Vinte Um

Arquivo : Faverani

Olho nele: Faverani caminha para se estabelecer como um dos melhores pivôs da Espanha
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Vitor Faverani ao ataque

Vitor Faverani deixa lesões de lado e segue progredindo na Liga ACB

Por Rafael Uehara*

Enquanto quebrávamos a cabeça tentando adivinhar se Rafael Hettsheimeir ia pra NBA ou para outro grande clube da Europa depois de grande temporada com o CAI Zaragoza e quais os motivos para que Lucas Nogueira fosse tão pouco aproveitado pelo Asefa Estudiantes, Vitor Faverani surgiu como a melhor esperança brasileira jogando no continente europeu ano passado.

Com a saída de Robertas Javtokas, o Valência assinou com o australiano AJ Ogilvy para substituí-lo, mas logo percebeu que a melhor solução estava em casa mesmo. Ogilvy se contundiu cedo na temporada, Faverani tomou seu lugar na rotação e não largou mais a posição de reserva do titular ucraniano Serhiy Lishchuk.

Em 36 jogos entre a liga espanhola e a Eurocopa de clubes, Faverani postou médias de 16,1 minutos, sete pontos e 3,2 rebotes, além de 54,2% de aproveitamento em tiros de quadra. Os números não são de levar à loucura, mas Faverani foi muito mais impressionante que suas médias expõem, e o resultado foi uma extensão de três anos que o time o ofereceu ao fim da temporada. A expectativa era que Faverani virasse titular do time em 2012-2013 e talvez foco do ataque. Mas várias lesões o permitiram jogar apenas 14 jogos essa temporada, e em pouco tempo de quadra, Faverani tem postado médias de 16 minutos, 7,2 pontos e 4,5 rebotes, além de 43,2% de aproveitamento em tiros de quadra.

Mas, se suas duas últimas performances – 12 pontos e cinco rebotes em 24 minutos contra o Bilbao no meio de semana pela Eurocopa e 16 pontos e cinco rebotes em 23 minutos contra o Murcia domingo pelo campeonato espanhol – podem ser aceitas como sinal de que ele está de volta à forma física ideal depois de quase dois meses parado, Faverani pode ainda estar a um passo de se estabelecer como um dos melhores pivôs jogando na Espanha até o fim da temporada. Que ele tem talento pra isso é inquestionável. Basta seguir nessa curva de desenvolvimento.

Com 2,10m de altura e porte físico avantajado, Faverani se destaca pela sua habilidade e mobilidade acima da média para posição. Não só tem força para cavar espaço no garrafão, mas sabe o que fazer com a bola quando a recebe de costas para cesta. Desenvolveu um gancho de esquerda efetivo e muito difícil para os adversários bloquearem. Demonstra também a capacidade de achar companheiros de equipe cortando para a cesta ou acampando no perímetro com belos passes. Além disso, no pick-and-roll, é explosivo deslizando para a cesta e joga acima dela ao finalizar.

É claro que há ainda o que melhorar. Faverani é apenas mediano pegando rebotes, muitas vezes apenas tirando proveito de sua estatura. Dificilmente busca bolas fora de posição, mas esse é um aspecto em que já podemos ver melhora com sua taxa de rebotes ofensivos aumentando este ano. Na defesa, Faverani segura posição contra qualquer um no garrafão, mas é muito passivo no pick-and-roll. É difícil saber se essa não é a instrução do técnico Velimir Perasovic (para que ele resguarde o interior ao invés de pressionar o armador), mas considerando o quão móvel Faverani é, o que faz mais sentido é que ainda não mostrou esforço e atenção total naquele lado da quadra para ganhar a confiança de Perasovic nessas situações. Pelo atleta que é, Faverani tem capacidade de ser um defensor destrutivo, mas ainda não está tão próximo desse potencial.

A esperança é que Faverani consiga evitar mais contusões e permaneça em quadra nessa segunda metade da temporada para que seu jogo possa continuar evoluindo. Está a passo de se tornar um dos melhores pivôs na Espanha, mas pra isso precisa estar em quadra. Com sua combinação de habilidade e porte físico, não há dúvida de que o céu é o limite para Faverani. Parece apenas uma questão de tempo.

*Editor do blog “The Basketball Post” e convidado do Vinte Um. Você pode encontrá-lo no Twitter aqui: @rafael_uehara.

 


Diferentemente do futebol, Real Madrid é líder em início equilibrado da Liga ACB
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Nikola Mirotic, estrela emergente na Europa

O jovem astro Mirotic lidera um ataque que está nos trinques

No Campeonato Espanhol de basquete, a Liga ACB, as coisas estão invertidas em relação ao de futebol, La Liga (de las Estrellas, coisa cafona). Para a bola que quica, nesta temporada quem manda por enquanto é o Real Madrid, enquanto o Barcelona aparece no pelotão intermediário. Isso, claro, depois de um blogueiro aí ter eleito o time catalão como o grande favorito ao título.

São sete vitórias em sete rodadas para o clube merengue, o único invicto até o momento. Sob o comando de Pablo Laso, um pouco mais solto de que seu antecessor, o cerebral Ettore Messina, a equipe da capital também tem disparado o melhor ataque da competição, com 627 pontos convertidos, sendo que o segundo é o Estudiantes, do Lucas Bebê, com 579. Seu saldo de pontos também é o maior, com 94 pontos (média de +13,4 por jogo).

Para comparar, o Barça tem até o momento surpreendentes três derrotas no campeonato, ocupando um ainda mais inacreditável sétimo lugar. Com 558 pontos marcados e 476 sofridos, tem a terceira melhor defesa, atrás de Bilbao (456) e Unicaja Málaga (469) e saldo de +82 pontos, 11,7 por confronto, de todo modo também uma margem confortável, embora ainda não traduzida diretamente para a tabela de classificação.

A equipe catalã está situada no enorme pelotão de cinco concorrentes com o mesmo número de vitórias e reveses, que se estende até a 12ª posição, ocupada pelo Valladolid. Outro agrupamento engloba do segundo ao sexto colocados, no qual estão Baskonia (Caja Laboral), Valencia, Málaga, Gran Canaria e Bilbao. Nesse bolo todo, apenas uma vitória separa o vice-líder do 12º lugar.

*  *  *

O Real conta com quatro jogadores com duplos dígitos na pontuação (o jovem Nikola Mirotic, ultratalentoso é o cestinha com 15,1 pontos), e poderia ter um quinto não fossem os 9,9 de Jaycee Carroll, astro do Azerbaijão. Para o mundo Fiba, especialmente na Liga ACB, é bastante coisa. A equipe tem média geral de 43% nos tiros de três pontos (líder), 56% nos dois pontos (quarto) e 17,1 assistências (líder). Um ataque que realmente está nos trinques e ainda vai ganhar o reforço do pivô brasileiro Rafael Hettsheimeir, que ainda trabalha para recuperar a melhor forma depois de uma cirurgia no joelho.

*  *  *

Naturalizado espanhol, draftado pelo Bulls, Mirotic aparece como o jogador mais eficiente da Liga em sete rodadas, com 19,3 pontos de valoração, pouco acima dos 19 do canadense Levon Kendall e do ala americano Tariq Kirksay. Kendall, aliás, faz uma dobradinha do Canadá no topo da lista dos cestinhas, que tem o experiente ala Carl English na dianteira, com 17,9 por partida, acima dos 16,4 de seu compatriota. Por curiosidade, o espanhol mais bem ranqueado é Alberto Corbacho, ala do Obradoiro (Blusens Morbús), em sexto, com 14,7. O pivô argentino Leo Mainoldi é quem vem dominando a tábua de rebotes, com 8,57 de média, acima do brasileiro Vitor Faverani (7,71).  Marcelinho Huertas aparece em terceiro nas assistências, com 4,43, abaixo das 6,57 de Andrés Rodríguez, do Obradoiro, e das 5,0 de Llull.


A longa e tortuosa trajetória de Vitor Faverani rumo ao estrelato na Espanha
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Faverani na Liga ACB

Vitor Faverani, diário para 17 mil páginas

O destaque principal da capa do site oficial da Liga ACB era Vitor Faverani. A manchete, mesmo: “As 17 mil páginas de Vitor Faverani“.

Logo no primeiro parágrafo, muito mais cultos do que qualquer blogueiro do Vinte Um poderia sonhar, recorrem a uma (?) brincadeirinha citando um (??) filósofo (?!?) suíço Henri-Frédéric Amiel. Os catedráticos que me desculpem, mas não constava nas referências bibliográficas do blog.

(Legal também que o suíço é xará daquele nosso velho conhecido Amiel, o cubano que jogou por Fla e Saldanha da Gama e por onde anda agora?)

De todo modo, a brincadeirinha era a seguinte: Amiel teria escrito, de próprio punho, o maior diário já conhecido pela civilização ocidental, com essas 17 mil páginas, durante 42 anos, seu “Journal Intime”. Uma das pensata que se destacam no compêndio seria esta aqui: “A verdadeira humildade consiste em estar satisfeito”.

Para o redator da matéria, essa frase seria boa para “definir a infância e crescimento daquele garoto brasileiro que jamais deixou de crescer”.  E aí mergulhamos num extenso perfil sobre o pivô brasileiro, hoje um dos destaques da liga espanhola, mas que ficou muito perto de ser apenas mais uma promessa perdida na Europa.

Vamos tentar resumir em parágrafo: Faverani nasceu em Porto Alegre, viu seus pais se separarem bem cedo, se mudou com a mãe para Paulínia, na corrida pelo ouro negro (cinema a gente sabe citar, tá vendo?), brincava de esportes com o irmão até não poder mais e esperar a mãe voltar para casa, espichou, começou a deslanchar no basquete, tinha de calçar um tênis 44 em um pé 46,  em um ano saiu dos Jogos Abertos para a seleção e Málaga, atraía todos os olheiros quando adolescente, deu muito trabalho para os treinadores, rodou de clube em clube até se encontrar e virar o que virou hoje. Ufa.

Texto em espanhol, longo pacas, pois eles conseguem se perder mais que o sujeito aqui, mas é fácil de se comprrender. Para saber dos detalhes, com declarações de muitos de seus treinadores – incluindo o italiano Sergio Scariolo, atual comandante da Espanha –, para conhecer mais sobre este enigmático e misterioso pivô brasileiro, que ainda não se dá com Magnano, vale o clique.

Ele fala sobre o rap do grupo gospel Éfeso que ouve umas 20 vezes antes de ir para quadra para se motivar e sobre estar agora decidido a deixar sua marca como jogador de basquete. “Tomara que um dia as pessoas digam: “Faverani, que grande pivô. Se me meti no mundo é para terminar e dizer a mim mesmo que consegui. Esse é o meu sonho. Espero que pas pessoas sigam falando de mim e melhor, agora pelo meu trabalho, porque foi muito duro. Agora tem a recompensa final”, afirmou.

*  *  *

Com 24 anos, Vitor é apenas dois anos mais velho que Fab Melo e Scott Machado e dois anos mais jovem que Rafael Hettsheimeir. Ainda tem espaço para se desenvolver muito mais, com uma vantagem: com tempo regular de quadra no segundo campeonato de clubes mais forte do mundo, no qual é protagonista de sua equipe.

Em duas partidas na atual temporada da ACB, já somou 22 pontos, 25 rebotes e cinco tocos, com ótimo índice de eficiência (47) e excelente aproveitamento de quadra (54%) e nos lances livres (89%). Com ele em quadra, sua equipe venceu por 23 pontos, jogando contra Barcelona e Fuenlabrada.


Barcelona abre temporada na Supercopa para tentar estender hegemonia
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Marcelinho Huertas, Barcelona

Huertas abre mais uma temporada com perspectiva de títulos pelo Barça

No futebol, virou praxe nos últimos anos dividir o Campeonato Espanhol em duas competições distintas: uma travada entre Barcelona e Real Madrid e a que fica para o resto da cambada (saiba, neste caso, que o Valencia seria tricampeão nacional!).

No basquete, ainda que não exista um abismo como nos gramados, o poderio financeiro dos dois clubes gigantes do país começou a fazer a diferença. O problema, só para aumentar a agonia dos merengues, dos seguidores do time da capital, é que, na verdade, a hipotética polarização entre Barça e Real não se concretizou. Porque só dá Catalunha nessa, algo muito bom para o currículo de Marcelinho Huertas.

A temporada espanhola começa oficialmente neste fim de semana, com a disputa da Supercopa. E os barcelonistas jogam pelo tetracampeonato do torneio. Um, dois, três seguidos eles já têm. Agora querem o quarto.

Dá para dizer que não é a competição mais badalada. Mas ainda é um caneco nacional. E, de todo modo, nos certames de maior prestígio,  o Barcelona conquistou também duas Ligas ACB e duas Copas do Rei nos últimos três anos. Eles não param, entende? Não é apenas a galera de Lionel Messi que irrita os madridistas.

A má notícia para a concorrência: no início desta campanha 2012-2013, o Barça ainda tem o elenco mais equilibrado e, por isso, mais forte. Na armação, Huertas tem a companhia de Sarunas Jasikevicius e Victor Sada. Juan Carlos Navarro também entra nessa rotação. Nas alas, o talentosíssimo australiano Joe Ingles, o veterano norte-americano Pete Mickeal, o promissor Alex Abrines (olho nesse, xodó de muitos scouts europeus) e Xabi Rabaseda. Os pivôs são o croata Ante Tomic, um de nossos preferidos, o craque esloveno Erazem Lorbek, que recusou o Spurs, o força-bruta australiano Nathan Jawai e o americano CJ Wallace.

Além de nomes consolidados no mercado europeu, são peças que se encaixam naturalmente. Diferentemente do que observamos no Real Madrid, que possui gente muito gabaritada no perímetro (Sérgio Llull, Sérgio Rodríguez, Dontaye Draper, Jaycee Carroll, Rudy Fernández e, ufa!, Martynas Pocius), mas deixa a desejar em seu jogo interior (Nikola Mirotic só vai melhorar, mas Felipe Reyes já não é mais o mesmo de três temporadas atrás e Mirza Begic e Marcus Slaughter ainda precisam se provar alto nível no continente).

Um degrau abaixo aparecem Caja Laboral, que é o Baskonia, Valencia, de Vitor Faverani, Unicaja Málaga, de Augusto Lima e que perdeu terreno recentemente, e Bilbao, clubes que vão precisar de excelentes química e trabalho tático para fazer frente aos dois gigantes.

*  *  *

As semifinais da Supercopa são as seguintes: Barcelona x Valencia e Real Madrid x Zaragoza, que joga em casa. Os vencedores se enfrentam na semifinal, no domingo, 14h (horário de Brasília). O Bandsports deve transmitir tudo.

*  *  *

É muito difícil escrever qualquer coisa sobre esses resultados obtidos pelo técnico Xavi Pascual nos últimos anos. Ele teve seu contrato renovado até 2015. Quem sabe, porém, se ele não chega ao final de seu vínculo com um basquete um pouco menos robótico do que obriga o seu clube praticar… Pascual é daqueles “control freak”, regulando toda e qualquer ação de seus atletas do lado de fora da quadra. Só Navarro pode ser Navarro. O resto que se enquadre, e assim ele vai vencendo. Mas não é de encher os olhos, não.

*  *  *

Vitor Faverani terminou a Liga ACB passada como um dos atletas mais quentes no mercado europeu e acabou estendendo seu contrato com o Valencia, onde enfim encontrou um meio de fazer seu imenso talento valer.  Ele encara agora uma temporada muito importante para confirmar esse status.