Vinte Um

Brasil vence. Foram nove minutos de ótimo basquete, antes da complacência

Giancarlo Giampietro

Foram 17 pontos para Marquinhos. Mas o time dessa vez procurou diversificar seu ataque por um tempo

Foram 17 pontos para Marquinhos. Mas o time dessa vez procurou diversificar seu ataque por um tempo

Voltando do trabalho (o outro), cheguei atrasado para o jogo, admito. No caminho, apressado depois de tantas baldeações no lamentável metrô paulistano, restava recorrer ao Twitter e às estatísticas oficiais, já que o sinal de celular não permitia o acesso regular à Fiba TV. Por um bom tempo, achei que, para ajudar, o ''tempo real'' estava com pau. Afinal, passavam-se as estações, e o Brasil não saía do cinco. Atualizei por conta o link, e nada. Até me dar conta de que estava tudo correndo normalmente. Era só a dificuldade (de sempre?) para se fazer cestas, mesmo. Entre uma bola de três de Marquinhos e um lance livre de Rafael Luz, correram mais de quatro minutos de partida sem nenhum pontinho. Dali até o final sairiam mais dez, diga-se.

Ao menos isso: consegui escapar do período de draga total desta terça-feira, em vitória por 71 a 65. Quando o sofá já se mostrava acolhedor o bastante, a seleção brasileira estava mais solta em quadra, se aproveitando da pouca resistência que a República Dominicana oferecia para construir vantagem no placar. Quando restavam 4min20s para o fim do primeiro tempo, vencia por 31 a 26. A 5min37s do final do terceiro quarto, a parcial já apontava 54-34. Ou seja, em nove minutos, abriu-se 15 pontos.

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E aí há os dois lados, como sempre: os dominicanos parecem desmembrados neste torneio, para alívio geral de argentinos, mexicanos, porto-riquenhos e, opa!, dos canadenses. Tiveram uma postura muito mais frouxa que a dos uruguaios na véspera. Certo. Os brasileiros, de qualquer maneira, souberam se aproveitar desses lapsos de um modo apropriado. Foi uma bela sequência, mesmo. O ataque voltou a ficar, digamos, elástico, no ritmo do Pan, com todos participando. A bola rodou muito mais, indo para o garrafão, voltando para o perímetro, cruzando de um lado para o outro. Fugiram daquele sistema básico de toca-para-o-Marquinhos-que-tudo-bem – o ala flamenguista foi o cestinha novamente, com 17 pontos. Ricardo Fischer marcou todos os seus 10 pontos, João Paulista fez a festa no garrafão (10 pontos e 9 rebotes em 24 minutos), Augusto cravou e até o jovem Leo Meindl, que andava bem travado, esteve agressivo e relativamente produtivo (5 pontos, 3 rebotes, 3 assistências em 18 minutos).

(Parêntese para a revelação francana: o ala apareceu bem, em cortes pelo lado contrário que ele faz tão bem e que deveria usar muito mais, diversificando seu arsenal. E se faz imperativo também que o reforço bauruense trabalhe sua c ondição atlética. Nem todo mundo precisa ser Kobe Bryant nessa vida, mas Leo pode muito bem perder alguns quilos e ganhar em arranque e agilidade, sem perder a força que lhe ajuda em suas ainda raras incursões no garrafão. Ele tem muito talento para ser explorado, e o tempo ainda está o seu favor. Duro é se acomodar em quadras nacionais. Não pode.)

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O jogo meio que se decidiu, então, de modo precoce, e aí voltou a complacência. É meio injusto destacar isso, pois o placar não estava saindo do zero, mas vamos lá: os caribenhos venceram os últimos 15 minutos de jogo por 14 pontos, com direito a um 20-13 no quarto final. Período em que, durante um pedido de tempo, Magnano perguntou aos atletas: ''Por que vocês não estão respeitando o que estou falando?'', com ar de perplexidade, depois de tantos arremessos de três pontos forçados. É, pois é. Nada como o áudio liberado no banco de reservas, um reflexo de uma condução mais light do argentino nesta temporada ajuda.

Todo treinador é responsável por sua equipe. Desde a convocação à condução dos treinos, à preparação para os jogos e ao comando na partida. Por mais supercontrolador que seja, porém, todo profissional nesse cargo tem um limite de ação — e, cá entre nós entre marmanjos não me agrada muito o estilo autoritário. Chega uma hora que o desenvolvimento da equipe vai depender da execução dos atletas. Por que os jogadores não estavam cumprindo o recomendado, então, se torna uma boa pergunta. Voltamos aqui ao relaxamento, a um descompromisso com a competição? Os maus hábitos liberados (por quem?) devido ao placar largo? Vai saber.

Por isso, nessa acompanho o Wlamir: não dá para comemorar tanto o resultado, porque não é que o Brasil tenha jogado muito bem, ou melhor: consistentemente bem. E foi contra um adversário que parece destinado à eliminação bem antes da disputa das medalhas. Nesta quarta-feira, é a vez de enfrentar o México, com jogadores  melhores, ginásio bombando e a perspectiva de um embate bem mais complicado.