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Categoria : Notas

A Copa Intercontinental em 4 textos
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Giancarlo Giampietro

Taças e taças

Taças e taças

Amigos, com certo atraso, mas foi: saíram quatro textos no blog de prévia para a Copa Intercontinental que começa a ser disputada nesta sexta-feira, entre Flamengo e Maccabi Tel Aviv. Para os que entram de gaiato no navio, é o torneio que foi resgatado no ano passado, com grande participação da direção do Pinheiros, para colocar frente a frente o campeão da Liga das Américas com o vencedor da Euroliga, campeonato que comentei no ano passado na íntegra, pelo canal Sports +. No ano passado, deu Olympiakos. Abaixo, o material preparado para o evento:

A Copa Intercontinental em 4 textos

Copa Intercontinental e suas incógnitas: chance para o Flamengo
http://vinteum.blogosfera.uol.com.br/?p=6918

Garimpando: conheça o Maccabi Tel Aviv jogador por jogador
http://vinteum.blogosfera.uol.com.br/?p=7030

Maccabi joga sempre pressionado. Ainda mais de técnico novo
http://vinteum.blogosfera.uol.com.br/?p=7039

Flamengo acerta contratação pontual para o torneio. É válido?
http://vinteum.blogosfera.uol.com.br/?p=6976


Negócios da NBA: jogador é trocado 4 vezes em 2 meses
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Giancarlo Giampietro

Hopson, o homem das trocas: sonho e negócios

Hopson, o homem das trocas: sonho e negócios

O mundo da NBA se faz com grandes partidas e muito talento, reunindo os melhores atletas do mundo. Isso não se discute. Mas, fora das quadras, a liga norte-americana também é sustentada por muitos pormenores burocráticos, que os cartolas dos clubes vão descobrindo e explorando ao máximo em busca de algum trunfo que lhe ajudem na montagem de seus elencos, na tentativa de superar a concorrência.  A história do ala Scotty Hopson casa bem esses dois lados.

Desde que a temporada 2013-2014 acabou, o jogador de 25 anos foi trocado não uma, não duas, mas quatro vezes! De Cleveland para Charlotte, de Charlotte para New Orleans, de New Orleans para Houston e, por fim, de Houston para Sacramento, pelo qual foi dispensado nesta segunda-feira. Tudo isso em três meses. E como diabos uma ciranda dessas acontece?

Primeiro é preciso entender o tipo de contrato que Hopson fechou com o Cavs, na reta final da temporada passada.

O gerente geral David Griffin havia acabado de assumir a gestão do clube, arregaçando as manguinhas. Seu plano não só era deixar a equipe mais competitiva em busca de uma tão sonhada cobrada vaga nos playoffs pelo proprietário Dan Gilbert, como arrumar a casa para o mercado de agentes livres e trocas de há pouco. Esse mesmo, em que fecharam negócios com LeBron James e Kevin Love.

Hopson se encaixava nesse quebra-cabeça pensando mais na segunda parte do plano. Tanto que só foi acionado pelo técnico Mike Brown em duas partidas de 2014, mesmo que tenha ganhado a bolada de US$ 1,4 milhão para assinar por 17 dias de campeonato. Sim, isso, mesmo. Por apenas 17 dias e seis minutos jogados, ele faturou quase o dobro do que o calouro australiano Matthew Dellavedova vai ganhar  por todo o próximo campeonato.

Scotty Hopson, aberração atlética na Europa e 15 pontos por jogo

Scotty Hopson, aberração atlética na Europa e 15 pontos por jogo

Esse valor, no entanto, fazia parte de um truque mais amplo de Griffin. O vínculo assinado foi de cerca de US$ 2,8 milhões por aquele restinho de temporada e uma segunda adicional. Com um detalhe: o segundo ano não tinha nem mesmo um tostão furado garantido. É o que podemos chamar de um contrato “oco”– está ali, é real, mas sem substância alguma, uma vez que poderia ser anulado a qualquer momento, bastando exercer uma cláusula.

Desta forma, o Cavs forjou quase que instantaneamente o famoso “expiring contract”, aquele que serve para facilitar a execução de trocas – e haja troca! –, uma vez que o clube do outro lado poderia pegar o calhamaço, picotá-lo e jogá-lo no lixo mais próximo, poupando alguns milhares de dólares no caminho. Houve quem criticasse a medida. Não por ser anti-ética, nem nada disso. Mas por seu preço salgado: a franquia estava pagando US$ 1,4 milhão para Hopson para gerar um trunfo que eventualmente lhe serviria em uma negociação.

O gerente do Cavs, David Griffin, que arquitetou um contrato atípico e desencadeou essa sequência bizarra de trocas

O gerente do Cavs, David Griffin, que arquitetou um contrato atípico e desencadeou essa sequência bizarra de trocas

Segundo Mark Deeks, jornalista inglês que pilota o ShamSports.com, especialista nas minúcias do teto salarial da NBA, o dirigente poderia ter trabalhado em artimanha semelhante por apenas (coff! coff!) US$ 131 mil. Bastaria assinar com qualquer veterano que tivesse mais de dez anos de experiência na liga para o mesmo período e dar a ele o mesmo contrato sem garantias na sequência.  Acontece que, como nota o Akron Beacon Journal, Griffin não descartava manter Hopson em seu elenco, se nenhum negócio interessante se manifestasse. Mas foi barbada.

O Hornets, ex-Bobcats, foi o primeiro a receber o ala e seu contrato maroto, mandando o pivô Brendan Haywood e o ala-pivô calouro canadense Dwight Powell para Cleveland. A ideia de Cleveland era conseguir um jogador de contrato mais caro e também por expirar (são US$ 10,5 milhões nada garantidos para 2015-16). Para quê? Acho que muito mais pelo fato de que Haywood pode ser envolvido em alguma supertroca daqui para a frente (usando seus US$ 10,5 milhões “ocos”) do que para ajudar Anderson Varejão a proteger a cesta. Ao mesmo tempo, adicionaram um atleta de potencial para ser desenvolvido.

Um dia depois de adquirido pelo Charlotte, Hopson foi repassado para o New Orleans Pelicans, naquela negociação que só vai confundir o torcedor mais aearado. Era Hornets, ex-Bobcats, tratando com o Pelicans, ex-Hornets. Ah, e uma coisa: em todas as trocas de Hopson, o lateral Alonzo Gee foi junto. Quem precisava do contrato dessa vez era o time de Nova Orleans, para incluí-lo no parágrafo abaixo. Para o clube de Michael Jordan, valeu a pena: em vez de simplesmente cortar o salário do atleta, MJ ainda descolou alguns milhares de dólares para pagar uma rodada de golfe para seus amigos e ainda pode ter sobrado um troco para uma caixa de charutos cubanos.

A terceira troca, bastante complexa, envolveu, então, o Houston Rockets e o Washington Wizards, no rolo que mandou Omer Asik para ser o segurança de Anthony Davis em N’awlins e trouxe Trevor Ariza de volta ao Texas. O Pelicans precisava do contrato de US$ 1,4 milhão de Hopson para fechar as contas de acordo com as regras da liga. O Rockets ainda ganhou uma escolha de primeira rodada do Pelicans e pagou US$ 1,5 milhão como compensação.

Asik foi um dos que cruzaram o caminho de Hopson neste atropelo de trocas

Asik foi um dos que cruzaram o caminho de Hopson neste atropelo de trocas

Por fim, na semana passada, o Rockets encaminhou o pacote para Sacramento e recebeu veteraníssimo Jason Terry e algumas escolhas de segunda rodada, que pode ajudar aqui e ali o Sr. Barba e o James Harden na busca por (mais) respeitabilidade na duríssima Conferência Oeste. O Kings simplesmente queria se livrar do salário de Terry, concordando em dispensar Hopson de cara. O americano já tinha um trato encaminhado com o Brindisi, da Lega Basket italiana.

E o que isso tudo quer dizer a respeito de Hopson, o jogador? Que ele não tem valor para nada?

Não é bem assim: ninguém marca 15,0 pontos por jogo em seu primeiro ano de Euroliga de graça, como ele havia feito pelo Anadolu Efes. Acontece que o atleta chegou a um Cleveland Cavaliers em meio a esse processo esquizofrênico de reformulação, no meio da temporada, em que apostaram várias escolhas de Draft para ter Luol Deng e Spencer Hawes, mas nem assim conseguiram brigar pela oitava colocação numa Conferência Leste anêmica. Queriam ganhar, mas só perdiam, e, no meio dessa confusão toda, aparece esse ala vindo do basquete europeu, sem fanfarra.

Pouco badalado, é verdade, mas só se formos falar de um Scotty Hopson profissional. Sete, oito anos atrás, sua versão adolescente era considerada uma das grandes promessas do High School americano. Aquele tipo de exposição que atinge a garotada por lá desde cedo e que, se não bem explicada, pode mexer com a cabeça do jogador. Algo que aconteceu com nosso rapaz de tantas trocas. Hopson foi recrutado pela universidade do Tennessee e falhou em deixar sua marca por lá. Mas não foi algo que lhe ocorreu quando decidiu se candidatar ao Draft da NBA de 2011. Um processo delicado no qual aquilo que você mostra fora das quadras também pode valer muito. “Aquele cara não é do mesmo planeta que o resto de nós”, disse ao DraftExpress um gerente geral, assustado com o lunatismo do jovem.

Em quadra, o que os scouts viam era claro: um atleta de primeiro nível, capaz de maravilhar atleticamente (veja o vídeo abaixo), mas que ainda pedia muito refinamento e amadurecimento. “Enquanto ele possui ferramentas físicas excepcionais para um ala de NBA e mostra flashes de habilidade da mesma forma, Hopson ainda parece sentir falta de polimento e de uma abordagem mental consistente, além de uma compreensão geral  do jogo para que possa contribuir de modo eficiente jogo após jogo”, escreveu o DX, na época.

Ignorado no Draft, sem ofertas, o ala teve de escolher entre a D-League ou o dinheiro de ligas menores da Europa. Partiu para outro mundo. Jogou na Grécia, pelo Kolossos Rodou, em Israel, pelo Hapoel Eilat, e, aos poucos, numa história bacana, foi progredindo em quadra e elevando sua cotação, até chegar a um time de Euroliga, o Anadolu. No torneio continental, fez uma primeira fase excepcional até chamar a atenção devida da NBA – e de David Griffin especificamente. Mal pôde acreditar quando recebeu a proposta do Cavs.

Não só pelo dinheirão quer recebeu, muito mais do que ele ganhou em qualquer temporada na Europa, segundo o Akron Beacon Journal. Mas também por essa coisa de sonho realizado. Todo jogador americano quer a grande liga, né?  “Apenas continuei persistente, tendo fé de que, cedo ou tarde, chegaria aqui. Mesmo que não chegasse, a principal coisa que queria fazer na minha carreira era maximizar meu potencial. O sonho era sempre entrar na NBA, e isso finalmente aconteceu para mim. Estou curtindo o momento”, afirmou, durante sua breve passagem por Cleveland.

Desde então, Hopson só pôde curtir ver seu nome em negociações atrás de negociações, até se dar conta de que seu momento de NBA durou por apenas seis minutos, mesmo, mas valendo US$ 1,4 milhões. Como ele mesmo aprendeu. Existe o jogo, sim. Mas, no seu caso, esta aventura teve muito a ver com os negócios:

 


Leandrinho x Jordan Crawford: as trilhas se divergem
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Giancarlo Giampietro

Leandrinho x Jordan Crawford: favor não confundir

Leandrinho x Jordan Crawford: favor não confundir

Eles já foram trocados um pelo outro. Estavam na lista de alvos do Miami Heat neste ano. Agora, uma semana depois de Leandrinho ser anunciado como jogador do Golden State Warriors, o ala-armador Jordan Crawford desembarcou na cidade de Urumqi, capital da região de Xinjiang, que empresta seu nome ao Flying Tigers. Um time da rica, mas ainda varzeana (técnica e taticamente falando) liga chinesa.

Se aceitarmos o mapa mundi em sua visão mais popular, com a Europa convenientemente localizada ao centro, os dois cestinhas estariam cada um em uma extremidade. Se for para ficar com o globo giratório, ‘só’ um Oceano Pacífico os separa. E aí estão Leandro e Crawford, bem distantes, depois de suas trajetórias se cruzarem algumas vezes na central de transferências sempre agitada da NBA.

É uma história curiosa, que ajuda a valorizar o que o ligeirinho brasileiro conquistou nos Estados Unidos. Aos 30, o veterano – um notório boa praça, festejado em todos os vestiários por onde passou – ainda tem cotação para se manter na grande liga, ainda que com preço mais barato e peregrinando de clube em clube. De 2011 para cá, já são cinco times. E aqui só cabe uma observação: assim como aconteceu no campeonato passado, Leandro assina um contrato não-garantido com o Warriors, sobre o qual falaremos mais abaixo. O americano, cinco anos mais jovem, mas com uma trajetória um tanto problemática, se vê obrigado partir para a Ásia.

Leandrinho não teve contrato renovado pelo Suns, mas segue na NBA, dando um jeito

Leandrinho não teve contrato renovado pelo Suns, mas segue na NBA, dando um jeito

Os dois jogadores ocupam basicamente o mesmo nicho de mercado: os chamados combo guards, reconhecidos pelo tino para colocar a bola na cesta, embora nem sempre eficientemente, mas que saem do banco para botar fogo no ataque. Obviamente esse é uma definição bem generalizada. Há muito que se distinguir na abordagem de cada um.

O habilidoso americano é muito mais afeito ao drible, sacudindo o marcador, enquanto seu concorrente depende mais de investidas direta, objetivas, dependendo de sua explosão física. A maneira como jogam é diferente, mas o objetivo final acaba coincidindo.

Um ano e meio atrás, por exemplo, eles foram envolvidos no mesmo negócio, mais precisamente no dia 21 de fevereiro de 2013. Justamente quando estava se fixando na segunda unidade do Boston Celtics, esquentando o motor, Leandrinho sofreu uma grave lesão, com ruptura de ligamento no joelho e tudo, que encerrou sua temporada. Danny Ainge ainda acreditava em algum sucesso nos playoffs naquela que acabou sendo a última campanha de Pierce e Garnett pela franquia e acertou uma negociação por Crawford.

O então jovem ala-armador estava desacreditado na capital norte-americana, visto como um dos personagens principais de todo o caos e o consequente fiasco do Wizards. Ainda assim, tinha esse “fogo” de que o Celtics tanto precisava. Alguém que poderia esquentar a mão em um grande jogo. Ainge confiava que a estrutura comandada por Doc Rivers e a fiscalização de seus veteranos o colocariam na linha. No fim, o time perdeu para o New York Knicks, numa despedida decepcionante para aquele grupo.

Ironicamente, vestido de verde e branco, Crawford praticaria seu melhor basquete, mas só na temporada seguinte, sob o comando de Brad Stevens. Jogando como o dono da bola – os astros haviam se mudado para Brooklyn e Rondo ainda estava lesionado. Restava, logo, ao treinador novato apostar no temperamental ex-reserva, que correspondeu. “Eu me senti em casa por um minuto. Foi a primeira vez que fiquei mais tempo em quadra, tendo a chance de enfrentar os altos e baixo e aprender como se ajustar a isso. Sabe, quando você está jogando mal e pode se recuperar. Foi muito positivo”, afirmou.

Crawford: breve passagem pelo Warriors, agora abrindo vaga para Leandrinho. Ciranda-cirandiha

Crawford: breve passagem pelo Warriors, agora abrindo vaga para Leandrinho. Vamos logo cirandar

Em reconstrução, o Celtics repassou Crawford 363 dias depois numa troca tipla que enviou o cestinha para o Warriors, outro clube que buscava reforços para sua segunda unidade, na esperança de reduzir a carga de Curry e Thompson. Seu impacto, contudo, não foi tão grande assim. Com o seu contrato vencido, foi liberado pelo time californiano para negociar com outros times. Seu nome foi especulado por uma série de franquias – entre elas o Miami Heat, ao lado de Leandrinho, que não renovou com o Suns.

O brasileiro, porém, seguiu outra direção e fechou com o Warriors, justamente para assumir, em teoria, o papel do americano na segunda linha, na rotação com Curry, Thompson e Shaun Livingston, cujas características ele pode complementar tão bem. O espichado armador tem boa visão de jogo, é uma ameaça no ataque de costas para a cesta devido a sua estatura, mas não tem chute (algo que seu novo companheiro oferece). Juntos, os dois também dão muita envergadura para a defesa de Steve Kerr, outro fator que pesa a favor de Barbosa, com quem tem bastante familiaridade, já que foi seu dirigente por muito tempo em Phoenix.

Precisa ver apenas se o paulistano realmente se enquadra nos planos do time a longo prazo. Segundo o jornalista Eric Pinus, do Los Angeles Times e do site Basketball Insider,  apenas US$ 150 mil dos US$ 915 mil de salário de Leandrinho seriam garantidos. A data para que o contrato seja validado em sua totalidade ainda não foi divulgada, mas geralmente não passa de 10 de janeiro. Até esse prazo, o Warriors poderia dispensá-lo, se assim preferir.

Estão no mesmo barco o armador Aaron Craft, um defensor implacável revelado por Ohio State, mas uma negação para arremessar, e os alas Justin Holiday (irmão mais velho do Jrue, do Pelicans) e James Michael McAdoo (calouro de North Carolina, que já foi uma grande promessa, com seleção de base e tudo, mas despencou). Depois de um ano na Hungria, Holiday jogou bem pelo time de verão da franquia, já sob o comando de Kerr. Seria o maior concorrente – mas talvez seja exagero até empregar esse termo.

Na verdade, o Warriors já tem no momento 13 contratos garantidos, o mínimo necessário para carregar numa temporada. Entre esses contratos está o jovem sérvio Nemanja Nedovic, armador que vem falhando em deixar sua marca nos Estados Unidos. Para piorar, ainda sofreu uma lesão durante os treinamentos com sua seleção e foi cortado da Copa do Mundo. Ainda que Nedovic não passe segurança alguma nesse momento, o  gerente geral Bob Myers não precisa efetivar o contrato de nenhum dos atletas do parágrafo acima, diga-se.

Kerr reencontra Leandrinho em Oakland: ótima notícia para o brasileiro

Kerr reencontra Leandrinho em Oakland: ótima notícia para o brasileiro

Mas é extremamente improvável que tenham acertado com um jogador da experiência de Leandrinho apenas para avaliá-lo de perto, e pronto. Presume-se que o aspecto provisório de seu vínculo tem mais a ver com os recentes problemas físicos e lesões do atleta do que por qualquer desconfiança técnica. Durante a Copa, o paulistano comprovou que ainda tem valiosos recursos para oferecer e que está em ótima forma. O ligeirinho se enquadrou no sistema um tanto pétreo desenhado por Magnano e não precisou tentar ser o herói de torneios passados. Num time com Curry e Thompson, certamente não se espera nada nessa linha.

Crawford, por outro lado, é um cara que se sente muito mais confortável para produzir com a bola em mãos. Se a sua criatividade e o seu talento no jogo de um contra um não se discutem, nem sempre se encontra uma boa vaga para acomodá-lo. Não sabemos se ele recebeu alguma oferta concreta na NBA. Aparentemente, o único cheque com um número extenso o bastante para satisfazê-lo veio dos Tigres Voadores de Xinjiang. Fala-se em US$ 2 milhões, mais que o dobro do que vai ganhar o brasileiro. Na China, também vai ter a chance de produzir aquelas estatísticas só vistas em videogame. Obviamente, não seria a primeira escolha dele. Também não dá para dizer se aceitaria um contrato nos moldes do que Leandrinho assinou. Os dois estão realmente em pontos bem diferentes de suas carreiras, e não só geograficamente falando. Que não sejam confundidos, mesmo.


Atualização: destinos de Ayón e Raduljica definidos
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Giancarlo Giampietro

Só para não deixar batido, tá? Falamos esta semana sobre alguns destaques da Copa do Mundo que ainda estavam desempregados. Depois de Joe Ingles acertar com o Los Angeles Clippers, outros dois definiram seus clubes para a próxima temporada entre esta quinta e a sexta-feira: Miroslav Raduljica e Gustavo Ayón.

O gigante-imenso-mesmo-e-barbudo vice-campeão mundial pela Sérvia anunciou nesta sexta que vai, mesmo, para a China. Na ausência de alguma boa oferta da NBA ou de um clube de ponta europeu, optou pela via mais fácil e rentável: receber US$ 2 milhões para defender o Shandong Lions, antigo Flaming Bulls (daí a confusão na Internet citando os dois apelidos para um mesmo time). E vamos lembrar: Raduljica é ex-Milwaukee Bucks, mas não está deixando o Bucks. Está deixando o Los Angeles Clippers, que teve seu contrato por uns cinco minutos talvez, antes de Doc Rivers assinar a papelada para dispensá-lo. A temporada chinesa termina antes que a da liga americana, então tem isso: se algum time estiver precisando de um troglodita na reta final, vai estar disponível, embora seu encaixe nos Estados Unidos seja mais difícil. Não são mais tempos para pesos pesados deste porte.

Já o grande herói mexicano dos tempos modernos, maior até que o goleiro Guillermo Ochoa e Chicharito Hernández, vai defender uma agremiação muito mais nobre: o Real Madrid. Ayón pagou do seu bolso, mesmo, a multa rescisória de 290 mil euros para o Barcelona, que tinha seus direitos na Europa, e fechou um vínculo de três temporadas com a equipe merengue, valendo 1,8 milhão de euros (bruto). Bela contratação do Real, que agora tem para seu garrafão esse jogador que a NBA subestimou, ao lado de Ioannis Bourosis, Andrés Nocioni, Felipe Reyes, Marcus Slaughter e Salah Mejri. Rotação versátil e de impacto. Alguém muito bom não vai nem ver a luz da quadra. Realmente esperava que ele pudesse assinar com o Spurs. Seria um excelente encaixe, mas sorte de Pablo Laso e do Real.

 


Febre filipina: Robin Lopez se candidata para vaga de Blatche
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Giancarlo Giampietro

Lopez tenta bloquear Blatche e uma história bonita de redescoberta

Lopez tenta bloquear Blatche e uma história bonita de redescoberta

Na madrugada californiana, enfrentando o fuso horário ingrato que separa Madri de Fresno, o pivô Robin Lopez deixou a emoção das histórias e quadrinhos e animes de lado para se entregar a outro tipo de aventura: acompanhar a seleção filipina de basquete durante a Copa do Mundo disputada na Espanha. O time mais fora da linha mais desajustado da competição, no bom sentido, valia a perda do sono.

Agora, o cabeleira do Portland Trail Blazers, irmão gêmeo do Brook tem mais um problema para encarar o travesseiro: está sonhando acordado em participar do programa dos chamados Smart Gilas. Na maior cara-de-pau, já pensa em desbancar Andray Blatche como a estrela de NBA da equipe asiática, que foi eliminada na primeira fase do Mundial, mas não antes de deixar sua marca. Argentina e Croácia que o digam.

Durante uma visita promocional em solo filipino, Lopez abriu seu coração para a mídia local. “Se essa coisa toda de Andray Blatche não funcionar, estou aqui, livre para os Gilas”, afirmou o espigão, guarda-costas de LaMarcus Aldridge, depois de um training camp em conjunto com a NBA Filipinas. Sim, não estranhem: a devoção dos filipinos pelo basquete é tão grande que pede a instalação de um escritório da liga norte-americana também por lá. É uma nação de Manny Pacquiao e de bola ao cesto.

E pensar que Balkman já foi contratado para jogar na liga filipina e aprontou um barraco por lá. Blatche? Conduta exemplar

E pensar que Balkman já foi contratado para jogar na liga filipina e aprontou um barraco por lá. Blatche? Conduta exemplar

Antes de causar qualquer incidente diplomático, o bem-humorado e excelente defensor Lopez se aprontou em dizer que seus mais íntimos desejos não significam uma apunhalada nas costas de Blatche, que jogou com seu irmão em Brooklyn nos últimos dois anos. “Não desejo mal nenhum para Dray, porque obviamente ele deu seu coração para aquele time, além de se encaixar bem na equipe”, reparou.

Mas não tem jeito, galera: uma vez em contato com a febre filipina, isso toma conta de você. Mesmo que diga agir em boa fé em relação a Blatche, o pivô do Blazers simplesmente não conseguiu se controlar durante a entrevista. “Mas eu adoraria jogar (pelo país). Agora sei da paixão que essas pessoas têm pelo basquete. Adoro a cultura daqui”, disse.

E não é só isso: de maneira sorrateira, num ardil de supervilão,  Lopez também fez questão de indicar aos Gilas que seria ainda mais filipino que Blatche. Vamos lembrar: o pivô que encantou a todos na Copa do Mundo dizia, com a boca semicerrada, que seu pai teria uma autêntica ascendência. Ninguém acreditou. Agora, surge esse atleta do Blazers revelando  vínculos mais modestos, mas que podem realmente fazer a cabeça das pessoas. Ok, ok, ele não tem sangue de lá. Mas avisou que um de seus melhores amigos, Ryan Reypon, de quem foi companheiro de time no high school…  já até jogou na D-League filipina! Vixe. Imaginem a reação de Blatche quando seus espiões asiáticos lhe passarem essa nota. Uma bomba atômica em seus planos de adoração pública em Manila.

É ou não é de se ficar aturdido?

Antes de mais nada, e até para ajudar a digerir esse parágrafo todo, vale o reforço: sim, as Filipinas também têm sua D-League oficial, com 12 times inscritos. Posto isso, gostaria de saber o que o técnico Chot Reyes pensa a respeito disso. A resposta veio na lata: “chegou tarde”, ele afirmou. E de que forma aqueles tampinhas corajosos e chutadores malucos da seleção filipina que quase fez história na Espanha vão receber esses despachos no retorno triunfal para casa? Pois a verdade é que Blatche virou parte da família nacional filipina, superando qualquer desconfiança que seu turbulento passado nas quadras pudesse despertar, um passado que força vaias dos tristes e rancorosos torcedores de Washington a cada vez que ele enfrenta o Wizards.

 “O tipo de relacionamento que ele construiu com os caras da equipe, em um mês e meio, e o empenho deles nos jogos e treinos realmente disseram muito sobre o Andray. Ele estava comprometido desde o Dia 1”, afirmou o capitão da equipe, Jim Alapag, o maior terror de Julio Lamas, ao HoopsHype. “Nós todos sabíamos (de seus problemas), mas isso foi há um tempão, e não queríamos julgá-lo pelo que aconteceu, mas apenas por seu desempenho e sua atitude hoje, seu comprometimento. Fiquei muito feliz com o modo como se comportou, chegando o time assim tão de repente, realmente lutando por todos nós”, completou.

Blatche e Alapag, unidos para sempre

Blatche e Alapag, unidos para sempre

Coisa linda. Vocês percebem que foi uma história de amizade e descobertas, em que o pivô contratado naturalizado entendeu todos os erros que já cometeu, os deixou para trás e participou do sonho de um verão filipino. Se ele ganhou mais de US$ 1 milhão para defender a seleção na Copa, mais que Leandrinho pode ganhar em uma temporada inteira pelo Warriors, está bem claro, pelas palavras de Alapag, que isso não importa. A camaradagem vem em primeiro lugar.

Blatche foi proibido pela sucursal olímpica da Ásia de disputar os Jogos continentais deste ano, já que nunca morou nas Filipinas nem por 24 horas – ao passo que o comitê exige que um atleta naturalizado tenha passado um mínimo de três anos em seu país adotivo. A Fiba, entidade sem fins lucrativos, muito mais apegada ao aspecto humano do esporte, disse que era bobagem isso, que deixassem o pivô seguir sua jornada. Mas não teve jeito.

De modo que Blatche teve de embarcar solitário de volta a Miami, onde tem residência, com uma bagagem cheia de lembranças e de adrenalina a mil. Ainda está sem contrato na NBA, mesmo que tenha realizado em Brooklyn as duas melhores temporadas de sua carreira – saindo do banco para produzir de maneira extremamente eficiente. Ainda assim, o gerente geral do Nets não quer nem saber de ouvir falar dele. Existe a pequena possibilidade de ele jogar pelo Heat, mesmo, de quem recebeu uma sondagem, mas pode ser que fique mais um tempo inativo, desempregado, entregue aos caprichos da noite, digamos. Seus problemas de insônia têm outra natureza.

E agora vem essa: Robin Lopez, com seu salário de US$ 6 milhões garantido para a próxima temporada, como peça integral de um time competitivo como o Blazers, feito um Lex Luthor, disposto a usurpá-lo da condição de o mais filipinos de todos os pivôs em atividade. Entende-se o apelo, mas o posto já está ocupado. Boa noite, e durma bem.

Blatche e toda uma nação por trás

Blatche e toda uma nação por trás


Ingles no Clippers? Zoran no Suns? Copa influencia o mercado
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Giancarlo Giampietro

A Copa do Mundo de basquete acabou no domingo, mas parece que foi há meses, né?

Ok… Não chega a tanto. Foram só dois dias, mesmo.

Ainda assim, galera, já vale atualizar o que se passa na vida de alguns dos personagens do torneio envolvidos com o mercado da bola (ao cesto).

Na NBA as coisas estavam aparentemente todas acertadas. Como se precisássemos apenas de uma resolução para o impasse entre Phoenix Suns e Eric Bledsoe – o melhor jogador americano sem contrato no momento –, além de uma definição de Ray Allen: o veterano ala vai, ou não, recorrer ao INSS como aposentado? Acontece que a Copa, este torneio que parte da liga americana tenta rotular na marca como algo desinteressante, gerou mais algum movimento nas franquias que ainda têm vagas em seus elencos. Da mesma forma que acontece na Europa e na China. A prioridade da maioria dos agentes livres, claro, é jogar em solo ianque. Mas esses acordos não são tão simples assim.

Vejamos:

Joe Ingles (Austrália)

Joe Ingles encara a Turquia. Agora, hora de bater uma bola com CP3 em Los Angeles

Joe Ingles encara a Turquia. Agora, hora de bater uma bola com CP3 em Los Angeles

Essa foi a nota quentinha da terça-feira, cortesia de Marc Stein, um bastião do ESPN.com. O ala canhoto acertou com o Los Angeles Clippers, que abriu uma vaguinha em seu perímetro ao se livrar do contrato de Jared Dudley, despachado para ser um mentor de Jabari Parker e Giannis Antetokounmpo em Milwaukee. Ainda não está claro se o seu contrato é garantido, ou não. Antes do tweet de Stein, o Courier Mail, de Brisbane, havia entrevistado este boomer, que não quis revelar os clubes interessados, mas disse que as chances de jogar nos Estados Unidos eram de 99%. Mas com um detalhe: provavelmente com um contrato sem garantias. Daqueles em que se estipula um prazo para a franquia decidir se ficará, mesmo, com o atleta por toda a temporada. Curioso que Ingles, campeão da Euroliga pelo Maccabi, vindo de médias de 11,4 pontos, 3,4 assistências e 3,2 rebotes no Mundial, encare um desafio desses. Em vias de completar 27 anos, deve estar considerando aquela coisa de agora-ou-nunca. “Vou tentar entrar no time, mas isso por si só vale como motivação para mim. Estou empolgado. A situação para a qual vou é a de um time que tem me acompanhado”, afirmou. Em L.A., Doc Rivers tem, no momento, as seguintes opções para o perímetro, lembremos: JJ Redick, Jamal Crawford, Matt Barnes, Reggie Bullock e o calouro CJ Wilcox (excepcional arremessador vindo da universidade de Washington).

Zoran Dragic chuta contra Klay Thompson: arremesso não é o forte, mas a NBA está caidinha por ele

Zoran Dragic chuta contra Klay Thompson: arremesso não é o forte, mas a NBA está caidinha por ele

Zoran Dragic (Eslovênia)
O irmão do Goran virou febre entre os scouts da liga americana. Incrível. Vi alguns jogos do ala-armador esloveno na última Euroliga, e ele tem seus lampejos aqui e ali, mas está longe de ser um atleta consistente, embora já não seja tão novinho assim (25 anos). É um jogador atlético, raçudo, que ataca a cesta com fome, mas que converteu apenas 25% de seus arremessos de três na temporada passada pelo tornei continental e 28,8% pela Liga ACB. Sim, acreditem: não é todo europeu que chuta bem de longa distância, mesmo com um sobrenome desses. Em um bate-papo recente, o analista Kevin Pelton, do ESPN.com, um desses magos das estatísticas, fez a seguinte observação: “Se fosse irmão de um encanador, não sei se teria alguma chance de jogar na NBA”. Ouch. Ele fala isso com base na tradução de seus números da Europa para os Estados Unidos. Vai saber.

Fato é que o esloveno tem uma penca de times no seu calcanhar. Segundo o mesmo Marc Stein, o Phoenix Suns é quem estaria mais adiantado em negociações para tirar o atleta do Unicaja Málaga, superando Pacers e Kings. O gerente geral Ryan McDonough, que foi para Madri acompanhar os mata-matas da Copa, está fazendo de tudo para agradar ao irmão mais velho de Zoran, que vai deve se tornar um agente livre em 2015. Arizona Central confirma o interesse do time e afirma que sua multa rescisória com o clube espanhol é de US$ 1,1 milhão. Já o RealGM lista Spurs, Magic, Heat e Mavericks como times envolvidos na perseguição e dá outro detalhe: o jogador tem até o dia 5 de outubro para se liberar de seu contrato. Caso contrário, é obrigado a jogar a temporada pelo Málaga. Quem dá mais?! “Obviamente que estou interessado em jogar na NBA, mas não tem nada definido no momento”, afirma o Dragicinho. “Tudo é possível, mas por enquanto ainda sou um membro do Unicaja Málaga.”

Gustavo Ayón (México)
Já teve gente declarando amor ao pivô mexicano durante a Copa. Outra vez. Não sei quem. Agora, se você acha que o rolo de Dragic é meio complicado, a trama em torno de Ayón é digna de um quebra-cabeça para a turma de Charlie Kaufman resolver. Assim: o herói de Zapotán jogou uma temporada só pelo Atlanta Hawks e voltou para o mercado. Estava esperando mais uma oferta da NBA, que não chegou – o Spurs é que poderia se apresentar, segundo… Marc Stein! De concreto, todavia, o mexicano disse, durante o Mundial, que só havia chegado uma proposta chinesa, do Shandong. Mas aí o Real Madrid também entrou na parada, e eles estavam bem perto de acertar um vínculo de três anos. Além do mais, ele só jogaria na Euroliga, com cláusulas camaradas para migrar para os Estados Unidos, se fosse o caso. O problema é que, na Espanha, os direitos do mexicano são do Barcelona. Para ele fechar com o Real, teria de pagar 290 mil euros ao Barça. Então, no momento, o jogador estaria inclinado a ir para a China, mesmo.

Ayón, orgulho mexicano, desempregado na elite do basquete

Ayón, orgulho mexicano, desempregado na elite do basquete

Miroslav Raduljica (Sérvia)
O quê!? O Raduljica!? Mas ele não era do Bucks?! Não, gente, não mais. Anunciado insistentemente durante toda a Copa do Mundo desta maneira, o pivô titular e um dos destaques dos sérvios no torneio, o grandalhão havia sido trocado pelo Milwaukee para o Clippers (no mesmo negócio que envolveu Dudley). Doc Rivers não tinha intenção em contar com suas trombadas e o dispensou de imediato. Então ele está no olho da rua, mesmo. Mas não vai durar pouco. Na real, o troglodita vice-campeão mundial parece estar envolvido em um sexteto amoroso com Ayón, Spurs, Real e Shandong. Sim, as coisas ficam ainda mais complicadas de desenrolar aqui, hehe. Os mesmos clubes relacionados ao mexicano aparecem também na onda de rumores em torno do pivô. Com a prata no peito, em alta no mercado como nunca antes em sua história, Raduljica ao menos diz com orgulho: “Perdemos a final, mas minha barba ainda é melhor que a do James Harden”.

Hamed Haddadi (Irã)
Por falar em Real Madrid e China… pode botar o iraniano nesta história. Aparentemente, a diretoria do clube espanhol não perdeu tempo ao ver uma série de estrelas internacionais em seu país durante a Copa. O gigante foi mais um jogador cogitado para reforçar seu garrafão, embora sua prioridade também fosse retornar para os Estados Unidos. Uma pena que Memphis não o reconheça pelos serviços prestados… A essa altura da vida, já não dá mais para acreditar num mundo justo. De modo que Haddadi está em vias de assinar com a liga chinesa, mesmo, para defender o Qingdao Double Star.

Eugene Jeter (o ursinho Puff da Ucrânia)
O armador americano, que defendeu a seleção ucraniana com 15,4 pontos e 5 assistências por partida na Copa, sempre reclamou de que nunca havia recebido uma chance real para jogar na NBA. Foi reserva do Sacramento Kings por um ano, mas foi na Europa que desenvolveu sua carreira profissional. Agora, recebeu um convite do Los Angeles Lakers para passar por um período de duas semanas de treinamento. Um sonho de criança. “Nasci em Los Angeles e cresci como um torcedor do Lakers, então é uma honra receber esse convite”, afirmou. Tudo pronto para um final feliz? Nem tanto: mesmo que o gerente geral Mitch Kupchak quisesse adicioná-lo a uma rotação que hoje tem Jeremy Lin, Steve Lin e Jordan Clarkson, Pooh Jeter não poderia – já tem contrato na China e vai honrá-lo, disse ao Beijing Times.


Bronze inédito confirma: a França veio para ficar
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Giancarlo Giampietro

Após o título europeu, o bronze mundial. Sem sua principal estrela

Após o título europeu, o bronze mundial. Sem sua principal estrela

A terceira posição assegurada pela França nesta Copa do Mundo confirma: eles vieram para ficar. Foi um bronze inédito para os Bleus, um ano depois de eles terem conquistado o EuroBasket também pela primeira vez. Além da façanha em si de valer o pódio, a vitória deste sábado sobre a Lituânia, por 95 a 93, também tem um simbolismo especial para a estrutura do basquete francês, que, a despeito dos muitos desfalques, vê um trabalho todo coroado, mostrando que é mais do que um ou dois nomes.

Os cronistas esportivos estão todos muito habituados a se referir ao time de fulano de tal. A Alemanha de Dirk Nowitzki, o México de Gustavo Ayón etc. Em alguns casos, como no dos alemães, obviamente ainda é um caso. Não há meios de a Nationalfünf conquistar algum resultado de respeito, por ora, sem a presença de Nowitzki. Assim como a presença de Ayón permite que os mexicanos voltem a um Mundial depois de quatro décadas.

No caso dos franceses, por conta de tudo o que seu grande ídolo fez desde que chegou a San Antonio, seria normal se referir ao seu time nacional como algo que pertencesse a Parker. Foi com ele, mesmo, que subiram, ano a ano, de produção, para se colocar definitivamente entre os melhores do mundo neste biênio 2013-14. E, convenhamos, o cara joga demais. É um dos melhores armadores europeus da história, já. Com ausência do ligeirinho nesta Copa do Mundo, a maneira obrigatória de se referir a esta seleção pareceu a seguinte: “Ainda é um bom time, mas, sem Parker, vai ficar difícil”.

E foi difícil, mesmo. Mas competiram. Os caras perderam para o Brasil e a Espanha na primeira rodada. Suaram para bater Sérvia e, pasme, Irã e confirmar a classificação. Depois, fizeram um jogo equilibrado contra a Croácia pelas oitavas e se colocaram entre os oito melhores. Aí era a hora de encarar a Espanha, grande favorita do torneio ao lado dos Estados Unidos. Todo mundo estava pronto para dizer adieu, incluindo este blog que logo considerou o Brasil o quinto colocado da competição após a derrota para Sérvia. Mas, não: os franceses empurrariam os brasileiros um degrau abaixo ao chocar Madri, eliminando os anfitriões. Contra a Sérvia e a Lituânia, mais dois jogos duros, com uma derrota e uma vitória, e lá estava o bronze garantido para a galeria.

Diaw e seu ano perfeito: campeão europeu, bronze mundial e campeão da NBA. Contra a Lituânia, foram 15 pontos, 4 assistências, 2 rebotes e 2 roubos de bola em 33 minutos. Com muita visão de jogo, versatilidade, experiência e boa defesa, a influência do ala-pivô é enorme sobre o time, de modo que é até injusto batermos sempre na tecla de que Parker não foi para o torneio. Para mim, a ausência de Diaw seria igualmente significativa

Diaw e seu ano perfeito: campeão europeu, bronze mundial e campeão da NBA. Contra a Lituânia, foram 15 pontos, 4 assistências, 2 rebotes e 2 roubos de bola em 33 minutos. Com muita visão de jogo, versatilidade, experiência e boa defesa, a influência do ala-pivô é enorme sobre o time, de modo que é até injusto batermos sempre na tecla de que Parker não foi para o torneio. Para mim, a ausência de Diaw seria igualmente significativa para a química de sua seleção

Sem Parker, a França perde em força ofensiva, criatividade, obviamente. Mas mantém uma defesa muito chata, que incomoda demais. Foi pela defesa que eles nivelaram praticamente todos os jogos que disputaram no Mundial, especialmente contra a Espanha. Uma consistência que o time já trás do EuroBasket, isso para não falar das Olimpíadas de 2012.

O técnico Vincent Collet, no cargo desde março de 2009, tem muito mérito nisso, mas também pesa bastante a vasta gama de atletas da qual ele pode pinçar seus jogadores. O país tem, hoje, dez jogadores sob NBA que foram produzidos em sua categoria de base. Atentem que são, na verdade, 11 os franceses na liga americana quando incluímos Joakim Noah na relação. O pivô escolheu defender a nação de seu pai, mas nasceu nos Estados Unidos e se fez como atleta por lá, da mesma forma que o “gaúcho” Scott Machado.

Inglis: tem muita gente que julga ser um prospecto de muito potencial. O ala da Guiana Francesa tem 19 anos e foi selecionado pelo Bucks no início do 2º round do Draft. Não jogou a liga de verão de Vegas ao lado de Jabari e Giannis devido a esta lesão no tornozelo direito. Fica o aviso

Inglis: tem muita gente que julga ser um prospecto de muito potencial. O ala da Guiana Francesa tem 19 anos e foi selecionado pelo Bucks no início do 2º round do Draft. Não jogou a liga de verão de Vegas ao lado de Jabari e Giannis devido a esta lesão no tornozelo direito. Fica o aviso

Desses 10, temos gerações bem diferentes: Parker e Boris Diaw são de 1982. O caçulinha Damien Inglis, recém-draftado e contratado pelo Bucks, nasceu em 1995. Entre eles, aparecem Ronny Turiaf, de 1983, Ian Mahinmi, de 1986, Nicolas Batum e Alexis Ajinça, de 1988, Kevin Seraphin, de 1989, e Rudy Gobert e Evan Fournier, de 1992. Isto é, a produção é consistente – isso falando apenas dos atletas que estão hoje na maior liga do mundo.  Detalhe: apenas Turiaf usou algum estágio para ingressar na NBA, passando pela universidade de Gonzaga. O restante? Saíram todos diretamente de clubes franceses.

Podem entrar nessa conta da base muito mais nomes, como o ala-armador Nando De Colo, que acabou deixando o Toronto Raptors para defender o CSKA Moscou, que é de 1987. O armador Rodrigue Beaubois, depois de graves lesões, ainda sonha com um retorno, nasceu em 1988. Johan Petro, ex-Nuggets, Nets e Hawks, é de 1986. Os alas Yakhouba Diawara, que já atuou por Nuggets e Heat e recebeu sondagens este ano, e Mickael Pietrus, uma cacetada de times, se juntam a Parker e Diaw como de 1982. Mickael Gelabale, ex-Sonics e Wolves, é da turma de 1983.

Quer mais? Da atual seleção, o pivô Joffrey Lauvergne (1991) também já foi draftado pelo Denver Nuggets em 2013 e vem progredindo mês a mês na Europa, trocando o Partizan Belgrado pelo Khimki, da Rússia, para ganhar bem mais. Em breve, estará no Colorado. O ala-pivô Livio Jean-Charles (1993) foi selecionado pelo Spurs e joga pelo ASVEL, o clube do qual Parker é um dos donos.

Veja o tanto de gente E saiba que esta foi apenas uma passada rápida por aqueles nomes mais discutidos em cenário internacional, até por conta do vínculo que criaram com a NBA. Mas não dá para ficar sem falar dos armadores Thomas Heurtel e Antoine Diot (ambos de 1989) que substituíram Parker no Mundial e passou batido pelo Draft.

São muitos, mas muitos nomes para Collett filtrar. Entre possuir os nomes e formar uma grande equipe, são outros 500. Mas está claro que o pódio da França não é um acidente. A Espanha que se acostume com isso.

*  *  *

Batum foi espetacular nas últimas duas partidas francesas, marcando 62 pontos no total contra sérvios (35) e lituanos (27). Pegou fogo, acertando 10 de 17 arremessos de três pontos. Nas sete partidas anteriores, havia somado 69.

*  *  *

O legendário armador Bob Cousy, considerado o primeiro símbolo de sua posição nos tempos em que jogava com Bill Russell no avassalador Boston Celtics dos anos 50 e 60, tem ascendência francesa. Nasceu em Nova York, filho de imigrantes.

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O ala Antoine Rigaudeau foi talvez o grande ídolo francês da geração que antecedeu a de Parker – prata nos Jogos de Sydney 2000 e cinco vezes o MVP da liga nacional. Ele é 10 anos mais velho que o armador, mas só foi se testar na NBA dois anos depois, em 2003. Sua passagem pelo Dallas Mavericks foi um desastre, porém. Aos 31, mal entrava em quadra: disputou apenas 11 partidas, com 17 pontos e 91 minutos no total. Dos 35 arremessos que tentou, acertou apenas 8. Maldosamente, ficou conhecido no Texas como Rigaudon’t (não, Antoine, por favor: não arremesse dessa vez).


Bogdanovic: como construir uma jovem estrela sérvia
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Giancarlo Giampietro

Bogdan-Bogdan, 22 anos, chamando o jogo contra o Brasil

Bogdan-Bogdan, 22 anos, chamando o jogo contra o Brasil

Este espaço vem batendo na tecla nos últimos dias contrapondo o impacto que a produção das categorias de base de Brasil e Sérvia tem na formação de suas respectivas seleções. O paralelo poderia ser feito com qualquer outro dos países que disputam as semifinais da Copa do Mundo, mas calhou de serem os balcânicos a surgirem no meio do caminho de um time nacional que realmente tinha esperança de brigar por medalha.

Dentre os muitos talentos sérvios lançados ano após ano, num ritmo muito mais acelerado que o Brasileiro, embora tenham população 20 vezes menor, o caso de Bogdan Bogdanovic me parece o mais interessante para ser investigado, envolvendo diversas facetas do basquete de lá que talvez ajudem alguma alma iluminada com poder de decisão no basquete brasileiro.

Com 22 anos, o ala-armador, uma das revelações a serem vigiadas no Mundial, aparece como o terceiro cestinha sérvio no torneio, atrás apenas de Miroslav Raduljica, um pivô que também nos conta uma lição, e Milos Teodosic, que andava deveras comportado até arrebentar com a defesa brasileira nesta quarta-feira. Em termos de eficiência, ele aparece em quarto na lista, superado também por Nemanja Bjelica. Todos eles mais velhos, diga-se. Agora, se formos ver o saldo de cestas de seu time nos minutos em que esteve em quadra, ele tem a melhor marca, com +7,9, batendo Teodosic, por exemplo, por 2,3 pontos. Número por número, acho que dá para eleger o rapaz já como um dos protagonistas da equipe.

Bogdan-Bogdan tem 22 anos. Está entre os protagonistas sérvios

Bogdan-Bogdan aqui errou a bandeja, acuado pela cobertura de Nenê: mas o garoto foi bem no geral, com 12 pontos, sendo assistido pelo gerente geral do Phoenix Suns na plateia

Algo que um ou dois anos antes não estava nada previsto. Bogdan-Bogdan é o protagonista de uma das ascensões mais significativas do basquete europeu em tempos recentes. Nesta escalada, boa parte do roteiro era planejada. Mas também não dá para negar que a interferência de umas pitadinhas de sorte.

Em maio de 2010, ele mostrou as caras para um bom contingente de olheiros nternacionais no tradicional Nike International Junior Tournament, em Paris. O sérvio foi inscrito como atleta do FMP, clube que revelou dos anos 90 para cá gente como Teodosic, Zoran Erceg, entre outros, mas, pelo que consta, estava apenas emprestado. A ideia era usar o torneio juvenil como vitrine para seus habilidades, neste tipo de combinação que agentes e equipes de menor orçamento podem realizar. Deu certo.

Segue um relato do DraftExpress, serviço de scouting dos mais prestigiados que você vai encontrar: “Bogdanovic tem um jogo bastante versátil ofensivamente. Ele pode criar seu próprio arremesso, cortando pela direita ou pela esquerda e também faz seus arremessos do perímetro, mesmo que seu lançamento precise ficar mais rápido e consistente. Ele também pode pontuar de costas para a cesta e dá sinais de que um jogo de meia distância está surgindo, especialmente com a cesta da vitória que fez contra o Málaga, garantindo uma vaga nas finais. Ele não estava completamente integrado ao time e, em algumas ocasiões, ele levou essa coisa de vitrine bem literalmente. Estava um pouco faminto cuidando de seu próprio arremesso, forçando algumas bolas bem ruins e arriscando infiltrações difíceis”.

Antes ser alistado pelo FMP, o garoto jogou pelo Zvezdara e pelo Žitko Basket. Ao final de sua participação naquela competição juvenil, conseguiu o que queria: um contrato profissional, e com o Partizan Belgrado, aos 18 anos. Em duas temporadas, foi aproveitado em apenas 23 jogos da liga local. Em 2012-13, porém, já estava mais preparado para entrar de vez na rotação dessa potência sérvia. Estreou na Euroliga e na Liga Adriática, com médias de 5 pontos no torneio continental, mas sentindo o peso da concorrência elevada (acertou, por exemplo, apenas 10 de 33 arremessos que tentou em seis jogos). No campeonato nacional, os números subiram para 9,8 pontos e aproveitamento superior a 42% nos chutes, com 39% de três. Alguns degraus foram escalados, mas ninguém imaginava o que viria a seguir.

Bogdan-Bogdan, líder da horda

Bogdan-Bogdan, líder da horda

Aqui é importante explicar qual a realidade do Partizan hoje. Na Sérvia, os caras ganharam simplesmente os últimos 13 títulos. Sim, 13. No âmbito regional, ainda conquistaram seis das últimas oito Ligas Adriáticas, campeonato que reúne agremiações da antiga Iugoslávia. Nos Bálcãs, eles encaram concorrência chata – só foram campeões nacionais neste ano, por exemplo –, mas está claro que hoje são eles quem mandam por lá. Se for para olhar para o resto do continente, porém, a relativização deixa o clube pequeno. Seu orçamento é bem reduzido comparando com espanhóis, gregos e, especialmente, russos e turcos. Então o que eles fazem? Trabalham basicamente com atletas jovens, um ou outro americano disponível no mercado e veteranos sérvios, mas não os de elite: tanto que, na atual seleção nacional, não estão representados por nenhum atleta.

Para terem sucesso, dependem que esses garotos sejam realmente promissores e precocemente produtivos. O interessante é que, devido ao espaço e a visibilidade que acaba proporcionando, o time tem recebido também jogadores de outros países – na última Euroliga, contaram com três revelações francesas: o pivô Joffrey Lauvergne, outro semifinalista do Mundial e que já foi embora para a Rússia, e os armadores Leo Westermann e Boris Dallo. Todos saem ganhando: o Partizan ganha personagens talentosos para explorar, e os jovens recebem tempo de quadra para se desenvolverem e ganharem exposição.

Nesse contexto, Bogdanovic, em seu quarto ano de casa, foi alçado ao patamar de jogador-chave, sob a orientação do técnico Dusko Vujosevic. Esperavam dele uma produção consistente para conseguir, quiçá, uma campanha respeitável na Euroliga e manter a hegemonia balcânica. O ala-armador, do ponto de vista individual, superou todas as expectativas. Um fator que contribuiu para isso: uma grave lesão de joelho sofrida por Leo Westermann, que aumentou sensivelmente as responsabilidades de seu companheiro. Ele teve de ficar com a bola muito mais tempo em mãos – muito mais do que estava acostumado – e viu seu progresso ser bastante acelerado. Cometeu um caminhão de turnovers (3,4 por jogo), é verdade, mas teve liberdade para errar até se tornar também uma atacante mais confiante e com mais recursos ao final da jornada.

Ao analisá-lo quatro verões depois daquele torneio juvenil em Paris, Jonathan Givony viu um jogador formado. “O Bogdanovic se aproveitou da lesão para assumir  um papel muito mais proeminente no ataque como um condutor de bola primário e também como facilitador. Sua versatilidade é impressionante, liderando a equipe em pontos, assistências, tocos e taxa de uso, enquanto vai acertando 40% da linha de três”, afirma. “Não há dúvida de que, nesse meio tempo, ele emergiu como o prospecto mais intrigante da geração nascida em 1992 na Europa.”

Bogdanovic teve médias na Euroliga de 14,8 pontos, 3,7 assistências e 3,7 rebotes, além de 1,6 roubo de bola, em 31 minutos. Carregava uma carga pesada e conseguiu triplicar seus números em um ano, ajudando o Partizan a se classificar para a segunda fase do campeonato, o Top 16. Em sua melhor atuação, marcou 27 pontos em casa contra o CSKA, liderando uma rara vitória sobre um dos favoritos ao título, matando 10 de 16 arremessos. Fez também 24 pontos e 5 assistências contra o Bayern de Munique e o Zalgiris Kaunas e 25 pontos e 5 rebotes contra o Barcelona. No final, foi eleito a “estrela ascendente” do campeonato, entrando numa lista em que constam Ricky Rubio, Nikola Mirotic, Erazem Lorbek, Andrea Bargnani, Danilo Gallinari e Rudy Fernández.

Seu basquete, então, em uma temporada saiu de coadjuvante para algo muito acima do que o clube de Belgrado poderia pagar. Antes de ser selecionado pelo Phoenix Suns no Draft da NBA em 27º, foi transferido para o Fenerbahçe, no qual vai substituir seu xará Bojan Bogdanovic e será treinado pelo legendário Zeljko Obradovic (só precisa ver se Obrado estará com saco para aguentar mais um ano num elenco cheio de estrelas, mas que fracassou de modo retumbante no ano passado, causando ataques histéricos no técnico). Antes de sair do Partizan, deixou sua marca nas finais do campeonato sérvio: com 30,8 pontos, 4,8 rebotes e 4,2 assistências, liderou mais uma vitória contra o arquirrival Estrela Vermelha para conquistar seu quarto título nacional, também o 12º seguido do clube. Passou a ser idolatrado pelos torcedores, a ponto de sua conta no Twitter ser: Líder da Horda. Então tá, né?

Pela seleção foi convocado pela primeira vez já para o EuroBasket do ano passado, com 21 anos. Teve médias de 9,4 pontos e 4,3 rebotes em 26 minutos, com 43,4% nos arremessos. Foi elogiado por Sasha Djordjevic, como uma das maiores promessas do basquete europeu. Na Copa do Mundo, depois de tudo, joga por 27,3 minutos, abaixo apenas de Bjelica, e soma 11,4 pontos, 2,7 rebotes e 2,6 assistências, com 49,2%, mantendo média próxima a 40% nos tiros de três em ambas as campanhas. Contra o Brasil, foram 12 pontos, 6 rebotes, 2 assistências, 2 tocos e 5/9 nos arremessos, em 26 minutos.

O gerente geral do Suns, Ryan McDonough, estava no ginásio em Madri e adorou o que viu. “Ele foi muito eficiente e conseguiu os arremessos que gosta de fazer, nos seus lugares preferidos. As cestas vieram com os pés plantados, a partir do drible e em infiltrações. Estou impressionado com sua capacidade para criar jogadas. Ele pode fazer um monte de jogadas que a maioria não consegue”, analisou em entrevista ao jornal AZ Central. “E o Bogdan tem essa atitude, e digo isso para o bem. Ele é competitivo, muito valente, confiante. Não vai recuar diante de ninguém.”

Importante dizer que, se no Partizan era o dono da bola, pela Sérvia ele só vai recuar em relação aos seus companheiros mais tarimbados. Na equipe semifinalista, a prioridade ainda fica para Teodosic e o jogo interno com Raduljica e Nenad Krstic. Aos 22 anos, há tempo pra tudo. Bogdanovic tem a idade de revelações brasileiras como Raulzinho, Lucas Bebê e Cristiano Felício. Porém, sem discutir a questão de quem seria mais talentoso que o outro, é fácil constatar que está num estágio de desenvolvimento muito mais avançado, já voando alto na carreira. É preciso apenas entender em que condições ele cresceu, qual foi o cenário para que ele pudesse chegar lá antes da maioria.


As semifinais da Copa do Mundo em números
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Giancarlo Giampietro

Gente, vocês querem números? Faltam apenas quatro jogos para o sonho de uma Copa do Mundo de basquete de verão terminar. Com quatro times em disputa, sendo que um vai sair de mãos abanando, assim como aconteceu com Brasil e Espanha. Mas, isso, claro, vocês já sabiam. Vamos com outros dados, então:

No poderoso ataque americano, tem até para DeRozan. Dale, cravada

No poderoso ataque americano, tem até para DeRozan. Dale, cravada

102,3 – Os EUA têm o melhor ataque da Copa, e o restante não chega nem perto. Com 102,3 pontos por jogo, abriram quase 20 de vantagem para a Espanha, que agonizou diante da defesa sufocante dos franceses nesta quarta. Entre os que ainda estão no páreo, a Sérvia aparece em segundo, com 80,1, ajudada pela sacolada que deram no Brasil. A Lituânia anotou 76 pontos em média, enquanto a França tem 72,9 (apenas a 14ª no geral).

68,8% – Sérvia e França estão empatados com este fraco aproveitamento em seus lances livres, valendo as 17ª e 18ª posições no ranking geral. Os EUA, com 71,3%, aparecem em 13º. A Lituânia tem 75,2%, em quarto. Por curiosidade, as Filipinas lideraram o quesito, com 79,6%.

44 – Este a gente colocou no primeiro dessa texto dessa série estatística, mas, depois da tragédia espanhola, vale o reforço: foi em 1970, há 44 anos, a última vez em que o país anfitrião viu sua seleção comemorar o título: a Iugoslávia. O que, nos tempos de hoje, nem vale: eram vários países em um, sendo que três deles disputaram a atual edição: Croácia, Eslovênia e Sérvia.

A vitalidade de Jonas Valanciunas, estrela lituana de apenas 22 anos e o quinto reboteiro do Mundial, com 8,6

A vitalidade de Jonas Valanciunas, estrela lituana de apenas 22 anos e o quinto reboteiro do Mundial, com 8,6

28 – É a média de idade da Lituânia, o time mais velho entre os semifinalistas. O restante? França e Sérvia empatam com 26 anos, enquanto os Estados Unidos têm 24. Este talvez seja o dado mais relevante para colocar em perspectiva a campanha brasileira, com uma seleção de 31 anos. Todas essas quatro potências já têm uma base armada para o próximo ciclo olímpico.

23,8 – Surpreendentemente, o ala Klay Thompson é o jogador americano que mais tempo fica em quadra no Mundial, com 23,4 minutos, contra os 23 cravados de Kyrie Irving. No total, isso representa apenas três minutos a mais (164 a 161). O pivô Andre Drummond, convocado basicamente como apólice de seguro num eventual embate com a Espanha que agora jamais vai acontecer, somou 38 minutos, quase uma partida de Fiba inteira (6,3 por partida).

22,1 – O quanto a França arremessa de três pontos por jogo, o maior número entre os quatro semifinalistas, mesmo que eles tenham, de longe, o pior aproveitamento (ridículos 31,6%). EUA, Lituânia e Sérvia estão todos na casa de 19 chutes de longa distância por rodada, com os lituanos, claro, tendo a melhor pontaria: 40%. Culpa do pivô Darjus Lavrinovic, que tem acertado surreais 62,5% de seus arremessos, e do armador Adas Juskevicius (57,1%). O Brasil se despediu do torneio com 16,9 tentativas e 37,3% de acerto.

20 – Erros para a Espanha em arremessos de três pontos em sua derrota para a França, tendo tentado 22 disparos. Ok, é um número que pertence muito mais fase anterior, mas, nestes tempos de redes sociais em ebulição por conta desse processo chamado “Festa da Democracia”, todo mundo parece acreditar que jornalismo é manipulação, né? Então tomem aqui a prova mais clara. (Na verdade, o número é fundamental para explicar a classificação francesa, com uma linha defensiva assustadora, que arrepiou os espanhóis: um time desse nível acertar apenas 9,1% de seus chutes de fora? #sacrebleu).

13,9 – Dos 48 jogadores que ainda podem jogar o Mundial nesta reta final, Miroslav Raduljica, quem diria, é o cestinha, com 13,9 pontos. Logo em sua cola vem o Anthony Davis, mas pode chamar de Monocelha, com 13,7. Passaram quatro equipes que não dependem tanto assim de um jogador para carregar o ataque. Verdade seja dita: era o mesmo caso do Brasil. Entre os 20 principais pontuadores, em média, do torneio, apenas Kenneth Faried, com 13,0, se junta ao sérvio e a seu compatriota nessa. Desta forma, José Juan Barea ao menos pode acrescentar esta linha em seu currículo: “*Cestinha da Copa do Mundo de basquete 2014, com 22,0 pontos – só não perguntem, por favor, qual foi a campanha do meu time”.

Batum está com cara de que queria fazer pelo menos uns 15 pontinhos por jogo, vai...

Batum está com cara de que queria fazer pelo menos uns 15 pontinhos por jogo, vai…

9,9 – Por falar em cestinhas, esta é a média de pontos de Nicolas Batum no torneio. O ala do Blazers, acreditem, lidera a seleção francesa nesse quesito. Joffrey Lauvergne tem 9,4, Thomas Heurte, 8,4, Boris Diaw, 7,9, e por aí vamos… Incrível.

4 – A França falhou em marcar que 70 pontos em quatro de seus sete jogos na competição. Se formos descartar os dados computados contra Egito e Irã, restaria apenas uma partida, então, em que cruzaram essa… Nada fantástica marca. E foi contra quem? Justamente a Sérvia, seu adversário das semis, vencendo por 74 a 73. Mas, ‘bora lá repetir todo mundo: “Cada jooooogo é uma históooooria”.

1 – Apenas um time não tem sequer um atleta com contrato de NBA em seu elenco: a Sérvia. Raduljica jogou o campeonato passado pelo Bucks, foi trocado para o Clippers e acabou dispensado, como já foi amplamente divulgado, embora a turma em geral insista em ignorar isso. O ala Bogdan Bogdanovic foi draftado pelo Phoenis Suns neste ano, em 27º, mas vai seguir sua carreira na Europa, pelo Fenerbahçe, talvez por mais dois anos, antes de pensar numa transferência. No clube turco, terá a companhia de Nemanja Bjelica, jogador já selecionado pelo Minnesota Timberwolves. Quem sabe Flip Saunders não decide dar uma chance para o ultratalentoso ala-pivô num futuro próximo? Sem Kevin Love, há vagas. E aqui vale um destaque importante: é muito tentador escrever que a Sérvia não tem sequer um jogador de NBA. Porque, a julgar pela cobertura geral do Mundial, só importa quem joga nela, né? Só o selo de aprovação da liga atestaria a qualidade de um atleta. Aí vem a Sérvia, e… Pumba.

0 – Nenhum jogador naturalizado vai disputar as semifinais. Quem chega mais perto disso é o Kyrie Irving, que nasceu na Austrália, mas se mudou com o pai, mais um desses ciganos e jogadores americanos, aos dois anos de idade. Sábia decisão a dele, já que os Boomers têm dono: Patty Mills, e ninguém tasca. Sem contar que, em 2020, será a vez de Dante Exum. Ah, a França tem suas importações também, mas em outras circunstâncias. Tanto Florent Pietrus como Mickael Gelabale procedem de Guadalupe, que fica no Caribe, mas ainda é território francês. O ala reserva Charles Kahudi é de Kinshasa, no Congo, mas fez toda a sua carreira no país latino, algo mais que recorrente.


A Espanha chora mais uma vez
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Giancarlo Giampietro

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Geração dourada realmente reunida. Torneio em casa, hora de celebrar com a torcida, e os grandes astros dos Estados Unidos nem estavam por perto, mesmo. A Espanha com a confiança lá em cima. E vem uma derrota chocante.

Aconteceu sete anos atrás, no EuroBasket 2007, voltou a ocorrer neste ano na Copa do Mundo, num filme que os irmãos Gasol e toda a família real espanhola do basquete não esperavam rever tão cedo. Sete anos atrás, eles foram desbancados pela Rússia de Andrei Kirilenko, Viktor Khryapa – e dos importados JR Holden e David Blatt, claro. Agora foi a vez de perderem para a França por 65 a 52, fazendo, sem brincadeira, Madri chorar. Vocês sabem que cronistas esportivos adoram carregar na tinta, ser piegas, e tal. Neste caso, o dramalhão especial foi real. Quem não estava atônito no ginásio estava ocupado com prantos, mesmo.

Difícil dizer qual revés é o pior, mais dolorido: perder a decisão como anfitrião, ou cair tão cedo no torneio? Desconfio que a segunda, até pela sensação para eles de que é o final de uma era e de que os campeões deles não mereciam um desfecho desse jeito – depois de um título mundial em 2006, duas pratas olímpicas e dois troféus continentais em 2009 e 2011. Para os jogadores, no calor da quadra, outro fator não pode ser subestimado: a crescente rivalidade com os franceses. Se você acha que o basqueteiro brasileiro se deprimiu nesta semana, espie só como andam os espanhóis nas redes sociais – horas depois do revés, os tópicos mais comentados eram dominados pelo tema. Sinta o peso:

A orelha do técnico Juan Orenga está ardendo, com a mídia de lá pegando muito mais pesado do que o pessoal por aqui. Pudera: o cara não tem apenas um, mas dois Gasols no garrafão. São quatro armadores de primeiro escalão no elenco. Jogando em casa. Não havia outro resultado aceitável que não o ouro ou, pelo menos, uma derrota dramática para os Estados Unidos.

Porque, dãr, se no EuroBasket os americanos não jogam, no Mundial o Team USA não falta. Acontece que, apara eles, a aura do seu rival, que lhe bateu em Pequim e Londres, estava exaurida, depois de ausências se acumularem: LeBron, Durant, Carmelo, Paul, Westbrook, Love, Griffin, Aldridge e, caceta, até George. Então aí está: o sentimento entre os espanhóis foi que, a partir do momento que Durant anunciou que não iria mais defender sua seleção, o favoritismo havia mudado de lado. Que eles seriam, mesmo, os grandes candidatos ao título. Sentimento reforçado pelos acontecimentos da fase de grupos.

Eles só esqueceram de combinar tudo isso com a França, time que já haviam surrado na primeira fase e que estava também com uma longa lista de ausências. Eles contam cinco baixas, dois titulares absolutos entre eles: Tony Parker e Joakim Noah + Nando De Colo, Alex Ajinça e Ian Mahinmi. Se fossem mais honestos, contariam apenas quatro, já que o Mahinmi não deveria contar. ; )

Se cada jogo é uma história, como brasileiros e sérvios provaram mais cedo, não havia motivo para os Bleus entrarem em quadra em Madri sem acreditar em melhor sorte. Daí que, após a chocante vitória, Boris Diaw disse tudo: “Nós tínhamos a motivação para vencer, e eles tinham a motivação para não perder”. O Diaw é uma figuraça. Fácil falar desse jeito quando seu time saiu vencedor, né? Mas, segundo o que consta, o ala-pivô francês está cheio dessas sacadas, inteligente pacas.

O líder e poeta Boris Babacar Diaw-Riffiod

O líder e poeta Boris Babacar Diaw-Riffiod

Em termos de motivação, os franceses mostraram que estavam imbatíveis, mesmo. Abraçaram o plano tático desenhado por Vincent Collet – que, se antes do Mundial não estava na sua lista de melhores técnicos do mundo, agora não pode faltar –, competiram para valer, ignoraram as circunstâncias desfavoráveis (não se importaram com uma arbitragem evidentemente tendenciosa/caseira, por exemplo), relevaram quaisquer desfalques e fizeram uma partidaça.

Vai ser difícil encontrar uma exibição tão boa na defesa como a que esses caras fizeram no fechamento das quartas de final. Os Bleus simplesmente seguraram a Espanha em 52 pontos. Isso dá 13 pontos por período, por 10 minutos. Isto é, 1,3 ponto por minuto, para um time que conta com Pau Gasol, Juan Carlos Navarro, Rudy Fernández, Sérgio Rodríguez, José Calderón e tantos outros luminares ofensivamente. Absurdo, sufocante.

O que pega é o seguinte: tirando Rudy Gobert (que pede um texto próprio, antes da semifinal contra a Sérvia, prometo), a França pode nem ter muita estatura. Mas eles têm envergadura, que é a medida que mais importa, na verdade. Diaw, Batum, Gelabale, Gobert, Forent Pietrus, Lauvergne: eles são muito compridos. É braço para todo lado, fechando linhas de passe, desencorajando as assistências, apressando e amedrontando arremessos. Eles não forçam turnovers, não defendem de modo adiantado, mas atrapalham muito a conclusão dos lances. Não subestime isso de modo algum. Afeta até mesmo um adversário qualificado como a Espanha, a ex-favorita ao ouro.

La Bomba estourou contra a Espanha

La Bomba estourou contra a Espanha

Os donos do ginásio acertaram apenas 32,3% de seus arremessos de quadra. Isso é praticamente inclassificável, considerando as circunstâncias. Pau Gasol marcou 17 pontos em 31 minutos, porque é Pau Gasol. O restante do seu time? Apenas 35 pontos! Sim, 12 atletas totalizaram 35 pontos, menos de 3 pontos por cabeça. Marc Gasol e Serge Ibaka, dupla que, na NBA, ganha mais de US$ 25 milhões por temporada, acertaram apenas dois de 14 arremessos.

Atingindo esses números na defesa, nem tem problema atacar de maneira horrorosa. Não é que a França tenha feito uma exibição de gala. Seu ataque só aproveitou 39,3% dos arremessos. Mas estava tudo dentro do plano. Digo: obviamente prefeririam acertar mais (risos). Mas a ordem óbvia era girar a bola, trocar passes, gastar o cronômetro o máximo possível. Um ataque controlado, de abordagem para lá de sistemática e para lá de curiosa – e que merece mais atenção.

Se você for pegar o nível de capacidade atlética que os franceses apresentam em seu elenco, de primeira sai a ideia de que poderiam formar um dos times para correr mais no torneio. Mas não tem nada disso. Eles gostam de um bom e velho ugly basketball. Em francês, deve dar algo como basket-ball de la m…e. É um jogo muito feio, arrastado, que vai te exigir o máximo de paciência, que vai te extrair a alegria. Mas foi mais ou menos deste modo como eles se tornaram campeões europeus no ano passado, tendo batido os espanhóis na semifinal, inclusive. Sem Tony Parker, decidiram levar essa proposta ao extremo. E, pelo menos por uma notite em Madri, deu mais que certo.

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A pergunta engraçadona que todo mundo fez ao final do jogo: “Quem precisa de Tony Parker quando se tem um Thomas Heurtel?”

Muito original, né? Mas pode me incluir nessa: foi realmente a primeira coisa que bateu na telha quando o armador do Baskonia resolveu roubar toda a cena nos tensos minutos finais do confronto, quando os espanhóis ainda alimentavam o sonho de uma virada. O jogador de 25 anos anotou 9 de seus 13 pontos nos quatro últimos minutos, quando voltou para a quadra para no lugar de Antoine Diot.

Heurtel, no caminho certo

Heurtel, no caminho certo

Quem deve ter comemorado: o italiano Marco Crespi e a diretoria do Baskonia, que vão receber para as próximas Euroliga e Liga ACB um jogador muito mais confiante. Huertel é muito talentoso com a bola. Foi um dos eleitos pelo time basco para substituir Marcelinho Huertas, desde que o brasileiro foi levado pelo Barcelona. Para um armador, porém, nunca foi muito afirmativo em quadra. Após um jogo desses, justamente no país aonde joga durante a temporada, improvável passar incólume.

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Como o veterano e espirituoso Marc Stein, jornalista do ESPN.com, disse: “Vai ser difícil encontrar um jogador de basquete que tenha vivido um ano mais feliz do que Boris Babacar Diaw-Riffiod”. Com esse nome já não tem quem fique triste. Mas, se for para ganhar o EuroBasket, seu primeiro título da NBA, voltar a bater a França e, no meio da jornada, assegurar mais US$ 15,5 milhões em contrato e um vale Royale with Cheese do McDonald’s mais próximo, melhor ainda.

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A semifinal de sexta-feira tem, então, França x Sérvia. Respectivamente os segundo e terceiro e colocados do Grupo A, duas equipes vencidas pelo Brasil na primeira fase. Sorteio camarada o da Fiba… Quem vencer, para quem chegou agora, pega o time que sair de EUA x Eslovênia.

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Não é a primeira vez que falamos de carma nesta Copa do Mundo, mas, enquanto as seleções não pararem de manipular a tabela, vamos insistir: essa é a segunda derrota em dois jogos da Espanha contra a França desde que se enfrentaram nas Olimpíadas de 2012. Naquela ocasião, vocês vão se lembrar, houve uma grande suspeita de que teriam entregado um jogo para o Brasil na fase de grupos de modo que pudessem controlar a posição em que ficariam na tabela. A ideia era cair do outro lado da chave dos Estados Unidos. No meio do caminho, escolheram, então, encontrar os franceses. Que ficaram pês da vida com a história. Teve soco de Nicolas Batum em Rudy Fernández e muito mais em quadra. Agora estamos aqui, comentando esse desfecho inesperado e um tanto trágico.