Em seu momento mais frágil, Magnano reforça ofensiva contra jogadores. Entendam o que quiser…
Giancarlo Giampietro
(Atualização: 15h50, com declarações ao programa Arena SporTV)
É difícil entender aonde Rubén Magnano quer chegar com tudo isso. Se a meta é atingir um suicídio político – intencional ou não –, está encaminhando as coisas muito bem, obrigado.
Na pior hora possível, depois de conduzir um trabalho lamentável na Copa América, o argentino resolveu contestar, bater de frente com os jogadores que pediram dispensa do torneio continental. Está claro que se sente traído por ''três ou quatro'' desses atletas, que teriam dito que se apresentariam e, depois, mudaram de posição.
''Nem para elogiar nem para criticar sou uma pessoa que cita nomes. Mas em três ou quatro dispensas, eles haviam falado 'sim' para mim. Achava que a presença desses três ou quatro jogadores me dava uma condição de segurança interior, de que poderiam pegar a equipe em suas mãos. Não aconteceu assim, por isso fiquei um pouco abatido com isso. São caras que decepcionaram muito a gente'', afirmou durante o desembarque da seleção em São Paulo.
Ainda de cabeça quente e, principalmente, com o orgulho de campeão olímpico duramente ferido por derrotas que não poderia imaginar de forma alguma, o argentino resolveu que seria de bom tom fazer esse tipo de ataque no saguão de um aeroporto – e, ainda por cima, sem levar sua ofensiva até as últimas consequências. Digo: se é para continuar colocando o dedo na ferida, que falasse, sim, quem seriam aqueles que julga traidores, em vez de generalizar.
Mas, a despeito do mistério, pudor, cuidado, reserva ou ''ética'' do treinador, eu, você e toda a torcida do Flamengo sabemos que Tiago Splitter é um desses alvos, se não o principal deles. Afinal, o treinador, mesmo, já havia se dito surpreso com sua ausência. Detesto esse tipo de marketing pessoal, da panca de sabe-tudo, mas, ao ler as declarações do técnico na época, a sensação de estranheza foi enorme. Daí a motivação para escrever este post. Ou este aqui: quando chegou a hora de se desentender também publicamente com Marquinhos.
Não pegou nada bem esse tipo de bate-boca naquela ocasião. Agora, depois do vexame que foi a campanha na Venezuela, repetir esse tipo de discurso é de deixar qualquer um pasmo. Inclusive o próprio Splitter, geralmente muito discreto, mas que se sentiu impelido a redigir uma carta pública para rebater ''críticas'' sem identificar em quem mirava. Em quem será?
''Alguns falaram que a culpa foi dos jogadores que não foram. Lembro que, quando não estava na minha melhor forma e totalmente no sacrifício, fui criticado por jogar abaixo do que podia. Quando nasceu meu filho, fui diretamente aos treinamentos e passei os primeiros dois meses longe da família. Quando minha irmã estava vivendo seus últimos dias de vida, lá estava eu representando meu país'', escreveu Splitter.
E aí temos este trecho de abrir os olhos: ''Na derrota é onde nos conhecemos melhor e nunca qualquer um de nós apontou o dedo para o outro , ao contrário, nos uníamos mais ainda''.
Mensagem recebida.
Anderson Varejão, divulgando seu comunicado em pílulas de 140 caracteres no Twitter, foi um pouco mais brando em sua intervenção. Recuperando-se de uma embolia pulmonar e de mais uma lesão gravíssima, suponho que não era uma atitude tão necessária assim. Mas lá foi ele se justificar. Em sua explanação, contudo, não só contemporizou, como defendeu a continuidade do trabalho. ''O momento é de reflexão, de pensar o que se pode tirar de lições dessa campanha ruim e olhar para frente, seguir trabalhando. O Brasil vinha crescendo e esse resultado não pode interromper nossa evolução'', escreveu. ''Não pode interromper'' é o ponto-chave aqui, atentem.
De qualquer forma, Varejão falou isso ontem. E foi hoje que Magnano veio com sua marreta em punho. Que tipo de situação ele esperava criar com estes comentários? Direcionar as críticas ao seu trabalho para aqueles que não se apresentaram? Está tentando jogar lenha na fogueira para incentivar sua demissão? Ou simplesmente se atrapalha todo quando o momento requer um mínimo de cuidado político?
Sinceramente, difícil julgar agora. Ainda mais quando, na mesma entrevista no saguão de um aeroporto, Magnano afirmou o seguinte: ''Não adianta rancor, a seleção brasileira está acima de todos nós. Não tenho nenhum problema com eles, não temos que criar muito mais polêmica. Temos que trabalhar sobre isso e buscar uma maneira dos jogadores se comprometerem mais. São caras que ainda vão representar em muitas ocasiões a seleção brasileira''.
E quem entende uma coisa dessas? Esse morde e assopra: primeiro detona os caras e, depois, como que se a vida seguisse normalmente, fala em ''trabalhar sobre isso e buscar maneiras'', que ''não adianta criar muito mais polêmica''. Que loucura. E mais: sabe aquele papo de que não cita nomes e tal? Leiam esta declaração: ''Sabia que seria difícil de alguns jogadores que convoquei virem, como o Leandrinho. Fisicamente seria muito difícil ir à competição, mas ele ainda tentou. A convocação foi para que os caras falem 'não' e expliquem isso também, porque não iriam''. Hã… O que ele acabou de fazer?
Em meio a essa saraivada, o diretor de seleções Vanderlei não emite nenhum comunicado sequer, não chama a responsabilidade. Muito menos o Carlos Nunes, o presidente Carlinhos da CBB, o mais fiel partidário daquela boa e velha tática da raposa política que só aparece para falar nas vitórias.
Mas não é de se estranhar: numa terra de cegos, Magnano, com seu histórico, fez o que bem entendeu na administração da seleção durante anos e anos, sem tem com quem debater ou quem o controlasse. Por que agora seria diferente?
O problema é que, na sua intempérie e em seu discurso incoerente (ou não…), o treinador, um cara digno, competente, dos melhores no ramo, derrama mais um balde de óleo numa situação pronta para fritura.
Atualização: Em participação inócua no programa Arena SporTV, Carlos Nunes ao menos afirmou que Magnano segue na seleção até 2016 – e, se quiser, ainda mais. Esqueceu-se que não tem mandato eterno no cargo. De qualquer forma, mesmo que não do modo mais firme, garantiu que não vai ter demissão. Antes, em entrevista gravada, quando questionado se havia pensado em sair, o argentino arregalou os olhos, meio que indicando: ''Jamais''. E aí lembrou então o seguinte ditado: ''O que não te mata, te endurece''… Quando perguntado se há chance de jogar por medalha no Rio 2016, disse: ''Se o Brasil fizer um trabalho mediano e se houver um comprometimento importante, o time tem condições de brigar por medalha''.
Conclusão: que esteja mantido no cargo é uma rara decisão sensata da atual gestão da CBB – mas isso não serve, não pode servir como que estejam assinando embaixo de tudo o que o treinador fez e tem feito. O fiasco esportivo na Copa América não pode ser ignorado de modo algum.
Sobre o fator NBA: obviamente apenas com a equipe completa que a seleção terá chance de brigar por resultados expressivos no futuro imediato. Transferir, porém, toda a responsabilidade para o comprometimento – ou amor – destes atletas ao país não pega nada bem. Aliás, lembremos: em 2011 a vaga olímpica foi conquistada com o vice-campeonato na Copa América, e, de diferente, lá estavam apenas Tiago Splitter (arrebentado e fora de forma), Marquinhos e Marcelinho Machado.
Não obstante, fica ainda mais deslocada sua ofensiva contra os jogadores. Se eles são tão fundamentais assim, Magnano vai precisar de um esforço diplomático nos próximos meses e temporadas com a mesma energia e verve que gastou nas últimas 48 horas, quando partiu para o ataque.
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Em seu rompante, Magnano também cometeu um equívoco, ou, no mínimo, uma injustiça histórica ao falar sobre como era mais fácil contar com seus principais jogadores na época de Argentina. Não dá para comparar uma coisa com a outra – e não só pelo distanciamento de 10, 14 anos atrás. ''Tive a felicidade treinando a Argentina de, em quatro anos, não ter nenhum pedido de dispensa. Aqui você vê que é muito difícil, temos que trabalhar muito para criar uma consciência de seleção, um orgulho'', afirmou.
Só faltou completar que, no ciclo que o consagrou como campeão olímpico, na base Argentina apenas Manu Ginóbili estava na NBA, tendo chegado ao San Antonio Spurs em 2005. Andrés Nocioni e Carlos Delfino? Fecharam com Chicago Bulls e Detroit Pistons depois dos Jogos de Atenas 2004. Fabricio Oberto se juntou a Manu em 2005. Luis Scola? Assinou com o Houston Rockets apenas em 2007. Por que então eles pediriam dispensa se não havia impedimento algum?
E, lembrem-se: uma vez de contrato assinado nos Estados Unidos, Ginóbili se tornou uma presença bissexta na seleção, assim como Nocioni e, agora, no mais recente caso, Pablo Prigioni.
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Fica um registro obrigatório: sem que ninguém divulgasse nada em Caracas, a seleção sofreu com problemas internos de saúde durante a Copa América. ''Pouca gente falou nisso [virose], mas nos afetou demais. Isso não é uma desculpa, mas quando um time está em uma situação limite, a ausência de dois ou três jogadores afeta realmente a produção'', disse Magnano. Foi uma crise de virose que abalou, no mínimo, Larry Taylor, Alex, Cristiano Felício e Rafael Luz. Resta saber quantos quilos eles perderam, se estavam febris na hora de ir para quadra etc. E se isso por acaso afetou alguma outra delegação na capital venezuelana.