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Arquivo : Jrue Holiday

Jukebox NBA 2015-16: a maldição do pelicano
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Season of the Witch”, por Donovan

Você abre o HoopsHype numa manhã quente de princípio de (?) outono como outra qualquer e, depois do mais recente ba-fa-fá do Lakers, desce a barrinha e alcança aquilo que parece um boletim médico todo dedicado ao New Orleans Pelicans:

– Jrue Holiday foi diagnosticado com uma fratura de órbita ocular inferior. Ele vai perder o restante da temporada. A lesão ocorreu com 56s1 restando no quarto período da partida contra o New York Knicks.

– Alonzo Gee sofreu uma ruptura Ruptura completa do músculo reto femural  direito e vai perder o restante da temporada.

– Ryan Anderson foi diagnosticado com uma hérnia do atleta. Ele vai procurar uma segunda opinião de um especialista da Filadélfia ainda nesta semana. Detalhes adicionais serão anunciados de modo apropriado após a avaliação.

– Norris Cole está com um desconforto nas costas e vem sendo avaliado diariamente.

E aí? Já tomou seu remedinho hoje? É, ou não é de se contorcer todo na cadeira?

As ocorrências foram todas divulgadas num dos releases mais deprimentes da história. Isso depois de o técnico Alvin Gentry dar uma das entrevistas coletivas mais engraçadas (e desesperadas) da história da NBA, mesmo depois de um triunfo sobre o Knicks, em casa, por 99 a 91. Pudera: quando Holiday foi atingido por Kristaps Porzingis e teve de ser retirado de quadra, o treinador olhou para o banco de reservas e não soube o que fazer. “Queria colocar alguém capaz de levar a bola, e lá estavam Omer, Perkins e Alexis”, lembrou. “Não me senti confortável em usar nenhum deles para essa função”, completou. “É assustador.”

O sarcasmo parece ser a única escapatória para Gentry. Imagine a cabeça do cara: seu ex-clube, o Warriors, flerta com a marca de 73 vitórias. Já o Pelicans está fora dos playoffs, com uma das campanhas mais decepcionantes da temporada, enfrentando uma urucubaca que parece não ter fim.

Davis, de volta ao banco. Podendo levar um grande prejuízo

Davis, de volta ao banco. Podendo levar um grande prejuízo

Lembremos que, além dos quatro desfalques acima, o time já não podia contar mais com seu craque, Anthony Davis, além do ala-armador Tyerke Evans e dos alas Quincy Pondexter, Eric Gordon e Bryce Dejean-Jones, o calouro que foi contratado da D-League justamente para preencher a lacuna na rotação de perímetro. Depois dessa atualização, até mesmo Dave Joerger, do Grizzlies, pode se sentir protegido por forças superiores.

“Vou mandar um boletim detalhado para todo mundo no French Quarter, ou em qualquer lugar. Precisamos de um médico de vudu, ou alguma coisa desse tipo aqui. Temos de encontrar os ossos enterrados debaixo desse ginásio. Temos de fazer algo, porque isso já virou até cômico”, disse Gentry. “No momento, todos os caras da D-League estão sentados olhando para seus telefones achando que a chance deles chegou.”

Para constar, o armador Tim Frazier (ex-Blazers) já teve seu contrato efetivado até o final da temporada, enquanto o ala Jordan Hamilton (ex-Nuggets) cumpre um contrato temporário de dez dias. Então pode ser que as vagas já estejam fechadas. Mas a piada de Genry foi muito boa para ser ignorada. “Não sei, acho que você tem de rir dessas coisas. Não sei mais o que podemos fazer. Agora temos mais de 100 pontos por jogo sentados lá fora. Se fizermos só sete pontos na próxima partida, apenas considere isso.”

Para ser mais preciso, somando as médias de todos os desfalques do Pelicans, o time está perdendo 109,2 pontos. Claro que o número de cada jogador seria diferente, se o time estivesse inteirinho do início ao fim, mas dá para ter uma ideia do tamanho do estrago. E do prejuízo também: em termos de salário, a enfermaria do Pelicas hoje está tratando de mais de US$ 60 milhões em investimentos (contando os holerites dos jogadores apenas desta temporada).

Show do Monocelha agora é o show do Tim Frazier. Só o torcedor do Blazers sabe o que isso quer dizer

Show do Monocelha agora é o show do Tim Frazier. Só o torcedor do Blazers sabe o que isso quer dizer

Agora, na hora de preparar seu time, Gentry vai ter de imaginar jogadas para Frazier e o andarilho Tony Douglas decidirem. Ou Hamilton, que sempre teve tino para pontuar, ainda que de forma irregular. Ou Luke Babbitt, que mal foi utilizado entre dezembro e janeiro e, de repente, nos últimos cinco jogos, tem média superior a 28 minutos por confronto. Se tiver uma propensão ao sadismo, também pode tentar jogadas de postup com Omer Asik e Kendrick Perkins.

Sim, esta foi uma temporada com a bruxa solta em New Orleans, para citarmos a canção de Donovan, o compositor escocês que começou rotulado como “folk”, mas arriscou de tudo um pouco. Entre tantas opções de canções impregnadas pelo ocultismo, seja com reverência ou com a zoeira, esta ao menos tem uma das letras mais, digamos, pueris. De desgraça o Pelicans já está farto.

De time emergente no Oeste, pensando em até mesmo ir longe nos playoffs, já estão fora da disputa e agora concentrados no próximo Draft, com 27 vitórias e 46 derrotas, com aproveitamento de 37%. Um baque daqueles para uma equipe que havia melhorado seu rendimento por quatro campanhas consecutivas, dos 31,8% de 2012 aos 54,9% do ano passado, quando conseguiu superar forte concorrência para chegar aos mata-matas pela primeira vez num mundo pós-Chris Paul.

Gentry, Monocelha e o vudu

Gentry, Monocelha e o vudu

Agora não tem jeito. É virar a página e ao menos se contentar com o fato de que terão mais uma escolha alta de Draft, ainda que num recrutamento considerado fraco para a maioria dos scouts da liga. Se acertarem o alvo, poderão adicionar um jogador jovem, talentoso e barato para tentar contra-atacar no próximo campeonato, provavelmente ainda sob o comando de Alvin Gentry, um cara de currículo irregular e bastante rodado na liga, mas que nunca viu nada parecido com isso.

O técnico vem sendo bastante criticado e, de fato, não esteve tão inspirado assim em seus ajustes, ainda mais se compararmos com o que Joerger conseguiu em Memphis, em circunstâncias semelhantes. Insistiu por muito tempo com Asik, sacrificando o ataque sem melhorar a defesa. Assim como Fred Hoiberg, insistiu com um sistema mesmo quando não tinha mais peças para fazer a máquina andar ao seu modo. De qualquer forma, é injusto avaliar qualquer trabalho sob essas condições. Em vez de demitir um treinador pelo segundo ano consecutivo, o mais certo talvez fosse torcer por melhor sorte e saúde no training camp deste ano. Ou contratar logo uma benzedeira.

A pedida? A… sorte grande no próximo Draft. De repente Ben Simmons ou Brandon Ingram como parceiros do Monocelha?

A gestão: pois é. Aqui a coisa fica mais feia.

Que a sucessão de lesões tem a ver com azar, não há dúvida. Mas é inegável também que o gerente geral Dell Demps, mais um ano do Instituto Spursiano Popovich & Buford de basquete, contratou uma série de jogadores com histórico médico duvidoso para formar uma base em torno de Anthony Davis. Tyerke Evans e Ryan Anderson nunca foram reconhecidos como ironmen. Muito menos Eric Gordon, que poderia ter saído para o Phoenix Suns em 2012, mas teve seu contrato renovado, na marra.

(O armador Jrue Holiday parece ter se contagiado e também virou desfalque constante, depois de ter custado ao time duas escolhas de primeira rodada – que resultaram em Nerlens Noel e Dario Saric. Desde que chegou a N’awlins, ainda não conseguiu bater a marca de 70 partidas, sendo que as 65 desta temporada são um recorde.)

Loomis e Demps: quem manda? Quem fica?

Loomis e Demps: quem manda? Quem fica?

O que pode ser dito em defesa do gerente geral é que a franquia tem uma situação instável no andar de cima. Também proprietário do New Orleans Saints, Tom Benson, 88 anos, se envolveu em uma disputa judicial com sua família sobre o controle dos dois clubes. Pela idade avançada, Benson teria exercido forte pressão para que Demps apressasse o processo de reconstrução em torno do Monocelha, exigindo que o time voltasse aos playoffs o quanto antes.

Para isso, conta com os serviços do gestor Mickey Loomis, um cara que, de modo improvável, acumula as funções de vice-presidente executivo e gerente geral do Saints, assim como vice-presidente executivo do departamento de basquete do Pelicans. Sim, acreditem: a confiança de Benson em Loomis é tamanha que ele acredita ser possível supervisionar uma equipe de basquete e outra de futebol americano ao mesmo tempo. Existe nos bastidores da NBA, então, uma dúvida sobre quem estaria dando as cartas, mesmo. Em princípio, as negociações ainda são responsabilidade de Demps, incluindo a estranha demissão de Monty Williams no ano passado, depois de suposta disputa interna entre o cartola e o treinador.

A despeito dos caprichos de Benson, o tópico mais urgente para a franquia é deixar Anthony Davis satisfeito. A acidentada temporada do Pelicans pode custar ao ala-pivô uma grana considerável, algo em torno de US$ 24 milhões em bônus contratual. Com médias de 24,3 pontos, 10,3 rebotes, 2,0 tocos, 1,3 roubo e 1,9 assistência, é provável que o jovem astro conseguisse uma vaguinha na eleição dos três quintetos ideais da liga (All-NBA) nesta temporada. A péssima campanha da equipe, porém, pode tirá-lo do páreo.

Publicamente, ao menos, Davis vem dizendo todas as coisas certas. Que seria egoísta da parte dele seguir jogando, mesmo com o ombro e o joelho comprometidos, para tentar buscar essa premiação. “Ainda é muito dinheiro o que vou receber: US$ 125 milhões. Mas não há nada que se possa fazer a respeito. É um contrato, não tenho controle sobre isso. Você só controla aquilo que pode, que é o que acontece em quadra”, afirmou o ala-pivô, que vai ficar fora de quadra por três a quatro meses, ficando fora também do #Rio2016.

Por outro lado, para se ter em conta: Davis já perdeu 68 partidas em suas primeiras quatro temporadas. Quase um campeonato inteiro.

Olho nele: Alexis Ajinça

No ano passado, Ajinça marcou 24 pontos em vitória em Toronto, sem Monocelha

No ano passado, todo espichado, Ajinça fez 24 pontos em vitória em Toronto, sem Monocelha

Não, não estamos falando de um craque. Mas, sem Anthony Davis e Ryan Anderson, alguém que sobrou na linha de frente do time precisa pontuar, certo? E não dá para esperar que esses pontos venham de Asik e Perk. Entra em cena o espigão, que, perto da dupla, parece um superatleta até. Isso passou, de certa forma, despercebido, mas o pivô fez um bom campeonato em 2014-15, confirmando seu potencial, merecendo uma extensão contratual de US$ 20 milhões por quatro anos. O negócio só merece críticas quando somado ao de Omer Asik. Não havia por que gastar tanto nos dois, e o preço do francês saiu muito mais em conta.

Seu momento mais produtivo aconteceu num período em que Davis estava fora de combate, entre fevereiro e março. Em seis partidas, teve médias de 13,8 pontos, 8,3 rebotes e 1,5 toco, em 23 minutos. Agora tem nova oportunidade para mostrar que tem jogo, desde que maneire nas faltas – em sua carreira, comete 6,3 faltas numa projeção por 36 minutos. Quer dizer, não conseguiria completar uma partida sem ser excluído. A questão é saber se Tim Frazier e Toney Douglas conseguirão acioná-lo de modo apropriado.

marquinhos-new-orleansUm card do passado: Marquinhos. Olha ele aí! Já faz tanto tempo, que corremos o risco de nos esquecer que, dez anos atrás, o ala dava sequência à trilha de jogadores brasileiros no Draft, inaugurada por Nenê em 2002. Inserido nos registros históricos da liga como “Marcus Vinícius”, ele  ficou uma temporada e meia no clube, após ser selecionado na 43ª colocação do recrutamento de novatos.

É interessante relembrar a curta passagem de Marquinhos por lá por dois motivos. Primeiro que até hoje o clube o acompanha de alguma forma.  Depois de sua ótima participação na Copa de 2014, fez sondagens para uma possível repatriação. Um ala alto com chute e versatilidade é do que se tem mais de cobiçado na NBA. Mas é improvável que uma proposta seja formalizada.

O segundo item que chama a atenção aqui é o nome do time gravado no card: NO/OK Hornets. Como consequência do devastador furacão Katrina, a franquia se viu obrigada a dividir suas operações com Oklahoma City, que a acolheu de modo caloroso. Foi um gesto que impressionou tanto o antigo comissário David Stern, aliás, que valeu como semente para o sequestro do Seattle Supersonics pela cidade, pouco depois.

A nomenclatura ficou ainda mais estranha quando o apelido Hornets foi devolvido a Charlotte, enquanto New Orleans adotou a atual alcunha. É uma confusão, do ponto de vista administrativo, digna dos primeiros anos instáveis da liga.


Poucos notam, mas o New Orleans Pelicans ainda está na briga
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Giancarlo Giampietro

Anthony Davis pode ser o MVP. Desde que o Pelicans...

Anthony Davis pode ser o MVP. Desde que o Pelicans…

Nesta segunda-feira, demos uma passada pela situação de classificação do Leste. Se a gente virar a tábua, no Oeste, existe uma situação curiosa: virou lugar comum falar que o Phoenix Suns vai tentar de tudo para se segurar com a oitava colocação diante da pressão de um Oklahoma City Thunder completo, e sobre como será difícil resistir ao ataque destes. Até faz sentido quando lembramos que o Suns foi o time que brigou por esse oitavo lugar até o fim do campeonato, sem sucesso, enquanto OKC surfava lá em cima, perto do Spurs.

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Só tem um problema nessa história toda: o New Orleans Pelicans de Anthony Davis, que insiste em se manter entre uma franquia e a outra, ocupando a nona posição numa corrida – aí, sim, de verdade – pelos playoffs.

(Ao contrário do que acontece na outra metade do país, em que muitas equipes de fato até querem uma vaguinha, mas estão completamente  danificadas. O Charlotte Hornets, por exemplo,  que hoje é o oitavo, de um dia para o outro, descobriu que Kemba Walker vai precisar passar por uma cirurgia devido a um menisco lateral rompido no joelho esquerdo. Ele deve ficar afastado por um mínimo de seis semanas. Então lá vai Brian Roberts para o resgate.)

Os Monocelhas estão curtindo sua maior série de vitórias na temporada (quatro, com 24 vitórias e 21 derrotas no geral) e têm o Denver Nuggets como próximo compromisso. Tudo isso em meio a um período extremamente favorável na tabela: dos 12 jogos antes do intervalo do All-Star Game, dez serão em casa. Alguns visitantes são bem incômodos: Los Angeles Clippers (30/01), Atlanta Hawks (02/02). No fim de semana, porém, a equipe venceu o Dallas Mavericks para ganhar confiança.

Ah, antes que esqueça: quem também vai dar um pulo por Nova Orleans em breve é o… Oklahoma City, dia 4 de fevereiro. E mais: no dia seguinte, os dois times voltam a se enfrentar no ginásio do Thunder, numa daquelas dobradinhas lá-e-cá que se encaixam da melhor maneira possível em meio à maratona da temporada regular.

Se ninguém cogita o Pelicans como opção viável para os mata-matas da conferência, dependendo do que aprontarem nas próximas semanas, as coisas podem mudar rapidamente, dependendo muito do que acontecer no confronto direto com Durant e Westbrook. É a chance de a franquia romper com a mediocridade e partir para cima da concorrência.

Antes de mais nada, como o vocábulo é gasto à vera por aí, vale esclarecer que, segundo um dos pais de nós todos, “mediocridade” se assimila, pela ordem, da seguinte maneira: “1. Médio ou mediano. 2. Meão. 3. Que está entre bom e mau. 4. Que está entre pequeno e grande. 5. Ordinário, sofrível, vulgar. Naturalmente, em tempos de ódio mortal por qualquer coisa, para a esmagadora maioria, o quinto lugar virou o primeiro. No caso do Pelicans, vale o primeiro.

Até esta segunda-feira, quando massacrou o Philadelphia 76ers, a  galera do Monocelha nunca havia ficado mais que duas vitórias acima da marca de 50% (5-3 e 7-5 foi o máximo que conseguiu). Ao mesmo tempo, também nunca se viu duas derrotas abaixo dessa linha mediana (8-10, a pior). Além disso, antes de engatar esta sequência de quatro resultados positivos, os caras não haviam somado mais do que dois triunfos consecutivos, assim como também não perderam mais do que três em série (sendo derrotado por Sacramento Kings, quando eles ainda eram bons, Atlanta Hawks e Washington Wizards). Já tomaram vareios de Warriors, Blazers e Clippers, é verdade, mas, além do Mavs, também derrotaram Grizzlies, Raptors e Rockets. Isto é: a lei de que tudo se equilibra no decorrer da temporada da NBA  encontra em N’awlins seu maior representante nesta temporada.

No Oeste e na estrada, Pelicans se manteve na linha da mediocridade. Hora de deslanchar?

No Oeste e na estrada, Pelicans se manteve na linha da mediocridade. Momento para deslanchar?

Se o aproveitamento de 53,3% não chama tanta a atenção, é bom reparar que eles fizeram até o momento cinco partidas a mais fora de casa – e, jogando como anfitriões, os rapazes têm a quarta melhor campanha do Oeste, com 15-5, abaixo apenas de Golden State (21-1), Portland (20-5) e Memphis (19-5). Interessante, até porque a tabela que eles enfrentaram é, por ora, a nona mais difícil. Seus oponentes sustentam um aproveitamento de 50,5% na média, enquanto os do Phoenix Suns têm 48,6% (a segunda mais fraca). OKC, todavia, teve o quarto caminho mais pedregoso (51%). O aproveitamento intraconferência rende outro número otimista para o técnico Monty Williams: eles também venceram muito mais do que perderam (17-11, o quinto melhor).

Por essas e outras, na hora de fazer projeções estatísticas – como a fórmula/brincadeira desenvolvida por John Hollinger no ESPN.com, antes de ele virar dirigente do Grizzlies –, o Pelicans aparece, sim, como um convidado realista para a festa dos playoffs. Nesta segunda, antes mesmo da surra sobre o Sixers, o clube já aparecia como o favorito ao oitavo lugar, com 43,8% de chances, contra 40,8% do Thunder e 39,5% do Suns. Legal que, na projeção pelos resultados acumulados até esta terça-feira, os três podem terminar com a mesma campanha: 44 vitórias e 38 derrotas, com o ex-Hornets levando a vaga no desempate. Haja coração, amigo.

Para constar, de acordo com esse mesmo sistema, restaria de fato apenas uma vaga em aberto. O San Antonio Spurs seria o único time entre os sete primeiros abaixo dos 90% de probabilidade, mas com 88,6%. Como esses números são calculados? Bem, o cara explica de forma mais detalhada, mas saiba que eles saem depois que a temporada regular é simulada 5.000 vezes. A partir dos 5.000 resultados possíveis, saem os percentuais. É ciência? Sim. Exata? Dãr.

Obviamente o computador precisa fazer seus palpites a partir de uma fonte, e essa fonte são os dados enfatizados pelo mesmo Hollinger em sua medição estatística diária da liga, que não leva em conta apenas números básicos como a soma de vitórias e derrotas. Outra: a máquina também não vai saber se algum favorito ao título vai perder, ou adicionar uma peça importante daqui para a frente. Assim como não sabe, por exemplo, que o Pelicans está jogando neste exato momento sem o armador Jrue Holiday e que Austin Rivers, ineficiente que só, foi mandado para as cucuias, antes de ser resgatado pelo pai.

Sem Holiday (afastado por conta de uma reação de estresse na perna direita), um armador que intimida pela combinação de tamanho, porte físico e velocidade, a equipe vem respondendo bem, com seis vitórias em oito compromissos. A subida de produção se explica por um desempenho defensivo bem superior ao do restante da temporada: em janeiro, eles têm a sétima defesa mais eficiente da liga; na temporada como um todo, ocupam apenas o 22º lugar. O padrão ofensivo, um dos dez melhores do campeonato de modo consistente, se manteve, aliás. Mas o ganho na contenção dos oponentes representou um saldo de quatro pontos por posse de bola a mais. Lembrando que o armador titular disputou cinco partidas no mês. De qualquer forma, confesso minha surpresa aqui.

Dante Cunningham, importante na nova química do Pelicans

Dante Cunningham, importante na nova química do Pelicans

Tyreke Evans foi quem assumiu a armação, jogando ao lado de Eric Gordon na back court. Nenhum dos dois é reconhecido na liga como um defensor implacável. A efetivação de Dante Cunningham na formação titular já dá uma pista mais confiável (ao menos segundo o teste dos olhos). O ala dispensado pelo Minnesota Timberwolves tem envergadura e agilidade para tapar buracos. Sozinho, porém, não vai fazer milagre. Decorre que, com ele ao lado de Evans, Gordon, Davis e Omer Asik, o técnico Williams descobriu uma formação que lhe rende 19,4 pontos a mais a cada 100 posses de bola, um número para lá de ótimo, que só merece o asterisco pela baixa incidência, pelo fato de ser uma amostra pequena (98min47s no final). Supera os +15,2 do quinteto Holiday-Gordon-Evans-Davis e Asik (169 minutos). Para contextualizar, o Golden State Warriors titular, com Curry-Thompson-Barnes-Green-Bogut, bate os adversários por +29,1 pontos por 100 posses de bola, mas em 366 minutos juntos. Trocando Bogut por Speights, cairia para +23,2, em 170 minutos.

Agora, discutir qualquer assunto ligado ao Pelicans sem enfatizar a excelência de Anthony Davis é impossível. Com o Monocelha em quadra, a equipe tem um saldo de +5,3 pontos/100. Sem ele, despenca para -9.7/100. Os números do jovem astro ficam ainda melhores na condição de anfitrião, quando sua presença em quadra resulta num impacto de +14,4/100, com melhora substancial no setor defensivo. Com mais energia para usar os braços intermináveis e todo o seu pacote atlético, interfere muito mais nos planos dos adversários. Como no dia em que não se cansou de dar tocos em Tim Duncan, vibrando demais.

Em termos de medição de eficiência, com PER de 31,9, a temporada que o estimado Monocelha vem conduzindo em Nova Orleans está entre as melhores da história. Algo equivalente ao que Wilt Chamberlain e LeBron-no-auge atingiram.  Ah, e Michael Jordan também. Agora calma: isso não quer dizer que ele seja do nível de nenhum desses três – mas ‘apenas’ que, no seu tempo, comparando com os números de seus concorrentes da atual temporada, o ala-pivô vem sendo igualmente produtivo.

Até para efeito de reconhecimento do que Davis vem fazendo, com um jogo que vai muito além de cravadas e tocos (ainda que seus lances individuais sejam realmente chocantes), seria legal ver seu time deslanchar. Até porque a narrativa predominante na atual campanha vai impedir que ele entre para valer na discussão pelo prêmio de MVP, uma vez que sua equipe tem hoje, respectivamente, 15 e 7 derrotas a mais que o Golden State Warriors e Houston Rockets, ou Stephen Curry e James Harden. Dois craques, mas que, em termos de rendimento individual, não se equiparam do garoto de 21 anos.

O New Orleans Pelicans, claro, como time, não persegue mais Warriors, nem Rockets. Está de olho apenas em Suns e Thunder. Ainda que poucos estejam reparando nele.


Resumão de intertemporada da NBA: Conferência Leste
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Giancarlo Giampietro

Com a temporada 2012-2013 da NBA fazendo sua pausa tradicional para o fim de semana das estrelas em Houston, é hora de fazer um resumão do que rolou até aqui. Começamos pela Conferência Oeste e agora publicamos a do Leste:

LeBron, sobrando

LeBron: nem o Bulls incomoda mais?

Melhor jogador: LeBron James.
O jogo desta quinta-feira passou para todo mundo ver. LeBron atingiu um nível absurdo, que fica difícil de escrever qualquer coisa aqui que não pareça fraca ou estúpida. Com seu tamanho, força e capacidade atlética, o basquete sempre pareceu fácil. Mas vocês se lembram dos tempos em que ele não conseguia acertar nada de três pontos? Nesta temporada, já estamos falando de 42,4%, não importando que os melhores defensores da liga se dediquem diariamente a tentar, pelo menos tentar incomodá-lo de alguma forma. E, se ele não quiser chutar de fora, já que nem precisa mesmo, que ataque o interior da defesa adversária mesmo, causando estragos irreparáveis. Daqui a pouco os playoffs chegam, e será que alguém realmente vai conseguir pará-lo?
Não fosse a aberração chamada Durant, quem mais poderia entrar aqui? Carmelo Anthony, New York Knicks, e só.

Melhor técnico: Frank Vogel.
Se você não tem o elenco mais talentoso ofensivamente à disposição, você segue o manual de Tom Thibodeau, não? Que seu time se mate na defesa para tentar fazer a vida do adversário tão sofrida, miserável como a sua, vencendo 60% das partidas. Sem contar com um armador cerebral ou jogadores mais criativos no perímetros, o Pacers tem o sétimo pior ataque da liga. Mas, em termos de retaguarda, estamos falando do conjunto mais eficiente da temporada, e de longe, bem mais distante do segundo colocado, o Memphis, do que o próprio Grizzlies está do sexto, o Clippers. Mesmo que um gigantão como Roy Hibbert pareça hoje um monstro em extinção no esporte, se arrastando pela quadra – quando, na verdade, ele se torna um trunfo, congestionando o garrafão. E vocês já deram uma olhada para o que Vogel tem no banco para mudar um jogo?
Quem mais poderia estar no páreo? Mike Woodson, Knicks; Tom Thibodeau, Bulls.

Melhor reserva: Andray Blatche.
Hã… Sim, esse, mesmo. O cara que era vaiado a cada vez que recebia um passe na temporada passada pelo Wizards e hoje é o segundo jogador mais eficiente do Brooklyn Nets na temporada, um clube que conta com cinco atletas ganhando mais de US$ 10 milhões nesta temporada (Deron, Johnson, Wallace, Lopez e Humphries). Extremamente coordenado, ágil para um pivô, oferece ao técnico PJ Carlesimo uma opção ofensiva versátil e coesão defensiva, algo antes impensável para um jogador que era notório pela capacidade de caçar borboletas enquanto a bola quicava.
Quem mais? Amar’e Stoudemire e JR Smith, Knicks; Jimmy Butler, Bulls.

Dois quintetos:

Brooklin Lopez

Brooklyn: mais assertivo pelo Nets

1) Dwyane Wade, Paul George, LeBron James, Carmelo Anthony, Joakim Noah.
Wade e LeBron hoje não têm mais nenhum problema em repartir a bola, nenhuma síndrome sobre quem deve, ou não, controlar o jogo. O que não faz de Dwyane um jogador menos brilhante. Carmelo curte sua melhor temporada, justamente quando efetivado como um ala-pivô móvel, sem ter de se prender ao perímetro massageando a bola sem objetividade alguma. Noah é tão bom defensor quanto Chandler, com posicionamento impecável, presença física e garra, e ainda contribui mais no ataque com seus passes astutos. Sobre George, mais adiante.

2) Kyrie Irving, Jrue Holiday, Paul Pierce, Brook Lopez, Tyson Chandler.
Se há alguma coisa parecida com uma defesa aceitável em Nova York (o Knicks ocupa o meio da tabela nesse quesito, em 15º), é porque existe lá um Tyson Chandler, dando cobertura a seus armadores e Melo. Pierce segurou as pontas enquanto os reforços estavam perdidos, teve um péssimo mês de janeiro, e agora vem compensando essa queda em fevereiro, com média de 7,3 assistências no mês, ajudando a aliviar a perda de Rajon Rondo. Brook Lopez é o segundo jogador mais consistente do Leste no momento. Ele se livrou das lesões no pé e se tornou uma figura mais afirmativa no garrafão, dos dois lados, compensando o ano decepcionante de Deron Williams, Gerald Wallace e Joe Johnson. Kyrie Irving vai caminhando rapidamente para o grupo dos dez melhores da NBA, ao passo que sua dedicação na defesa também se intensifica, enquanto Jrue Holiday faz o que pode para o time não choramingar seu pivô lesionado.
Quem mais poderia estar no páreo? Chris Bosh, Heat; Al Horford, Hawks; Kevin Garnett, Celtics; David West, Pacers; Josh Smith, Hawks.

Três surpresas agradáveis:

1) Knicks brigando no topo: O time de Mike Woodson conseguiu bloquear aquela que era a maior ameaça ao sucesso em quadra: o choque de egos. A presença de Jason Kidd não poderia ter sido mais positiva. Carmelo, enfim, consegue se empenhar noite após noite. Amar’e aceitou as críticas e o banco. Raymond Felton esqueceu seu ano perdido em Porland. As peças complementares funcionaram. Os Bockers enfim voltam a ser respeitáveis.

John, Pau George e Paul

Paul George: subindo

2) Paul George, chegou a hora: Ele saiu pouco badalado da universidade de California State, mas alguns scouts o consideravam um dos melhores da fornada de 2010. Olhando a lista agora, dá para imaginar que pelo menos Sixers (Evan Turner), Wolves (Wes Johnson!!!), Warriors (Ekpe Udoh), Clippers (Al-Farouq Aminu) e Jazz (Gordon Hayward) talvez se arrependam de sua escolha, diante do que vem se transformando o décimo da lista. Sem Danny Granger, George assumiu maior responsabilidade no ataque, ganhando mais confiança e aprendendo aos poucos. Na defesa, coloca muita pressão nos adversários devido a sua envergadura e capacidade atlética no perímetro, ajudando a compor o paredão de Vogel. O trabalho do técnico e de sua comissão liderada por Brian Shaw no desenvolvimento do jovem ala se mostra exemplar.

3) Andre Drummond, impacto imediato: Ah, que ele talvez nem goste tanto de basquete assim que não trabalhe duro, que não sei mais o quê. As previsões dos mais pessimistas vão sendo refutadas energicamente pelo pivô adolescente do Pistons, uma força já temida debaixo da tabela, com média provavelmente de 79 enterradas por jogo. Também já é um reboteiro de respeito, com atributos físicos que lhe permitem capturar rebotes em zonas bem distantes de onde está posicionado. E, sim, ele realmente só tem 19 anos. Uma pena que tenha sofrido a lesão nas costas para desacelerar seu desenvolvimento.

– Três fatos desagradáveis:

1) Deron Williams, saudades de Jerry Sloan: A lista era para ser de surpresas desagradáveis. Mas, se você for levar em conta o histórico de Deron pelo Nets, não há novidade alguma em sua decepcionante campanha. Cada vez mais insistindo nos disparos de longa distância, que não o seu forte, abrindo mão das infiltrações e de agredir a defesa, hoje o (pretenso) astro sofre para acertar  apenas 41,3% de seus arremesos de quadra. Pior: em termos de assistências, tem sua pior média (7,5, por 36 minutos) desde o ano de novato (5,6), e sem maneirar nos desperdícios de bola, ainda elevados para alguém que ataca menos o garrafão. Agora amparado por um time competitivo, o armador simplesmente não tem conseguido justificar toda a atenção que recebeu durante as férias, muito menos seu salário de US$ 20 milhões anuais.

2) Andrew Bynum x O Grande Lebowski: Mais um caso daqueles… Não dá para dizer que ninguém esperava por isso. O pivô ainda não conseguiu entrar em quadra devido a problemas crônicos no joelho e ainda atrasou sua recuperação durante uma partida disputadíssima de boliche. Sem mais.

3) Anderson Varejão e a enfermaria: O capixaba era para estar na trinca acima, com a melhor temporada de sua já longínqua carreira nos Estados Unidos. Mas infelizmente a lesão na região do joelho e, depois, a descoberta de um coágulo no pulmão acabaram por afastá-lo novamente de modo muito precoce das quadras.

– O que resta para os brasileiros:
Com a baixa de Leandrinho e Anderson e as longas passagens de Fabrício Melo pela D-League, Nenê é quem fica de porta-bandeira solitário na conferência. Depois de se arrastar por boa parte da primeira metade do campeonato, lidando com uma para lá de incômoda fascite plantar, em fevereiro o paulista de São Carlos conseguiu se recuperar, com médias mais similares ao que produziu em Denver. Que ele fique saudável e consiga jogar basquete para valer até maio.


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