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Celtics está fora. Mas tem cenário otimista para voltar a lutar pelo Leste
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Giancarlo Giampietro

Brad Stevens ainda não sabe qual equipe terá em mãos em 2017. Mas é uma boa incerteza

Brad Stevens ainda não sabe qual equipe terá em mãos em 2017. Mas é uma boa incerteza

De todos os times que poderiam se despedir dos playoffs do Leste logo pela primeira rodada, o Boston Celtics é o que teria uma saída mais confortável. Ninguém gosta de perder. Isaiah Thomas estava com os olhos marejados no vestiário da equipe após a dura derrota sofrida contra o Atlanta Hawks nesta quinta-feira, para definir o segundo classificado às semifinais da conferência, para enfrentar o Cavs. Brad Stevens certamente esperava estender a bela série que fizeram contra o Hawks para um Jogo 7 em Atlanta. Com cara de bom moço, sempre calmo na lateral da quadra, o técnico é na verdade mais uma dessas figuras supercompetitivas, que não lida muito bem com as derrotas. Ainda assim, ele se sentiu obrigado a dizer como essa eliminação estava bem longe de significar o fim do mundo.

“É difícil pensar nisso agora por causa da emoção do momento e por termos perdido do modo como perdemos estes últimos dois jogos, mas acho que, olhando a longo prazo, tendo isso em mente, me sinto bem sobre nosso progresso. E também temos ótimas oportunidades para seguir adiante com nossa flexibilidade”, afirmou.

Esse termo já apareceu em diversos artigos aqui no blog: fle-xi-bi-li-da-de. É a palavrinha-chave para a gestão moderna da NBA, enquanto as atuais regras trabalhistas vigentes, de contratos mais curtos firmados nos últimos anos e que se tornarão bem baratos quando confrontados com os acordos que estão prestes a serem assinados em julho, quando o teto salarial será elevado consideravelmente.

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É difícil vasculhar a liga e encontrar uma situação mais promissora que a do Celtics, num trabalho impecável de Danny Ainge. O chefão do departamento de basquete do clube conseguiu conduzir um trabalho de reformulação após a era Pierce-Garnett sem chafurdar como um Philadelphia 76ers. Foi um ano de mergulho, no primeiro ano de Brad Stevens, carregando um Gerald Wallace. Nas últimas duas temporadas, já voltaram aos playoffs. Com o brinde: o direito de projetar uma escolha alta no próximo Draft justamente por causa da troca de PP e KG ao Brooklyn Nets, sem proteção alguma.

Okafor já foi especulado como alvo de Ainge. É mais promissor que Smart? Mesmo vencendo, Celtics se reconstruiu com muito mais rapidez que o Sixers

Okafor já foi especulado como alvo. Mais promissor que Smart? Mesmo vencendo, Celtics se remontou com muito mais rapidez

Hoje, voltando a cabeça exclusivamente para o recrutamento de novatos, com o time nova-iorquino tendo terminado com a terceira pior campanha, o Celtics tem 15,6% de chances de ganhar a primeira posição. Na pior das hipóteses, fica em sexto. O Philadelphia 76ersm que escapou novamente por pouco de registrar a pior campanha da história, tem 25%. Quase 10% a mais, algo significativo, mas qual caminho você preferiria: vencer dez jogos e ter 25% de chances para a escolha número um, ou ganhar 48 jogos e ter 15,6%? Para ser justo, quando Sam Hinkie assumiu o Sixers, ele não tinha veteranos do gabarito de Garnett e Pierce para seduzir e surrupiar um time desesperado por luzes, com o Brooklyn Nets. Tá certo. Mas que o Celtics tenha conseguido aproveitá-los desta forma e já veja o Boston beirando a marca de 50 vitórias, diz muito sobre a visão de Ainge. Não é sorte isso.

Hoje, o cartola olha para o seu elenco, anota o que tem de salários garantidos para a próxima temporada e todos os trunfos em termos de Draft que tem em mãos e sabe que tem diversas trilhas para seguir daqui para a frente. É incrível até:

1) se o teto salarial for de US$ 90 milhões, o Boston vai ter um mínimo de US$ 23,7 milhões para investir em agentes livres. Se decidir renunciar aos direitos de Amir Johnson, Jonas Jerebeko e Tyler Zeller, pode chegar a US$ 49,4 milhões, permitindo a contratação, por exemplo, de dois salários máximos para atletas de até seis anos de experiência, sobrando um troco, ou um contrato máximo para alguém de sete a nove anos (Kevin Durant, por exemplo) e mais US$ 24 milhões para propor a um alvo ou diversos alvos.

(Quer saber a situação de seu time? Vale checar o estudo de Eric Pincus, do Basketball Insiders, referência no assunto.)

Thomas, Jae Crowder, Marcus Smart, Avery Bradley, Kelly Olynyk, Terry Rozier, ames Young, RJ Hunter e Jordan Mickey são os atletas com salário garantido. O detalhe: Thomas, Crowder e Bradley vão ganhar, juntos, pouco mais de US$ 20 milhões. Na economia da NBA, isso é mixaria, especialmente para três veteranos tão produtivos. Para comparar, David Lee, sozinho, embolsou US$ 15 milhões do time.

Amir Johnson e Jonas Jerebko, contratados no ano passado, têm cláusulas que Ainge pode ativar, ou, não valendo US$ 12 milhões e US$ 5 milhões, respectivamente. Zeller e Sullinger dão agentes livres restritos. Evan Turner estará disponível, tendo se valorizado nesta campanha, e não estranhe se receber oferta de Phil Jackson.

Thomas vai receber ajuda de alto nível, cedo ou tarde

Thomas vai receber ajuda de alto nível, cedo ou tarde

2) em termos de Draft, chega a ser ridículo: só neste ano, o Celtics tem três escolhas de primeira rodada e cinco (!?) de segunda. São oito no total. Uma das escolhas de segunda, na real, vale como uma de primeira, por ser a 31a.

A mais valiosa é a do Nets. Além disso, o time tem a do Dallas (número 16! Numa cortesia de Rajon Rondo) e sua própria (número 23). Obviamente, não há espaço para oito novos calouros na equipe. No mínimo, Ainge vai escolher diversos atletas que não façam questão de jogar na liga de imediato, os chamados stash picks. Gringos ou universitários que topem jogar na D-League, na Europa, na Austrália (como o ala-armador Marcus Thornton neste ano) ou em qualquer lugar. O mais provável, porém, é que ele faça pacotes. Que acumule escolhas e tente subir no Draft a partir de uma posição mais avantajada. Por exemplo: três escolhas de segunda e a 16a. pela 10a. Coisa do tipo. Ou trocar por escolhas futuras também.

A cesta, de todo modo, não vai ficar vazia após 23 de junho, data do recrutamento. Em 2017, o clube tem o dirigente de trocar sua escolha com a do Brooklyn e possui mais três escolhas extra de segunda rodada. Em 2018, nova escolha do Brooklyn. Em 2019, tem uma escolha de primeira do Memphis (valeu, Jeff Green). É muita munição: todas essas seleções podem ser envolvidas em negociações.

Com tudo isso na mesa — imagine um jogador de poker que até some atrás de seu monte de fichas –, Ainge certamente vai ser agressivo, mas podendo agir com paciência. Como tem feito. Dependendo do que acontecer com Cleveland nestes mata-matas, voltará à carga por Kevin Love. Outros nomes aos quais o clube já foi vinculado: Boogie Cousins e Jimmy Butler. E será que Blake Griffin vai estar disponível? Carmelo Anthony toparia? Por aí vai.

Danny Ainge: conjugando agressividade e paciência ao mesmo tempo

Danny Ainge: conjugando agressividade e paciência ao mesmo tempo

A opinião geral da NBA é de que, para o Celtics conseguir uma superestrela, uma troca seria a via mais provável. Historicamente, seja pelo clima frio ou, infelizmente, por questões raciais da cidade (válidas ou não), a franquia não tem muito sucesso na contratação de agentes livres. Dominique Wilkins topou uma oferta em 1994, mas já aos 35  e ficou apenas uma temporada por lá. No ano passado, Amir Johnson foi o grande prêmio. O prestígio crescente de Stevens e a competitividade da equipe seriam fatores para ajudar nessa empreitada.

Mas aí voltamos à flexibilidade. Ainge pode tentar de tudo em trocas, com jogadores valiosos e baratos e múltiplas possibilidades de Draft, com um escritório de excelente aproveitamento no assunto. Ao mesmo tempo, tem espaço salarial para insistir em reforços de mercado. Não precisa se precipitar.

O cenário ideal seria receber uma das duas primeiras escolhas deste ano, aguardando a loteria do dia 17 de maio. Isso valeria um dos pródigos mais elogiados pelos scouts: os alas Ben Simmons ou Brandon Ingram. Qualquer um dos dois seria sensacional para Stevens: Simmons poderia ser o armador do time, ou no mínimo aliviar a pressão em cima de Thomas. Dá para imaginar facilmente um quarteto com Thomas, Smart/Bradley, Crowder e Simmons correndo pela quadra. Já Ingram ofereceria aquilo que é uma carência: arremesso de fora e a capacidade para criar suas próprias situações de pontuação.

Ou isso, ou seriam moedas de troca muito atraentes. Entre os oito times do Leste classificados para os playoffs neste ano, o Celtics tem o segundo elenco mais jovem, ficando acima apenas do Pistons. Vale adicionar mais um garoto à rotação?  Ou é melhor buscar veteranos? O objetivo é voltar à briga pelo topo da conferência, algo que não acontece desde aquela grande série contra o Miami em 2012, quando chegaram a abrir 3-2. O último título do Leste, para lembrar, saiu só em 2010. Claro que seus fanáticos torcedores e Ainge estão cientes disso. Chega uma hora que esses trunfos futuros têm de ser traduzidos em realidade, em algo concreto. Parece que chegou a hora de capitalizar, mas nem sempre é tão fácil assim. No ano passado, por mais que tenha tentado, o clube não viu cenário algum que lhe favorecesse.

Simmons cairia como uma luva no sistema de Stevens, acelerando e passando

Simmons cairia como uma luva no sistema de Stevens, acelerando e passando

“Amo o que Boston tem feito na sua reconstrução: acumular ativos que podem um dia gerar um ‘home-run’, enquanto, simultaneamente, construíram uma equipe competitiva, disciplinada. Eles têm um dos baús de tesouro mãos ricos da liga para investir (qualquer combinação de escolhas de Draft e bons jogadores jovens com contratos amigáveis)”, disse Amin Elhassan, analista do ESPN.com e ex-dirigente do Phoenix Suns. “Mas é aí que reside a piada cruel da NBA: todos esses ativos não significam nada se você não pode comvertê-los em um negócio valha a pena. Então, basicamente o Celtics tem duas possíveis armadilhas para contornar: fechar uma troca por um jogador que não necessariamente vá fazer o programa avançar, ou não fechar nada, ficar estagnado e ver o valor desses ativos eventualmente cair. Recomendo uma atuação agressiva, que assuma riscos quando apropriado, mas o presidente Ainge tem de fazer seus ativos valer.”

Ainge é daqueles cartolas que sabendo manipular a mídia como bem entende, para plantar informações, mandar recados e tal. Só não abre o jogo ao falar sobre seus principais alvos e intenções. Ninguém sabe se ele prefere um dos calouros top ou uma jovem estrela. O fato se ter passado por julho e, agora, em fevereiro sem fechar grandes negócios indica que ele tem sido exigente em suas investidas. Nesse sentido, a evolução apresentada neste ano lhe dá mais segurança, amparo, esperando o negócio certo. Boa parte da liga adoraria estar nessa posição. Pensando longe, talvez até mesmo o Atlanta Hawks, que acabou de passar à semi do Leste.

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Para o Celtics, não importa se Isaiah Thomas é, ou não, uma superestrela
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Giancarlo Giampietro

Thomas conquistou Boston. É superestrela?

Thomas conquistou Boston. É superestrela?

É meio estranho levantar essa questão depois de o tampinha marcar 42 pontos para liderar o Boston Celtics em sua primeira vitória contra a defesa perturbadora do Atlanta Hawks, diminuindo para 2 a 1 sua desvantagem.

Ao passar dos 40 por um jogo dos playoffs, entrou num clube que tem Larry Bird, Paul Pierce, John Havlicek, JoJo White, Reggie Lewis e outras lendas da franquia mais vitoriosa da NBA. Thomas se recuperou depois de sofrer em Atlanta. Ele retornou à Boston com 43 pontos na conta, mas também com 24 arremessos errados (aproveitamento de 33,3%) e seis turnovers, e 14 pontos de lances livres. Pelo Jogo 3, para comparar, foram 12 cestas em 24 tentativas, 50%, e apenas um desperdício de posse de bola, com 13 pontos na linha. Quer dizer: as somas das duas primeiras partidas valeu a terceira.

Para estourar assim, contou com uma forcinha de seu técnico, o iluminado Brad Stevens. Esse cara é impressionante. Não é que ele tenha feito meros ajustes depois das dificuldades enfrentadas durante a visita à Geórgia. Foram duas trocas no quinteto titular — Evan Turner por Marcus Smart e Jonas Jerebko por Jared Sullinger — que desencadearam uma série de eventos. Para ajudar seu cestinha, ele e seus assistentes observaram até mesmo *fitas* de seus dias pela Universidade de Washington.

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Ambas as substituições tiveram impacto no jogo de Thomas. Com Jerebko, de 39,8% nos arremessos pela temporada regular, a quadra se espaçava muito mais. Sullinger, até hoje, só pensa que pode matar seus chutes de fora. Já a presença de Turner daria outro tipo de liberdade para o baixinho: ele precisou driblar muito menos para buscar a cesta. Turner atuou como o armador de fato por bons minutos, com Thomas agindo fora da bola, sendo acionado em movimento. Com bons corta-luzes, cortes pelo fundo e inversões rápidas de passe, o ataque do Celtics conseguiu dar alguns centímetros ou instantes preciosos para que ele pudesse ganhar ritmo e agredir. Ao final do primeiro período, arrasador (37 a 20), já havia anotado 18 pontos.

Foi um alívio. Suas atuações em Atlanta de certa forma ecoavam o que havia feito contra o Cleveland Cavaliers no ano passado, quando sofreu contra Iman Shumpert e Matthew Dellavedova: ficou limitado a 17,5 pontos, também com aproveitamento baixíssimo de quadra (coincidentemente os mesmos 33,3% dos dois primeiros jogos em Atlanta) e média de 3,5 turnovers em quatro duelos, uma varrida.

E aqui entra outro número que nunca pode ser ignorado quando falamos sobre Thomas: 5-9. De cinco pés e nove polegadas, ou 1,75m, sua altura. Por mais incrível e, vá lá, bonitinho que seja ver o armador sustentar médias de 22,2 pontos e 6,2 assistências na temporada, para chegar ao All-Star, e 17,1 pontos e 5,0 assistênciasna carreira, quando chega a hora de playoff, tudo fica mais complicado para qualquer cestinha. Ainda mais para alguém diminuto assim. Ainda mais contra um sistema como a do Hawks, que que não é fácil de se encarar. Naaada fácil, amizade.

De tudo o que vi até aqui em uma semana de mata-matas, não há defesa mais coordenada e opressora que a do Hawks, gente. Eles não têm um Kawhi Leonard, ou nem mesmo mais um DeMarre Carroll, mas causam danos coletivamente, com agilidade invejável nos pés e nas mãos. Nenhuma bandeja parece ser tão tranquila assim, enquanto o executor não ber a bola passar pela redinha. No meio do caminho, corre-se sempre o risco de um Thabo Sefolosha ou um Kent Bazemore bater sua carteira. Se você passa pelas primeiras armadilhas, ainda vai ter de se virar contra Al Horford e Paul Millsap antes de chegar ao aro. Os dois alas-pivôs estão honrando o espírito de Dikembe Mutombo e Tree Rollins nesta série. Horford tem média de 3,7 tocos, enquanto Millsap, 2,3.

Você passa por vários no perímetro e ainda encontra isso à frente do aro

Você passa por vários no perímetro e ainda encontra isso à frente do aro

Esta solidez ainda faz deles os favoritos na série. Assim como aconteceu para o Celtics no Jogo 1, o Hawks soube reagir, simplesmente por ter um time sólido demais dos dois lados da quadra. Agora virão mais ajustes e contragolpes. Mike Budenholzer vai ter pouco mais de um dia para ver o que fazer a respeito. O fato se seu time já ter reagido em quadra é um bom sinal. Tem mais: pode ser que sua comissão nem precise pensar em Thomas para o Jogo 4. Pois existe a possibilidade de o armador ser suspenso. Está a perigo por ter se envolvido em entrevero com Schrödinho, que, sabemos, é enjoado toda a vida. Parece que rolou tabefe, ou um simples *peba*. Independentemente da intensidade, hoje em dia, não duvido que venha um gancho. Aí não há milagre que Stevens possa fazer.

Para derrubá-los, Thomas tem de ser esse pontuador folgado e fogoso, quando se torna um dos cestinhas mais explosivos da liga. O que deu para notar é que, no mano a mano, em investidas mais simples, não vai funcionar. E aqui chegamos a um ponto importante,  sobre ser superastro, ou não. Que envolve números também.

Quando o tampinha arremessa 8-21, como aconteceu no primeiro jogo, é porque teve dificuldade. Então por que não maneirou? Simplesmente porque no seu contexto, o do Boston Celtics, é necessário que ele seja muito agressivo. O elenco gira em torno dele. Mais ou menos como acontecia com Allen Iverson e o Philadelphia 76ers de 2001, campeão do Leste. O grau de dependência só é um pouco menor: naquele time de Larry Brown, o segundo cestinha era Dikembe Mutombo, com 11,7 pontos por jogo pela temporada regular. Agora, quando você pega Kyrie Irving e o atual Cleveland Cavaliers, com LeBron e Love ao seu lado, o cenário é completamente diferente. Nesse sentido, não há slogan para os mata-matas que supere o do Celtics este ano: “Somos todos uma superestrela”.

Turner e Jerebko foram promovidos para resolver

Turner e Jerebko foram promovidos para resolver

A frase tem autor, aliás, é não se trata de nenhum gênio do marketing. Foi Jae Crowder que a soltou numa coletiva corriqueira, as supostas necessidades da equipe antes de o prazo para trocas se encerrar em fevereiro, quando Danny Ainge, o chefão, estava envolvido em rumores por Kevin Love e o próprio Al Horford, entre outros. “Acabamos de ter um jogador escolhido para o All-Star. Então não sei que outra superestrela você quer. Há todo esse papo de que precisamos de um jogador desses, coisas do tipo. Mas nossos cinco jogadores em quadra estão tão concentrados, tão engajados que somos uma superestrela como um todo”, disse o ala. “Jogamos todos juntos. É assustador quando um time não sabe quem marcar, quem vai brilhar de noite no ataque. E, defensivamente, nós todos brigamos juntos e jogamos juntos também. É uma abordagem assustadora.”

Crowder, aliás, ao meu ver, é o jogador mais valioso do time em relação ao que se passa na liga. Ele joga dos dois lados também, e muito bem. Na defesa, tem garra, agilidade e força para marcar de Jeff Teague a Paul Millsap. O problema é que, contra o Hawks, seu rendimento ofensivo tem sido praticamente nulo, com horrível aproveitamento de 19,4% nos arremessos e 16,7% de longa distância Não é que esteja marcado de maneira implacável. Ele tem aparecido livre em diversos momentos para o disparo de três. Acontece que esse tipo de chute exige pernas descansadas, inteiras. E o ala está jogando com um grande desconforto no tornozelo direito, lesionado no mês passado. Além de ter seu equilíbrio abalado, ele não vai conseguir botar a bola no chão e atacar. (Por que ele não diz nada? Não é de seu feitio. Crowder não vai ficar dando desculpas, choramingando em público. Uma nota a respeito? Quando se destacou pelo Junior College, enfim foi recrutado pelas principais universidades do país. Escolheu Marquette por acreditar que o técnico Buzz Williams era o único que estava sendo totalmente honesto com ele, comentando suas deficiências como jogador, sem fazer falsas promessas. Não à toa, Wes Matthews e Jimmy Butler vieram do mesmo programa.)

Os obstáculos para Stevens vão além. Avery Bradley sofreu um estiramento muscular na perna direita no Jogo 1.Dificilmente poderá participar do restante da série. Kelly Olynyk voltou a sentir dores em seu ombro direito, local onde teve uma separação no início de fevereiro. Está mais perto de jogar. São dois desfalques relevantes. Não só Stevens perdeu seu melhor defensor de perímetro, como alguém que acelera em transição, algo fundamental também para dar um respiro a Thomas, desviando a atenção da defesa: marca 15,2 pontos por partida, num desenvolvimento contínuo de suas habilidades ofensivas. Além disso, Bradley e Olynyk estão entre os três principais gatilhos de três da equipe. O canadense é o líder, com 40,5%, enquanto o ala é o terceiro, com 36,1%.

É uma pena, mas não há o que fazer. Se o Celtics é uma superestrela coletiva, tem de arrumar soluções para compensar essas ausências. Fato que Stevens tem um conhecimento profundo do jogo e das capacidades e limitações de seus atletas. Sabe o que fazer para manter o coletivo forte o bastante para enfrentar um adversário muito bom. Isso passa pelos pontos de Isaiah Thomas. Mas não só.

*   *   *

Sobre Marcus Smart: o dia em que ele aprender a arremessar, se é que vai acontecer, saia da frente. O sujeito é um verdadeiro animal em quadra. A gente fala e lê tanto por aí sobre caras que jogam duro, e tal. Não sei se existe alguém que se esforce tanto como o armador reserva-faz-tudo-ou-quase-isso do Celtics, em seu segundo ano de liga. Não à toa, sua lista de lesões já preocupa.

*   *   *

Jerebko cobriu Okynyk no ataque e ainda fez muito mais ao fechar espaços na defesa, freando alas no perímetro, dobrando ou vindo cobrir pelo lado contrário, especialmente nos minutos finais da partida, quando fazia o papel hipotético do ‘cinco’, sendo o último jogador na linha de proteção da cesta. Estava visivelmente pregado, mas ainda interveio aqui e ali de modo providencial contra uma dupla do porte de Horford e Millsap. O sueco é um jogador muito interessante. O Celtics tem o poder de validar seu salário de US$ 5 para a próxima temporada, uma pechincha. Se não tiver muita convicção de que poderá contratar uma grande figura que possa exercer suas funções, como agente livre ou via Draft, não há por que deixá-lo sair.

*    *    *

Imagine os dois quintetos em quadra: Thomas, Turner, Crowder, Jerebko e Amir Johnson. Teague, Korver, Bazemore, Millsap e Horford. Ok. Agora, pensando na trajetória dessa cambada, algumas perguntas:

1) Quantos chegaram à NBA como escolhas top 10?

2) Quantos mais foram selecionados na primeira rodada do Draft?

3) Quantos saíram na segunda rodada do recrutamento de calouros?

Respostas: 1) só dois, Horford e Turner, respectivamente os números 3 e 2 em 2007 e 2010 ; 2) só Jeff Teague, o 17 em 2009; 3) foram seis! Thomas (que, a propósito, foi o último escolhido em 2011, pelo Celtics), Crowder, Jerebko, Johnson, Korver e Millsap. Para completar, Bazemore nem draftado foi em 2012, quando se formou por Old Dominion.

Quer dizer… Tal como Warriors e Spurs, esses dois belos times são compostos por jogadores que nem sempre foram tão badalados assim. Com o Draft se aproximando, não dá para esquecer isso.

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