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Arquivo : Gustavo de Conti

Flamengo vence Paulistano em jogo duro para levar o tri
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Giancarlo Giampietro

Olivinha vibra. É um dos que adora um jogo de contato

Olivinha vibra. É um dos que adora um jogo de contato

Por anos e anos a maior crítica sobre o basquete que se pratica no Brasil foi direcionada à (falta de) defesa. Quer dizer, talvez essa tenha sido a crítica 1-A, dividindo espaço com a 1-B, valendo pelo excesso de tiros de três pontos.

Na final do NBB 6 que vimos neste sábado, na boa– mas enxutíssima – transmissão da Globo, não dá para questionar que o Flamengo venceu o Paulistano em um jogo verdadeiramente intenso, para conquistar seu terceiro título na competição, o segundo consecutivo. Não há como contestar isso.

Mas, olha, para o meu gosto a decisão foi dura até demais.

Algumas notas a respeito:

– Ao todo, tivemos 58 faltas marcadas, praticamente 1,5 por minuto de jogo;

– Segundo as contas do irrequieto Luiz Gomes, que está preparando coisa nova por aí, foram 150 posses de bola na partida. Logo, mais de 38% delas foram pontuadas por faltas;

– De todos os atletas que entraram em quadra, apenas o jovem armador Arthur Pecos ficou zerado nesse quesito – mas ele jogou apenas 1min17s;

– Dois atletas foram excluídos com cinco faltas (Pilar e Renato Cabornari), e outros cinco terminaram pendurados com quatro (Meyinsse, Shilton, Manteiguinha, Holloway e Mineiro);

– No segundo período, antes do festival dos árbitros na volta do intervalo, os dois times estavam estourados com pouco mais de quatro minutos jogados.

– Marcelinho Machado, um jogador que nunca foi o cara mais incisivo na hora de bater para a cesta, sofreu seis faltas, sempre na (positiva) malandragem, com boa movimentação sem a bola, também sabendo usar a agressividade dos adversários a seu favor;

– Foram batidos ao todo 59 lances livres.

– Ao menos não precisaram acionar nenhum paramédico ou a ambulância.

Entendo as críticas aos árbitros, que marcaram realmente algumas faltas antidesportivas fantasmas (lembro de duas contra o Flamengo, no segundo tempo, em especial aquela em que Pilar tropeça no pé de Felício, e o jovem pivô é punido). No geral, é evidente e triste o impacto da decisão tomada pela liga e sua parceira televisiva em forçar que os árbitros sejam grandes protagonistas do espetáculo.

Como se os homens do apito já não tivessem uma tarefa inglória de fiscalizar um jogo com um monte de trogloditas digladiando em um espaço reduzido, com vários fundamentos e regras para serem observados, eles ainda precisam ser tutores? Fazer mímicas e afins, em portunholês (português + espanhol + inglês), para orientar o jogador sobre o que estão marcando, quando, na verdade, o objetivo é vazar o som para o que “o amigo telespectador não perca nenhum detalhe”. Foi um convite oficial para que eles tomassem (ainda mais) parte do espetáculo, e cá estamos.

Mas há dois pontos adicionais aqui para avaliar.

Primeiro que nariz torcido para arbitragem não é um patrimônio cultural do NBB – os playoffs da NBA estão cheios causos para contar, que o diga Doc Rivers; na Euroliga chovem críticas também (na final europeia, aliás, vimos este ano 55 faltas, mas com cinco minutos a mais de jogo: teve prorrogação).

O mais importante, todavia, é a concentração nos fundamentos. Uma vez dedicados ao ato de marcar, agora o esforço dos técnicos em seus atletas precisa se voltar aos fundamentos, em como executar uma defesa agressiva, obviamente fazendo contato, mas com um pouco mais de disciplina. Mais pés, com posicionamento, menos mãos, para compensar. Na NBA, por exemplo, o Indiana Pacers tem a melhor defesa da temporada, mas foi apenas o 14º no ranking de faltas por partida (20,5 por jogo, sendo que cada jogo tem 8 minutos a mais).

Peguem, por exemplo, a falta que o ala-pivô Renato fez em cima de Marcelinho Machado a 14 segundos do fim. O time estava apenas dois pontos atrás o placar. Mas Renato, mais lento, se afobou no perímetro, tentou dar um tapa na bola, nas mãos do experiente camisa 4, e jogou um dos maiores arremessadores da competição na linha de lance livre.

A intenção aqui não é crucificar esse valente e um tanto subestimado jogador, até porque ainda tinha muita partida pela frente – digo, ainda teve tempo de Manteiguinha arriscar um arremesso terrível da zona morta e de Marcelinho converter mais dois lances livres. E, obviamente, é muito mais fácil falar a respeito aqui do conforto do sofá, em que o único barulho ao redor é o do martelo do vizinho. Desagradável, mas não mais que milhares de rubro-negros pulando feito doidos na arquibancada.

(Aliás, a pressão de uma final em jogo único, outro presente da parceria televisiva, também contribui para a pancadaria, deixando todo mundo num estado mais elevado de tensão e instabilidade.)

Segundo a reportagem da Globo, a ordem que veio do banco do Paulistano era para evitar a falta, um ponto importante. Mas ela foi feita. Talvez muito por força do hábito, reflexo.

Gustavo de Conti falou em entrevistas durante a semana sobre o poderio flamenguista no jogo de transição, uma força do time desde a temporada passada. Durante a temporada regular, o vice-líder foi presa fácil diante da melhor campanha, tomando duas sacoladas: 80 x 58 e 98 x 67, tomando em média 89 pontos por partida.

Na decisão, ficou claro que sua preocupação era emperrar o adversário. Talvez fosse essa sua maior (e única?) chance. E dessa vez conseguiu. O irônico é que, para amarrar o jogo, contou também com ajuda do próprio adversário, que também desceu o braço. O clube de São Paulo cometeu 33 faltas, contra 25 dos rubro-negros. Quanto mais faltas, mais lances livres. Quanto mais lances livres, menores as chances de se partir em velocidade – a não ser que você tenha um quarterback como Kevin Love na reposição de bola.

No jogo de meia quadra, o Paulistano conseguiu equilibrar as coisas, criando bastante em situações de um contra um com sua dupla de ágeis americanos. Em meio a tantas faltas marcadas, porém, só conseguiu usar o cestinha Holloway por 24 minutos. O que aconteceria se… Mas aí os flamenguistas nem podem deixar a fase terminar, uma vez que seu pontuador mais eficiente, o atlético-toda-vida pivô Meyinsse também jogou pouco, por 25 minutos. São dois caras que teriam tudo para desequilibrar o confronto, mas foram privados.

Os dois finalistas valorizam a retaguarda, num empenho que realmente foge do que nos acostumamos a ver em temporadas anteriores. Topam combater e ralar na defesa. Quer dizer: a mentalidade pode ser alterada. Agora é prudente dar um próximo passo.


Quebra de establishment e muita torcida no NBB
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Giancarlo Giampietro

Paulistano, um dos semifinalistas inéditos do NBB 6

Paulistano, um dos semifinalistas inéditos do NBB 6

Não vou sentar aqui e escrever mil maravilhas sobre as classificações de Paulistano e Mogi para as semifinais do NBB. Não que eles não mereçam, mas pelo simples fato de não ter acompanhado tão a fundo o campeonato, à devida maneira – as razões são muitas, mas podemos dizer que tudo se resume a tempo e, de qualquer forma, o texto não é sobre lamúrias de um só residente da Vila Guarani paulistana… Paremos por aqui. Vocês podem até não acreditar, mas nunca me atraí muito pelo charlatanismo. Não adianta inventar onda, usar argumentos abstratos e incensar aquilo sobre o qual não se tem muitas certezas. Ninguém merece. O que posso dizer, então, é especificamente sobre os acontecimentos da sexta-feira de basquete nacional que se passou. Um dia que terminou, fazendo os descontos obrigatórios, com saldo bastante positivo para a liga.

A começar pela quebra do establishment. São dois semifinalistas inéditos, que não constavam realmente em nenhuma bolsa de apostas no início da jornada, assumindo os lugares de Brasília (presença cativa entre os quatro melhores nas primeiras cinco edições da competição), Pinheiros (terceiro em 2011 e 2012) ou Uberlândia (vice do ano passado, e dono de um dos maiores orçamentos do país até esta temporada, algo que vai acontecer na próxima).

Para se definir os finalistas, o jogo nem sempre vai ser disputado em alto nível, algumas limitações técnico e táticas ainda são estridentes, mas também não dá para pegar tudo num punhado só, amassar com cara de asco e atirar na lata de lixo, achando que fez uma baita cesta. Tivemos dois ginásios lotados, tomados inicialmente pela euforia, para depois fazer a inevitável concessão à tensão. Em meio a esse cenário, algo muito relevante: os torcedores visitantes também presentes e fazendo barulho. Um envolvimento, um apego muito bem-vindo.

Dos francanos, não esperamos outra coisa, mesmo que obrigados a percorrer o uma distância maior e encarar o rush de São Paulo para chegar em tempo ao Paulistano. Já a galera de Mogi acaba sendo uma positiva novidade. Obviamente que a cidade tem lastro com o basquete, mas esse vínculo andava dormente. A recente guinada do clube, subindo degrau por degrau, alcançando os holofotes dos playoffs, deixando um gigante como o Pinheiros pelo caminho, serviu para acender a chama novamente. E eles têm feito uma baderna daquelas.

Torcida, Mogi, NBB, 2014, playoffsEsse é o resultado de brincar com as emoções de gente que tenha o mínimo interesse pelo esporte em geral. Dois jogos de matar-ou-morrer em sequência? Drama puro, chama público. Ainda mais com o desenvolvimento de suas respectivas narrativas durante a fase decisiva. Para Mogi, essa história ganha até contornos de fábula, com o time terminando a temporada regular com mais derrotas (18) do que vitórias (14), superando o Macaé por apenas um triunfo para garantir a última vaga nos mata-matas, como o 12º colocado. (Explicando, para os que não acompanham a liga: as oitavas de final são uma espécie de playoff preliminar, com chaveamento envolvendo os times que terminaram entre os quinto e 12º lugares, enquanto os quatro demais aguardavam para a disputa das quartas de final.)

Cheio de confiança, Mogi bateu primeiro o Pinheiros, campeão e vice das últimas duas Liga das Américas, e, depois, Limeira, ambos de virada. Já o Paulistano estava posicionado entre os cabeças-de-chave, depois de conquistar uma surpreendente segunda colocação ao término de 32 partidas, com 23 vitórias e 9 derrotas, deixando para trás o poderoso Brasília (21-11), ficando abaixo apenas do Flamengo (26-6), intrometido entre os favoritos. Foi o time de Gustavo de Conti que assisti de perto nesta sexta, como um dos poucos que não xingava alguém no ginásio Antonio Prado Júnior.

(Aliás, aqui cabe outro parêntese: ninguém quer que o público pire na ópera ou entoe um coral creole caribenho, nem nada disso. Mas tudo tem um limite. A cena é recorrente, com o Melk já registrou em crônica lá atrás, mas não deixa de causar espanto: todos aqueles garotinhos com cachinhos angelicais de um clube de elite da maior metrópole do país sentadas na arquibancada, atacando o mundo todo, apoiados, claro, pelos berros dos pais. Do outro lado, a caravana francana não fazia por menos. Foram eles, na verdade, quem deram início aos trabalhos ofensivos, antes do tapinha inicial. E, claro, esse não é um problema exclusivo dos dois clubes envolvidos, nem do NBB e do basquete. Educação, a gente não se vê por aqui.)

Abstraindo as torrenciais indelicadezas, como Paulão, alvo predileto da gurizada, fez por muito tempo, até não aguentar mais, dava para falar em clima de frenesi total, especialmente com a arrancada francana a partir dos minutos finais do terceiro período. A torcida dos visitantes nunca parou de apoiar sua equipe e quase se viu recompensada com uma reação daquelas.

O Paulistano chegou a abrir uma vantagem de 15 pontos no terceiro período, mas viu os adversários empatarem o placar em 72 a 72, a 4min20s do fim. Nesse momento, porém, o ala Henrique Pilar, o grande nome do jogo, voltou a desequilibrar, com seis pontos em sequênca – primeiro numa cesta de três após dobra para cima de Desmond Holloway na zona morta, depois com uma infiltração que resultou em falta-e-cesta, restando 1min21s. A partir daí, Franca se perdeu em precipitações em quadra, buscando sempre o tiro de longa distância, inclusive na posse de bola seguinte ao grande lance de Pilar, saindo de um pedido de tempo, diga-se. Não teve água no chope dos locais.

Venceu o time que apresentou um basquete mais equilibrado durante a noite. De novo: falo especificamente sobre este jogo. Fossem infinitamente superiores, não haveria a necessidade de uma quinta partida e tanto sofrimento. Em linhas gerais, contudo,  o time de Gustavo apresenta mais possibilidades. Tem um ataque potencialmente mais imprevisível, sobre o qual escreveremos mais durante a semana.

Ao final do confronto, pausa para falar com alguns atletas, sendo bastante inconveniente, é verdade, em meio a amigos e familiares. Conversa vai, conversa vém, tudo muito bom, mas, quando a turma da TV não para de passar pedir licença, penando para desarmar o aparato da transmissão, estava sinalizada que era mais do que hora de subir a Augusta (veja bem: su-bir a Augusta e, não, des-cer) e voltar para casa. Deu tempo para ignorar o finalzinho do jantar da família, ir direto para o sofá, cheio de maus modos, e pegar o quarto período de Limeira x Mogi. Deu tempo para ver o time do forasteiro Paco García se comportar muito bem emocionalmente nos minutos finais, resistindo à pressão de mais um desfecho dramático, celebrando seus novos heróis. Sobre esses heróis, também ampliar a discussão na sequência. O que vale, primeiro, é registrar o surgimento deles, nem que sejam efêmeros, para Mogi das Cruzes e, quiçá, para o público um tanto invocado e não necessariamente engajado do Paulistano. Para um NBB que ainda luta por espaço, por identidade, um ótimo passo.


Haja perna: Paulistano encara maratona de prorrogações pelo NBB
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Giancarlo Giampietro

É de se imaginar que jogar uma partida de prorrogação tripla, fora de casa, não seja fácil. E que tal, três dias depois, passar pelo mesmo sufoco? Para o Paulistano, foi moleza.

Já estão prontos para outra!

Quer dizer, nem tanto, né?

A equipe de São Paulo venceu neste sábado o Vila Velha por 126 a 120, em 55 minutos de jogo. Foi o mesmo tempo de duração de seu triunfo sobre o Minas na quarta-feira passada, por 114 a 109, em Belo Horizonte. Haja perna para correr tanto.

Agora imaginem a confiança do elenco para as próximas partidas? Depois de encarar uma árdua sequência dessas, saindo vencedor em ambas, não há como avaliar as coisas de modo diferente, independentemente se foram atuações de alto nível, ou não.

O confronto deste sábado contra o time dirigido por Daniel Wattfy não primou necessariamente pela defesa, e o Paulistano acabou quebrando o recorde de pontos do campeonato nacional (que pertencia ao próprio clube, aliás, num retumbante placar de 120 a 93 contra o Brasília em novembro de 2011). Nos três primeiros quartos, por exemplo, em apenas uma parcial as duas anotaram mais de 20 pontos – no segundo período, o Vila Velha ficou ‘só’ nos 19 p0ntos. Apenas no quarto final que eles tiraram o pé: vitória por 16 a 13 dos visitantes, forçando a prorrogação.

O Paulistano, aliás, perdia por 85 a 80, com menos de um minuto para o fim da partida. O talentoso armador panamenho Joel Muñoz matou uma bola de três para empatar o placar. Nos tempos extras, a contagem ficou em 41 a 35 para os rapazes dirigidos por Gustavo de Conti. Isto é, foram 76 pontos em 15 minutos de jogo… Com ninguém mais com cabeça ou perna para defender.

A boa notícia para os jogadores do clube situado no Jardim, dãr, Paulistano é que agora eles não voltam para a quadra tão cedo, uma vez que o campeonato entra em recesso para celebrar seu jogo das estrelas no próximo fim de semana – apenas dois jogos estão marcados na próxima semana: Basquete Cearense x Brasília, na terça, e Limeira x Pinheiros, na quarta.

*  *  *

Nestes embates com tripla prorrogação, os números surtam. Por exemplo:

– O Paulistano teve oito jogadores com 11 pontos ou mais, liderados pelo cavalo chamado Alex Oliveira (20 pontos e 11 rebotes, cinco ofensivos).

– Os mesmos oito atletas dividiram a quadra de um modo mais adequado, variando entre os 22min46s do pivô Wágner e os 42min27s do ala Pedro.

– O Vila Velha teve cinco atletas excluídos com cinco faltas.

– Pelo time da casa, o norte-americano Jay Parker marcou 35 pontos, mas precisou de 25 arremessos para isso, sendo 21 deles absurdamente da linha de três pontos. Sério: o cara realmente arriscou 21 chutes de longa distância na mesma partida, ficando em quadra por inacreditáveis 47min57s. O armador Alexandre Pinheiro acumulou 14 pontos, nove rebotes e oito assistências.


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