Vinte Um

Arquivo : Celtics

Por um 2013 melhor para a turma brasileira da NBA
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Giancarlo Giampietro

Varejão, Leandrinho e Splitter

Vamos tirar logo isso da frente: eles ganham um belo salário, bem acima da média do esportista tupiniquim, jogam em alguns dos melhores ginásios, cercados de mimos incontáveis, com estafes gigantescos à disposição. Conforme o próprio Nenê disse a seus jovens descabeçados companheiros, eles ocupam algumas das vagas mais cobiçadas no esporte e certamente as mais desejadas do basquete. É só saber aproveitar.

Agora, segundo um dos dogmas expostos na lousa central de diretrizes do QG 21, “dinheiro e luxo não compram ou valem toda a felicidade do mundo”. Mesmo você, leitor mais cínico, precisa abrir o coração nesta época festiva, de cordialidades, resoluções e expiação de culpa, e dar uma colher de chá para os caras.

Vejamos:

Anderson Varejão (Cleveland Cavaliers)
Individualmente, nunca houve uma temporada melhor para o capixaba do que a que ele vive neste ano. Na verdade, é provavelmente a melhor campanha de um brasileiro na história da liga. Com recordes de pontos, rebotes, assistências, roubadas de bola e lances livres, o pivô virou uma unanimidade para os jornalistas de lá, embasbacados com seus números. Pena que nada disso sirva para fazer do Cleveland Cavaliers um time decente. A equipe de Byron Scott (até quando, aliás?) tem um aproveitamento até mesmo pior que o do Charlotte Bobcats, gente. Difícil de aturar isso. De que vale tanto esforço se o resultado, no fim, é invariavelmente uma derrota? Quem sabe, então, se não aparece um time vitorioso interessado em sua cabeleira, que enxergue seu basquete aguerrido como uma grande cartada para se brigar pelo título em maio e junho? Alô, Brooklyn Nets, Atlanta Hawks, San Antonio Spurs, Oklahoma City Thunder e afins.

– Nenê (Washington Wizards)
É uma situação bem mais deprimente do que a de Varejão. Ao menos seu compatriota pode se consolar com a presença de Kyrie Irving ao seu lado e dos promissores Thompson, Waiters e Zeller. Há uma base evidente ali para se construir um bom time. Em Washington, porém, a perspectiva é de terra desolada. Um clube ainda sem comando algum, tático ou gerencial, numa prova clara de que JaVale McGee e Andray Blatche não eram exatamente a causa de todos os seus problemas. E aí temos um jogador que vem se arrebentando em quadra, pisando em uma perna só, aguentando sabe-se lá como 26 minutos por  partida, a serviço da pior equipe da liga. Em Denver, o são-carlense ouviu muitas críticas de que não fazia jus ao seu salário, de que qualquer resfriado era o suficiente para lhe afastar. Na capital norte-americana, o discurso é justamente o contrário. Ainda assim, talvez não seja o suficiente para convencer alguma franquia a investir em seu pesado contrato.

– Leandrinho e Fabrício Melo (Boston Celtics)
O ligeirinho anunciou que está retornando a Boston, depois de passar pelo Brasil para resolver problemas particulares. Esperemos, desde já, que não seja nada de mais grave, com repercussão para os próximos meses, e que ele possa, agora, se concentrar em sua profissão. Porque, a partir de janeiro as coisas ficam ainda mais complicadas para o ala-armador, com o retorno de Avery Bradley. Havíamos escrito aqui desde o momento em que assinou com a franquia mais vitoriosa da liga: não parecia uma situação propícia para ele dar sequência a sua carreira. Muitos fatores conspiravam contra isso, entre eles as contratações de Jason Terry e Courtney Lee muito antes da sua, com vínculos de longo prazo. Isto é, esses caras seriam a prioridade para Danny Ainge & cia. De modo que o brasileiro precisaria jogar demais para assegurar seu espaço.

E como estamos até agora? Em termos de produção estatística, com menos tempo de quadra, Leandro apresenta números mais eficientes do que os de Terry e Lee – mas talvez não o suficiente para lhe valer uma vaga cativa na equipe. Além disso, sabemos bem que a defesa nunca foi um forte do paulistano. É algo que deve explicar sua ação reduzida nas últimas rodadas. Por outro lado, o Celtics não melhorou em nada desde que Doc Rivers optou por reduzir sua carga de minutos (perdendo dez partidas em 19 disputadas).

Com a volta de Bradley, um exímio marcador – um dos melhores de toda a liga, não importando sua pouca idade –, esse quebra-cabeça fica ainda mais intrigante. Dá para pensar em dois desdobramentos completamente diferentes: 1) Barbosa será completamente enterrado no banco de reservas; 2) Bradley dá uma segurança maior ao treinador na retaguarda e acaba liberando alguns minutos de Terry ou Lee para o brasileiro. Talvez essas duas alternativas hipotéticas nem importem. Talvez o melhor, mesmo, seja encontrar um meio de se transferir para o Lakers e se reunir com Nash e D’Antoni num time que precisa, e muito, de um arremessador extra.

Sobre Fabrício? Bem, não mudou muito desde sua seleção no Draft: continua como um projeto do Celtics, que vai se desenvolver aos poucos na D-League, mas que ainda está longe de ser visto como uma solução imediata para o garrafão. Vide a chegada do atlético Jarvis Varnado, um cara draftado pelo Heat, mas que nunca foi aproveitado na Flórida e nem pertencia ao clube afiliado de Boston, mas que foi contratado como uma esperança de fortalecimento de sua combalida rotação.

– Tiago Splitter (San Antonio Spurs)
Opa! Seu pedido é uma ordem. O catarinense hoje aparece como o terceiro pivô mais utilizado por Popovich em sua rotação, com dez minutos a menos do que Duncan e três abaixo de Diaw. Um pequeno, mas bem-vindo avanço para o jogador que tem o terceiro melhor índice de eficiência do clube, superior até mesmo ao de Manu Ginóbili. A ironia é que a promoção ao time titular significa menos oportunidades ofensivas para o pivô, uma vez que ele agora passa mais tempo de quadra ao lado de Duncan e Parker. E mais: a promoção também não significou mais minutos: hoje ele tem 20,2 por partida, contra 19 da temporada passada. A expectativa é a de que essa quantia suba um pouco no decorrer dos próximos dois terços de campeonato e que Splitter possa chegar aos mata-matas em grande forma, pronto para ajudar os texanos e, ao mesmo tempo, subir sua cotação para o próximo mercado.

– Scott Machado (Houston Rockets)
Discutimos aqui.


Rajon Rondo dá 20 assistências em um jogo e ainda sai desgostoso de quadra
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Giancarlo Giampietro

Rajon Rondo não pode ser o Peyton Manning em Boston

No esporte há vários atletas que são engraçados mesmo que não queiram, não?

Pelo menos o Rajon Rondo é visto aqui no QG 21 desta maneira. Então me desculpem a insistência com o Boston Celtics, mas quando um armador dá 20 assistências num jogo e diz que a contagem poderia ter sido maior, acaba se enquadrando nessa categoria e evoca mais um post.

(Mas não é só por isso que ele diverte o blogueiro: contem aí as brincadeiras fáceis que faz com a bola dadas as suas mãos enormes, suas expressões quase sempre mal-humoradas, o comportamento arredio, a competitividade absurda, tudo isso empacotado em um nome como  “Rajon Rondo”, e fica meio óbvio o apelo por cá).

Depois de sentar por uma partida par acurar uma torção no tornozelo, Rondo voltou neste sábado para tranquilizar a exigente torcida de Boston, em vitória sobre o Toronto Raptors, por 107 a 89 – que início frustrante para os canadenses, aliás. Com seu armador principal em ação, o ataque funcionou que foi uma beleza: 56,6% de aproveitamento nos arremessos.

Não foi o bastante para Rondo arrefecer e soltar um sorriso. “Ele na verdade estava bravo por causa das 20 assistências. Ele achava que poderia ter conseguido 30 hoje”, disse o ala Courtney Lee. Vai saber até que ponto isso é uma brincadeira.

Para se ter uma ideia da influência que ele pode exercer sobre o Celtics, o time conseguiu 37 passes para cesta no jogo em 43 chutes de quadra convertidos. Quer dizer: apenas seis cestas não foram resultado direto de um passe de um companheiro. Incrível: destroçaram a defesa por zona de Dwane Casey. Mas também é um reflexo direto do tipo de elenco que Doc Rivers tem em mãos, com poucos jogadores que estejam habituados a criar individualmente, como Paul Pierce e seus inúmeros truques com a bola. Courtney Lee, Jason Terry e seus pivôs tendem hoje a produzir mais de acordo com o ritmo do ataque e a troca de gentilezas do que isolados num canto.

“Fica muito mais fácil porque ele é o Peyton Manning jogando. Ele desmonta a defesa e dá a bola para os caras na posição certa para pontuar”, disse Lee, sem se dar conta que talvez fosse melhor usar um Tom Brady, o Sr. Bündchen, como referência na Nova Inglaterra, em vez do maior rival de sua vitoriosa carreira na NFL.

Mas tudo bem: enquanto Rondo seguir distribuindo presentes dessa maneira, em Boston só vai ter espaço para um cara se irritar. Ele mesmo.

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Os adversários podem detestar Jason Terry, mas seus parceiros o adoram. Nas entrevista após a surra contra o Raptors, ele mostrou por quê. “Disse isso já no primeiro dia, que ele é o melhor armador nesta liga. Neste ano ele definitivamente vai fazer parte das conversas sobre MVP, se continuarmos vencendo. O modo como ele controla o jogo, sua liderança, sua habilidade para dominar a partida no ataque e na defesa: tudo isso faz dele especial”, discursou o veterano em tom de campanha precoce para Rondo.

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Somando a boa e saudável atuação de Rondo, Terry com a pontaria certeira (20 pontos em 29 minutos) e Lee fazendo de tudo um pouco, Leandrinho acabou limitado a 16 minutos. O brasileiro marcou oito pontos, com 50% de quadra. Foi o único jogador do Boston a sair de quadra com um saldo negativo de pontos (-1). A maior marca foi de Rondo, claro (+19).

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Rondo deu sete assistências apenas no primeiro quarto. Se tivesse mantido a média nas parciais posteriores, teria igualado a melhor marca de um Celtic: as 28 do legendário Bob Cousy, multicampeão nos anos 60 com o garçom de Red Auerbach.

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O recorde de assistências em uma única partida da NBA pertence a Scott Skiles, hoje técnico do Milwaukee Bucks. Com a camisa do Orlando Magic, ele distribuiu 30 (sim, 10 + 10 + 10) em vitória do Orlando Magic sobre o Denver Nuggets na temporada 1990-1991. Contando com pivôs como Greg Kite e Terry Catledge, bem antes de Shaquille O’Neal dar as caras na Flórida, o armador precisou de uma forcinha dos alas Nick Anderson e Dennis Scott para chegar a esse incrível número. Para constar, o Nuggets tinha uma peneira de uma defesa e sofria com um elenco abaixo da mediocridade (Chris Jackson, que ficaria conhecido anos depois como Mahmoud Abdul-Rauf,  e o baixotinho Michael Adams eram os destaques). Confira, de todo modo, a noite mágica do general Skiles:


Contusão de Rondo abre espaço para Leandrinho mostrar serviço e ser elogiado
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Giancarlo Giampietro

Ninguém vai torcer pela contusão de ninguém, mas você precisa estar pronto para jogar se algo de ruim acontecer. Leandrinho estava pronto nesta quarta-feira. Com uma contusão de Rajon Rondo, com cerca de quatro minutos restando no terceiro período, o ala-armador saiu do banco para o resgate com a duríssima missão de substituir o brilhante armador na vitória do Boston Celtics sobre o Utah Jazz por 98 a 93.

Leandrinho, orgulho de Celtic

Leandrinho é acolhido por KG e Green em voto que postou no Twitter para falar de união, ubuntu do Celtics

“Barbosa foi incrível”, afirmou o técnico Doc Rivers. “Digo, ele nos livrou. Não apenas  por ter entrado no lugar de Rondo. Achei que no primeiro tempo nossos titulares estavam muito parados e nossa segunda unidade nos deu um empurrão. E, obviamente quando Rondo saiu no segundo tempo, colocamos LB lá e chamamos poucas jogadas porque ele ainda não as conhece muito. Mas fizemos basicamente tudo com pick-and-rolls. Dissemos para que ele apenas seguisse atacando a cesta e que, a partir dali, descobriríamos o que fazer.”

É isso. Por mais que algumas jogadas se repliquem de um time para o outro, o Celtics tem seus próprios sistemas, conceitos, que o ligeirinho não teve oportunidade de assimilar ao ficar fora de todo o training camp e pré-temporada. Desta forma, vai ter de se achar por tentativa e erro em Boston. A lesão de Rondo abriu espaço, e ele soube aproveitar, aproveitando uma boa atuação que teve na rodada anterior contra uma defesa fortíssima como a do Chicago Bulls.

Se ainda não sabe direito as jogadas, Leandrinho tem de se concentrar em fazer o simples, como Rivers afirmou, e executar com agressividade, mas sem perder a cabeça. Contra o Jazz, ele conseguiu cumprir o script perfeitamente. Depois de converter sete de seus 16 pontos no primeiro tempo, sua melhor sequência veio quando entrou no lugar do armador titular e anotou seis dos próximos oito pontos da equipe. Melhor: jogando em ritmo acelerado e atacando sempre a cesta, procurando o garrafão, em vez de se contentar com tiros desequilibrados de três pontos.

“Apenas tentei jogar o que sei e tentei ajudar meu time com minha energia”, disse o brasileiro, que ficou em quadra por todos os 12 minutos do quarto final. “Foi muito importante acelerar. Acho que é o jeito que queremos jogar na maior parte do tempo. Quando estou no banco, vejo Rondo jogar, e é o que ele gosta de fazer: correr. E funciona muito bem. Para mim, fica muito mais fácil, me sinto muito mais confortável jogando desse jeito. Mas estou me acostumando já com as jogadas. Os técnicos vêm trabalhando comigo à parte. Estou chegando.”

Com ou sem Rondo, é importante que o brasileiro mantenha essa disposição e atitude. Agora uma presença inveterada no Twitter, escrevendo sem parar sobre o orgulho de ser um Celtic, talvez não seja tão difícil. “Em alguns dias, alguns jogos não vou ter muitos minutos, sei disso. Quando o clube entrou em contato, já sabia”, afirmou.  “Então só o fato de estar aqui e tentar ajudar… É o que importa para mim.”


Leandrinho ou Rondo: quem é o mais rápido? Doc responde
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Giancarlo Giampietro

Leandrinho, o Vulto Brasileiro

Corra, Leandrinho, corra

Diante de todas as questões que Doc Rivers tem para responder no início irregular de campanha do Boston Celtics, a que ele provavelmente não teria muita necessidade de responder era sobre quem era mais rápido: Leandrinho ou Rajon Rondo, de um lado da quadra até o outro?

Mas o esporte não começou assim? Quem era o mais forte, o mais rápido, o que pula mais? São elementos que, de todo modo, estão dissipados na dinâmica do basquete. Então é claro que um viciado em basquete como o técnico adoraria uma pergunta dessas. E que temas como esse devem dominar vestiários em uma liga cujo nível de capacidade atlética é incrível.

“Uau, esta é uma boa pergunta. Acho que é o Rondo. Mas quer saber? Talvez tenhamos uma corrida em breve”, afirmou Doc, que, depois, foi questionado sobre quem ganharia um tiro rápido entre seu armador e uma aberração física como LeBron James. “Ah… Essa já foi discutida no nosso ônibus. Rondo acha que é ele. Os outros acham que é LeBron.”

Claro que o armador pensa ser mais rápido que o LeBron. Se não ele não se chamaria Rajon Rondo, oras. Ele é o mesmo que já disse que não precisa de amigos na NBA e nem tem tempo para isso.

Mas voltando à brincadeira de Doc. Imagine uma disputa no All-Star Weekend sobre quem seriam os jogadores mais rápidos da liga. Tony Parker competindo. Quem mais? Monta Ellis, Russell Westbrook, Derrick Rose, e todos os ligeirinhos. Mais divertido que os jogos de celebridades e a competição de arremessos com veteranos e atletas da WNBA certamente seria.

O que eu queria, mesmo, era ver se qualquer um deles poderia superar Charles Barkley:


Temporada da NBA começa desastrada para a família Rivers
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Giancarlo Giampietro

Era para ser uma celebração, né?

Quando um filho decide seguir a carreira do pai, e os dois têm a chance de se encontrar em atividade, numa NBA ainda? Que se estoure o champanhe. Mas, agora que acabou a garrafa, a família Rivers precisa se livrar da ressaca. O começo de temporada está complicado para Doc e Austin.

*  *  *

Por questão hierárquica, de respeito, comecemos pelo pai.

Com Pierce e Garnett ainda produtivos, o elenco reforçado por mais veteranos e também pernas novinhas em folha, o Celtics abriu sua campanha com a perspectiva de ser o único time do Leste capaz de desafiar o campeão Miami Heat. Por enquanto, sua luta, mesmo, é para chegar ao 50% de aproveitamento.

Doc Rivers

What’s up, Doc?

Em cinco jogos, duas vitórias e três derrotas. Vale o oitavo lugar no Leste, empatado com o Orlando Magic pós-Dwight Howard. O Orlando Magic de Glen Davis e E’twaun Moore, dois jogadores ex-Boston, diga-se. Em termos estatísticos, a equipe de ascendência irlandesa tem apenas o 20º ataque mais eficiente do campeonato e, pasme, a 19ª defesa eficiente. Ah! E as duas vitórias aconteceram contra  o Wizards, com Nenê e Wall de molho.

“Temos que fazer com que mais caras joguem com mais empenho e melhor. Sabe, eu não ligo se nós jogamos bem ou não, porque isso faz parte, são humanos. Se você vai fazer seus arremessos ou não, acontece. Mas apenas temos que jogar com mais concentração e cumprir com nossos sistemas de uma forma melhor”, disse Doc.

É um início decepcionante. Principalmente ao se constatar que o núcleo que Rivers tem em mãos é o mesmo da temporada passada, precisando basicamente integrar Courtney Lee e Jason Terry nos papeis de Avery Bradley e Ray Allen e dividir o restante dos minutos com reservas de pouco impacto até agora – e, por enquanto, nesta categoria está incluído Leandrinho. Não era para capengar tanto.

Os poréns são: a) ainda é muito cedo; b) no ano passado, aconteceu mais ou menos a mesma coisa. Pierce e Garnett levam um pouco mais de tempo para entrar em forma plena. Além disso, o Celtics só engrenou de verdade quando Bradley foi promovido ao quinteto titular, formando uma blitz defensiva no perímetro.

Ninguém em Boston vai tratar Rivers como se ele fosse um Mike Brown. Mas o laureado técnico vai ter muito mais trabalho para acertar sua máquina, pensando longe, numa boa posição nos playoffs do Leste, e o decorrente mando de quadra e uma fuga do Miami nas rodadas preliminares.

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Austin e o tio Monty

Monty não vai ter a ajuda de Doc para refinar o jogo do impetuoso Autin Rivers

Tudo tem seu tempo, jovem.

Agora falemos de Austin.

O armador/escolta já foi considerado o melhor atleta de sua geração nos anos de High School. Acima do Monocelha nos rankings. De verdade. Nestes tempos, Rivers era um cestinha de mão cheia. Deixava os adversários malucos. Fosse por seu repertório vasto de movimentos ofensivos, fosse, especialmente, sua atitude. Cheio de bravatas, provocações, andando em quadra sempre com uma postura desafiadora, de que com ele ninguém podia.

Listado oficialmente com 1,93m de altura, frágil fisicamente, e, dependente muito mais de seu jogo de pés do que de suas capacidades atléticas, já teve problemas para traduzir seu jogo para o basquete universitário. Mesmo sob a orientação de um Coach K, num time de ponta, com outras opções em quadra para desafiar a atenção, não conseguiu se firmar como um prospecto de elite.

Ainda assim, foi escolhido em número dez pelo Hornets no Draft da NBA. O técnico Monty Williams teve bastante influência nesta decisão, sendo bem próximo de Doc e uma espécie de tio para Austin. Mas não que tenha sido tudo na base da amizade: o talento do jovem Rivers sempre foi muito polarizador. Uns creem que ele realmente pode ser uma força criativa e eficiência no ataque, que sua personalidade só colabora para isso, que ele não abaixará a cabeça para nada e será relevante nem que seja na marra. Do outro lado, os críticos acreditam que sua teimosia em jogar como se ainda fosse O Cara, sem se adaptar a adversários muito mais capacitados (nas mais diversas áreas), refletiria em números desastrosos na liga.

Por enquanto, esse segundo grupo está vencendo a queda de braço. Em quatro jogos, o garoto acertou apenas sete de seus, glup!, 32 arremessos de quadra. Ruim para 21,9% de aproveitamento. No confronto com o Spurs, transmitido aqui pela ESPN, vimos realmente uma seleção ofensiva escandalosa por parte do atleta: tiros em flutuação da cabeça do garrafão, arremessos de três precedidos por crossover supostamente matadores, bandejas aventureiras e uma porção de pedradas que, pelo menos, não quebraram a tabela novinha do ginásio do Hornets.

“Obviamente, vai haver alguns escorregões quando você tem 19 ou 22 anos, e seus hormônios estão malucos”, disse o Coach Monty. “Temos apenas de acertar isso. Acho que o jogo está rápido para ele (Rivers) agora, e acho que ele está tentando aplicar seu jogo, tentando fazer o que pedimos, mas vamos melhorar isso.”

De fato, é bom que o técnico trate de dedicar um tempo ao seu novo pupilo. Porque, em Boston, o papai Doc já está bastante ocupado.


Prévia Vinte Um para a temporada 2012-2013 da NBA
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Giancarlo Giampietro

Dá até vertigem de pensar. Começa nesta terça-feira a temporada 2012-2013 da NBA, e a gente sabe que, daqui até junho, vamos longe, bem longe, com os melhores jogadores do mundo, grandes confrontos, histórias engraçadas e escabrosas, novos heróis e vilões e sabe-se lá mais o quê. As surpresas são realmente o que mais divertem e atiçam colunas. Mas há alguns pontos que já valem a observação desde o tiro de largada:

Rei dos Anéis. Dãr

Rei dos Anéis. Dãr

LeBron James, enfim um rei
Por nove anos não houve jogador mais pressionado, perseguido e, ao mesmo tempo, cortejado e bajulado. Tudo pela mesma razão: seu incrível potencial para conquistar o anel e o que fazer com este potencial. Como LeBron vai agir agora que o peso de toda uma liga saiu de seus ombros? É possível fazer uma campanha ainda melhor do que a passada, com 27,1 pontos, 7,9 rebotes e 6,2 assistências, com 53,1% nos arremessos?

Celebridades
Precisa dizer mesmo? Se com Chris Mihm, Smush Parker, Sasha Vujacic e Kwame Brown já havia uma bagunça toda, imagine o circo quando o Lakers vai de Kobe, Howard, Nash, Gasol e o mais lunático de todos? Quem começa o campeonato com a maior cobrança é Mike Brown. Por mais bom moço e simpático que seja com os jornalistas, o técnico não inspira confiança alguma de que possa administrar um esquadrão desses. Instaurar o esquema ofensivo de Princeton em um elenco todo renovado já não parece o melhor primeiro passo. Outro ponto para ser monitorado: como vai ser o relacionamento de Kobe com os novos companheiros se as coisas não se acertarem conforme o esperado? E qual impacto eventuais tropeços podem causar na decisão de Dwight Howard. Lembrando: ele vai se tornar um agente livre ao final do campeonato.

Monopólio
Quando Danny Ainge encontrou um meio de juntar Kevin Garnett e Ray Allen com Paul Pierce, dificilmente esperava que as transações que salvaram seu emprego em Boston serviria como exemplo, como modelo de montagem no início da nova tendência para a construção dos supertimes da liga. Em quadra, a ironia continua: após seguidas derrotas para os velhinhos de Boston só motivou que LeBron procurasse abrigo com os amigos Dwyane Wade e Chris Bosh em Miami. E a preocupação dos proprietários dos clubes em evitar essa concentração de poder durante o último estúpido locaute parece não ter dado muito certo. Oras, o inimigo público número um, o Lakers, cansado de apanhar, ficou ainda mais forte! O Brooklyn Nets, com o investimento irrestrito de Mikhail Prokhorov, e o New York Knicks (coff! coff!) também foram atrás.

Lembra do Jeremy, Melo?

É bom não dar motivos para NYC se lembrar de uma Linsanidade, Carmelo

– Gangues de Nova York
Os clubes podem nem lutar pelo título, mas a mídia nova-iorquina vai dar um jeito de botar fogo nas relações entre Nets e Knicks. E olho nos ‘Bockers: depois de anos para tentar reformular seu elenco, a diretoria voltou a se aprisionar com contratos de médio prazo – algo muito perigoso numa liga cada vez mais restritiva no que se refere a movimentação dos jogadores. Então não importa se Amar’e já vai perder um bocado da temporada regular, ou se a maioria de seus reforços para este ano poderia estar muito bem aposentada a essa altura da vida. A base é esta, e pronto. Se, por ventura, os rivais de Brooklyn saírem na frente, como Spike Lee e outros fanáticos vão reagir? Vão tolerar mais um ano medíocre liderado por Carmelo Anthony?

Lugar de teatro é no palco
A NBA promete fiscalizar seus principais artistas. Quem for flagrado cavando, forjando faltas, no ataque ou na defesa, vai ser multado (veja os valores) e tomará pitos em público. Claro que essa medida desagradou aos jogadores, que dizem ser impossível julgar o que é uma reação desproporcional ao nível de contato físico filmado – e que não foi sentido por dirigentes da liga e árbitros.  Quem vai liderar o ranking?

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Palavras-chave para os brasileiros:
O que está em jogo para o sexteto do Brasil na temporada e os desafios que eles encaram em suas equipes.

– Anderson Varejão e a saúde
– Fabrício Melo e Scott Machado e a D-League
– Leandrinho e a eficiência
– Nenê e a paciência
– Tiago Splitter e os minutos

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Jogadores para marcar de perto:
Atletas que não são necessariamente as maiores estrelas da liga, mas cujo desempenho pode ser fundamental para levar seus clubes a uma boa campanha na temporada, enfrentando alguns elementos interessantes, seja de por conta de suas personalidades, ou pelos problemas e carências de seus elencos. Vamos continuar com a série até o final do ano.

Brook Lopez, Nets: pode um nerd fã de quadrinhos ser um xerife de garrafão?
DeMarcus Cousins, Kings: um colosso que tem tudo para ser dominante, menos a maturidade
Goran Dragic, Suns: os altos e baixos do sucessor de Steve Nash
Andrew Bougt, Warriors: a desesperada franquia espera que o australiano possa fortalecer sua defesa
Andrei Kirilenko, Wolves: dominante na Euroliga, o russo está de volta com seu jogo único

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Palpites:
Chutes descabidos, mas que não podem faltar, ou podem? Mas podem falhar, então apelamos ao espírito covarde e nos resguardamos com outras duas possibilidades, mas que não têm nada a ver com as versões do mundo bizarro que valem como o inverso do que poderia acontecer.

Campeão: Miami Heat
Continuidade, superestrelas no auge, menos pressão, Ray Allen, difícil imaginar o que poderia atrapalhar a jornada rumo ao bicampeonato. (Quem mais? Thunder ou Lakers.)

Mundo bizarro: Charlotte Bobcats, Michael Jordan consegue novamente!

Final: Miami Heat x Los Angeles Lakers
David Stern daria piruetas de samba-canção no coração de Manhattan. Os proprietários radicais dos pequenos mercados quebrariam seus escritórios. Star power. (Quem mais? Heat x Thunder.)

Mundo bizarro: Washington Wizards x Sacramento Kings. Aquele que antes era um clássico do desarranjo, de equipes que reuniram muitos talentos nos últimos anos na loteria do Draft e, ainda assim, não conseguiram montar um time decente. Hoje vira um duelo de duas potências emergentes da liga, atropelando aqueles que esperavam construir dinastias. Fácil.

Alonzo Gee crava pelo Cavs

M-V-Gee. Nem nos sonhos de Dan Gilbert

MVP: LeBron James
Explicado lá em cima, né?

Mundo bizarro: Alonzo Gee. Nada contra, nada pessoal, é um jogador que trabalhou firmemente nos últimos anos a partir da  D-League e conseguiu um contrato que provavelmente deixaria o agente Leandrinho satisfeito. A graça aqui que ele é o ala titular do Cleveland Cavaliers. Pegou?

Melhor técnico: Tom Thibodeau (Bulls)
Fazer mais com menos, tudo baseado em um sistema defensivo impressionante, dos mais fortes que a liga já viu. Se conseguir transformar uma unidade com Marco Belinelli, Vlad Radmanovic e Nate Robinson em uma sólida retaguarda, valeria até um Nobel. (Quem mais: Rick Adelman pelo Wolves e Avery Johnson pelo Nets.)

Mundo bizarro: Vinny Del Negro (Clippers), aquele que saiu de um Derrick Rose para um Chris Paul,  consegue finalmente juntar as peças sem atrapalhar com o que monta em quadra – parte de seu time quer correr e decolar para enterradas, enquanto outra parte quer jogar em meia-quadra, de um modo mais metódico –, fazendo  o Clippers a fungar no cangote

Melhor sexto homem: Ray Allen (Heat)
Aaaaaaaaargh! Mas aí é a hora de por o coração na mesa. Quantos chutes completamente livres o veterano vai ter nesta temporada? (Quem mais:  Kevin Martin pelo Thunder, Mike Dunleavy Jr. pelo Bucks,  Matt Barnes pelo Clippers, Carl Landry pelo Warriors e Chase Budinger pelo Wolves… Desculpe, mas impossível segurar em três.)

Mundo bizarro: Andray Blatche (Nets). Em um time com quinteto titular bastante vulnerável defensivamente, um dos jogadores mais problemáticos e imaturos da NBA consegue sair do banco para fazer o papel de durão, cobrindo espaços e protegendo o aro, sem dar nenhuma dor-de-cabeça ao pequeno general Avery Johnson durante todo o ano. Nem Gilbert Arenas poderia com isso. 

Anthony Davis, calouro número um do Draft

Toco para o Monocelha. Vá se acostumando

Melhor calouro: Anthony Davis, o Monocelha (Hornets)
Uma barbada, segundo todas as fontes possíveis. Um baita defensor, extremamente concentrado e inteligente, já aos 19 anos. O ataque chegará aos poucos, ainda mais nas mãos de um ótimo treinador. (Quem mais: Damian Lillard pelo Blazers e Jonas Valanciunas pelo Raptors)

Mundo bizarro: Fabrício Melo (Celtics). O pivô brasileiro  que pouco jogou na pré-temporada, evolui consideravelmente a cada mês e termina o ano como o cadeado da defesa de Doc Rivers e vira uma figura cult em Boston. Seu mentor Kevin Garnett enfim daria o braço a torcer e o chamaria de “Fab”.

Melhor defensor: Dwight Howard (Lakers)
Enquanto o ataque dos angelinos não se ajusta, o pivô vai ter de fazer a sua parte na cobertura, com uma ajudinha de nosso anti-herói Ron-Ron. (Quem mais: Joakim Noah pelo Bulls e Kevin Garnett pelo Celtics.)

Mundo bizarro: JaVale McGee (Nuggets). O cabeça-de-vento põe os pingos nos is e se transforma numa versão 2.0 de Dikembe Mutombo.


Palavra-chave para Fabrício Melo e Scott Machado na temporada 2012-2013: D-League
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Giancarlo Giampietro

Tem de entender que pode não ser apenas um lichê tonto, repetido por inércia.

Em diversas ocasiões é possível esquecer ou ignorar que, quando atletas falam em batalhas, muita luta e histórias tantas na hora de agradecer pelo novo emprego, pela nova oportunidade, a reação automática de muita gente, especialmente no Brasil, é a de dar de ombros, soltar aquele “pffffff”, “tsc, tsc” básico e emendar com aquele complemento que vai na linha de: “Ra-rá! Ó lá o milionário falando de barriga cheia, não sabe o que é ralar a poupança e ver o que é bom pra tosse”.

E aí bastam duas ou três perguntas que fujam um tico que seja do rame-rame da pauta diária para perceber que talvez a primeira frase seja meio batida – “Graças a Deus que não sei o quê” –, mas que, poxa vida, possa realmente ter uma história ali, e tal, que os caras tenham passado por umas e outras até chegar a assinar o primeiro contrato e receber a primeira bolada.

O raciocínio vale muito para muitas figuras do futebol brasileiro. Mas também pode ser aplicado para a rapaziada da NBA. Neste caso, Fabrício Melo e Scott Machado, bem-vindos ao clube.

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Scott Machado, armador puro em busca de vaga para valer agora

A trajetória dos dois não podia ser mais diferente. O mineiro de Juiz de Fora começou bem tarde no basquete e correu atrás do tempo. Já o gaúcho do Queens – nunca vou me cansar de brincar com isso 😉 – pegou a primeira bola e queria fazer um jump shot na primeira bacia que via pela frente em Nova York. Melo era o grandalhão, com o único talento que não se ensina, a altura, o já era o suficiente que lhe render um passe para um time de ponta universitário como Syracuse. Scott era o baixinho que precisou se impor por outras maneiras em quadra e teve de cavar espaço em uma equipe nada tradicional como Iona.

Nesta terça, aos 22 anos e poucos dias de separação entre o aniversário de um e do outro, chega para os dois aquele momento que por tanto tempo – no caso de Scott, há um pouco mais – almejaram: iniciar uma temporada da NBA como jogadores da liga, no lugar, ou, muito provavelmente, ao lado de seus ídolos de TV e videogame.

Tem esse aspecto do sonho, sim.

Mas, depois de alguns dias, semanas ou meses, vem a realidade também. Que pode pedir paciência aos dois jovens. Estar entre os 15 premiados de um elenco é um feito, e tanto. Mas agora tem mais.Vão precisar convencer seus treinadores de que podem fazer parte de seus planos efetivos e rotações na temporada regular. Jogar prava ler.

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No caso de Scott, essa aspiração parece mais plausível desde já. Seria normal que ele fosse enviado diretamente ao Rio Grande Valley Vipers para conduzir a filial do Houston Rockets na D-League de cara, que lá pudesse botar o time para jogar e, aos poucos, se adaptar ao nível de capacidade atlética e tamanho que verá daqui para a frente. Porém, durante seu processo de Draft, o armador foi submetido a tantos testes, prontamente superados, que hoje fica difícil duvidar do que, e quando, ele pode alcançar.

Depois de Daryl Morey fazer a limpa em seu elenco, dispensar até mesmo um ala-armador de respeito no mercado como Shaun Livingston e jogar fora US$ 6 milhões nesse processo, cabe ao brasileiro uma disputa muito mais simples: brigar por minutos com o irregular Toney Douglas pela reserva de Jeremy Lin.

Enquanto Scott oferece criatividade no ataque, com um armador puro e baixo, Douglas é um ala fazendo as vezes de armador com muito mais pegada e potencial defensivos. Scott, no fim, funciona muito mais como uma apólice de seguro para o caso de Lin arriar – por motivos físicos ou emocionais –, enquanto Douglas seria alguém que, de cara, complementaria melhor a rotação de McHale. Para o técnico, ter um talentoso criador com James Harden em seu elenco facilita as coisas neste sentido. Carlos Delfino é outro que pode ajudar na condução da equipe em momentos de aperto, se emparelhado com o barbudo e jogador ex-Knicks.

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Fab Melô de verde agora

Fabrício Melo acompanha Leandrinho em Boston, mas talvez não em toda a temporada

Fabrício Melo, ou Fab Melo, como preferirem, se apresenta a Doc Rivers em um ponto mais baixo de sua curva de aprendizado. De novo: ele começou mais tarde num esporte que possui muitos detalhes, nuanças que se assimila apenas com o tempo, com a instrução e repetição, especialmente para os grandalhões. O posicionamento preciso no ataque e na defesa, os movimentos com e sem a bola, o aumento da força sem perder a agilidade… Tudo isso faz o cuco se cansar um pouco e nem sempre é resolvido com um ou dois anos de universidade. Ainda mais quando o pivô é a peça central em uma defesa por zona e, na NBA, o uso delas é bem mais restrito.

O pivô tem um bom tempo de bola para os tocos na cobertura, não foge do contato físico, pode converter com regularidade os arremessos de média e curta distância, por vezes se mostra um passador surpreendente – fundamento já elogiado por Kevin Garnett, inclusive –, mas ainda lhe faltam outros tantos tópicos para cobrir até que possa jogar regularmente num time como o Celtics sem interferir com suas grandes ambições.

Imagino que Danny Ainge vá conseguir dosar bem o tempo do brasileiro entre o contato e treinos com veteranos como KG – que se recusa a chamá-lo de Fab, porque nenhum homem seria Fabuloso na sua concepção das coisas – e períodos extensos com tempo de jogo no Maine Red Claws, na D-League.

Ainda há equipes relutantes em mandar seus talentos para a liga paralela. Mas, de um modo geral, esse processo vem avançando na NBA, e a tendência é que os jogadores mais jovens sejam enviados com maior frequência para os afiliados. E não é que, uma vez na D-League, não tem mais volta: Celtics e Rockets podem convocar seus jogadores de volta quando bem entenderem. Não é o fim da picada.


Palavra-chave para Leandrinho na temporada 2012-2013: eficiência
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Giancarlo Giampietro

Leandrinho em Boston

Tirando logo do caminho: para jogar no Boston Celtics, Leandrinho terá de fazer sua melhor temporada defensiva na NBA. É um pré-requisito. Lapsos de posicionamento fora da bola, pouca movimentação lateral e falta de combatividade são coisas que não serão aceitas por Doc Rivers e seu estafe, e o ala-armador tem toda o talento atlético do mundo para cumprir um bom papel na retaguarda. Não precisa virar um Ron Harper, mas vai ter de quebrar o galho, pelo menos.

Agora, o que precisa fazer a diferença para o ligeirinho é seu ganha-pão: colocar a bola na cesta. Foi como um explosivo pontuador saindo do banco de reservas que ele conseguiu construir uma sólida e duradoura carreira na liga norte-americana. É para isso que foi contratado e é isso que vai ter de fazer muito bem, com eficiência. Algo que ele vem perdendo nos últimos três anos.

Atrapalhado por uma insistente lesão no pulso direito, sentindo dificuldade para se adaptar após as mudanças para Toronto e Indianápolis, Leandrinho viu seus números caírem em diversas categorias ofensivas desde sua campanha de despedida em Phoenix. Foi um dos motivos para entender sua demora para encontrar um novo emprego.

Mesmo que não tenha muitos minutos para se soltar, o ala-armador precisa se concentrar em sua seleção de arremessos, não confundir velocidade com afobação e buscar seus pontos preferidos em quadra sem perder de vista o que se passa ao seu redor e sem trombar com Jason Terry. Nos mais diversos estudos avançados de estatísticas (Basketball Reference e John Hollinger, por exemplo), dois pontos em comum nas métricas do brasileiro são sua propensão cada vez menor para as assistências e uma curva consistentemente ascendente em desperdícios de posse de bola.

É bom que ele dê um jeito de remediar essas tendências negativas, tendo agora o amparo de uma aclamada comissão técnica e companheiros que cobram e apoiam bastante também, no time mais casca grossa destes tempos. Pois seu tempo de quadra regular pode ter prazo de validade – outra possível palavra-chave para o título seria “janeiro”, aliás.

O primeiro mês de 2013 deve ter o retorno de Avery Bradley, o ala-armador que tornou a defesa do Celtics ainda mais sufocante na temporada passado. A partir do momento em que o jovem ganhou a vaga de Ray Allen no time titular, o time melhorou num todo em sua contenção, sofrendo muito menos pontos por minuto. Da mesma forma ele causou um impacto individual: frequentemente os atletas que ele marcou perderam em rendimento, valendo isso até mesmo para um Dwyane Wade.

Quando Bradley voltar de sua recuperação de uma cirurgia no ombro, deve ser para jogar. Não importam seus 21 anos, no caso. Na verdade, a pouca idade é mais um fator complicador para o brasileiro na disputa por minutos, já que seu concorrente faz parte dos planos do presente e do futuro da franquia, em dupla com Rondo.

Tudo isso não é uma questão de mera descrença em Leandrinho. Para chegar ao ponto em que está, o cara precisou batalhar muito. A luta agora só continua. Em termos de capacidade atlética, seu potencial ainda é incrível.  Acontece apenas que, em Boston, seu pacote técnico-tático será bastante exigido. E o que ele fizer nesta temporada terá, obviamente, impacto no prolongamento de sua carreira na NBA.


Doc Rivers conta como pretende usar Leandrinho em Boston
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Giancarlo Giampietro

Leandrinho vai sair do banco do Boston Celtics, provavelmente para substituir Rajon Rondo, mas isso não quer dizer que Doc Rivers vá forçar a barra e querer transformar o brasileiro num armador. Conforme escrito aqui há alguns dias, a gente sabe muito bem no que isso ia dar. Ufa.

Rajon Rondo e Doc Rivers

Doc escolhe um comitê para poupar Rondo

Na verdade, quando tiver de descansar Rondo por um tique e um taque, Rivers deve adotar a armação, condução da equipe por comitê. Vários jogadores em quadra que possam carregar a bola de modo decente e tocar o barco a partir daí. “Eu amo sua velocidade e sua habilidade para levar a bola, mas não temos um armador reserva, o que temos é mais um carregador de bola. Nossa teoria é que, se jogarmos três carregadores  de bola na quadra, alguém vai poder subir com ela – e este é o modo como vamos jogar com nossa segunda unidade”, explicou o técnico.

O bom é que Leandrinho já sabe o que o espera. Em entrevista ao Basketeria, já em Boston, ele afirma que foi informado sobre a escalação de Courtney Lee como titular e que ele jogaria ao lado de Jason Terry. “Vai ser difícil para um time que tiver marcando a gente porque vai ter que marcar um ou marcar outro, um vai ter que ficar livre”, afirmou, confiante.

Aqui é hora de colocar um bedelho: tanto Terry como Leandrinho estão acostumados a advogar em causa própria. Os dois reservas começaram suas carreiras com a esperança de se transformarem em armadores – Terry em Atlanta, Leandrinho em Phoenix –, mas esses experimentos foram abortados um ou dois anos depois pelos clubes. Passaram a ser aproveitados essencialmente como finalizadores, como os pontuadores saindo do banco de reserva para manter o pique de seus times no ataque. Como o próprio brasileiro afirma: “O Jason Terry tem mais ou menos o mesmo jogo que eu, eu gosto mais de ir lá dentro na cesta, ele gosta mais daquele chutinho de dois pontos. Mas eu tenho certeza que a gente vai se entender”.

Não vejo problemas de ego interferindo nesta situação. A dificuldade é assimilar apenas a química em quadra com o restante da equipe – Jeff Green e Jared Sullinger ou Brandon Bass, que não vão ficar muito contentes se alienados no ataque. Conduzir a bola é uma coisa. Fazer isso com a cabeça erguida, para criar para os outros é bem diferente.

Um ponto interessante na resposta do brasileiro sobre a dupla com Terry foi citar que o veterano jogava em Dallas ao lado de atletas semelhantes como Rodrigue Beaubois e Delonte West. “Então ele tá acostumado a jogar nesse situação de combo-guard”, disse. Isso mostra o quão preparados os atletas da NBA são. No sentido de que, antes de se reunir para valer com os técnicos e companheiros, Leandrinho já guardava essas informações na cabeça, num reflexo do trabalho de scout e repasse de dados, vídeos e obsevações que cada clube faz com seus jogadores.

Doc Rivers

What’s up, Doc?

Só um porém: Terry, na verdade, dividia a quadra por mais tempo com um certo Jason Kidd, simplesmente um dos armadores mais brilhantes que a NBA já teve. Um Kidd já envelhecido, cada vez mais limitado ao passe, que só conseguia uma ou duas bandejas por temporada – se feitas no contra-ataque, isolado na banheira. A pont de Terry ter muito volume de jogo com seus arremessos de média e longa distância para compensar a retidão do parceiro. Outro detalhe desse par que funcionava bem: mais alto e muito mais forte, Kidd cobria os alas na defesa, preservando Terry, que ficava na marcação dos armadores. (Para completar e constar: Delonte West também sempre foi mais passador do que o brasileiro. Beaubois, sim, é um atleta bem parecido em termos de ligeirinho).

A combinação entre Terry e Leandrinho é só mais uma peça que Rivers vai ter de encaixar em sua ajeitada máquina. No time titular, as coisas pouco mudam. De todo modo, o treinador tem um bom número de reforços para entrosar e envolver. Então sabe que precisa de um pouco de paciência para o time render de acordo com seu potencial – e a expectativa lá é brigar, sim, pelo título.

“Espero que tenhamos um ótimo início, mas também sou realista para saber que vamos estar bem longe de nosso melhor basquete na noite de abertura comparando com o que teremos no final da temporada, porque nós temos a habilidade de usar um monte de combinações diferentes”, afirmou. “Mesmo que possamos usá-las, elas têm de funcionar. Elas têm de se adequar. E leva tempo para a química e entrosamento. Apenas leva tempo. Considerando os diferentes grupos que podemos por em ação, acho que vai levar ainda mais tempo.”


Bom moço Leandrinho se junta ao time mais casca grossa da NBA
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Giancarlo Giampietro

Leandrinho e sua boa conduta

Agora ao lado dos odiados do Celtics, Leandrinho vai ter de treinar sua cara de mal

A reputação de ligeirinho de Leandrinho na NBA é notória, né? Mas há uma outra característica pela qual o brasileiro é conhecido nos bastidores da liga: a de ser um boa praça, daqueles que se dá bem com todo mundo.

Por exemplo: em abril da temporada passada, já vestindo a camisa do Pacers, os relatos dos repórteres presentes na arena do Indiana era de uma baita algazarra no vestiário de visitante quando o ala-armador deu as caras por lá para visitar os ex-companheiros de Toronto Raptors.

Leandrinho agora leva seu bom-mocismo para a equipe que tem o elenco mais casca grossa do basquete profissional norte-americano. Kevin Garnett já bateu boca com meio mundo e, se precisar, vai provocar e discutir com a outra metade também. É daqueles que não perde a oportunidade de falar uma bobagem ou outra ao pé do ouvido para tirar os adversários… Hã… De sua zona de conforto. Aí você pega um Paul Pierce, que também não arreda o pé, um Rajon Rondo enfezado e tem um trio ternura daqueles que gosta de uma bagunça.

Como se não bastasse, eles vão lá e contratam um Jason Terry, um senhor catimbeiro e, magrelo daquele jeito, um produtor profícuo de bravatas. Pirado, e não só pelo aviãozinho que faz em quadra depois de suas cestas de longa distância. Dias depois de assinar com o Celtics, ele tatuou o mascote do clube em sua perna – veja esta foto feita se quiser.

Terry, aliás, foi um dos poucos agentes livres a aceitarem de cara uma proposta encaminhada por Danny Ainge. Geralmente, o cartola encontra dificuldade para convencer a jovem guarda a engrossar suas fileiras. O ala OJ Mayo, por exemplo, nem queria ouvir. Chris Paul, quando soube dos rumores de um interesse da franquia em uma troca, fez questão de soprar por todos os cantos que não aceitaria renovar seu contrato por lá.

O colunista Rich Levine, da Comcast Sportsnest de New England, tem uma teoria a respeito: “Obviamente, isso não é lá uma novidade. Nos últimos cinco anos o Celtics foram antagonistas de praticamente todos os times da liga. Há poucas jovens estrelas que Boston não tenha ofendido de algum modo. De um certo modo, essa vem sendo uma das principais armas do Celtics – a habilidade deles de irritar os oponentes.  Mas, depois de meia década de caos, o resultado é que a liga não curte muito o verde. Uma geração inteira de jogadores da NBA cresceram a ponto de odiar os C’s”.

Acho que Levine tem um ponto, não?

Teve muita gente que já sofreu na mão dos veteranos de Boston e quer dar o troco, sempre que possível. Leandrinho agora vai andar, ou melhor, correr e saltar com essa cambada. Mesmo que involuntariamente, seus dias de escoteiro acabaram.