Após suversão no início, NBB abre quartas com favoritos claros
Giancarlo Giampietro
As quartas de final do NBB começam hoje. Nas oitavas, para quem perdeu, tivemos pura subversão. Dos quatro times mais bem classificados para essa fase, apenas o Franca passou, e no quinto e último jogo contra o Palmeiras. De resto, a turma de baixo aprontou. Agora, esses azarões partem em direção aos grandes favoritos ao título, de fato. Times que sobraram na fase de classificação, mas que, claro, precisam tomar cuidado com adversários que chegam confiantes. Seria um segundo campeonato? Ou a consistência deles durante o ano pesa mais? Ainda pendo para a segunda alternativa, mas precisa jogar e confirmar em quadra.
Entre os times do topo está, claro, o Bauru, um degrau (ou mais) acima, tendo ainda alguns dias preciosos para descansar um elenco que conquistou até agora três taças em três competições disputadas. Os bauruenses, líderes da temporada regular, terão os francanos pela frente, num clássico do interior paulista. De resto, o Limeira, segundo colocado, encara o emergente Brasília; o Flamengo, em busca do tri, pega os velhos conhecidos de São José; e o Mogi das Cruzes recebe o Macaé, que tenta usar aquela frase que a gente quase não vê mais impressa por aí: “Oi, eu sou você amanhã”.
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É mata-mata que não acaba mais gente. Mas o punho vai resistindo bem por enquanto – sobre a cabeça, melhor nem perguntar, que já está fundida faz tempo. Agradeço a reza, o apoio e o voto de confiança. : D
E simbora:
Bauru (1º) x Franca (8º) – Bauru em 3
Se for perguntar por aí sobre um time que tenha dado mais trabalho para Bauru nesta temporada 2014-2015, os caras de Franca podem levantar a mão. Sim, quem se lembra da fervorosa semifinal do último Campeonato Paulista? O eventual campeão estadual precisou de todas as cinco partidas da série para avançar. Com direito a lamentável quebra-pau no Jogo 3.
Mas isso faz tempo. Era apenas o início da caminhada. Desde então, o time de Guerrinha perdeu somente três jogos. Incrível: uma para Limeira na decisão do Paulista e duas pela fase de classificação do NBB. No momento, contando a Liga das Américas, são 33 triunfos consecutivos. A única baixa realmente a ser lamentada foi a lesão do ala-pivô Jefferson William, fora com uma ruptura no tendão de Aquiles.
Além disso, se formos relembrar aquela semi, os jogos que o Franca venceu foram por dois e três pontos. Por outro lado, a equipe de Guerrinha conseguiu 23 pontos e 29 pontos de vantagem. Só o quinto e o derradeiro duelo, com muita tensão, foi parelho (75 a 69).
Enquanto Franca eliminava o Palmeiras, sendo o único time mais bem classificado a passar pelas oitavas de final, o Bauru descansou. Para muitos casos, essa parada poderia ser arriscada, custando ritmo de jogo etc. Para essa equipe especificamente, todavia, creio que foi algo muito bem-vindo, para dar um respiro antes de brigarem pelo quarto título em quatro competições, algo que seria histórico.
Por números, é como o Bauru se fosse o Golden State Warriors do NBB, mas com um nível de dominância ainda mais acentuado. Ataque mais eficiente, melhor defesa, melhor índice de arremessos, terceiro melhor nos rebotes, e por aí vamos. O único quesito no qual os francanos se aproximam de seu rival paulista é na defesa, com a terceira retaguarda mais eficiente (um padrão nos times de Lula Ferreira, aliás). Mas vai ser uma missão difícil.
Dos poucos jovens atletas do NBB que já tiveram chances com Rubén Magnano na seleção, a dupla Leo Meindl e Lucas Mariano tem a oportunidade de mostrar serviço contra adversários de ponta. Meindl, que não jogou o que podia contra o Palmeiras, vai provavelmente ser marcado por Alex e Gui Deodato. Uma dureza. Durante o campeonato, porém, o garoto se saiu bem contra a dupla, anotando 20,5 pontos em média. Já Lucão vai encarar Hettsheimeir e Murilo, vindo de uma de suas melhores atuações da temporada contra o Palmeiras, no quinto jogo. Foi instrumental no fechamento do confronto.
Limeira (2º) x Brasília (10º) – Limeira em 4
Não há o que aliviar aqui: tricampeão do NBB, Brasília foi a maior decepção desta edição. Imaginem assim: se fosse uma competição de pontos corridos, estaria fora da briga pelo título há meses. Se fosse um playoff composto da forma mais tradicional, com apenas os oito melhores classificados, também teria dado adeus mais cedo.
Mas os mata-matas do NBB abraçam mais gente – e tudo bem: é uma forma de manter mais clubes em atividade. Supostamente, isso serviria para ajudar os competidores de menor orçamento, dando mais chances. No fim, um gigante como Brasília acabou se beneficiando dessa brecha e já aproveitou para derrubar o Pinheiros. Contra o Limeira, porém, as coisas complicam. Especialmente para um time que teve a segunda pior defesa da temporada, acima apenas de Macaé, tentando parar o terceiro ataque mais qualificado, com boa movimentação de bola (um ataque solidário, com a maior taxa de assistências do campeonato).
Não é só a simples predisposição a passar a bola que torna a equipe dirigida por Dedé Barbosa perigosa. O principal fator, creio, é a velocidade de seus jogadores, em especial no perímetro, com a trinca Nezinho, Deryk e Ronald Ramon, servindo ao MVP do NBB 6 e candidato sério a manter o troféu, David Jackson. São armadores que se movimentam muito e botam pressão no adversário nos dois lados da quadra.
Essa agilidade também se reflete na linha de frente, com caras como Mineiro, Hayes e Teichmann, além de Fiorotto (até mesmo o jovem Dú Sommer segue esse perfil, mas sem tempo de quadra). É um plantel muito coeso nesse sentido. A diferença é que o garrafão candango não fica muito atrás, com um superatleta como Cipolini escoltando a técnica de Giovannoni – são dois dos dez jogadores mais eficientes do campeonato.
Será que eles vão contar com a ajuda de Ronald? O pivô de 23 anos foi um dos grandes responsáveis pelo triunfo contra o Pinheiros, enfim recebendo minutos consistentes (mais de 20 por jogo), respondendo com 11,5 pontos e 6,5 rebotes, acertando 69% de seus arremessos (18/26). A ver se a sua curva ascendente será respeitada.
Obviamente que Limeira vai respeitar seu adversário – aliás, estamos falando curiosamente dos únicos dois times a bater o líder Bauru na fase de classificação. Mas não tem motivos para temê-lo, levando em conta sua ampla superioridade durante toda a temporada, passando também por dois triunfos no confronto direto. Talvez o fato que gere mais preocupação mesmo é o fato de o clube nunca ter vencido uma série de playoff, nem mesmo quando tinha mando de quadra. Foram cinco confrontos, todos perdidos de virada, o que é ainda mais agonizante.
Flamengo (3º) x São José (11º) – Flamengo em 4
Com presença constante na fase decisiva, os dois clubes têm boas histórias para contar. Já são ao todo 27 jogos entre ambos no campeonato nacional, o que configura o duelo mais disputado até aqui. Em termos de playoffs, foram três séries, com os cariocas levando a melhor em duas delas, incluindo a última, pela semifinal do NBB 5 – numa revanche após a quarta edição.
É certo que uma sequência relevante de triunfos vai acabar este ano. O Fla nunca ficou fora das semis. Já o clube do Vale do Paraíba passou pelas quartas nas últimas três temporadas. Bom para dar uma apimentada. Se tiver de apostar, de qualquer forma, os rubro-negros aparecem como favorito indiscutível.
É uma situação interessante, aliás: se você fosse avaliar apenas de orelhada, talvez chutasse que o Fla tenha deixado a desejar, especialmente depois de perder uma semifinal de Liga das Américas, no Maracanãzinho. Mas isso tem muito mais a ver pelo patamar alcançado pelo clube nas últimas campanhas – essa coisa de ser o atual bicampeão nacional e de ter vencido a Copa Intercontinental e tal.
Há um desgaste mental quando se passa por tantas decisões. Não há como negar. Ainda assim, a equipe engatou uma boa sequência de nove vitórias para fechar a temporada regular e chegar mais animada para os playoffs. No meio do caminho, um triunfo de virada, por 16 pontos, sobre o Limeira. No geral, não havia muitos motivos para preocupação: tiveram o segundo melhor ataque e a quinta melhor defesa.
No papel, o elenco flamenguista também se impõe. José Neto tem uma linha de frente robusta, com tamanho, agilidade e talento distribuídos entre Marquinhos, Herrmann, Olivinha, Felício e Meyinsse. Do outro lado, o pivô Caio Torres que defendeu o Fla de 2011 a 2013, sendo campeão no NBB 5, fez um grande campeonato, com 14,6 pontos e 9,2 rebotes. Mas a rotação ao seu lado é minguada, com o regular Drudi, de chute de média distância sempre muito perigoso, e o jovem Renan.
Como fazer um jogo controlado se você tende a levar a pior na batalha interna? Por outro lado, querer correr com o próprio Marquinhos, além de Laprovíttola e Vitor Benite do outro lado realmente não parece uma boa opção, de toda forma. Andre Laws parece o único defensor capaz de persegui-los sem perder o fôlego ou a concentração. E aí? Como faz?
As oitavas de final contra o Paulistano – o outro finalista do ano passado – foram um bom treino para jogos mais truncados, com placares baixos, mesmo. Em quatro duelos, a equipe de Zanon foi a única passar da casa de 80 pontos, e apenas uma vez (no Jogo 3, com 85).
É uma tarefa difícil para o clube paulista, a despeito de seu poder de chegada e de, por ora, ignorarem problemas com atraso de pagamento. Além da força de sua torcida, vão precisar defender muito, do início ao fim, e esperar por uma regularidade maior nos arremessos de Baxter, Dedé e/ou Betinho. De preferência os três juntos.
Mogi das Cruzes (4º) x Macaé (12º)
Agora cabeça-de-chave, o técnico Paco Garcia obviamente não vai subestimar seu adversário. Afinal, sabe muito bem como não importa a posição em que o adversário chegou aos mata-matas – no caso, o Macaé, que garantiu a 12ª e última vaga, justamente a mesma posição que o Mogi tinha no NBB 6, para bater Pinheiros e Limeira em sequência e disputar a semifinal.
De pedra, a equipe do técnico espanhol agora virou vidraça, sustentada por uma das torcidas mais barulhentas do país. Teve um investimento maior e elevou seu padrão de jogo de acordo com o esperado, vencendo 70% de suas partidas (foram 12 triunfos a mais que seu próximo rival) pelo certame nacional, chegando também uma final inédita de Liga Sul-Americana.
É a equipe favorita, mas que vai ter de estar atenta a um oponente que acabou de derrubar a quinta melhor campanha do campeonato, o Minas Tênis. Um resultado surpreendente, mas que já vale como um prêmio para um projeto interessante no litoral norte fluminense, que vai além das quadras e envolve realmente a comunidade.
Se for para falar das quatro linhas, no entanto, não há como fugir do americano Jamaal Smith, um baixinho de 1,75 m, que é uma verdadeira dor-de-cabeça para a oposição. Não só por sua conduta marrenta, mas pelo talento para colocar a bola na cesta. Nas oitavas de final, teve média de 22,7 pontos, acertando 10 de 16 arremessos de três pontos. Sua arma principal, contudo, é a capacidade para cavar faltas.
Encarando a segunda defesa mais eficiente da temporada regular, bateu 39 lances livres em quatro jogos – e, melhor, errou apenas um, garantindo médias de 9,75 arremessos por partida e aproveitamento de 97,5%. Sensacional. São números bastante inflados, claro, mas plausíveis de atingir em mais uma série, pensando no que ele fez durante todo o NBB 7 (6,5 e 88,2%, respectivamente). Foi o arremessador mais eficiente do campeonato.
Aí você faz como? Tem chute de fora e também joga com muita eficiência lá dentro. Não seria o caso de delegar toda a responsabilidade para Elinho ou Alexandre. A boa notícia, porém, é que Gustavinho retornou na última rodada da primeira fase e ainda teve duas semanas para aprimorar o condicionamento físico. Aqui, estamos falando de um armador igualmente baixo, mas bastante ágil, aguerrido e inteligente para desafiar o americano. De qualquer forma, não dá para depender de um só atleta. É preciso de uma preparação defensiva mais ativa, com cobertura.
Contra o jovem elenco do Minas, o Macaé tinha a experiência como vantagem. Agora esse fator desaparece em Mogi. Além disso, vão encarar um adversário mais equilibrado. Se o time de Paco tem uma defesa bem inferior a da montada por Demétrius, por outro lado possui um ataque definitivamente mais poderoso, com um jogo interno diversificado. Esse deve ser o foco, pedindo a Shamell, cestinha do campeonato e aquele que mais se ocupa das posses de bola de seu time, paciência e inteligência na hora de atacar.
As trombadas entre Paulão e Atílio podem causar abalos sísmicos, mas o problema maior do time fluminense vai ser lidar, mesmo, com a agilidade de Gerson e Tyrone. No seu plantel, não há tantos jogadores com pacote atlético (uma combinação de força física e agilidade) para conter essa dupla no mano a mano. Otis George seria uma exceção, mas, de novo, aqui é ação coletiva que poderá remediar as coisas.