A crise e o basquete brasileiro: quem está se mexendo?
Giancarlo Giampietro
Dois blogs vizinhos aqui na rede do UOL Esporte nos trouxeram na semana passada informações que se completam perfeitamente e nos dão um bom retrato sobre o basquete brasileiro, a menos de cinco meses da disputa das Olimpíadas. No dia 8, Fábio Balassiano publicou entrevista com o presidente da CBB, Carlos Nunes. Dois dias depois, Daniel Brito deu a notícia de que a Caixa Econômica Federal vai investir R$ 32 milhões, divididos em cinco anos, nas ligas masculina (LNB) e feminina (LBF).
Quando Brito divulgou o acerto do banco com as entidades que reúnem os clubes, uma declaração de Nunes ganhou outro contexto, sobre a dificuldade de se captar patrocínios: ''Tentamos, tentamos sempre. E a gente não consegue. As empresas alegam que não têm dinheiro e que a exposição da seleção brasileira é muito pequena, pois a seleção se junta em julho e deixa de estar atuando em setembro. Isso, para os patrocinadores, é muito pouco. Mas não desistimos, não''.
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Certo. O mercado está retraído, mesmo. Mas há quem possa atrair investimento – também no dia 10, a LNB ainda anunciou acordo com a Avianca, que vai cuidar do transporte dos atletas em troca de exposição, e também atraiu a parceria da NBA. Outros já têm mais dificuldade, se não for em convênios generosos e de justificativas nebulosas com o Ministério do Esporte.
Antes de prosseguir, alguns pontos:
1) sim, não haveria espaço para a Caixa fechar um contrato com a CBB, que já tem o Bradesco ao seu lado.
2) sim, a Caixa é mais uma estatal que ergue a mão para dar uma força ao esporte nacional. Qual a diferença disso para um repasse do ministério? Bem, há diversos tópicos para separar ambos, sendo o principal deles o fato de a Caixa ser uma empresa. Estatal, mas uma empresa, que espera ter retorno financeiro em sua empreitada. O ministério ajudou e só espera, quiçá, ver uma medalha como resposta. Sabemos, na verdade, que este foi o modo que a pasta encontrou para ajudar a CBB em meio a um naufrágio. É como se fosse um colete salva-vidas. Afinal, como Nunes mesmo constata: dentre tantas confederações olímpicas, só uma não foi acolhida por uma estatal. ''Nós, da CBB'', diz. Obviamente que o rolo com a Eletrobrás e a matéria de Lucio de Castro sobre o uso descontrolado de cartão corporativo, entre outras, ajuda a emperrar as coisas e afugentar investidores (aqui, a nota de resposta da confederação). Sobre a disputa com a empresa, Nunes espera que será esclarecido na Justiça e poderia render mais R$ 21 milhões devidos. Ajudaria a quitar as dívidas de sua indigestão. Mas não é dinheiro garantido.
3) sim, LNB/LBF e CBB são entidades diferentes para se investir, claro. As ligas têm seus campeonatos cobrindo quase toda a temporada, enquanto a CBB é, acima de tudo, hoje em dia, uma instituição voltada à política e que sobrevive, do jeito que está, por causa de seus intrincados trâmites. Nunes reclama também que a seleção brasileira tem ''pouca exposição''. Historicamente, a equipe nacional sempre atraiu mais patrocinadores, a ponto de, por aqui, ter se desenvolvido a tese de que só com medalhas internacionais, a modalidade seguiria em frente – conquistas despertariam interesse e aí, sim, direcionaria a grana para o mercado local. Será? Não creio que o ouro do Pan de Toronto tenha motivado três acordos comerciais expressivos para a LNB. Mais: ''exposição'' não é algo que dependa exclusivamente do calendário de competições. E, mesmo quando reúne seu time, a confederação fracassa em promovê-la, com jogadores de NBA ou não, com um marketing praticamente inoperante, como o próprio presidente admite.
Tá. E o que mais?
Se há crise econômica no país, porém, ela atinge tudo e todos, e não somente o basquete, ou uma ou outra instituição basqueteira. Não adianta se colocar na vítima, que é o que Nunes mais faz em sua entrevista, cheia de evasivas. É um festival do ''não sei''. Não sabe explicar a situação financeira e nem dizer qual o tamanho da dívida da CBB. Não quer falar sobre as denúncias de mau uso de dinheiro de patrocínio. Confunde-se ao falar sobre a ação movida pela Eletrobras. Não sabe dizer exatamente como está a preparação das equipes – no técnico ele ''não mexe''. Peraí: mexe, então, exatamente no quê? OK, a entrevista não era algo que ele tinha planos. Para alguém que está há tanto tempo no cargo, todavia, esperava-se mais preparo.
É com um líder desses que as seleções masculina e feminina vão chegar ao Rio 2016. Nesse cenário, não me parece justo o presidente cogitar a hipótese de medalha entre os rapazes. Está certo que os problemas da confederação não atingem diretamente esse grupo. O ministério deu conta de suas despesas nos últimos anos, sem muito critério para assinar o cheque. Então Rubén Magnano pode trabalhar com vasta comissão técnica, incluindo excelentes preparadores físicos (é só dar uma espiada no trabalho de Paulistano e Flamengo nos últimos NBBs) e profissionais. Vão poder jogar amistosos e tal. E a base da equipe será formada por atletas que construíram carreira basicamente fora do país – não que não pudessem crescer por aqui, mas só é preciso registrar o fato.
O problema é o futuro e qual o papel da CBB nele. Quando questionado sobre o que vem por aí, com a aposentadoria inevitável de toda uma geração, Nunes também não foi capaz de se aprofundar. ''Acho que trabalhando não vamos sentir tanto. Olha aí o Raulzinho indo muito bem. Há o Caboclo, o Lucas Bebê, o Hettsheimeir que é jovem. Temos munição guardada ainda. O que acho que irá pesar mesmo, para lhe ser sincero, é se teremos grana para fazer o trabalho na base. Isso aí é que estamos muito esperançosos, pois o Governo Federal está muito interessado nisso. Agora mesmo nos liberou o convênio da feminina. Já saiu o da masculina'', afirma.
Obs1: Hettsheimeir tem 29 anos, é só um ano e meio mais jovem que Splitter. Obs2: vamos ver sempre dirigentes nacionais citando os mesmos nomes de sempre (Caboclo, Bebê…), mesmo que estes jogadores ainda busquem estejam sob teste, tentando se afirmar, e que a CBB não tenha absolutamente nada com o desenvolvimento da maioria deles. Obs3: de novo, o Governo… Sendo que é a mesma administração que passa por um período de turbulência severa, e não sabemos se continuará de pé até o final do ano. Não é a melhor fonte, no momento, para falar sobre projetos, hã, futuros. Obs4: a eleição da CBB está marcada para 2017, e não há nenhum candidato declarado que prometa grandes mudanças.
As Olimpíadas já chegaram, e vai ser pauleira. Tudo bem. O problema é pensar lá na frente, com as ligas nacionais carregando maiores responsabilidades, sem um respaldo confiável por parte de quem supostamente deveria zelar pela modalidade.