Vinte Um

Arquivo : Hobson

O arremesso dos playoffs 2015 da NBA é de Curry. Por enquanto?
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Giancarlo Giampietro

Com as fotos abaixo, nem é preciso apelar para a verborragia:

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Foto já clássica. Curry acerta da zona morta para forçar a prorrogação em Nova Orleans, após ficar atrás por 20 pontos

Uma foto já clássica

De perto, podemos ver a expressão de torcedores que já sabiam o que estava acontecendo. E Curry de olhos fechados

Nós contra eles

Nós contra eles

O ângulo para o arremesso

O ângulo complicado para o arremesso, ainda mais com um Monocelha vindo em sua direção

E ainda foi falta em cima do craque do Warriors. Vitória poderia ter saído antes da prorrogação

E ainda foi falta em cima do craque do Warriors. Vitória poderia ter saído antes da prorrogação

I-na-cre-di-tá-vel, Curry. Cruel demais

I-na-cre-di-tá-vel, Curry. Cruel demais

Rumo ao 3 a 0. Fui!

Rumo ao 3 a 0. Fui!

Para quem está boiando, o seguinte: o New Orleans Pelicans tinha 20 pontos de vantagem no início do quarto período contra o Golden State Warriors (89 a 69). Jogo 3 de uma série melhor-de-sete pelos playoffs da NBA. O time havia perdido as primeiras duas partidas. Uma vitória aqui poderia, quiçá, mudar os rumos do confronto. Mas o líder da Conferência Oeste batalhou. Teve uma reação daquelas que vai ficar na memória de sua torcida por muito tempo, obviamente por causa do arremesso acima.

Faltando pouco mais de 9 segundos para o fim, o técnico Steve Kerr pediu um tempo, três pontos atrás no placar. Sua jogada deu certo, com a reposição de Draymond Green para Stephen Curry na ala esquerda, com Quincy Pondexter em seu encalço. O primeiro arremesso deu aro, saiu curto demais. Mas ainda deu tempo para Marreese Speights pegar o rebote ofensivo e acionar o cestinha mais uma vez. Pondexter, um bom defensor, deu uma cochilada e demorou para reagir. Por um instante, se distrai com o próprio Green ao seu lado direito. Quando acorda, Curry já tinha a bola em mãos novamente para fazer o disparo. O detalhe é que Speights faz uma proteção mínima para o astro, talvez o suficiente para afastar Tyreke Evans e Anthony Davis, que se aproximavam. Caiu: 108 a 108. Venceram, depois, por 123 a 119. Foi o arremesso dos playoffs até agora. Com o seu talento e a possibilidade de uma longa campanha do Warriors, não duvido faça outro ainda mais chocante.

Agora o lance todo:

Já havia feito o mesmo exercício no ano passado, com um chute de três de Vince Carter no apertado duelo entre Mavs e Spurs pela primeira rodada. O Dallas foi quem mais deu trabalho ao San Antonio no fim. Tal como naquele lance, aqui o efeito é o mesmo: as fotos dão noção muito maior do drama e da dificuldade em torno da cesta de Curry do que o vídeo, não? O VT ao menos nos ajuda a contar: foi qualquer coisa em torno de 3s5 a espera que o gatilho teve de esperar entre a primeira tentativa falha e a bola consagradora. Sim, em menos de quatro segundos pode acontecer tudo isso.

*    *    *

Algumas notas sobre o jogo e a cesta.

(Vocês não acreditaram nessa história de escrever pouco e deixar a imagem contar tudo, né?)

A primeira vai na onda do contra. Curry tentou 29 arremessos e converteu apenas 10 (29% 34%, na verdade, com a auditoria do camarada Felipe Neves, um jornalista que sabe, sim, fazer contas!). Da linha de três, foram 11 erros em 18 tentativas. Ainda assim, marcou 40 pontos porque também é um mago no drible, bate a defesa e vai lá dentro descolar lances livres (matou 13 em 14, parecendo até mesmo James Harden nessa). Vi por aí algumas mensagens questionando o queixo caído de toda a liga com os Splash Brothers de Golden State, e achei um ponto válido, mesmo: se essa linha estatística fosse de Russell Westbrook – ou… Kobe–, qual seria a reação majoritária? Mesmo no caso de uma vitória e um arremesso dramático?

Reparem, por favor, que a pergunta tem muito mais a ver com o que se fala sobre o armador de OKC e sobre a lenda viva do Lakers do que Curry, que não fez sua melhor partida, esteve abaixo da média, mas, poxa, marcou 17 pontos em 7 minutos de quarto período e mais 5 de prorrogação. Errou sete de seus últimos 11 arremessos, mas converteu O Chute que importava, não? Além disso, seguiu a linha da nova contagem de arremessos: pode ter tido um aproveitamento baixo de quadra, mas compensou com o elevado número de bolas de longa distância e lances livres. Enfim.

*   *   *

Mais arremessos de três proporcionam chances maiores de rebotes ofensivos. A matemática comprova isso. A defesa em geral está distorcida, desequilibrada, a bola respinga no aro para mais longe, para fora do semicírculo etc. Mas os jogadores do New Orleans simplesmente não conseguiram fazer um bloqueio de rebote decente. A torcida se dividia entre o apoio aos atletas e a aflição, a cada segunda segunda chance obtida pelos adversários. Foram 12 rebotes ofensivos apenas no quarto período para os queridinhos da América. Uma dúzia, e com baixa estatura!

Sim, quem merece (mais e mais) aplausos aqui é Steve Kerr, gente. Que não abriu mão do jogo em nenhum momento. Numa última tentativa, no início do quarto período, ele mandou para a quadra uma formação sem pivôs: Shaun Livingston, Leandrinho, Iguodala, Klay Thompson e Draymond Green. Livingston, Thompson e Green têm 2,01 m de altura. Iguodala, 1,98 m. Leandrinho, 1,94 m (mas com a envergadura de um cara muito mais alto). A ideia: ganhar em velocidade, mobilidade, enquanto, na defesa, podiam trocar tudo, procurando apenas manter Green com o Monocelha. A tendência é ver cada vez mais disso, conforme praticam o Milwaukee Bucks e o Philadelphia 76ers. O Miami Heat conquistou dois títulos assim também.

*    *    *

Em tempo: Leandrinho marcou os primeiros quatro pontos do quarto – e todos os seus seis pontos nessa parcial. O agora veterano ala-armador vai contribuindo de modo significativo para Warriors, ainda que em poucos minutos. Tem um papel definido e vai  produzindo.

*    *    *

A nota mais alternativa e curiosa da noite? O Santa Cruz Warriors está disputando a final da D-League. A série contra o Fort Wayne Mad Ants, o time que contou com breves passagens de Lucas Bebê e Bruno Caboclo, começou nesta quinta. Pois o Warriors B também venceu fora de casa, zerando uma desvantagem de 20 pontos. Coincidência?

O atlético ala-armador Elliot Williams, escolha de primeira rodada de Draft que não vingou em Portland, foi o cestinha, com 31 pontos. O pivô bósnio Ognjen Kuzmic é o único cedido pelo time de cima. Somou 18 pontos, 13 rebotes e 4 assistências. Quem também esteve em quadra foi o ala Darington Hobson, que não deixou saudades em Brasília, e Taylor Griffin, o irmão do Blake. Do outro lado, o único atleta cedido pela NBA ao Mad Ants é o pivô Shane Whittington, do Indiana Pacers.


“Era a hora de mudar”, diz Vidal, agora sem Alex e Nezinho
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Giancarlo Giampietro

Vidal, novamente dirigindo o Brasília. Mas agora é outro Brasília

Vidal, novamente dirigindo o Brasília. Mas agora é outro Brasília

Não foi a primeira vez que Alex ou Nezinho deixaram a capital federal. O ala, por exemplo, havia saído até mesmo do país em 2007 para jogar pelo Maccabi Tel Aviv. Nezinho, por sua vez, já havia pegado a estrada para Limeira em 2008. Os dois retornaram, claro, e encheram a gaveta de medalhas. Muitas medalhas conquistadas.  Mas agora parece que é para valer. Que chegou a hora de Brasília seguir em frente com seu basquete sem a veterana dupla paulista.

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Pelo menos é a sensação que o blogueiro teve em um papo agradável com o técnico José Carlos Vidal na cerimônia de abertura do NBB7, na última quinta-feira, no Paulistano – um grande evento, por sinal, muito bem organizado, de deixar qualquer competição brasileira com inveja, e prato cheio para os jornalistas, de tantas as fontes para serem consultadas. No decorrer dos próximos dias e semanas, vamos divulgar esse material coletado.

Começamos com Vidal, ele mesmo que entra no lugar do argentino Sérgio Hernández e vai para sua terceira passagem no comando técnico da equipe candanga, que faz sua estreia no campeonato nacional nesta terça-feira contra o Bauru, às 20h, na Panela de Pressão do interior paulista. Já mais um reencontro com Alex marcado, afinal, com transmissão oficial no site da LNB. É difícil para qualquer clube substituir um jogador como o ala da seleção, ou Nezinho. Especialmente no caso de um Brasília que havia se habituado a conquistar tudo com o núcleo construído em torno da dupla, além de Guilherme Giovannoni e Arthur. Mas, para o treinador, era chegada a hora. “Já havia um desgaste natural de todos esses anos”, afirma. “cho que a saída dos dois foi de 50% para cada lado (clube e jogador).”

Eles chegam: Fúlvio, Hobson e Cipolini

Eles chegam: Fúlvio, Hobson e Cipolini

Giovannoni e Arthur ficaram, agora com a companhia de Lucas Cipolini, o dinâmico pivô ex-Uberlândia, do armador Fúlvio e do americano Darington Hobson, que chega com a marca NBA em seu currículo. Os dois últimos, aliás, oferecem ao time um perfil completamente diferente, se comparados com os que partiram. A expectativa é que a equipe tenha mais movimentação de bola como resultado. “Na meia quadra, a gente aumentou nossa qualidade, de visão, de inclusão de todos no jogo”, diz Vidal. Para ele, no entanto, a prioridade ainda é o jogo de transição, a partir do momento em que o time solucionar algumas questões defensivas, hoje sua maior preocupação.

Foi algo, aliás, preocupante, mesmo, durante a primeira fase da Liga Sul-Americana que o clube disputou há algumas semanas em Bauru, sofrendo para eliminar o Defensor, do Uruguai, e conseguir a classificação. De todo modo, para Vidal, essa não é hora de pensar em renovação, no sentido de abrir espaço para juventude em seu elenco. Jovens como Ronald e Isaac estão nos planos, mas precisam assumir seus papéis. O próprio treinador lembra que ainda tem duas vagas de estrangeiros para serem preenchidas. E sua vontade é que venham atletas para decidir, para levar o clube de volta ao topo.

Após ter disputado as primeiras quatro decisões do NBB, os candangos ficaram fora da festa nas últimas duas edições, abrindo espaço para o Flamengo equilibrar o tabuleiro histórico. “É um momento de reestruturação, para poder atingir os resultados de que o Brasília precisa. Conseguir títulos e manter o basquete forte”, afirma. “Não estamos num momento de queda. Vamos reestruturar, mas pensando para cima. Ninguém vai ficar batendo palma para um time em renovação. Já vi isso acontecer com alguns times, quando dá essa abaixada e que uso como exemplo. Você estava levando duas, três quatro mil pessoas e depois abaixa para 400, 500. Não quero que isso aconteça em Brasília. Que continuemos com um time competitivo.”

Confira a entrevista completa:

Vidal: Brasília joga por títulos, e para agora

Vidal: Brasília joga por títulos, e para agora

21: Bom, a primeira pergunta é inevitável: o núcleo de seu time sofreu uma boa reformulação, com a saída de figuras como Alex e Nezinho, que haviam criado uma forte identidade. Quais as perspectivas para esta nova equipe?
José Carlos Vidal: É uma reconstrução difícil, um recomeço. No basquete você tem cinco jogadores titulares e os sete no banco. Quando você perde dois titulares, e importantes, tem uma reconstrução que sabemos que vai demorar um tempo e que estamos tentando fazer da melhor maneira possível. Por outro lado, acho que com aquele grupo já havia um desgaste natural de todos esses anos. O que o Flamengo fez anteriormente, o Brasília também precisava fazer.

Sentia, então, que era era mesmo a hora de mudar?
Era. Os resultados não foram ruins. Nessa última fase, em quatro anos com UniCEUB, ganhamos quatro títulos. Foram duas Ligas Sul-Americanas e dois nacionais. Acho que o que ficou de má impressão foi a derrota do NBB do ano passado, que não foi bom para a equipe e também para os patrocinadores. E aí decidimos mudar por bem ver com quais jogadores queríamos ficar e também quais jogadores queriam sair. Acho que a saída dos dois foi de 50% para cada lado. Acho que eles queriam sair, e a direção do clube também achou que era o momento. Conseguimos manter o Guilherme como um protagonista.

Pelo que vimos da primeira etapa da Liga Sul-Americana, o Giovannoni já foi bastante exigido. O time agora será reconstruído ao redor dele, como um pilar?
Isso, ele acaba sendo esse pilar, o que é importante. Também, perder três jogadores desse nível de uma vez seria complicado (risos). Haja busca por americano. A imprensa de Brasília, então, depois da saída dos dois, já estava falando que o time iria acabar, que acabou o sonho.

O clima ficou um pouco tenso, então?
Ficou tenso, mesmo (risos). Mas aí com a vinda do Fúlvio, para o lugar do Nezinho, acho que são jogadores equivalentes. A substituição do Alex é algo mais complicado. Sabia que seria. Ficamos esperando, aguardando um pouco…

Bom, o perfil dele é raro no Brasil, de ser um cara que joga realmente dos dois lados da quadra, e bem. Que causa um grande impacto.
Sim, não é fácil. Além disso, ele tinha um papel de liderança no grupo. Era o capitão, uma referência. Acho que isso por vezes é até mais difícil, do que uma questão tática ou técnica. Então isso é algo que o Giovannoni está tentando (suprir). E agora estamos com este norte-americano (o ala Darrington Hobson, que jogou a temporada passada em Israel e já passou pela NBA), que faz mais uma função 2 ou 1 e veio para substituir, para ser teoricamente importante. Precisávamos de um jogador dessa posição.

Você o considera um cara que venha para fazer a diferença? É sabido que, dos tempos de universidade em Novo México, que o Hobson atuava muitas vezes como um facilitador, mas não com um perfil de carregar pontuação.
A experiência que ele teve em Israel foi a única fora dos Estados Unidos. Não é aquele americano que vem para (chutar tudo)… Ele até perguntou para mim o que esperava dele. O sonho dele era (fazer carreira) nos Estados Unidos, claro, e parece que já foi alcançado de alguma forma.

Aliás, desculpe, mas como chegaram a ele? Quais informações tinham?
A gente conhecia também o Vandinho, que foi assistente técnico dele lá (referência a Adjalma Vanderlei Becheli Júnior, o Vandinho, brasileiro que trabalhou com Hobson no State University-College of Eastern Utah e que já trabalhou no Paulistano) e falou muito bem dele e disse que já estava recuperado (de cirurgia nos dois lados do quadril). A gente o conheceu primeiro por vídeos. E aí meu assistente encontrou o Vandinho numa clínica em que ele estava aqui no Brasil e ficou sabendo da negociação e disse que já havia jogado com ele. Aí foi melhor ainda. E foi por um outro lado também. Parece um cara intenso e vem com muita expectativa de que fazer uma boa temporada aqui. Ele sabe da pressão que vai ser. Já viu nossos jogos, sabe como é. Agora, é um jogador que não veio para ser um definidor, não é o americano definidor. Aí eu tendo Guilherme, Arthur e Cipollini para isso, que pontuam bem, e ele pode contribuir bem com suas características.

E como está o Fúlvio? Ele obviamente não teve um ano muito fácil em São José, depois de cirurgia por ruptura do cruzado anterior.
Naquela semana da Liga Sul-Americana, ainda tínhamos o Fúlvio a 60%. Não podemos esquecer isso, que ele estava há um ano parado. Foi uma aposta nossa. Eu gosto muito dele. Já havia trabalhado com ele como assistente. Todo técnico precisa ter um jogador de confiança. No meu time é assim, então vamos ter o Fúlvio. Que é armador, e quando você tem um armador assim, facilita o trabalho do técnico.

Alex, agora do outro lado: defesa ainda inspira preocupação. Isaac nos planos

Alex, agora do outro lado: defesa ainda inspira preocupação. Isaac nos planos. Crédito: Henrique Cunha/Paschoalotto/Bauru

Saem Nezinho e Alex, muito agressivos, um estilo que eles têm e com o qual venceram muitos títulos por Brasília. Mas agora chegam atletas de perfil diferente. Fúlvio pode pontuar, claro, mas tem mais vocação para a organização, muito mais passador. E o Hobson também. Você imagina um time mais homogêneo no ataque devido a essas características? O que você imagina de identidade para a equipe nesse sentido?
Não gosto muito de falar de filosofias, mas de estilos de jogo. Penso muito no jogo de transição, desde as categorias de base. E o Hobson também ajuda para esse papel. Ele pode pegar um rebote e levar a bola por conta, atravessando a quadra e dando bom ritmo ao time. Acho que, na meia quadra, a gente aumentou nossa qualidade, de visão, de inclusão de todos no jogo. Pelo Fúlvio e por ele. O Guilherme fazendo mais uma posição de 3, algo que ele fez a vida toda. Sabe se virar ali e está voltando a isso, estou insistindo com ele. É uma função importante para mim e na qual já foi usado no NBB5 e 6. E o Hobson também tem o um contra um, com o drible. Além disso, ainda vamos em busca de pelo menos mais um reforço, precisando alguém ali no poste baixo, mais forte, que pontue e possa fazer as coisas na hora do sufoco. Estamos procurando. Temos mais uma vaga de americano. Agora é esperar. É um time que vai poder jogar mais solto, mais leve e talvez com mais consistência. O problema por enquanto é mais a defesa, é onde temos de melhorar mais, antes de começar a temporada. Nesses três primeiros jogos, vimos que precisamos melhorar bem.

Isso tem mais a ver com ganhar coesão com as novas peças, ou é algo que vem mais das características dos jogadores, que pedem outro sistema defensivo para encaixá-los?
É mais a segunda alternativa, mesmo. Mas estou buscando esse sistema, mudando algumas coisas. Porque por, às vezes, mais que você queira uma coisa, tem hora que as características não são para aquilo que se pede. Mas acho que é um time que pode defender pelo aspecto cognitivo, que é algo que estou sempre falando para os jogadores: que às vezes você pode não ser um grande defensor de físico, individualmente, mas que, se defender conjuntamente, com inteligência, escolher a hora certa, fazer as trocas certas, seguir as regras, pode dar certo. O técnico tem de saber isso: as virtudes de sua equipe, de saber como pode jogar. Como sabia com a equipe anterior, desde 2006 e de quando voltei. Esse time agora é de outra visão, então tem de ter adaptação, mesmo. Explorar nossas virtudes e aceitar nossas deficiências para evoluir a partir daí, para um tipo de defesa que não fazíamos muito e no qual estamos treinando nesses dois meses. Agora é tentar por mais em prática e aí, sim, fazer uma avaliação real. Acho que o jogo contra o Bauru foi um bom jogo para isso. Até o terceiro quarto, estava equilibrado.

Queria perguntar também a respeito de dois dos atletas mais jovens: Ronald e Isaac. Eles já estão integrados à base do time há um tempo. Nessa nova configuração, eles ganham mais responsabilidades?
Acho que são dois jogadores que não podem mais ser considerados esperanças ou promessas, mas que têm que, neste ano, serem realidades. O Isaac quase não jogou no ano passado com o Sergio (Hernández, técnico argentino que dirigiu o time por apenas uma temporada) na rotação. Neste começo de temporada ele deu um pouco de azar, se machucou, mas é um cara que é para ser nosso sétimo jogador. Com o Ronald também. Depois, se eu troxer um 5, pode ser que a coisa mude um pouquinho. Mas o Isaac é um cara com quem conto. Eu o trouxe de Vila Velha, um garoto importante, arremessador, mas que tem de se impor.  Não vou dizer que tenha de ser um protagonista, mas que seja uma peça importante, assumir um papel. Isso tenho cobrado. Conto com ele e o Ronald. E aí tem os subs, que ainda são mais garotos, que nunca tinham jogado no adulto, os subs, o Bruno e o Gustavo. Mas não quero fazer uma renovação total no Brasília. Acredito que o Brasília tem um nome, e que a gente vai ser cobrado por isso. Também vou cobrar dos patrocinadores, que a gente tem vaga para mais dois estrangeiros. A gente tem de ver como começa e correr atrás. De chegar para a disputa. Acho que Limeira… Flamengo… Bauru estão com os elencos mais fortes do NBB. Não é o momento de Brasília ficar pensando em renovação. É um momento de reestruturação, para poder atingir os resultados de que o Brasília precisa. Conseguir títulos e manter o basquete forte.

O tradicional Nilson Nelson já lotou com basquete na capital federal. Pegou?

O tradicional Nilson Nelson já lotou com basquete na capital federal. Pegou?

Como você poderia nos explicar essa forte identificação de Brasília com o basquete? Sabemos que grandes jogadores vieram da capital, mas o que faz a cidade ter essa relação especial? Seria a ausência hoje de um grande clube de futebol? Ou o que mais? Como se desenvolve?
Acho que isso facilitou. Mas tem mais. Comecei a jogar basquete em Brasília em 1973, e aí a gente teve alguns ícones. O próprio Oscar começou a jogar no time em que joguei. Depois cheguei a um nível razoável. Teve o Pipoka, que saiu da minha geração de seleção. Sempre teve internamente quatro ou cinco clubes que tinha um campeonato que chegava a lotar ginásio. Tinha uma história. Eu mesmo lutei pelo Gama, que teve um time com o Gama em 2000, mas aí nunca deu certo. Já existia uma identificação com o esporte, mais do que o vôlei e outros esportes coletivos. Não ter esse time de futebol facilitou. Agora nessa nova fase conseguimos por 20 mil pessoas em jogo em 2006 contra o Flamengo, e daí para a frente a coisa foi evoluindo. Como todo brasileiro, a maioria quer torcer para time que ganha. Se começarmos a perder muito jogo em casa lá, o pessoal começa a cobrar que vai para o ginásio e nunca tinha perdido um jogo (Risos). Aí você fala que também não é bem assim… Então tem tudo isso. Foi crescendo. É por isso que falo com o pessoal, com os patrocinadores que não estamos num momento de queda. Vamos reestruturar, mas pensando para cima. Ninguém vai ficar batendo palma para um time em renovação. Já vi isso acontecer com alguns times, quando dá essa abaixada e que uso como exemplo. Você estava levando duas, três quatro mil pessoas e depois abaixa para 400, 500. Não quero que isso aconteça em Brasília, não. Que continuemos com um time competitivo.


Em movimento intrigante, Brasília contrata ala ex-NBA
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Giancarlo Giampietro

Hobson, em rara aparição pelo Milwaukee Bucks. Agora no cerrado

Hobson, em rara aparição pelo Milwaukee Bucks. Agora no cerrado

É difícil redigir manchetes, sabia? Ou títulos. Elas são a mesma coisa, basicamente, mas “manchete” carrega muito mais peso do que “título”, como o pai dos burros – o  atencioso pai de todos nós– conta. “Manchete é o título principal numa edição de jornal” e pode vir “em caracteres grandes, como título de uma notícia sensacional”, na descrição do Michaelis.

Esse aqui de cima vale como título, no qual para muita gente deve se destacar o “ex-NBA”. Que é um tanto sacana, admito, uma vez que o ala americano Darington Hobson, contratado no final de semana pelo Brasília, disputou apenas cinco jogos pela grande liga. Cinco jogos? Ex-NBA? Sensacionalismo na certa. Pois é. Mas convido o amigo e corajoso leitor a embarcar comigo se concentrar mais na primeira parte da frase, no tal do “movimento integrante”. Mais genérico, mas que nos ajuda a contar melhor essa história.

São dois pontos a nos intrigar, na verdade.

Primeiro que Hobson é um jogador muito talentoso, que vai completar 27 anos daqui a uma semana, e que tem tudo para causar um grande impacto em quadras brasileiras por um time de ponta;

Herrmann, uma contratação excepcional para o mercado brasileiro

Herrmann, uma contratação excepcional para o mercado brasileiro

Segundo que, mesmo que tenha ficado muito tempo em quadra  pela NBA, isso ninguém vai lhe tirar de seu currículo, e ainda é muito difícil encontrar alguém com essa grife jogando por essas bandas. De qualquer forma, não é necessariamente o carimbo que importa mais nessa transação. O que pesa mais é o simples fato de os clubes do mercado brasileiro parecerem um pouco mais antenados do que o habitual. Em vez de ficar apenas com a rebarba da rebarba, temos visto algumas contratações um pouco mais relevantes em cenário internacional, que exigiram a atenção de veículos especializados lá fora.

A repatriação de Rafael Hettsheimeir pelo Bauru pode não ser a melhor notícia para os fãs do pivô brasileiro, que talvez esperassem um pouco mais dele, mas é excelente para Bauru e a liga nacional. Mais relevante ainda é a chegada de um craque como Walter Herrmann ao Flamengo – outro ex-NBA, mas que definitivamente tem muito mais em seu histórico profissional a apresentar do que a passagem de três anos pelos Estados Unidos. Campeão olímpico, MVP na Espanha, um baita jogador, ainda que em fase final de carreira. O mesmo Fla que parece ter acertado também no fim de semana a contratação de Derrick Caracter, pivô ex-Lakers (sobre a qual falaremos mais nesta semana, esperando a oficialização, já com a ressalva de que Caracter só disputaria a Copa Intercontinental contra o Maccabi e os amistosos nos Estados Unidos).

Enfim, são quatro contratações que têm muito mais representatividade no mercado da bola (ao cesto). Entre elas, falemos agora um pouco mais sobre a de Hobson, que chega para reforçar consideravelmente a rotação perimetral do Brasília. É preciso ver com qual mentalidade o americano chega ao cerrado. Se chega com perspectiva de dominar (esfomear, leia-se), se está animado, ou o quê. Nunca se sabe. Se for o mesmo Darington de sempre, deve contribuir com algumas características muito interessantes.

Vindo do modesto nível do Junior Colleges, Hobson entrou no radar da NBA durante sua temporada de junior, pela Universidade de New Mexico, em 2009-10. Os Lobos, como são conhecidos, se tornaram O Time da conferência Mountain West nos últimos anos, deixando San Diego State (de Kawhi Leonard) e BYU (Jimmer, Baby, Luiz Lemes e Tavernari) para trás. Têm presença constante nos mata-matas da NCAA, mas com pouco sucesso nacional.

Hobson enterra: não sei bem o quanto de "show" o americano pode entregar no NBB, mas é de se esperar um talento acima da média para o Brasília

Hobson enterra: não sei bem o quanto de “show” o americano pode entregar no NBB, mas é de se esperar um talento acima da média para o Brasília, para tornar a equipe mais coesa

Em sua campanha com a equipe, o ala se tornou o primeiro jogador da história a liderá-la em pontos (15,9), rebotes (9,3) e assistências (4,6). O que já nos conta muito sobre a versatilidade deste atleta canhoto de 2,01 m de altura e corpo lânguido. Ganhou o prêmio de destaque da MWC, um estrondo, ainda mais se considerarmos que foi sua primeira temporada em um campeonato decente, por um time de ponta.

Hobson pode pontuar de diversas maneiras – chute de fora, partindo para a cesta, ainda que de forma errática. Mas, creio, seu diferencial esteja realmente em sua visão de quadra e em seu potencial como “homem de ligação” num quinteto, fazendo de tudo um pouco para tornar um time uma unidade mais coesa. Mantendo esse perfil, é alguém que poderá assessorar, e muito, o armador Fúlvio na organização ofensiva – os chutadores Arthur e Giovannoni devem gostar. Segue aqui, em inglês, um scout de seus tempos de universitário, cortesia do DraftExpress.

Em 2010, Hobson foi escolhido na posição 37 do Draft, pelo Milwaukee Bucks, aos 22. Sua cotação chegou a ser mais alta, mas uma insistente lesão na virilha o atrapalhou bastante no processo de recrutamento. as mesmas dores que o impediram de disputar a liga de verão de Las Vegas pelo clube. Depois de fazer um exame detalhado, os médicos do Bucks descobriram que o jogador, na real, tinha um desalinhamento nos quadris. Acabou passando por duas cirurgias e ficou fora de toda a temporada, tendo seu contrato rescindido. Esse é um fator decisivo para entendermos sua condição de “ex-NBA”.

A franquia do Winsconsin ainda foi leal ao jovem em que apostou. Uma vez recuperado das operações, preparou em 2011 um novo contrato, de dois anos, por US$ 1,4 milhões, mas parcialmente garantido. O ala, porém, só ficou no time até fevereiro de 2012, sem conseguir mostrar muito – foi nesse período que aconteceram suas cinco partidas pela liga, com resultados pouco satisfatórios em uma situação obviamente pouco favorável. Para constar, seus concorrentes por tempo de quadra eram Stephen Jackson, Carlos Delfino, Shaun Livingston e Tobias Harris.

Dispensado, foi batalhar na D-League. Naquela temporada, jogou pelo Fort Wayne Mad Ants – sério concorrente do Rio Grande Valley Vipers como nome mais absurdo de franquia norte-americana. Depois, em 2012-2013, foi companheiro de Scott Machado no Santa Cruz Warriors, pelo qual teve médias de 9,2 pontos, 5,7 rebotes e 4,3 assistências – de novo a versatilidade dando as caras. No ano passado, em busca de melhor pagamento, o americano topou jogar fora do país pela primeira vez, defendendo o Hapoel Migdal Haemek, da segunda divisão israelense, com médias de 15,4 pontos, 10,5 rebotes e 3,3 assistências em 12 jogos. Antes de mais nada, não riam: “segunda divisão israelense” não parece tão ruim quanto parece. Estamos falando de um país pequeno, mas de forte estrutura e competitividade interna bas-que-te-bo-lís-ti-ca.

Agora, aparece Brasília na vida do americano, que, em seu contrato, tem cláusulas que o liberariam para a NBA ou para a Europa, caso apareça alguma proposta que considere mais valiosa. Se no início de carreira como profissional, seus problemas físicos foram sérios o suficiente para abalar suas pretensões, no NBB, agora em forma, Hobson tem o necessário para se destacar, com um estilo que está longe de ser explosivo, mas bastante fluído. É daqueles jogadores que faz o basquete parecer fácil – como no caso de Marquinhos, por exemplo. Alguém que pode ajudar o Brasília a lutar novamente pelo títulos. Títulos que, aí, sim, renderiam manchetes.

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Curiosidade sobre o Draft de 2010 da NBA, que só reforça o quão brutal é a concorrência para ter essa sigla em seu currículo. Dos 30 atletas selecionados na segunda rodada daquele ano, apenas dois estão na liga no momento com contratos garantidos. Dois! Os felizardos são o inigualável Lance Stephenson, agora do Charlotte Hornets, e o já moribundo Landry Fields, que cumpre seu último ano de vínculo com o Toronto Raptors, quase fora do baralho, mas um cara decente, que pode dar uma força a Bruno Caboclo nos treinos.De resto, temos o pivô Jarvis Varnado no Philadelphia 76ers, sempre  à mercê dos planos mirabolantes do gerente geral Sam Hinkie.

Outros dois jogadores estariam nos Estados Unidos se quisessem e seus clubes europeus permitissem: o pivô alemão Tibor Pleiss, hoje do Barcelona, cujos direitos pertencem ao Oklahoma City Thunder, e o ala-pivô sérvio Nemanja Bjelica, do Fenerbahçe, destaque pela Copa do Mundo, vinculado ao Minnesota Timberwolves. São dois caras bem pagos na Europa, mas que logo, logo devem cruzar o Atlântico. Da mesma safra de estrangeiros selecionados? Paulão Prestes, também pelo Wolves.

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Se não estou deixando passar alguém, o NBB 7 vai começar no dia 31 de outubro com quatro jogadores que com experiência na NBA, em partidas oficiais. Alex, Marquinhos e Herrmann fazem companhia a Hobson. Fica pendente uma quinta vaga para Rafael “Baby” Araújo, caso feche mais um contrato.

Outros atletas que já passaram por lá e cá, com uma bela ajuda da turma no Twitter: Leandrinho, o armador Jamison Brewer, ex-Pinheiros e Pacers, o pirado Rashad McCants, aposta ex-Timberwolves totalmente furada do Uberlândia, o ala-armador Jeff Trepagnier, ex-Liga Sorocabana e Nuggets, e os alas Eddie Basden, que até que se deu bem em Franca, Bernard Robinson, ex-Minas e Basquete Cearense, e Chris Jefferies, ex-Raptors e Minas.

Destes, McCants era o mais talentoso e gabaritado, sem dúvida, mas a dor-de-cabeça que ele causa fora e dentro de quadra o tornam proibitivo. Comparando com seus antecessores, Hobson seria, então, o mais promissor dos americanos importados.

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De jogadores draftados, mas que não chegaram a disputar partidas oficiais pela NBA, que tenham dado as caras por aqui, temos Paulão e o pivô DeVon Hardin, ex-Basquete Cearense.

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O caminho inverso, saindo do NBB para a NBA, apenas dois fizeram: Leandrinho, saindo do Flamengo e do Pinheiros, em curtos pit-stops, e Caboclo, esse, sim, a grande história.


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