos divididos entre o Real Madrid e o Los Angeles Lakers) vem, quietinho em seu canto, fazendo a melhor campanha da liga até o momento. O CSKA tem sido muito menos dominante do que aquele time liderado pelo fantástico Andrei Kirilenko ano passado, mas venceu 11 de seus 12 jogos até o momento e é o quinto colocado em ataque e segundo em defesa. Talvez sejamos nós que tenhamos prestado menos atenção. Sonny Weems também é talento de NBA, mas empolga menos do que o sempre enérgico e impactante Kirilenko. A combinação de Weems e Dionte Christmas nas alas é o que diferencia o CSKA dos demais times do continente. Poucos têm a capacidade atlética da dupla. O sistema ofensivo ao redor de Nenad Krstic mudou, mas o pivô sérvio tem mantido sua excelência. Tem saído do banco apenas porque seu companheiro de posição Sasha Kaun está totalmente recuperado de uma lesão séria no joelho sofrida 18 meses atrás e Messina agora apresenta uma sutil uma queda por atletas de primeiro nível, depois de sua experiência nos Estados Unidos.

Em Israel, o Maccabi Tel Aviv de David Blatt começou o TOP 16 com duas derrotas para o Siena e o Caja Laboral, a última por um ponto em casa na semana passada. Vindo pra temporada, a dúvida era como esse time iria marcar pontos após as saídas de Keith Langford e Richard Hendrix. Mas, com um ataque certeiro em tiros de meia distancia e uma defesa que tem permitido o menor número de pontos no garrafão, a potência israelense está a caminho de fazer o papel que fez ano passado; timinho difícil de bater nas quartas de final. Mais que isso será uma surpresa considerando as limitações do elenco, mesmo que se há alguém capaz de tirar um final four desse time, esse alguém é David Blatt.

E por último, mas não menos importante, o atual campeão Olympiacos. A temporada começou meio estranha para os vermelhos de Piraeus, com duas derrotas nos primeiros três jogos e a saída do pivô Joey Dorsey do time após desavenças com o novo técnico Georgios Bartzokas, que substitui o legendário Dusan Ivkovic, aposentado. Mas as coisas se acertaram a partir dali. O Olympiacos ganhou sete jogos seguidos na Euroliga para terminar a primeira fase com vitórias em 10 jogos. Além disso, bateu o rival Panathinaikos no campeonato grego. A defesa se endireitou e o importantíssimo Kostas Papanikolaou se apresentou melhor depois de um primeiro mês muito tímido. O TOP 16 começou com derrota em Vitória para o Caja Laboral, rejuvenescido depois da demissão Dusko Ivanovic, mas os vermelhos se recuperaram com vitória sobre o Besiktas em casa. É difícil saber, porém, o quanto Dorsey fará falta nas fases finais. Ele foi peça fundamental na corrida ao título ano passado e seu substituto Josh Powell é um jogador de características totalmente diferente.

*Editor do blog “The Basketball Post” e convidado do Vinte Um. Você pode encontrá-lo no Twitter aqui: @rafael_uehara.


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