Troca de Rondo resulta na dispensa de Faverani. Na NBA, nada é garantido
Giancarlo Giampietro
Como jogadores, dirigentes e treinadores sempre falam: são negócios afinal, não?
O universo da NBA é muito complicado, cheio de armadilhas, que são intrínsecas ao jogo. O jogo como um todo, mesmo, muito mais os dados lançados fora de quadra, como Scotty Hopson pode muito bem assinalar. Assinar um contrato com um time da liga norte-americana pode ser o auge para a carreira de um atleta, mas não é certeza de nada. Quer dizer: dependendo do acordado, até rende uma boa grana. No que se refere a basquete, uma vez lá, você tem de se preparar para encarar uma competitividade extrema. Além disso, num cenário sempre volátil, também vai precisar de sorte.
O que faltou a Vitor Faverani. Nesta quinta-feira, sua passagem pelo Boston Celtics se encerrou, ao ser dispensado depois da fulminante troca de Rajon Rondo para o Dallas Mavericks. Como Danny Ainge recebeu mais jogadores (Brandan Wright, Jameer Nelson e Jae Crowder) do que mandou (Rondo e Dwight Powell), acabou ultrapassando novamente o limite de contratos permitidos pela liga (15). Sobrou para o pivô brasileiro, que ainda se recupera de uma segunda lesão no joelho.
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A transição de jogador relevante na Europa para peça complementar nos Estados Unidos geralmente é bem complicada. Splitter, Teletovic e, agora, Bojan Bogdanovic são alguns dos casos de gente badalada no Velho Continente que enfrentou sérios percalços ao migrar para a NBA. Para Faverani, que nunca chegou a ter o sucesso desse trio no princípio de sua carreira, não seria diferente. Já coloquei aqui os altos e baixos de seu primeiro ano na liga, que acabou encerrado por conta de uma lesão no joelho. Lesão que pediu duas cirurgias e olhe pôs numa posição muito difícil.
Uma pena. Seu talento e suas habilidades se encaixam com o sistema tático em voga na liga americana, já que não só pode proteger bem o aro como tem potencial para ser uma ameaça no perímetro. O próprio Danny Ainge já disse isso. Mas chegou uma hora em que os bastidores o atropelaram. O cartola precisava encontrar um novo destino para Rondo. Não é que ele duvide da capacidade do armador. O que pega é que ele vai virar agente livre ao final da temporada e, segundo a mídia de Boston, iria pedir um contrato máximo para renovar. Coisa de US$ 20 milhões, aproximadamente, e o clube não estava disposto a desembolsar tal quantia. Aí que o Dallas apareceu com tudo e venceu Houston Rockets e Los Angeles Lakers num breve leilão e levou o armador. Faverani acabou pagando o pato, mesmo que tivesse um salário garantido de mais de US$ 2 milhões.
O que vai ser do pivô de 26 anos? Caso não seja recolhido por nenhuma franquia em seu período de waiver, até sábado, imagino que um retorno para a Europa seja o mais fácil de concretizar – tem muito apelo mercado na Espanha, e aí seria uma questão de apenas averiguar se está tudo certo mesmo com o joelho e seguir em frente.
Por outro lado, ao que parece, a ideia inicial é tentar mais alguma porta nos Estados Unidos, o que dá para entender. Inevitável que fique um pouco de frustração. Segundo um de seus agentes, Luis Martin, ele poderia até mesmo ser reaproveitado pelo Boston no futuro. É o que disse ao repórter Gustavo Faldon, do ESPN.com.br.
Sua dispensa aconteceu por circunstâncias bem diferentes, se compararmos com o que aconteceu com outro gigantão brasileiro descartado pelo Celtics, Fabrício Melo. Mais jovem, Fab foi draftado por Ainge, ainda muito cru, como uma aposta de longo prazo num elenco que ainda contava com Garnett e Pierce. O que ele mostrou em um ano de trabalho, dentro e fora da quadra, foi o suficiente para o dirigente abortar esse projeto bruscamente. O pivô foi trocado para o Memphis, chegou a acertar, ironicamente, com o mesmo Mavs, mas se viu fora da liga rapidamente. Nem no Paulistano conseguiu se manter, independentemente de seu potencial (se nos Estados Unidos já é difícil encontrar um cara de 2,13 m e ágil, imagine por aqui…). Pelo que entendo, aprontou fora da quadra.
Ainda que bem diferentes, as histórias de Faverani e Melo têm outro ponto em comum além do fato de terem sido relevados pelo Boston Celtics: como é difícil se manter na NBA. São casos que servem de alerta para qualquer garoto que espera chegar a esse eldorado, ainda mais depois do que ocorreu com Bruno Caboclo. A saída do garoto do Pinheiros direto para o Raptors acende uma fagulha, mesmo, nas revelações brasileiras. Não tem como. Se alguém, por ventura, conseguir replicar esse salto, é para se comemorar, mesmo, com orgulho. Só não dá para achar que a vida está feita, que a carreira está ganha.
Como disse Luis Martin a Gustavo Faldon: ''Ele (Vitor) não entendeu nada. Estava falando com o técnico sobre voltar e de repente vem a troca. Todo mundo falando da volta dele, o Danny Ainge, mas daí venho a troca e muda tudo''.
Num campo em que a concorrência em quadra e os negócios são cruéis, a luta é contínua. Não sobra muito tempo para comemorar.
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Num veículo brasileiro, a gente acaba se concentrando no impacto da negociação para um compatriota. Mas toda as partes envolvidas em qualquer negociação são afetadas. Sabe o que Jameer Nelson estava fazendo quando soube que seria trocado para Boston? Comprando presentes de Natal para crianças de Dallas no shopping North Park, segundo Brad Towsend, repórter do Dallas Morning News.
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Já Mark Cuban, o irrequieto dono do Dallas Mavericks, deu seu aval para a troca enquanto se preparava para participar da gravação do último programa de Stephen Colbert no canal Comedy Central. Colbert vai substituir o genial Dave Letterman na CBS.