Até agosto, o planejamento das seleções brasileiras está em suspenso
Giancarlo Giampietro
O companheiro Fábio Aleixo noticia aqui no UOL Esporte: ''Fiba adia decisão e Brasil terá de esperar até agosto por vaga olímpica''. Traduzindo: todo o planejamento da CBB para este ano está sequestrado pela federação internacional, e com possíveis repercussões para a conclusão do ciclo olímpico em 2016. Que a Fiba não consiga realizar uma reunião sequer de conselho para definir algo tão simples (e importante) – se o país anfitrião dos Jogos do Rio 2016 terá uma vaga automática – não é culpa dos cartolas brasileiros. Mas não dá para ignorar que a inépcia dos mesmos os empurrou nessa direção.
Foi um efeito dominó, gente, que deixou a seleção brasileira nessa situação ingrata e vexatória. Começou com a campanha horrível no Torneio das Américas de 2013 e a exclusão, por critérios esportivos, da Copa do Mundo. Para não quebrar uma sequência histórica de participações no Mundial, a confederação nacional se comprometeu a pagar um milhão de euros por um (?) convite. Atolada em dívidas, a entidade não conseguiu honrar com seus compromissos no tempo devido e ficou na mão dos dirigentes de lá. Agora toca esperar.
Inicialmente, a Fiba afirmou que tomaria uma decisão a respeito em março. Depois, a reunião foi marcada para o dia 18. Mas já pode mudar isso, pois agora ficou para os dias 7, 8 e 9 de agosto. Só para deixar as coisas mais complicadas, o encontro será realizado no Japão. Quer dizer: vai ter gente madrugando para saber o que será que será.
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As consequências? Que Rúben Magnano muito provavelmente não vai poder dirigir a seleção masculina no Pan Americano, competição bastante valorizada pelo Comitê Olímpico Brasileiro, aquele que banca os vencimentos do treinador. Não que José Neto não possa fazer um bom trabalho, vindo de um tricampeonato do NBB. Mas a expectativa, de bastidores, era outra. O torneio do Pan termina no dia 25 de julho – antes da reunião em Tóquio. A Copa América começa no dia 31 de agosto. O argentino teria tempo de dirigir o time em Toronto e, na piora das hipóteses, retornaria ainda com mais de um mês de preparação para uma eventual disputa pela vaga olímpica. Mas já disse que, na incerteza, não assumiria nenhum tipo de risco nesse sentido.
A ideia de Magnano era usar a competição continental para investir em mais jogadores jovens, o que seria positivo em duas frentes: 1) dar uma chance a jogadores mais jovens de disputar uma competição relevante e competitiva, podendo avaliar peças para completar o time do Rio 2016 e 2) dar um descanso aos seus veteranos – a geração 'Nenê' está vencendo na NBA, mas já passou da casa dos 30 anos.
Requerer os serviços desses caras os deixaria numa situação muito difícil, com o evento terminando no meio de setembro, a menos de um mês da apresentação para o training camp. E cuidado com a sobrecarga – estendendo a temporada por mais um mês, quando o melhor era poupar esforços. Isso, claro, se o Brasil conseguir a vaga, uma vez que só os dois finalistas conseguirão se classificar. Os Estados Unidos, campeões mundiais, estão dispensados da disputa, a Argentina talvez tenha baixas de sua geração dourada, mas basta ter Scola para dar trabalho, enquanto o Canadá vai forte, os mexicanos, anfitriões, estão empolgados, e tudo o mais.
Antes de preocupante, no entanto, essa é uma situação constrangedora, que poderia ter sido evitada com um trabalho melhor de Magnano em 2013, a humildade de aceitar uma campanha fracassada ou uma decisão mais precavida na hora de gastar uma dinheirama que você não tem.
A CBB escolheu a pior hora para ficar em dívida com a Fiba. A federação internacional vive um de seus períodos mais agitados nos bastidores, com a ideia de expansão de sua marca (e do basquete, quiçá). A troca do nome de Campeonato Mundial para Copa do Mundo, o deslocamento da competição para um ano ímpar, fugindo de eventual conflito com a Copa do futebol, a trabalhosa proposta de alteração no calendário de seleções, com inclusão de eliminatórias… Tudo com alcance global, em larga escala. Mas as mexidas não param por aí. A entidade também vem fazendo um movimento agressivo apara reassumir o controle da Euroliga, sob o comando de um agora incisivo secretário geral Patrick Baumann.
Em entrevista ao Mundo Deportivo, Baumann foi questionado sobre o impasse no aproveitamento de jogadores da NBA neste novo modelo de calendário. Em sua resposta, afirmou que a NBA aceitou o fato de que os Estados Unidos precisará eventualmente lutar por sua classificação para os torneios internacionais, independentemente de títulos olímpicos ou mundiais. ''A classificação automática já não existirá a partir de 2017'', diz. E se eles decidirem antecipar, tipo, para agora?
Agora o basquete brasileiro se vê envolvido de modo precoce no meio desse turbilhão, sem poder se planejar direito, deixando todo mundo em suspenso: jogadores, jornalistas, técnicos e, infelizmente, o cheque.