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Bogdanovic: como construir uma jovem estrela sérvia
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Giancarlo Giampietro

Bogdan-Bogdan, 22 anos, chamando o jogo contra o Brasil

Bogdan-Bogdan, 22 anos, chamando o jogo contra o Brasil

Este espaço vem batendo na tecla nos últimos dias contrapondo o impacto que a produção das categorias de base de Brasil e Sérvia tem na formação de suas respectivas seleções. O paralelo poderia ser feito com qualquer outro dos países que disputam as semifinais da Copa do Mundo, mas calhou de serem os balcânicos a surgirem no meio do caminho de um time nacional que realmente tinha esperança de brigar por medalha.

Dentre os muitos talentos sérvios lançados ano após ano, num ritmo muito mais acelerado que o Brasileiro, embora tenham população 20 vezes menor, o caso de Bogdan Bogdanovic me parece o mais interessante para ser investigado, envolvendo diversas facetas do basquete de lá que talvez ajudem alguma alma iluminada com poder de decisão no basquete brasileiro.

Com 22 anos, o ala-armador, uma das revelações a serem vigiadas no Mundial, aparece como o terceiro cestinha sérvio no torneio, atrás apenas de Miroslav Raduljica, um pivô que também nos conta uma lição, e Milos Teodosic, que andava deveras comportado até arrebentar com a defesa brasileira nesta quarta-feira. Em termos de eficiência, ele aparece em quarto na lista, superado também por Nemanja Bjelica. Todos eles mais velhos, diga-se. Agora, se formos ver o saldo de cestas de seu time nos minutos em que esteve em quadra, ele tem a melhor marca, com +7,9, batendo Teodosic, por exemplo, por 2,3 pontos. Número por número, acho que dá para eleger o rapaz já como um dos protagonistas da equipe.

Bogdan-Bogdan tem 22 anos. Está entre os protagonistas sérvios

Bogdan-Bogdan aqui errou a bandeja, acuado pela cobertura de Nenê: mas o garoto foi bem no geral, com 12 pontos, sendo assistido pelo gerente geral do Phoenix Suns na plateia

Algo que um ou dois anos antes não estava nada previsto. Bogdan-Bogdan é o protagonista de uma das ascensões mais significativas do basquete europeu em tempos recentes. Nesta escalada, boa parte do roteiro era planejada. Mas também não dá para negar que a interferência de umas pitadinhas de sorte.

Em maio de 2010, ele mostrou as caras para um bom contingente de olheiros nternacionais no tradicional Nike International Junior Tournament, em Paris. O sérvio foi inscrito como atleta do FMP, clube que revelou dos anos 90 para cá gente como Teodosic, Zoran Erceg, entre outros, mas, pelo que consta, estava apenas emprestado. A ideia era usar o torneio juvenil como vitrine para seus habilidades, neste tipo de combinação que agentes e equipes de menor orçamento podem realizar. Deu certo.

Segue um relato do DraftExpress, serviço de scouting dos mais prestigiados que você vai encontrar: “Bogdanovic tem um jogo bastante versátil ofensivamente. Ele pode criar seu próprio arremesso, cortando pela direita ou pela esquerda e também faz seus arremessos do perímetro, mesmo que seu lançamento precise ficar mais rápido e consistente. Ele também pode pontuar de costas para a cesta e dá sinais de que um jogo de meia distância está surgindo, especialmente com a cesta da vitória que fez contra o Málaga, garantindo uma vaga nas finais. Ele não estava completamente integrado ao time e, em algumas ocasiões, ele levou essa coisa de vitrine bem literalmente. Estava um pouco faminto cuidando de seu próprio arremesso, forçando algumas bolas bem ruins e arriscando infiltrações difíceis”.

Antes ser alistado pelo FMP, o garoto jogou pelo Zvezdara e pelo Žitko Basket. Ao final de sua participação naquela competição juvenil, conseguiu o que queria: um contrato profissional, e com o Partizan Belgrado, aos 18 anos. Em duas temporadas, foi aproveitado em apenas 23 jogos da liga local. Em 2012-13, porém, já estava mais preparado para entrar de vez na rotação dessa potência sérvia. Estreou na Euroliga e na Liga Adriática, com médias de 5 pontos no torneio continental, mas sentindo o peso da concorrência elevada (acertou, por exemplo, apenas 10 de 33 arremessos que tentou em seis jogos). No campeonato nacional, os números subiram para 9,8 pontos e aproveitamento superior a 42% nos chutes, com 39% de três. Alguns degraus foram escalados, mas ninguém imaginava o que viria a seguir.

Bogdan-Bogdan, líder da horda

Bogdan-Bogdan, líder da horda

Aqui é importante explicar qual a realidade do Partizan hoje. Na Sérvia, os caras ganharam simplesmente os últimos 13 títulos. Sim, 13. No âmbito regional, ainda conquistaram seis das últimas oito Ligas Adriáticas, campeonato que reúne agremiações da antiga Iugoslávia. Nos Bálcãs, eles encaram concorrência chata – só foram campeões nacionais neste ano, por exemplo –, mas está claro que hoje são eles quem mandam por lá. Se for para olhar para o resto do continente, porém, a relativização deixa o clube pequeno. Seu orçamento é bem reduzido comparando com espanhóis, gregos e, especialmente, russos e turcos. Então o que eles fazem? Trabalham basicamente com atletas jovens, um ou outro americano disponível no mercado e veteranos sérvios, mas não os de elite: tanto que, na atual seleção nacional, não estão representados por nenhum atleta.

Para terem sucesso, dependem que esses garotos sejam realmente promissores e precocemente produtivos. O interessante é que, devido ao espaço e a visibilidade que acaba proporcionando, o time tem recebido também jogadores de outros países – na última Euroliga, contaram com três revelações francesas: o pivô Joffrey Lauvergne, outro semifinalista do Mundial e que já foi embora para a Rússia, e os armadores Leo Westermann e Boris Dallo. Todos saem ganhando: o Partizan ganha personagens talentosos para explorar, e os jovens recebem tempo de quadra para se desenvolverem e ganharem exposição.

Nesse contexto, Bogdanovic, em seu quarto ano de casa, foi alçado ao patamar de jogador-chave, sob a orientação do técnico Dusko Vujosevic. Esperavam dele uma produção consistente para conseguir, quiçá, uma campanha respeitável na Euroliga e manter a hegemonia balcânica. O ala-armador, do ponto de vista individual, superou todas as expectativas. Um fator que contribuiu para isso: uma grave lesão de joelho sofrida por Leo Westermann, que aumentou sensivelmente as responsabilidades de seu companheiro. Ele teve de ficar com a bola muito mais tempo em mãos – muito mais do que estava acostumado – e viu seu progresso ser bastante acelerado. Cometeu um caminhão de turnovers (3,4 por jogo), é verdade, mas teve liberdade para errar até se tornar também uma atacante mais confiante e com mais recursos ao final da jornada.

Ao analisá-lo quatro verões depois daquele torneio juvenil em Paris, Jonathan Givony viu um jogador formado. “O Bogdanovic se aproveitou da lesão para assumir  um papel muito mais proeminente no ataque como um condutor de bola primário e também como facilitador. Sua versatilidade é impressionante, liderando a equipe em pontos, assistências, tocos e taxa de uso, enquanto vai acertando 40% da linha de três”, afirma. “Não há dúvida de que, nesse meio tempo, ele emergiu como o prospecto mais intrigante da geração nascida em 1992 na Europa.”

Bogdanovic teve médias na Euroliga de 14,8 pontos, 3,7 assistências e 3,7 rebotes, além de 1,6 roubo de bola, em 31 minutos. Carregava uma carga pesada e conseguiu triplicar seus números em um ano, ajudando o Partizan a se classificar para a segunda fase do campeonato, o Top 16. Em sua melhor atuação, marcou 27 pontos em casa contra o CSKA, liderando uma rara vitória sobre um dos favoritos ao título, matando 10 de 16 arremessos. Fez também 24 pontos e 5 assistências contra o Bayern de Munique e o Zalgiris Kaunas e 25 pontos e 5 rebotes contra o Barcelona. No final, foi eleito a “estrela ascendente” do campeonato, entrando numa lista em que constam Ricky Rubio, Nikola Mirotic, Erazem Lorbek, Andrea Bargnani, Danilo Gallinari e Rudy Fernández.

Seu basquete, então, em uma temporada saiu de coadjuvante para algo muito acima do que o clube de Belgrado poderia pagar. Antes de ser selecionado pelo Phoenix Suns no Draft da NBA em 27º, foi transferido para o Fenerbahçe, no qual vai substituir seu xará Bojan Bogdanovic e será treinado pelo legendário Zeljko Obradovic (só precisa ver se Obrado estará com saco para aguentar mais um ano num elenco cheio de estrelas, mas que fracassou de modo retumbante no ano passado, causando ataques histéricos no técnico). Antes de sair do Partizan, deixou sua marca nas finais do campeonato sérvio: com 30,8 pontos, 4,8 rebotes e 4,2 assistências, liderou mais uma vitória contra o arquirrival Estrela Vermelha para conquistar seu quarto título nacional, também o 12º seguido do clube. Passou a ser idolatrado pelos torcedores, a ponto de sua conta no Twitter ser: Líder da Horda. Então tá, né?

Pela seleção foi convocado pela primeira vez já para o EuroBasket do ano passado, com 21 anos. Teve médias de 9,4 pontos e 4,3 rebotes em 26 minutos, com 43,4% nos arremessos. Foi elogiado por Sasha Djordjevic, como uma das maiores promessas do basquete europeu. Na Copa do Mundo, depois de tudo, joga por 27,3 minutos, abaixo apenas de Bjelica, e soma 11,4 pontos, 2,7 rebotes e 2,6 assistências, com 49,2%, mantendo média próxima a 40% nos tiros de três em ambas as campanhas. Contra o Brasil, foram 12 pontos, 6 rebotes, 2 assistências, 2 tocos e 5/9 nos arremessos, em 26 minutos.

O gerente geral do Suns, Ryan McDonough, estava no ginásio em Madri e adorou o que viu. “Ele foi muito eficiente e conseguiu os arremessos que gosta de fazer, nos seus lugares preferidos. As cestas vieram com os pés plantados, a partir do drible e em infiltrações. Estou impressionado com sua capacidade para criar jogadas. Ele pode fazer um monte de jogadas que a maioria não consegue”, analisou em entrevista ao jornal AZ Central. “E o Bogdan tem essa atitude, e digo isso para o bem. Ele é competitivo, muito valente, confiante. Não vai recuar diante de ninguém.”

Importante dizer que, se no Partizan era o dono da bola, pela Sérvia ele só vai recuar em relação aos seus companheiros mais tarimbados. Na equipe semifinalista, a prioridade ainda fica para Teodosic e o jogo interno com Raduljica e Nenad Krstic. Aos 22 anos, há tempo pra tudo. Bogdanovic tem a idade de revelações brasileiras como Raulzinho, Lucas Bebê e Cristiano Felício. Porém, sem discutir a questão de quem seria mais talentoso que o outro, é fácil constatar que está num estágio de desenvolvimento muito mais avançado, já voando alto na carreira. É preciso apenas entender em que condições ele cresceu, qual foi o cenário para que ele pudesse chegar lá antes da maioria.


Sobrando, EUA vencem 1ª semi e vão atrás do 4º ouro seguido
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Giancarlo Giampietro

O Manimal Faried somou só 9 pontos e 6 rebotes na semi. Irving foi o cestinha com 18

O Manimal Faried somou só 9 pontos e 6 rebotes na semi. Irving foi o cestinha com 18

A Turquia venceu o primeiro tempo, enquanto a Eslovênia pelo menos se manteve perto. A Ucrânia estava acima no placar no início do segundo período. A concorrência faz o que dá, mas os Estados Unidos não se incomodam muito. Nesta quinta-feira, eles viram a Lituânia terminar o primeiro tempo apenas oito pontos atrás, mas fizeram mais um segundo tempo demolidor para assegurar vitória tranquila (96 a 68) e se classificar para a final da Copa do Mundo

Mesmo com todos seus desfalques, praticamente um time inteiro que Mike Krzyzewski poderia ter escalado para o torneio, o Team USA segue em frente, muito bem, obrigado, com 62 vitórias seguidas. Sob o comando do Coach K, são 74 triunfos, em jogos oficiais ou amistosos, e apenas um revés – a semifinal do Mundial de 2006 no Japão, contra a Grécia de Theo Papaloukas. Pense bem nisso: 62 vitórias seguidas. Isso vale lugar em alguma edição do Guinness Book, certamente.

Curry: 13 pontos em 13 minutos, com quatro faltas, e foi tudo bem até aqui

Curry: 13 pontos em 13 minutos, com quatro faltas, e foi tudo bem até aqui

LeBron, Durant, Melo, Westbrook, Love, Griffin, Aldridge, Paul, Kobe e George estão fora (apesar que é preciso levar em conta que outros times também estão sem alguns de seus principais nomes). No primeiro quarto da semi, Davis, Harden e Curry cometeram muitas faltas e foram sacados. E nem isso influenciou de modo decisivo o jogo. O elenco ainda é muito talentoso e atlético, oprimindo seus adversários até o momento.

Alguns times conseguiram complicar o ataque norte-americano com marcação por zona, alternando com mista e individual. O pesado garrafão da Turquia, com Omer Asik e Oguz Savas, assessorados por ótimos reboteiros como Furkan Aldemir e Keren Gonlum, também deu um baita trabalho, conseguindo empatar a disputa nas duas tábuas, ajudando seus times a desacelerar o jogo. Mas ainda não apareceu na Espanha quem pudesse sustentar qualquer sustentar um equilíbrio por mais de 30 minutos, que foi o caso dos turcos. Perdiam só por seis pontos quando o quarto período começou, até levarem 32 a 17 naquela parcial.

A Lituânia, na semifinal, arrefeceu na volta do intervalo, tomando 33 a 14 de cara. Foi a oitava parcial em que os norte-americanos bateram a marca de 30 pontos. Na verdade, até agora, dos 32 quartos que jogaram, eles ficaram abaixo dos 20 pontos em apenas em cinco ocasiões, incluindo os dois primeiros contra Asik & Cia.  Em termos defensivos, o melhor desempenho aconteceu na estreia contra a Finlândia, quando venceram o segundo período por 29 a 2.

Com a Espanha vendo tudo de fora agora, o favoritismo dos Estados Unidos fica mais acentuado. A França tem capacidade atlética e possibilidades defensivas para complicar. A Sérvia tem mais balanço: pode jogar de modo físico na defesa e atacar com leveza, dentro e fora. A certeza é que, quem sair da segunda semi, nesta sexta-feira, vai precisar fazer um jogo praticamente perfeito para evitar o quarto ouro em quatro grandes competições seguidas para os Estados Unidos.

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Ao se recusar a levar adiante as negociações com o Minnesota Timberwolves por Kevin Love, a gestão do Golden State Warriors deu prova do quanto eles gostam de Klay Thompson. Flip Saunders exigia a presença do ala em um pacote por seu astro e ouviu não atrás de não (de Steve Kerr, Bob Myers, Jerry West e Stephen Curry). Então não é que Thompson vá precisar de um forte lobby para a hora que iniciar as negociações de renovação de seu contrato. Se as conversas se estagnarem, por algum motivo, ele certamente terá o apoio do Coach K. Thompson fez um primeiro tempo sensacional contra os lituanos, carregando o ataque sem Harden e seu parceiro Stephen Curry ao lado. Os dois estavam com problemas de falta. Durante o torneio, o ala tem sido o jogador com mais tempo de quadra, agradando não somente pelo arremesso de três pontos que é uma pintura, mas também pelo seu poderio defensivo (16 pontos, 2 tocos, 3 rebotes e 3 assistências em 25 minutos).

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Um dado apresentado pelo estatístico Mr. Chip, bastante interessante para se por em perspectiva esta equipe americana:

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Mindaugas Kuzminkas, ala do Unicaja Málaga, foi um dos destaques do primeiro tempo, conseguindo 12 pontos em 11 minutos, naquele que talvez seja o melhor momento de sua carreira. Acompanhei o lituano durante a temporada da Euroliga e foi difícil ver algo mais que cinco minutos consistentes do lateral, que é bastante alto e magro. Sem querer pegar no pé: Kuzminskas tem seu apelo, sim. Joga bem fora da bola, se posiciona bem para receber os passes e tem bons instintos na tábua ofensiva, mas, aos 24 anos e 11 meses, ainda está tomado por altos e baixos. Nas Olimpíadas, já ficou fora de duas partidas e recebeu 9 minutos em média, apenas. Contra os americanos, somou 15 pontos e 9 rebotes. O agente gostou.

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Tá certo que, em boa parte de suas investidas, o lituano estava marcado por ninguém menos que o Mr. Barba. Saco de pancadas da mídia americana durante toda a temporada, James Harden conseguiu expandir a zoação para a Europa com seu primeiro tempo pavoroso na defesa. Foi levado para passear no parque um ataque atrás do outro, até ser sacado pelo Coach K. Daí que…

 


Este é o Tyrece Rice, armador americano que foi MVP do Final Four e campeão da Euroliga 2013-14 pelo Maccabi Tel Aviv. Dizendo que, basicamente, a mãe dele consegue fazer cesta contra o Harden, e que não é piada. Além disso, ele fala que a única razão pela qual sua avó não conseguiria é porque a pobre velhinha está com alguns problemas no pé. Agora. Saudável, também faria a cesta. Afe, hein?

Curioso o jeito desbocado de Rice. Ele acabou de assinar com o Kimkhi Moscou, e não deve ir para a NBA tão cedo. Aí também fica fácil para aloprar. Bem, no segundo tempo, Harden voltou disposto a calar tudo e todos. Segurou bem Jonas Maciulis, que é um ala muito mais gabaritado que Kuzminskas, e deslanchou no ataque, para terminar com 16 pontos. Deve ter conferido o celular no intervalo.

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Boogie não gostou do modo como Valanciunas usa os cotovelos

Boogie não gostou do modo como Valanciunas usa os cotovelos

DeMarcus Cousins não vai ter a chance de brigar por rebotes e pontos contra os irmãos Gasol neste Mundial, mas ao menos foi bastante útil na semi. Jonas Valanciunas deixou Anthony Davis pendurado de faltas no primeiro período, e aí o Boogie veio para a quadra para oferecer mais músculos ao Team USA e, digamos, administrar essa situação. Na medida do possível, né? Difícil falar em Cousins e “administrar” na mesma frase.  No primeiro tempo, ele foi punido com uma falta técnica ao partir em direção de Valanciunas (ele havia tomado um safanão do lituano no gogó). Ao final do jogo, alguns jogadores se estranharam em quadra na hora de se cumprimentarem, talvez com resquício desse entrevero. Vou checar e atualizo aqui. Tanto Davis como DeMarcus foram excluídos com cinco faltas.


As semifinais da Copa do Mundo em números
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Giancarlo Giampietro

Gente, vocês querem números? Faltam apenas quatro jogos para o sonho de uma Copa do Mundo de basquete de verão terminar. Com quatro times em disputa, sendo que um vai sair de mãos abanando, assim como aconteceu com Brasil e Espanha. Mas, isso, claro, vocês já sabiam. Vamos com outros dados, então:

No poderoso ataque americano, tem até para DeRozan. Dale, cravada

No poderoso ataque americano, tem até para DeRozan. Dale, cravada

102,3 – Os EUA têm o melhor ataque da Copa, e o restante não chega nem perto. Com 102,3 pontos por jogo, abriram quase 20 de vantagem para a Espanha, que agonizou diante da defesa sufocante dos franceses nesta quarta. Entre os que ainda estão no páreo, a Sérvia aparece em segundo, com 80,1, ajudada pela sacolada que deram no Brasil. A Lituânia anotou 76 pontos em média, enquanto a França tem 72,9 (apenas a 14ª no geral).

68,8% – Sérvia e França estão empatados com este fraco aproveitamento em seus lances livres, valendo as 17ª e 18ª posições no ranking geral. Os EUA, com 71,3%, aparecem em 13º. A Lituânia tem 75,2%, em quarto. Por curiosidade, as Filipinas lideraram o quesito, com 79,6%.

44 – Este a gente colocou no primeiro dessa texto dessa série estatística, mas, depois da tragédia espanhola, vale o reforço: foi em 1970, há 44 anos, a última vez em que o país anfitrião viu sua seleção comemorar o título: a Iugoslávia. O que, nos tempos de hoje, nem vale: eram vários países em um, sendo que três deles disputaram a atual edição: Croácia, Eslovênia e Sérvia.

A vitalidade de Jonas Valanciunas, estrela lituana de apenas 22 anos e o quinto reboteiro do Mundial, com 8,6

A vitalidade de Jonas Valanciunas, estrela lituana de apenas 22 anos e o quinto reboteiro do Mundial, com 8,6

28 – É a média de idade da Lituânia, o time mais velho entre os semifinalistas. O restante? França e Sérvia empatam com 26 anos, enquanto os Estados Unidos têm 24. Este talvez seja o dado mais relevante para colocar em perspectiva a campanha brasileira, com uma seleção de 31 anos. Todas essas quatro potências já têm uma base armada para o próximo ciclo olímpico.

23,8 – Surpreendentemente, o ala Klay Thompson é o jogador americano que mais tempo fica em quadra no Mundial, com 23,4 minutos, contra os 23 cravados de Kyrie Irving. No total, isso representa apenas três minutos a mais (164 a 161). O pivô Andre Drummond, convocado basicamente como apólice de seguro num eventual embate com a Espanha que agora jamais vai acontecer, somou 38 minutos, quase uma partida de Fiba inteira (6,3 por partida).

22,1 – O quanto a França arremessa de três pontos por jogo, o maior número entre os quatro semifinalistas, mesmo que eles tenham, de longe, o pior aproveitamento (ridículos 31,6%). EUA, Lituânia e Sérvia estão todos na casa de 19 chutes de longa distância por rodada, com os lituanos, claro, tendo a melhor pontaria: 40%. Culpa do pivô Darjus Lavrinovic, que tem acertado surreais 62,5% de seus arremessos, e do armador Adas Juskevicius (57,1%). O Brasil se despediu do torneio com 16,9 tentativas e 37,3% de acerto.

20 – Erros para a Espanha em arremessos de três pontos em sua derrota para a França, tendo tentado 22 disparos. Ok, é um número que pertence muito mais fase anterior, mas, nestes tempos de redes sociais em ebulição por conta desse processo chamado “Festa da Democracia”, todo mundo parece acreditar que jornalismo é manipulação, né? Então tomem aqui a prova mais clara. (Na verdade, o número é fundamental para explicar a classificação francesa, com uma linha defensiva assustadora, que arrepiou os espanhóis: um time desse nível acertar apenas 9,1% de seus chutes de fora? #sacrebleu).

13,9 – Dos 48 jogadores que ainda podem jogar o Mundial nesta reta final, Miroslav Raduljica, quem diria, é o cestinha, com 13,9 pontos. Logo em sua cola vem o Anthony Davis, mas pode chamar de Monocelha, com 13,7. Passaram quatro equipes que não dependem tanto assim de um jogador para carregar o ataque. Verdade seja dita: era o mesmo caso do Brasil. Entre os 20 principais pontuadores, em média, do torneio, apenas Kenneth Faried, com 13,0, se junta ao sérvio e a seu compatriota nessa. Desta forma, José Juan Barea ao menos pode acrescentar esta linha em seu currículo: “*Cestinha da Copa do Mundo de basquete 2014, com 22,0 pontos – só não perguntem, por favor, qual foi a campanha do meu time”.

Batum está com cara de que queria fazer pelo menos uns 15 pontinhos por jogo, vai...

Batum está com cara de que queria fazer pelo menos uns 15 pontinhos por jogo, vai…

9,9 – Por falar em cestinhas, esta é a média de pontos de Nicolas Batum no torneio. O ala do Blazers, acreditem, lidera a seleção francesa nesse quesito. Joffrey Lauvergne tem 9,4, Thomas Heurte, 8,4, Boris Diaw, 7,9, e por aí vamos… Incrível.

4 – A França falhou em marcar que 70 pontos em quatro de seus sete jogos na competição. Se formos descartar os dados computados contra Egito e Irã, restaria apenas uma partida, então, em que cruzaram essa… Nada fantástica marca. E foi contra quem? Justamente a Sérvia, seu adversário das semis, vencendo por 74 a 73. Mas, ‘bora lá repetir todo mundo: “Cada jooooogo é uma históooooria”.

1 – Apenas um time não tem sequer um atleta com contrato de NBA em seu elenco: a Sérvia. Raduljica jogou o campeonato passado pelo Bucks, foi trocado para o Clippers e acabou dispensado, como já foi amplamente divulgado, embora a turma em geral insista em ignorar isso. O ala Bogdan Bogdanovic foi draftado pelo Phoenis Suns neste ano, em 27º, mas vai seguir sua carreira na Europa, pelo Fenerbahçe, talvez por mais dois anos, antes de pensar numa transferência. No clube turco, terá a companhia de Nemanja Bjelica, jogador já selecionado pelo Minnesota Timberwolves. Quem sabe Flip Saunders não decide dar uma chance para o ultratalentoso ala-pivô num futuro próximo? Sem Kevin Love, há vagas. E aqui vale um destaque importante: é muito tentador escrever que a Sérvia não tem sequer um jogador de NBA. Porque, a julgar pela cobertura geral do Mundial, só importa quem joga nela, né? Só o selo de aprovação da liga atestaria a qualidade de um atleta. Aí vem a Sérvia, e… Pumba.

0 – Nenhum jogador naturalizado vai disputar as semifinais. Quem chega mais perto disso é o Kyrie Irving, que nasceu na Austrália, mas se mudou com o pai, mais um desses ciganos e jogadores americanos, aos dois anos de idade. Sábia decisão a dele, já que os Boomers têm dono: Patty Mills, e ninguém tasca. Sem contar que, em 2020, será a vez de Dante Exum. Ah, a França tem suas importações também, mas em outras circunstâncias. Tanto Florent Pietrus como Mickael Gelabale procedem de Guadalupe, que fica no Caribe, mas ainda é território francês. O ala reserva Charles Kahudi é de Kinshasa, no Congo, mas fez toda a sua carreira no país latino, algo mais que recorrente.


A Espanha chora mais uma vez
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Giancarlo Giampietro

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Geração dourada realmente reunida. Torneio em casa, hora de celebrar com a torcida, e os grandes astros dos Estados Unidos nem estavam por perto, mesmo. A Espanha com a confiança lá em cima. E vem uma derrota chocante.

Aconteceu sete anos atrás, no EuroBasket 2007, voltou a ocorrer neste ano na Copa do Mundo, num filme que os irmãos Gasol e toda a família real espanhola do basquete não esperavam rever tão cedo. Sete anos atrás, eles foram desbancados pela Rússia de Andrei Kirilenko, Viktor Khryapa – e dos importados JR Holden e David Blatt, claro. Agora foi a vez de perderem para a França por 65 a 52, fazendo, sem brincadeira, Madri chorar. Vocês sabem que cronistas esportivos adoram carregar na tinta, ser piegas, e tal. Neste caso, o dramalhão especial foi real. Quem não estava atônito no ginásio estava ocupado com prantos, mesmo.

Difícil dizer qual revés é o pior, mais dolorido: perder a decisão como anfitrião, ou cair tão cedo no torneio? Desconfio que a segunda, até pela sensação para eles de que é o final de uma era e de que os campeões deles não mereciam um desfecho desse jeito – depois de um título mundial em 2006, duas pratas olímpicas e dois troféus continentais em 2009 e 2011. Para os jogadores, no calor da quadra, outro fator não pode ser subestimado: a crescente rivalidade com os franceses. Se você acha que o basqueteiro brasileiro se deprimiu nesta semana, espie só como andam os espanhóis nas redes sociais – horas depois do revés, os tópicos mais comentados eram dominados pelo tema. Sinta o peso:

A orelha do técnico Juan Orenga está ardendo, com a mídia de lá pegando muito mais pesado do que o pessoal por aqui. Pudera: o cara não tem apenas um, mas dois Gasols no garrafão. São quatro armadores de primeiro escalão no elenco. Jogando em casa. Não havia outro resultado aceitável que não o ouro ou, pelo menos, uma derrota dramática para os Estados Unidos.

Porque, dãr, se no EuroBasket os americanos não jogam, no Mundial o Team USA não falta. Acontece que, apara eles, a aura do seu rival, que lhe bateu em Pequim e Londres, estava exaurida, depois de ausências se acumularem: LeBron, Durant, Carmelo, Paul, Westbrook, Love, Griffin, Aldridge e, caceta, até George. Então aí está: o sentimento entre os espanhóis foi que, a partir do momento que Durant anunciou que não iria mais defender sua seleção, o favoritismo havia mudado de lado. Que eles seriam, mesmo, os grandes candidatos ao título. Sentimento reforçado pelos acontecimentos da fase de grupos.

Eles só esqueceram de combinar tudo isso com a França, time que já haviam surrado na primeira fase e que estava também com uma longa lista de ausências. Eles contam cinco baixas, dois titulares absolutos entre eles: Tony Parker e Joakim Noah + Nando De Colo, Alex Ajinça e Ian Mahinmi. Se fossem mais honestos, contariam apenas quatro, já que o Mahinmi não deveria contar. ; )

Se cada jogo é uma história, como brasileiros e sérvios provaram mais cedo, não havia motivo para os Bleus entrarem em quadra em Madri sem acreditar em melhor sorte. Daí que, após a chocante vitória, Boris Diaw disse tudo: “Nós tínhamos a motivação para vencer, e eles tinham a motivação para não perder”. O Diaw é uma figuraça. Fácil falar desse jeito quando seu time saiu vencedor, né? Mas, segundo o que consta, o ala-pivô francês está cheio dessas sacadas, inteligente pacas.

O líder e poeta Boris Babacar Diaw-Riffiod

O líder e poeta Boris Babacar Diaw-Riffiod

Em termos de motivação, os franceses mostraram que estavam imbatíveis, mesmo. Abraçaram o plano tático desenhado por Vincent Collet – que, se antes do Mundial não estava na sua lista de melhores técnicos do mundo, agora não pode faltar –, competiram para valer, ignoraram as circunstâncias desfavoráveis (não se importaram com uma arbitragem evidentemente tendenciosa/caseira, por exemplo), relevaram quaisquer desfalques e fizeram uma partidaça.

Vai ser difícil encontrar uma exibição tão boa na defesa como a que esses caras fizeram no fechamento das quartas de final. Os Bleus simplesmente seguraram a Espanha em 52 pontos. Isso dá 13 pontos por período, por 10 minutos. Isto é, 1,3 ponto por minuto, para um time que conta com Pau Gasol, Juan Carlos Navarro, Rudy Fernández, Sérgio Rodríguez, José Calderón e tantos outros luminares ofensivamente. Absurdo, sufocante.

O que pega é o seguinte: tirando Rudy Gobert (que pede um texto próprio, antes da semifinal contra a Sérvia, prometo), a França pode nem ter muita estatura. Mas eles têm envergadura, que é a medida que mais importa, na verdade. Diaw, Batum, Gelabale, Gobert, Forent Pietrus, Lauvergne: eles são muito compridos. É braço para todo lado, fechando linhas de passe, desencorajando as assistências, apressando e amedrontando arremessos. Eles não forçam turnovers, não defendem de modo adiantado, mas atrapalham muito a conclusão dos lances. Não subestime isso de modo algum. Afeta até mesmo um adversário qualificado como a Espanha, a ex-favorita ao ouro.

La Bomba estourou contra a Espanha

La Bomba estourou contra a Espanha

Os donos do ginásio acertaram apenas 32,3% de seus arremessos de quadra. Isso é praticamente inclassificável, considerando as circunstâncias. Pau Gasol marcou 17 pontos em 31 minutos, porque é Pau Gasol. O restante do seu time? Apenas 35 pontos! Sim, 12 atletas totalizaram 35 pontos, menos de 3 pontos por cabeça. Marc Gasol e Serge Ibaka, dupla que, na NBA, ganha mais de US$ 25 milhões por temporada, acertaram apenas dois de 14 arremessos.

Atingindo esses números na defesa, nem tem problema atacar de maneira horrorosa. Não é que a França tenha feito uma exibição de gala. Seu ataque só aproveitou 39,3% dos arremessos. Mas estava tudo dentro do plano. Digo: obviamente prefeririam acertar mais (risos). Mas a ordem óbvia era girar a bola, trocar passes, gastar o cronômetro o máximo possível. Um ataque controlado, de abordagem para lá de sistemática e para lá de curiosa – e que merece mais atenção.

Se você for pegar o nível de capacidade atlética que os franceses apresentam em seu elenco, de primeira sai a ideia de que poderiam formar um dos times para correr mais no torneio. Mas não tem nada disso. Eles gostam de um bom e velho ugly basketball. Em francês, deve dar algo como basket-ball de la m…e. É um jogo muito feio, arrastado, que vai te exigir o máximo de paciência, que vai te extrair a alegria. Mas foi mais ou menos deste modo como eles se tornaram campeões europeus no ano passado, tendo batido os espanhóis na semifinal, inclusive. Sem Tony Parker, decidiram levar essa proposta ao extremo. E, pelo menos por uma notite em Madri, deu mais que certo.

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A pergunta engraçadona que todo mundo fez ao final do jogo: “Quem precisa de Tony Parker quando se tem um Thomas Heurtel?”

Muito original, né? Mas pode me incluir nessa: foi realmente a primeira coisa que bateu na telha quando o armador do Baskonia resolveu roubar toda a cena nos tensos minutos finais do confronto, quando os espanhóis ainda alimentavam o sonho de uma virada. O jogador de 25 anos anotou 9 de seus 13 pontos nos quatro últimos minutos, quando voltou para a quadra para no lugar de Antoine Diot.

Heurtel, no caminho certo

Heurtel, no caminho certo

Quem deve ter comemorado: o italiano Marco Crespi e a diretoria do Baskonia, que vão receber para as próximas Euroliga e Liga ACB um jogador muito mais confiante. Huertel é muito talentoso com a bola. Foi um dos eleitos pelo time basco para substituir Marcelinho Huertas, desde que o brasileiro foi levado pelo Barcelona. Para um armador, porém, nunca foi muito afirmativo em quadra. Após um jogo desses, justamente no país aonde joga durante a temporada, improvável passar incólume.

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Como o veterano e espirituoso Marc Stein, jornalista do ESPN.com, disse: “Vai ser difícil encontrar um jogador de basquete que tenha vivido um ano mais feliz do que Boris Babacar Diaw-Riffiod”. Com esse nome já não tem quem fique triste. Mas, se for para ganhar o EuroBasket, seu primeiro título da NBA, voltar a bater a França e, no meio da jornada, assegurar mais US$ 15,5 milhões em contrato e um vale Royale with Cheese do McDonald’s mais próximo, melhor ainda.

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A semifinal de sexta-feira tem, então, França x Sérvia. Respectivamente os segundo e terceiro e colocados do Grupo A, duas equipes vencidas pelo Brasil na primeira fase. Sorteio camarada o da Fiba… Quem vencer, para quem chegou agora, pega o time que sair de EUA x Eslovênia.

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Não é a primeira vez que falamos de carma nesta Copa do Mundo, mas, enquanto as seleções não pararem de manipular a tabela, vamos insistir: essa é a segunda derrota em dois jogos da Espanha contra a França desde que se enfrentaram nas Olimpíadas de 2012. Naquela ocasião, vocês vão se lembrar, houve uma grande suspeita de que teriam entregado um jogo para o Brasil na fase de grupos de modo que pudessem controlar a posição em que ficariam na tabela. A ideia era cair do outro lado da chave dos Estados Unidos. No meio do caminho, escolheram, então, encontrar os franceses. Que ficaram pês da vida com a história. Teve soco de Nicolas Batum em Rudy Fernández e muito mais em quadra. Agora estamos aqui, comentando esse desfecho inesperado e um tanto trágico.


6º lugar no Mundial: é o que tem para hoje. E depois?
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Giancarlo Giampietro

(Atualização: com a derrota da Espanha para a França, o Brasil perde uma colocação na classificação geral, caindo de quinto pra sexto. Que fase!)

Brasl derrotado, Sérvia vence, Copa do Mundo, basquete, crise, CBB

A frase não vai parecer genial, mas é precisa ser dita: o Brasil tanto podia ganhar da Sérvia nesta quarta-feira, como poderia perder. E perdeu. Era um duelo equilibrado, sem favoritos, pelas quartas de final de uma Copa do Mundo de basquete. Alguns detalhes aqui e ali poderiam ter se corrigido, mas o fato é que o time brasileiro, desde a sua composição ao que executava em quadra, estava longe de ser perfeito. Era competitivo, estava na briga pelo pódio, mas não tinha direito adquirido nenhum ali. Estava metido em um jogo enroscado, se descontrolou emocionalmente na volta do intervalo e, pumba!, quando passou, já era. Vitória sérvia.

Isso tudo se refere a 10 de setembro de 2014 e a um geração de jogadores que, em geral,  está em seu auge, descontando uma ou outra peças periféricas de sua rotação, que já se veem mais perto da aposentadoria. Quer dizer, uma pequena retificação: essa competitividade da seleção brasileira passa por 10 de setembro e deve se estender até os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016. A seleção vai receber uma Olimpíada com as mesmas chances, se as coisas correrem normalmente.

Agora, e o que vem depois disso?

Depois de assimilada a eliminação – que poderia ser evitada, mas acontece –, muito do que se ouviu em tempo real foi sobre “o bom trabalho” executado, que é algo que não pode ser descartado prontamente, e bla-bla-blá. Obviamente que não. Aliás, quem estaria argumentando de modo contrário? O Brasil se despede do Mundial com o quinto sexto lugar, o mesmo posto de Londres 2012. O basquete internacional não é para qualquer um, mesmo num cenário em que boa parte dos grandes concorrentes estava seriamente desfalcada.

Mas só precisamos ter cuidado com a generalização: se for falar em bom trabalho, que fiquemos com Rubén Magnano e seu grupo de veteranos. Não que o argentino deva ser ou esteja blindado de críticas. O ataque brasileiro não funcionou como poderia, tendo muita dificuldade para produzir de modo eficiente em situações de meia quadra. Sua convocação final se mostrou redundante. Ele não pediu mais um tempo naquele fatídico terceiro período. Etc. Entre os atletas, houve surpresas e decepções. Agora, me parece que esse é o tipo de discussão que toda equipe vai ter ao final de uma campanha. Vai acontecer até mesmo nos Estados Unidos. Não existem times perfeitos. Existem times que reconhecem suas deficiências e procuram amenizá-las. Pode ser que tenha faltado isso? Sim, certamente faltou. A verdade, porém, é que a seleção caiu, com suas virtudes e limitações.

Seleção brasileira, banco, 2014, basquete

O que não dá para fazer é ficar jogando confete para cima depois de um quinto sexto lugar e deixar que muitos penetras entrem nessa festa (inexistente). Não dá para incluir os cartolas da CBB (a inoperante Confederação Brasileira de Basquete) nessa. Sua diretoria – e até mesmo os manifestos opositores aos atuais gestores – devem ser barrados na porta. Porque, entre as limitações que temos, dá para falar de fundamentos e minúcias de jogadores e de alguns nomes convocados, mas o buraco, mesmo, está ao redor desta seleção.

O basquete brasileiro foi para um Mundial com sua força máxima – pelo menos segundo o gosto de seu treinador, com americano naturalizado, e tudo – e com média de 31 anos, a mais elevada da competição. A Sérvia tem média de 26 anos. Entre seus protagonistas, apenas um está acima dos 30 anos, o pivô Nenad Krstic. O ala Bogdan Bogdanovic, autor de 12 pontos, tem apenas 22 anos, mesma idade do titular Nikola Kalinic. Milos Teodosic tem 27. Nemanja Bjelica, 26, assim como Miroslav Raduljica e Stefan Markovic. Já deu para entender, né? O time balcânico que deu uma surra hoje pode pensar até mesmo nas Olimpíadas de 2020.

Bogdan-Bogdan tem 22 anos. Está entre os protagonistas sérvios

Bogdan-Bogdan tem 22 anos. Está entre os protagonistas sérvios

A verdade, contudo, é que eles nem precisam, já que não sabem nem ao certo se estarão no Rio 2016. As coisas na Sérvia funcionam de outro jeito, devido à alta competitividade para se entrar naquela seleção. Eles trocam de geração a cada dois anos, é algo impressionante. Estão aí para comprovar Marko Keselj e Milan Macvan, dois semifinalistas de 2010, atletas bem pagos de Euroliga e que não chegaram nem perto de jogar este Mundial. Os esquecidos e os eleitos para o time de hoje que se cuidem, aliás, porque a fornada de 1994 e 95 também já é boa o bastante para sonhar com as grandes competições, vindo de um vice-campeonato mundial em 2013. O armador Vasilje Micic e os pivôs Nikola Jokic e Nikola Milutinov jajá estarão por aí – dois deles já foram draftados pela NBA neste ano.

Do Brasil, se formos recuperar as últimas campanhas com algum sucesso em torneios internacionais de base, temos a galera que terminou o Mundial Sub-19 de 2007 (1988/89) em quarto, além da equipe que deu um sufoco danado nos Estados Unidos na Copa América Sub-18 de San Antonio, em 2010 (galera de 1992/93).  Se a turma de Raulzinho, Felício e Bebê já se aproxima, perigosa e precocemente do ostracismo, o que dizer daqueles quatro ou cinco anos mais velhos? Antes da partida desta quarta, já havia passado por esse caso alarmante. Dessa geração, apenas dois atletas hoje estariam no radar da seleção principal – mas com chances remotas de aproveitamento: Rafael Mineiro e Paulão. Entre os sérvios, dois saíram triunfantes em Madri (Raduljica e Markovic), enquanto Macvan e Keselj já haviam disputado a edição de 2010, conforme citado.

Para não falar apenas de Sérvia, fica o registro: a Argentina, a Austrália, os Estados Unidos, a Lituânia, a Croácia e muitas outras equipes já apresentaram bases renovadas para esta Copa. O grau de protagonismo dos atletas mais jovens variou de uma equipe para a outra, mas pelo menos eles estavam na Espanha, vivendo a experiência intensa que é disputar um torneio de elite desses. Do lado brasileiro, dos mais jovens, apenas Raulzinho pode falar a respeito do assunto, já com duas edições em seu currículo.

Não é que não existam opções. O armador Rafael Luz e o pivô Augusto Lima já são realidades no basquete europeu, jogadores produtivos no campeonato nacional mais difícil do continente – a Liga ACB espanhola. Augusto, aliás, foi um dos destaques individuais na temporada passada – e mal teve chance para mostrar serviço na seleção “b” que ficou com um (?) honroso bronze no Sul-Americano. O pivô Lucas Mariano e o ala Leo Meindl (Franca) e o armador Ricardo Ficher (Bauru) também aparecem num grupo de revelações lembradas por Magnano nos últimos anos. Para não falar de Bruno Caboclo, ala surpreendentemente escolhido pelo Toronto Raptors no Draft da NBA, o atleta de maior potencial nessa lista, sem dúvida. Em seu ex-clube, o Pinheiros, também há pelo menos mais três garotos para serem monitorados.

Daí que… Ué? Então de que trevas você está falando, meu chapa? Olha aí o tanto de jogador jovem aí que você acabou de citara. Para um comentário desses, reverteria o jogo: mas o simples fato de nos apegarmos a cinco, seis, sete nomes já não diz muito sobre a quantas anda a produção de talentos nacional? Digo, se todo mundo sabe de cor quais são as apostas para o próximo ciclo olímpico, acho que isso significa justamente como as coisas andam errado. Já se comprova o número bastante limitado de alternativas, num país com 200 milhões de habitantes, cujo Ministério dos Esportes aponta a modalidade como a segunda mais praticada.

Além do mais, não é brincando de apostar em garotos, como se o desenvolvimento seguisse a lógica do mercado futuro, que os problemas de constituição de um time – e do basquete – brasileiro serão solucionados. A carreira dessa molecada não está nem mesmo garantida, de modo que soa absurdo depositar em seus ombros carências de uma estrutura toda deficitária. Em setembro de 2014, eles são apenas promessas, que precisam jogar e  treinar em paz, seguindo sua rotina, quiçá com a melhor orientação disponível. Não é hora de ficar buscando nomes – mas, sim, de trabalhar pra ter um maior número de nomes possível.

Só com uma confederação que trabalhe desta maneira, com essa mentalidade, que não dependa de milagres – o advento de do Grande Jogador da Silva –, que se pode exigir mais do que o atual time conseguiu. De novo: a despeito de toda a precariedade estrutural lamentada, os veteranos de Magnano tinham plenas condições de ir adiante neste Mundial. Mas não foram. Goste ou não, é uma seleção brasileira se afirma como a quinta/sexta melhor do mundo. É o que tem para hoje.

Brasil perde, CBB, Copa do Mundo, Sérvia

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Em tempo, e algo que não pode ser esquecido jamais: depois do fiasco que foi a participação na Copa América, na qual, sem seus melhores jogadores, Magnano naufragou, perdendo para Jamaica e Uruguai, a CBB teve de desembolsar um milhão de euros para ser “convidada” para jogar o Mundial. Arredondando: 3 milhões de reais. Então, do ponto de vista administrativo, é um fiasco ficar fora do pódio. Um quinto lugar não vale 3 milhões de verdinhas. Os patrocinadores ganharam alguma visibilidade em TV aberta, ainda mais depois da vitória sobre a Argentina, mas o prejuízo da confederação é brabo. Ainda mais para quem já está endividado.

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Acho que vale reforçar: o Brasil levou aquilo que seu técnico julga de melhor para o Mundial, inclusive naturalizando o Larry. Com o grupo que levou, Magnano foi para o tudo ou nada. Contra muitos adversários desfalcados. E terminou em quinto. Isso diz muito sobre a dureza que é lutar por uma medalha no basquete de hoje, mas também sobre o nível atual da seleção. É de se ponderar, mesmo.


Sérvia se aproveita de destempero brasileiro, atropela e está na semifinal
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Giancarlo Giampietro

O jogo de contato de Raduljica incomoda. Uma falta nele, muita reclamação, e lá se foi o placar

O jogo de contato de Raduljica incomoda. Uma falta nele, muita reclamação, e lá se foi o placar

O jogo já estava complicado, duro, conforme o esperado. Até que, no início do terceiro período, um momento de destempero da seleção brasileira, a equipe mais velha da Copa do Mundo, foi praticamente mortal. Do seu lado, cheia de confiança, a Sérvia, num jogo de quartas de final, não ia permitir reação nenhuma. Não só administrou, como aumentou, e muito, a diferença, eliminou seu adversário e avançou para a semifinal – e a consequente disputa de medalhas. A equipe balcânica venceu por 84 a 56 e agora enfrenta a França, que surpreendentemente eliminou a Espanha.

O Brasil começou a terceira parcial de guarda baixa, permitindo que o adversário abrisse nove pontos de vantagem, após um primeiro tempo muito parelho. Depois de uma falta de Anderson Varejão sobre Miroslav Raduljica, a arbitragem sinalizou mais duas faltas técnicas contra Tiago Splitter e Marquinhos, com 7min19s no cronômetro. Os europeus fizeram cinco pontos nos lances livres e mais dois numa bandeja de Stefan Markovic, de modo que, com 7min10s, os brasileiros tinham novamente a posse de bola, mas com 16 pontos de desvantagem.

Um instante de descontrole emocional que acabou abalando um grupo com 31 anos em média (bem superior que a idade média dos sérvios, de 26). O técnico Rubén Magnano chegou a pedir um tempo de imediato, mas não foi o suficiente para acalmar sua equipe. O técnico argentino não viria a interferir na partida novamente, mesmo com a seleção ficando quatro minutos sem pontuar. Quando Raulzinho acertou um tiro de três a 1min18s do fim, ele estava apenas reduzindo um placar que já apontava 20 pontos de desvantagem. O quarto período começou com 66 a 44.

Bjelica faz a falta e pára o contra-ataque brasileiro: algo recorrente no primeiro tempo, em jogo tático dos sérvios

Bjelica faz a falta e pára o contra-ataque brasileiro: algo recorrente no primeiro tempo, em jogo tático dos sérvios

Cada jogo é uma história, mesmo. Esse duelo pelas quartas foi  completamente diferente do primeiro embate entre os times. Ainda pela fase de grupos, foi o Brasil que primeiro abriu uma larga vantagem no placar, de até 18 pontos, para depois sofrer uma virada preocupante. Ainda assim, a equipe nacional conseguiu se acertar no quarto período e triunfou.

Na primeira fase, os sérvios haviam vencido apenas os frágeis Irã e Egito, tendo perdido também para Espanha e França. Nos mata-matas, porém, o time elevou sua produção de modo impressionante. Nas oitavas, derrubou a Grécia, até então invicta, por 90 a 72, chegando muito mais preparada para uma revanche com os brasileiros.

Depois de comer poeira contra o Brasil no primeiro jogo, especialmente na etapa inicial, os sérvios praticamente abriram mão da disputa pelos rebotes ofensivos para recomporem sua defesa com mais agilidade. Na mínima chance de escapada dos adversários, não hesitavam em fazer faltas táticas, para frear o jogo. Deu certo.

Em meia quadra, a seleção nacional seguiu com dificuldades de execução, problema detectado desde a fase de amistosos. Se contra a Argentina os pivôs conseguiam se impor fisicamente, dessa vez a disputa, digamos, corporal era muito muito mais equilibrada. Os sérvios conseguiram proteger sua cesta com autoridade, limitando seu oponente com apenas 38% nos chutes de dois pontos (9/24) nos primeiros 20 minutos.  Os únicos que conseguiram ser produtivos lá dentro foram Varejão e Marquinhos. Varejão acertou apenas 2/7 nos arremessos, mas seguia firme no lance, em posição favorável para o rebote, cavando faltas, convertendo seus lances livres e, ufa!, chegando a oito pontos no primeiro tempo – a média no torneio era de 8,2.

A munheca certeira de Teodosic fez estragos: 10 lances livres convertidos também

A munheca certeira de Teodosic fez estragos: 10 lances livres convertidos também

Do outro lado, o time de Magnano simplesmente não conseguia segurar o genial e genioso Milos Teodosic. O experiente armador chamou muito o jogo na linha de três pontos e usou a largura de seus pivôs, especialmente Nenad Krstic, pivô que estava em forma muito melhor, se compararmos com sua exibição na primeira partida. O veterano, largo toda a vida, estabeleceu corta-luzes fortes, daqueles que castigam, mesmo, e liberou seu companheiro. Teodosic  teve espaço para chutar e criar – soube também explorar a recuperação tardia de marcadores para forçar a falta e infiltrar. Faltou comunicação entre seus marcadores. Se era para deixar algum rival livre, poderiam escolher qualquer um dos outros quatro, menos o armador. E ele fez a equipe pagar por essas falhas e hesitações, anotando 16 pontos dos primeiros 37 dos balcânicos.

Outro problema foi a contenção do talentosíssimo Nemanja Bjelica. O ala-pivô tem 2,08m, longas pernas e joga bem afastado da cesta. Tirava Anderson do garrafão e abria espaços. Quando precisou atacar no mano-a-mano, bateu o pivô capixaba com certa facilidade, invadiu o garrafão e pontuou. Faltou alguém fechar esse corredor na cobertura. As coisas só melhoraram nesse sentido quando Nenê veio para a quadra. O são-carlense tem recuperação muito mais ágil, cercando a turma do perímetro com mais controle.

No segundo tempo, a Sérvia variou sua abordagem, pingando bolinhas no pivô Raduljica. Uma opção que havia sido sua prioridade no primeiro confronto, lembrem-se, mas que havia sido descartada até então nesta quarta-feira. O sérvio marcou quatro pontos em menos de dois minutos. No ataque seguinte em que foi acionado, sofreu a falta de Varejão, e o resto foi história.

A seleção brasileira simplesmente saiu dos trilhos a partir daí, e seu adversário não teve piedade, nem oscilação, nem nada. Matou, no geral, 50% dos seus arremessos, ao passo que limitou seu adversário a 34%. Teodosic terminou com 23 pontos. Krstic, impressionante no terceiro período, fez 10 pontos, matando 5 de suas 7 tentativas de cesta. Mas os números, no fim, nem importam. A partir do momento em que as faltas técnicas foram marcadas, era como se Brasil e Sérvia tivessem entrado num terceiro jogo nesta Copa do Mundo, para o qual apenas os balcânicos pareceram preparados.


Fã de Harley e Stephen King, gigante sérvio desafia brasileiros
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Giancarlo Giampietro

Cara de mal e físico de urso: o páreo duro que os brasileiros têm pela frente

Cara de mal e físico de urso: o páreo duro que os brasileiros têm pela frente

Miroslav Raduljica é uma grande figura, nos mais diversos sentidos. Com 2,13 m de altura e um peso que nenhuma medida oficial jamais vai precisar, o pivô se transformou aos 26 anos numa inesperada arma da seleção sérvia nesta Copa do Mundo, pronto para desafiar novamente o garrafão de NBA composto por Tiago Splitter, Anderson Varejão e Nenê, nesta quarta-feira.

Raduljica provavelmente já chamaria sua atenção logo no tapinha inicial. O cara é realmente imenso.  “Ele é um cara grande, é como um urso”, resume seu jovem companheiro de seleção, o ala Bogdan Bogdanovic.

Nesse corpanzil todo, o sérvio decidiu também usar uma grande quantidade de tinta para compor as mais diversas, complexas e sinistras tatuagens. Os desenhos podem envolver até mesmo um livro de seu autor preferido: Stephen King, para quem ele sonha apresentar a tattoo especial. A propósito, ela está em seu antebraço esquerdo, e desconfio que tenha como inspiração um dos volumes que compõem a série “A Torre Negra”, com caveira metida no meio – se alguém souber, favor eclarecer. “Nunca assisti TV. Sempre fui muito ligado em livros. Quando ganhei meu primeiro do Stephen King, tinha uns 10 ou 12 anos, e fiquei fascinado. Era só disso que queria saber”, afirma em entrevista ao site oficial do Milwaukee Bucks, seu ex-time.

Se não for o seu gosto trocar ideias sobre o best-seller King, Raduljica também pode falar bastante sobre a Harley-Davidson, a fábrica de motocicletas fundada justamente em Milwaukee. “Sou o maior fã no planeta”, garantiu , tendo chegado para conhecer as dependências do Bucks com uma camiseta preta tradicional da marca. “Não é uma coincidência. Comprei ontem quando estava conhecendo a cidade. Estava muito empolgado de ter visitado o museu e depois fui para a loja. Acho que comprei a loja inteira.”

O problema, minha gente, é que, embora essas informações ajudem a humanizar o personagem – “por trás daquela carcaça toda, reside um coração” –, a compra de roupas para motoqueiros também pode reforçar sua imagem de malvado: fica andando todo de preto e jaqueta de couro por aí, parecendo um Son of Anarchy aditivado. Não obstante, desde que se apresentou para seu primeiro ano na NBA, resolveu cobrir o braço direito também. Entre as novas tatuagens está uma escritura: “Memento mori“. É uma frase em latim que significa basicamente: “Lembre-se de que você vai morrer”. E aí? Não é um amor? Além disso, decidiu cultivar para o Mundial uma barba de tal espessura e comprimento que já rivaliza com a de James Harden.

Sons of Anarchy

Sons of Anarchy

Imaginem esse tipo, então: gigante, largo, todo tatuado, cabelo raspado nas laterais e muito barbudo, além do look sombrio. Se você for o pivô adversário, tendo de aguentar uns 30 ou até mesmo 40 minutos com um sujeito desses, faz como? Mas o pior, MUITO PIOR: e você só for um pobre repórter que cobre basquete!?

Por acaso dá vontade de perguntar algo na zona mista, ou melhor passar reto e olhando para baixo, de preferência? Durante a temporada da NBA, quando o calouro se destacava ao sair do banco de reservas para arrebentar em quadra, os setoristas do Bucks se depararam com esse dilema. Obviamente, o dever de reportar é soberano, e eles no fim “encaravam” – ou tinham de encarar – a fera, de gravador e microfone em punho.

Como fez o repórter Guido Nunes, do SporTV, valente que só, ao parar o pivô na zona mista, logo depois da impactante vitória da Sérvia sobre a Grécia, pelas quartas de final da Copa, em Barcelona. Sua equipe havia vencido por 90 a 72, numa das exibições mais bonitas da competição. Raduljica marcou 16 pontos e pegou 6 rebotes em 24 minutos. Quando questionado se aquela havia sido a melhor partida de sua seleção no campeonato, ele poderia ter sorrido mas optou por não fazê-lo. Apenas disse com um semblante fechado algo como: era aquela a pergunta que ele estava esperando e que, mesmo se o brasileiro o tivesse indagado sobre qual o seu modelo de Harley preferida, ele teria respondido sobre o belíssimo jogo que haviam feito. “Então você foi bem nessa”, disse.

OK, a parte das Harleys eu inventei, mas o resto foi verdade. Figura.

É de se imaginar esse tipo de contato do pivô com a rapaziada que cobriu a desastrosa campanha do Milwaukee no campeonato 2013-14 da liga norte-americana. A direção da franquia tinha realmente a esperança de competir por uma vaga nos playoffs da esvaziada Conferência Leste, mas teve de aturar, no fim, 67 derrotas em 82 partidas. Uma jornada em que o calouro Giannis Antetokounmpo foi um dos pontos positivos e na qual o pivô sérvio também teve seus momentos.

Quando Raduljica foi anunciado, a sensação foi de estranheza total. Nem mesmo a turma mais ligada no basquete europeu sabia explicar o que estava por trás daquela sacada, uma vez que o bisnagão não despertava interesse nem mesmo dos grandes da Euroliga. Não que ele fosse um completo desconhecido: como juvenil, foi campeão mundial pela Sérvia, enfrentando até mesmo a seleção brasileira naquele torneio, numa história triste que já contamos aqui. Ele fechou um contrato com o Anadolu Efes, da Turquia, mas mal foi aproveitado por lá. Foi emprestado sem parar,  jogando a principal competições de clube do continente pelo Partizan Belgrado em 2011-12. Nada de outro mundo, e, de repente, lá estava o cara no meio do Winsconsin.

O técnico Larry Drew (demitido e substituído por Jason Kidd) pouco o utilizou. O pivô só recebeu 465 minutos no total, o equivalente a dez jogos e um pingado. Mas quer saber? Em termos de produção estatística, ele esteve bem. Numa safra bastante fraca de novatos, foi um dos poucos que ficou acima da média nas medições de eficiência.O problema é que era difícil de encontrar a hora certa para usá-lo. Numa liga que prioriza cada vez mais a velocidade, o sérvio se rastejava pela quadra.

Um dos jogos em que pôde ser acionado foi contra o Detroit Pistons de Andre Drummond e Greg Monroe, no dia 22 de janeiro. Somou 8 pontos e 8 rebotes, em 20 minutos, e seu time time, aleluia!, venceu uma. Em todo o mês, foi o único triunfo, com uma ajudinha de sua atuação física. “Ele sabe como usar seu corpo”, afirmou Drew. “Ele tem dificuldade para ir de um lado para o outro da quadra, mas, para alguém do seu tamanho, ele sabe como se mexer por ali e trombar. Os jogadores inteligentes entendem o que estão enfrentando e entendem quais são suas vantagens e desvantagens.”

Raduljica sabe mesmo o que precisa fazer. “Apenas tentei ficar em uma boa posição para atacar a tabela e… brigar pelo rebote, vamos dizer assim. Sei lá. É isso o que eu faço”, afirmou, sobre o embate com Drummond, hoje o 12º homem na seleção dos Estados Unidos. “Era o jeito de jogar contra ele, que pula mais do que eu e é mais atlético. Tive de encontrar um jeito de afastá-lo da cesta.”

De braço direito limpo, Raduljica se deu bem numa noite de janeiro contra o Pistons

De braço direito limpo, Raduljica se deu bem numa noite de janeiro contra o Pistons

Nenhum dos pivôs brasileiros é tão atlético ou explosivo como o jovem do Pistons. Poucos são. Mas ele são rápidos e ágeis o bastante para incomodar o sérvio. Ao mesmo tempo, têm de se proteger na defesa, porque sabem que lá bem pancada. No duelo da primeira fase, pelo Grupo A, a seleção balcânica não hesitou em acionar o gigante logo de cara, tentando minar o garrafão adversário – e também encher seu cestinha de confiança.

Pois, sim, Raduljica está liderando o ataque da Sérvia, mais um dado inesperado, com 14,5 pontos por partida e aproveitamento de 54% nos arremessos, para alívio de Nenad Krstic, que é capitão da seleção e em quem se apostava como a referência do jogo interior. “Ele me livrou da pressão jogando tão bem assim”, diz o veterano ex-Nets, Thunder e Celtics ao site da Fiba Europa. “Não estou nem perto de 100% fisicamente. Mal posso jogar 10 ou 15 minutos, então é um grande alívio para mim vir para o jogo sabendo que Raduljica está aqui.”

Raduljica tenta abrir espaço no garrafão

Raduljica tenta abrir espaço no garrafão

Sim, o novo pivôzão sérvio está lá, limpando espaço no garrafão com muito movimento de… quadril. Fora as braçadas, ombradas e esparramadas. Os pés não se mexem tanto assim. Nenê e Splitter se viraram muito bem contra ele, mas ficaram carregados de falta. De todo modo, permitiram apenas quatro cestas de quadra em oito arremessos e forçaram quatro turnovers. Seguraram o adversário abaixo de suas médias no torneio: dever cumprido. Mas não deve ser nada prazeroso enfrentar uma montanha dessas.

Mas ele acha o maior barato. “Estou me divertindo e me sentindo muito bem. É ótimo estar de volta”, diz Miroslav, que foi vice-campeão do EuroBasket de 2009 e andava afastado da seleção desde então. Como disse: poucos davam bola para ele, como Hammond fez em Milwaukee e agora faz o técnico Sasha Djordjevic. “É uma sensação ótima. Fazia alguns anos que não ficava na equipe. Agora estou aqui num Campeonato Mundial, um momento muito especial. Dá para dizer que o treinador me deu confiança e que acredita em mim. Então me senti bem desde o primeiro dia.”

Na Espanha, Raduljica tem motivações a mais também para jogar bem e avançar com a Sérvia: está sem clube. Horas antes de fazer sua estreia, soube que havia sido trocado no mesmo pacote com Carlos Delfino, do Bucks para o Clippers, que o dispensaria na hora. A ideia de Doc Rivers era limpar salário na folha, fugir de multas pesadas e reforçar o elenco com atletas que seriam mais baratos, como o pivô Epke Udoh.

Ironicamente, Udoh é outro atleta ex-Bucks que se assume publicamente como um leitor voraz – risos: parece até ousadia dizer isso, né? –, tendo criado  um Clube do Livro para trocar dicas e promover debates, vejam só.

Será que um dia, nesse mundinho pequeno, ele vai ter a chance de se sentar com o sérvio para analisar alguma obra fantástica de Stephen King? Tomara.

Afinal, Splitter, Nenê e Varejão já têm muito com o que se preocupar nesta quarta – que os analgésicos estejam separadinhos no vestiário brasileiro.


O Brasil na quartas, e Nocioni admite: “Deu a lógica”
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Giancarlo Giampietro

O Chapu afirma que ainda não se decidiu sobre a aposentadoria. "Sinto um vazio", diz após derrota

O Chapu afirma que ainda não se decidiu sobre a aposentadoria. “Sinto um vazio”, diz após derrota

Durante anos e anos, quando o assunto era Andrés Nocioni, o basqueteiro brasileiro se acostumou a reclamar barbaridade. Pudera: entre as muitas qualidades do  ala-pivô argentino, destaca-se o vigor, a disciplina, a determinação e a inteligência para defender,  predisposição ao sacrifício físico e para atacar os rebotes, e uma habilidade subestimada com a bola.

Além, claro, de muita catimba.

Essa é a reclamação maior: que ele não parava de bater, provocar, encher… a paciência de todo mundo quando era chegada a hora do clássico. Nas vésperas, ele adorava tirar uma frase ambígua da cartola para mexer com os nervos dos adversários.

Pois bem. Agora chegou a hora de ler o que o temido Chapu, um verdadeiro guerreiro em quadra, alguém que cuidou do serviço sujo para que Manu Ginóbili e Luis Scola brilhassem em Jogos Olímpicos, tem a dizer sobre o time que os derrotou, a seleção brasileira. Separo aqui alguns trechos de um texto de Nocioni em blog pela ESPN hermana:

“Na partida contra o Brasil deu a lógica. Havia muitos anos em que vínhamos vencendo os brasileiros, quando muitos esperavam um triunfo para eles. Uma hora chegaria esse dia. Eles, hoje, são uma equipe melhor, mais completa, chegando mais bem preparados para este jogo. Não há desculpas para a derrota. Somente nos resta felicitá-los e destacar o excelente trabalho que Rubén Magnano fez. Ele transformou o selecionado brasileiro, que agora pensa em equipe. Mudou a forma de o time jogar”, afirmou o jogador, que batalhou como sempre na defesa e na tábua de rebotes, mas sofreu no ataque – talvez até mesmo por conta do desgaste.

No texto, Nocioni, que vai jogar pelo Real Madrid na próxima temporada, fala também sobre a rara eliminação precoce sofrida pela Argentina nas oitavas de final da Copa do Mundo e o que isso representa futuro da equipe. Vale um destaque: ele não confirmou que essa tenha sido sua despedida da seleção.

“A sensação que este Mundial me deixou é bem estranha. Nunca me havia acontecido de ficar fora tão rapidamente de um torneio com a seleção argentina. Tenho uma sensação de vazio. Eu e o Leo Gutiérrez estávamos falando a respeito no quarto, e coincidíamos neste sentimento, que é novo para nós. Em outras oportunidades, na sequência de uma derrota havia sentido a tristeza, mas logo aparecia o orgulho ou a satisfação de ter chegado longe, ou de ter comprido um objetivo. Desta vez ficamos longe de nosso objetivo. É certo que, com as ausências de Ginóbili e Delfino, nossas aspirações mudaram. Mas, ainda sem eles, pretendíamos alcançar ao menos as quartas de final, e aí ver o que se passava no cruzamento”, escreveu.

“Nesta transição na seleção, não devemos apagar tudo de uma hora para a outra. Temos que acompanhar este processo e aportar nossa experiência. Este Mundial pode ter sido meu último torneio com a seleção, mas, até o momento, não tomei uma decisão definitiva. Não passa somente por uma questão esportiva. Há questões familiares, e já são muitos anos de estar com a equipe desde que fiz minha estreia em 1999. Quando o próximo torneio, o Pré-Olímpico de 2015, se aproximar, verei se vou jogar, ou não.”a


Semifinalista, Lituânia usou até Frankenstein pra ser o país do basquete
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Giancarlo Giampietro

Valanciunas, o futuro do país do basquete

Valanciunas, o futuro do país do basquete

O basquete comemora: a Lituânia está na semifinal da Copa do Mundo, pela segunda edição consecutiva, depois de ter batido a Turquia por 73 a 61 nesta terça-feira, num jogo que estava enroscado por três períodos, mas foi resolvido pela maior versatilidade – e talento puro, mesmo – dos bálticos no quarto final, em Barcelona.

Não foi a apresentação mais encantadora do torneio, uma que fique para a história, as a modalidade comemora, sim. Não deixa de ser gratificante testemunhar o sucesso alcançado por uma nação de estimados 3 milhões de habitantes (praticamente a mesma de Salvador) e área total de 65,300 km2 (três vezes menor que o Paraná) e que, com esses números relativamente tímidos, constitui um autêntico país do basquete.

Uma seleção com currículo de fazer inveja a qualquer país que não se chame Estados Unidos. O mesmo Team USA que bateu a Eslovênia nesta e que vão enfrentar na semifinal de quinta-feira, um adversário ao qual devem muito de seu apego religioso pela modalidade.

Frank Lubin, de jogador de time hollywoodiano a ídolo nacional na Lituânia

Frank Lubin, de jogador de time hollywoodiano a ídolo nacional na Lituânia

Sim, eu sei: direta ou indiretamente, todo basqueteiro deve reportar aos Estados Unidos, por intermédio de James Naismith. Ainda que tenha nascido no Canadá, foi em Springfield, no Estado de Massachusetts, que ele inventou essa brincadeira de bola ao cesto. Para os lituanos, porém, um dos patriarcas de fato tem outro nome: Frank Lubin.

Nascido em Los Angeles, filho de lituanos, Lubin era um pivô de pouco mais de 2,00 m de altura, que se formou pela UCLA – instituição que, nos anos 60 e 70, contaria com os jovens célebres Lew Alcindor e Bill Walton, vocês sabem. Lubin não fez nome como o futuro Kareem Abdul-Jabbar, mas pôde celebrar como campeão olímpico pelos Estados Unidos em Berlim 1936, a primeira edição do torneio olímpico – por aquele que teria sido o primeiro Dream Team, recebendo sua medalha dourada de ninguém menos que o próprio Dr. Naismith.

Depois da famigerada competição disputada no quintal de Adolf Hitler, Lubin aceitou um convite para conhecer e trabalhar como treinador na Lituânia, aonde seria como Pranas Lubinas – o que é muito mais legal, claro. Ele ainda veria, em 1937, o selecionado báltico conquistar seu primeiro EuroBasket, em Riga, na Letônia. Como jogador e técnico, ajudou a conquistar o torneio continental seguinte, em 1939, sendo MVP de uma competição em seu time fazia as vezes de anfitrião. Ele morreu aos 89 anos, de volta à Califórnia, em 1999, dois anos depois de entrar no Hall da Fama de sua universidade.

A noiva do Boris Karloff. Quer dizer, do Frankenstein. Mas não do Frank Rubin, que fique claro

A noiva do Boris Karloff. Quer dizer, do Frankenstein. Mas não do Frank Rubin, que fique claro

Se isso já não fosse instigante o bastante, saibam que Lubinas também poderia ser identificado como Frankenstein Lubin pelos seus compatriotas norte-americanos, num trocadilho óbvio com seu nome natural, mas que que também envolvia o time e o técnico pelo qual jogava nos Estados Unidos. Acreditem: ele defendia uma equipe amadora bancada pela… Universal Pictures, um dos pilares hollywoodianos. O treinador Jack Pierce fazia seus bicos como maquiador do estúdio. Quer dizer, mais provável que o basquete fosse o bico, né? Mas vamos lá: um de seus trabalhos foi a produção “The Bride of Frankenstein”, estrelada por Boris Karloff, o verdadeiro e único Frankenstein dos cinemas – Robert De Niro que nos perdoe. Segundo esse texto fantástico de Luke Winn para a Sports Illustrated, Lubin vestia fantasia e partia em direção aos torcedores antes dos jogos, em muitas das ações promocionais que faziam para os filmes da Univesal.

Sem maquiagem ou roupas estranhas, Lubinas ser um astro, mesmo, na Lituânia, aonde passou a ser conhecido como o “Avô do Basquete”. De qualquer forma, outros americanos, entre eles Konstantinas Savickas (que nasceu em Punsk, mas emigrou para a América do Norte quando criança), também foram instrumentais para ensinar e, naturalmente, popularizar o basquete por lá. Savickas, por exemplo, foi o treinador da seleção nacional até pouco antes do Europeu de 37.

Na equipe campeã naquele ano e em 1939, os grandes nomes ainda eram descendentes diretos como Juozas Jurgela,  Vytautas Budriunas,  Feliksas Kriauciunas e Pranas Talzunas, boa parte da região de Chicago. Depois do primeiro título, a Lituânia ganhou o direito de sediar a edição seguinte. Para tanto, o governo autorizou a construção do Kauno Sporto Hal (o hall dos esportes de Kaunas), que, na verdade, recebia só jogos de basquete. Teria sido o primeiro, digamos, templo construído apenas para a prática do bola ao cesto, algo que viraria realmente um culto por lá.

A esperança de sediar mais uma vez o torneio em 1941 e de lutar pelo tricampeonato acabou da pior forma, com o estouro da Segunda Guerra Mundial. A Lituânia se viu disputada por russos e alemães no início dos anos 40 e acabou anexada novamente na composição da União Soviética. Lubinas conseguiu escapar com sua família saindo de um navio da Estônia. A reconstituição desses fatos ajuda a entender bem a paixão do país pelo basquete, não? Era como se a modalidade representasse o sonho de independência, prosperidade e glórias.

Um outro Time dos Sonhos, por diversas razões

Um outro Time dos Sonhos, por diversas razões

A ponto de o time de 1992, a primeira seleção lituana constituída após a corrosão do antigo império comunista, ganhar a aura de um conjunto secular, sob a liderança do gigantesco Arvydas Sabonis. É uma grande história que envolve grandes craques de basquete, orgulho nacional, redenção e até mesmo o Grateful Dead. Virou imperdível documentário, já abordado por estas bandas.

Desde então, o mundo do basquete se habituou a dividir o pódio com os lituanos. Eles foram semifinalistas simplesmente por cinco torneios olímpicos em sequência, levando o bronze de Barcelona 1992 a Sydney 2000 – em Atenas e Pequim, terminaram em quarto. Sem contar que o ouro soviético de 1988, sabemos todos, é, no mínimo, 85% lituano, com seus jogadores atuando por um país que, de unido, só tinha o nome – se não bastasse o talento inigualável de um Saboni, com algumas cirurgias a menos, ainda contavam com Kurtinaitis, Marciulionis e Chomicius. Na Europa, também ganharam duas pratas, incluindo a do último campeonato, mais um ouro em 2003 e um bronze em 2007. Curiosamente, em termos de Mundial, têm menos sucesso que os russos, com apenas um bronze na última edição, contra duas pratas conquistadas pelos rivais.

Como eles fazem isso? Basta paixão e dedicação?

Claro que não.

No texto de Luke Winn para a SI, o secretário geral (ou: generalinis sekretorius) da federação Mindaugas Balciunas enfatiza o trabalho de formação de seus professores. “A razão para que a Lituânia seja tão forte é nosso sistema de preparação dos treinadores”, afirma o dirigente que ajudou a criar em 2010 até mesmo um programa de mestrado para técnicos, em parceria com a Universidade de Worcester, na Inglaterra (!?) e a Academia Lituana de Edudação Física, pela qual se formou. “Desde então, ele têm persuadido membros da atual seleção, incluindo o ala Linas Kleiza, a se inscreverem nesse curso”, relata Winn. Os estudos podem ser feitos  à distância. Mas o fato é que, nas escolas do país, já são diversos os bacharéis ensinando a molecada.

Acho que isso ajuda a entender um pouco, né?

A atual seleção lituana não conta com ninguém do porte de seus grandes nomes dos anos 80, ou de um Sarunas Jasikevicius, que se despediu da equipe após Londres 2012 e se aposentou nesta temporada – hoje é assistente do Zalgiris. Mas há uma combinação interessante de veteranos como os gêmeos Lavrinovic, o ala Simas Jasaitis e o pivô Paulius Jankunas com uma nova geração liderada por Jonas Valanciunas, o xodó do Toronto Raptors, que, aos 22, é um dos cinco atletas de 25 anos para baixo do elenco. A tradição vai seguindo adiante, como não pode deixar de ser.

“Nós somos um país pequeno”, admite Sabonis. “E o basquete é o melhor caminho para mostrarmos ao mundo quem nós somos.”


Escalação da Sérvia tem enigma para o Brasil responder
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Giancarlo Giampietro

Kalinic, nenhum minutinho de quadra na 1ª fase contra o Brasil

Kalinic, nenhum minutinho de quadra na 1ª fase contra o Brasil

Pode a mudança de um só jogador numa escalação mudar drasticamente o jeito de uma equipe jogar?

Ô, se pode.

Ainda mais quando você está trocando um pivô de 2,10 m e seguramente mais de 115 kgs por um ala de 2,03 m de altura e capacidade atlética acima do comum.

Pois, então: a Sérvia vai de Vladimir Stimac ou Nikola Kalinic em sua rotação contra o Brasil, em confronto pelas quartas de final da Copa do Mundo de basquete, nesta quarta? Pois é essa a dúvida que a comissão técnica brasileira deve estar ruminando em sua preparação para o embate que significa disputar uma medalha, ou não, nesta competição.

No duelo da primeira fase, vencido pelo Brasil por oito pontos, o técnico Sasha Djordjevic escalou um quinteto inicial gigantesco para bater de frente com os pivôs brasileiros de NBA. Os titulares regulares – Miroslav Raduljica e Nemanja Bjelica – estavam acompanhados por Stimac.

Já sabemos no que deu essa história: ainda que os sérvios tenham coletado muitos rebotes ofensivos e carregado a linha de frente brasileira de faltas, eles acabaram comendo poeira em quadra. A seleção brasileira conseguiu se virar muito bem defensivamente e acelerou horrores sua transição e venceu o primeiro tempo por 16 pontos – a vantagem chegou a ser de até 18.

Na volta do intervalo, Djordjevic, um cerebral armador nos tempos de jogador, voltou com uma formação muito mais leve para quadra. O pesadão Raduljica estava acompanhado de quatro atletas bastante leves. Seu companheiro de garrafão era o magricela Stefan Bircevic – e muito talentoso ofensivamente, com chute de três e facilidade surpreendente para o drible aos 2,10 m de altura –, enquanto dois armadores e um ala completavam a rotação: Stefan Markovic, Milos Teodosic e Bogdan Bogdanovic.

Sasha Djordjevic vai de Stimac novamente no 1º quarto?

Sasha Djordjevic vai de Stimac novamente no 1º quarto?

Também sabemos o desenrolar dessa história: os sérvios enfiaram 32 pontos na conta dos brasileiros– a maior quantia que a seleção levou em um quarto em seus primeiros seis jogos. Nem a Espanha, que marcou 30 pontos no primeiro quarto naquela surra que deram, conseguiu tanto.

A movimentação da equipe balcânica melhorou muito com os dois armadores e Bogdanovic em quadra. Os brasileiros tiveram problemas para perseguir os adversários fora da bola, permitindo muitas quebras de rotação e cestas fáceis para os oponentes. Dos 32 pontos, 12 foram marcados em cestas de três pontos – algo parecido com o que vimos no primeiro quarto argentino (cinco bolas de longa distância dez minutos).

Há seis dias já, a seleção tomou aquela virada, chegou a ficar atrás no placar por até sete pontos no início do quarto final, mas conseguiu reagir graças a uma defesa mais atenta no exterior e a uma participação decisiva de Tiago Splitter, com pontuação no garrafão e distribuição de jogo, e Marquinhos, recebendo os passes do pivô catarinense e matando seus tiros de fora. Detalhe: a virada da virada brasileira aconteceu ainda com a formação mais baixa da Sérvia em quadra. Para os cinco minutos finais, Stimac retornou, sem conseguir influenciar no andamento da partida – pelo contrário, a vantagem que era de três pontos, subiu para os oito finais.

É de se perguntar se Stimac vai deixar saudade no Unicaja Málaga

É de se perguntar se Stimac vai deixar saudade no Unicaja Málaga

Obviamente os técnicos de ambos os lados vão se debruçar sobre esse jogo, estudando o que deu certo e o que precisa ser corrigido. Virão os ajustes – e os ajustes extra, com cada um pensando qual poderia ser o movimento do outro. Uma das partes mais legais do basquete e que só os privilegiados que estão analisando a fita do jogo e fazendo anotações vão saber contar com precisão, até que a bola suba na quarta-feira.

A Sérvia usou Stimac por apenas oito minutos naquela partida, mas foram oito minutos em que o Brasil venceu por dez pontos. A escolha por esse pivô, que foi companheiro de Rafael Hettsheimeir no Unicaja Málaga e agora vai jogar no Bayern de Munique, só se justifica por um temor pelo jogo físico do adversário. Pois Stimac, do que vi durante a temporada, rende muito mais quando sai do banco, para dar suas trombadas ocasionais, atacar a tabela ofensiva e descansar rapidamente. Vez ou outra, o chute de média distância cai, mas ele não me parece uma arma que cause receio.

Além disso, a presença de Stimac ao lado de dois grandalhões acabou empurrando Nemanja Bjelica mais para o perímetro, com o ala-pivô marcando e atacando Marquinhos, de modo que algumas de suas habilidades foram anuladas. Tal como Bircevic – e com mais talento –, o jogador draftado pelo Minnesota Timberwolves é outro espigão que joga com uma naturalidade de armador com a bola. Ataca a cesta quase sempre frontalmente, apostando no seu chute de três pontos e seu corte de passadas largas. Também é um belo passador. É um cara que acompanhei bastante durante os últimos dois anos de Euroliga e que, pelo Baskonia ou Fenerbahçe. e quase nunca é escalado como um “3”, do jeito que pensou Djordjevic.

Na fase de grupos, Stimac participou de todas as cinco partidas, 48 minutos no total (9 em média). Contra a Grécia, porém, praticamente sumiu da rotação: jogou um só minutinho. Em uma curva contrária esteve o ala Nikola Kalinic. De apenas 22 anos, a revelação do Estrela Vermelha teve seu maior tempo de quadra no torneio justamente nas oitavas de final, com 21 minutos. Se você for conferir suas estatísticas gerais, poderá falar a respeito dos 26 minutos que teve contra os egípcios. Mas essa não conta, tá? Fiquemos combinados. E a curiosidade que constatamos fica justamente pelo fato de ele não ter participado só de um confronto. Justamente com o Brasil.

Sinceramente, tentei verificar se foi alguma virose, gripe ou ataque de rinite, mas não consegui descobrir. Ainda que as chances de um Brasil x Sérvia nas quartas de final fossem altas, não dá para imaginar que Djordjevic tenha escondido o jogo na ocasião. Caso seu lateral não tenha enfrentado nenhum problema médico, talvez o técnico simplesmente considerasse que não teria papel para ele naquela partida? Vai saber. Não imagino, francamente, que ele vá repetir essa estratégia, depois do que o rapaz fez na grande vitória sobre os helênicos.

Kalinic anotou 12 pontos em 21 e ainda somou quatro rebotes e duas assistências. Mais do que os números, conta a velocidade e o arrojo que ele entregou para sua equipe, brindando o público em Madri com as seguintes jogadas:

Gostaram?

Não é todo dia que um atleta vai colocar Ioannis Bourousis ou um Kostas Papanikolau num pôster. E aí o Kalinic me faz isso de uma vez! No mesmo jogo, no mesmo tempo, com fal-e-cesta. Lances impressionantes que podem ser comemorados, mesmo, e que, segundo Bogdan Bogdanovic, encheu o time de confiança no intervalo. Mas não só isso: são duas jogadas que mostram o potencial do ala. Ele deu mais agressividade, mobilidade e opção de contra-ataque para seu time para ajudar a derrubar uma das melhores campanhas do torneio até então.

Só precisa ver se todo dia é dia. Tirando os 11 pontos que fez contra o Egito, o ala havia somado apenas 11 contra Espanha, França e Irã, mas tentando também apenas quatro cestas , acertando três delas. Quer dizer: as chances que teve, aproveitou, mas  a) parece não haver muito espaço para ele no time; b) talvez ele seja mais tímido, disputando apenas seu segundo torneio adulto com a seleção, vindo de 2,8 pontos por média no Eurobasket; c) ou que ele esteja sujeito realmente aos preceitos táticos de Djordjevic.

Se Kalinic estiver antenado, envolvido com o time, tem o tipo de capacidade atlética que vai requerer algum cuidado da defesa brasileira vai ter de lidar caso o sujeito seja, mesmo,e escalado. Fica o mistério, agora com menos de 24 horas de estudos dos técnicos, e a Sérvia precisando escolher qual cartada vai dar.