Bauru e Mogi agendam final de modo bem diferente
Giancarlo Giampietro
A final da Liga Sul-Americana é toda brasileira, depois que Mogi das Cruzes e os anfitriões de Bauru venceram nesta terça-feira suas semifinais. Pois a classificação de ambos não poderia ter acontecido do modo mais diferente possível.
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Equanto o time de Mogi precisou de uma prorrogação num jogo extremamente tenso contra o Boca Juniors (87 a 85), daqueles do oficial ''sofreu-mas-venceu'', com direito a 16 trocas de liderança e sete empates, a equipe da casa deu uma surra incontestável nos uruguaios do Malvin no jogo de fundo: 103 a 57.
Esta será a terceira final brasileira na Liga Sul-Americana, depois de Uberlândia x Ajax em 2005 e Brasília x Flamengo, em 2010, com títulos para os mineiros e os brasilienses. A diferença dos placares e do desenvolvimento das partidas confirma, sim, o Bauru como o grande favorito ao título na quinta-feira.
Mas cada jogo é uma história, né?
(De modo que nem vale analisar o que se passou no último duelo entre ambos, pela segunda fase da competição, uma vez que ambos os treinadores usaram rotações muito mais relaxadas.)
O que Mogi precisa fazer de diferente em relação ao que apresentou nesta semifinal), e urgentemente, é melhorar sua defesa exterior, que foi um horror no segundo tempo (especialmente no quarto período) contra os argentinos. Se repetirem a dose diante dos bauruenses, a coisa vai ficar bem feia. De modo que, a despeito de todo o sufoco passado, não só a vitória dá um pouco mais de confiança para o time de Paco Garcia, como também serviu como um treino para o que vem por aí.
O Boca se sentiu confortável pacas no interior paulista e, vejam só, tal como o Bauru vem fazendo em toda a temporada, arremessou mais de três pontos do que de dois: 35 x 30. Nos tiros de longa distância, converteu 37%, o que não chega a impressionar tanto assim, olhando friamente. Mas os adversários conseguiram uma reação na parcial final justamente com um festival de chutes de fora, quando passaram a jogar em tempo integral com cinco homens abertos. O pivô Pedro Calderón, velho conhecido do basquete brasileiro, inclusive ex-jogador de Mogi, estava entre eles, matando duas em quatro tentativas, a caminho de um double-double surpreendente de 18 pontos e 12 rebotes.
Do lado mogiano, Shamell foi o, hã, herói do dia, do jeito que ele gosta, anotando 29 pontos, ''chamando a responsabilidade'', mas também alienando muitos de seus companheiros no processo (10-23 nos arremessos em 39 minutos). Por outro lado, diga-se, muitos de seus parceiros também o procuravam desesperadamente nos momentos decisivos – e ele teve duas chances de matar o jogo no tempo regular, mas falhou em tiros forçados. Já Tyrone Curnell estava novamente por todos os lados, com 16 pontos, 15 rebotes e 3 assistências.
Quer dizer, sozinhos, os americanos foram responsáveis por mais de 50% dos pontos da equipe, contra um rival que não tinha nenhum estrangeiro. Mas, se for para deixar o patriotismo assumir o controle aqui, vale destacar também a atuação do pivô Gerson, com seus 11 pontos e 8 rebotes em 25 minutos, com um impacto na partida que vai além das estatísticas. Muito, mas muito, muito, muito mais ágil que Paulão, ajudou mais nas coberturas defensivas e também foi uma arma muito mais eficiente no ataque com seus deslocamentos de pick-and-roll, ferindo a defesa argentina perto da cesta. Olho nesse jovem pivô, formado pela Universidade de Colorado State. Prometo mais a respeito dele daqui para a frente.
Com sua velocidade e capacidade atlética, estava mais capacitado para lidar com um time mais baixo. De qualquer forma, a despeito das broncas pesadas do espanhol no banco de reservas, sua equipe não conseguiu se ajustar nos minutos finais e falhava demais na contestação dos arremessos longos. Faltou coordenação, comunicação, perna e tudo o mais que você poderia pedir. O desarranjo era tanto que, mesmo quando os oponentes erravam, conseguiam coletar rebotes ofensivos, se aproveitando do mal posicionamento defensivo.
Se o mesmo acontecer contra Bauru, não terão chances na decisão. A equipe de Guerrinha está jogando em casa e tem jogadores/arremessadores melhores, ainda que contra o Malvin tenha terminado com aproveitamento praticamente idêntico (13-34, para 38%). Com uma parcial de 28 a 12 no segundo período, os anfitriões tinham quase o dobro de vantagem (59 a 30) e a partida resolvida, num massacre. Normal que no segundo tempo tenham relaxado e desacelerado. Um luxo de que Mogi adoraria ter desfrutado nesta terça.