Jamaica é o auge do vexame que mina principal trunfo político da CBB: Rubén Magnano
Giancarlo Giampietro
Um desempenho surpreendentemente horripilante. Como nunca antes vista na história deste país. Desgovernado, chocantemente desgovernado, o Brasil se despediu nesta terça-feira da Copa América de basquete com quatro derrotas em quatro partidas. A gota da d'água: uma revés pelas mãos da caçulinha Jamaica. Sim, até a Jamaica.
E este é o pior pesadelo para o presidente da CBB, Carlos Nunes. Com uma gestão esculhambada, atolado em dívidas e juros, testemunhou um torneio no qual, além do fracasso como um todo, acabou por expor aquele que é o seu principal trunfo político para se sustentar no cargo: Rubén Magnano, o campeão olímpico antes inabalável, mas que não foi nada bem nesta temporada com a seleção.
Na última rodada do Grupo B, com o maior drama do mundo e as mesmas deficiências de sempre, os jamaicanos venceram por 78 a 76 e completaram a lista de classificados para a segunda fase ao lado de Porto Rico, Canadá e Uruguai.
Copa do Mundo para os brasileiros agora? Apenas se a Fiba levar em conta os milhõe$ de bra$ileiro$ hipoteticamente intere$$ado$ em ver um Mundial depois de um vexame desse. Além do supo$to argumento econômico que algum gênio do marketing po$$a vender – afinal, o jogo não anda muito rentável por aqui… –, também podem pesar dois outros pontos: o histórico do país na modalidade e o fato de estarmos falando da próxima sede das Olimpíadas.
É o que resta, mesmo: porque, no quesito técnico, esportivo, terminamos a Copa América ao lado do Paraguai como saco de pancada. Foi mais ou menos como se, nas eliminatórias para a Copa (de futebol), terminássemos ao lado da Bolívia e atrás do Peru. E tem gente que ainda acha que a crônica basqueteira pega pesado. Tivesse essa campanha ocorrido nos gramados, muito provavelmente as metrópoles nacionais estariam novamente paradas, (re)tomadas por passeatas.
A seleção brasileira se despediu da competição apresentando um saldo negativo de pontos e uma média de arremessos de quadra de envergonhar qualquer indigente. Desnecessário detalhar os números. Nada funcionou: nem defesa, muito menos ataque. Já é muito difícil sustentar um time equilibrado se um desses aspectos não vai bem. Quando, em cinco dias de torneio, nossos convocados não conseguem chegar perto da decência em nenhuma das tábuas, o barco afunda, mesmo.
Posto isso, o que fazer agora?
Respirar fundo, ter calma.
Magnano coordenou um trabalho lastimável nas últimas semanas: algo que vinha sido apontado desde a fase de amistosos, mas que, confesso, não esperava que pudesse ficar tão ruim assim num torneio oficial. O time, em vez de progredir, retrocedeu com o passar dos jogos, caindo numa espiral de descontrole, despedaçado, descarrilado. O comandante precisa responder a respeito, com humildade e poder de reflexão: alguém de seu gabarito não pode conseguir bons resultados apenas com a tropa de choque. Esperava-se que, num momento de dificuldade, sua experiência e conhecimentos pudessem fazer um grupo desvalorizado render mais. É por isso, entre outras razões, que ganha uma boa grana.
Agora, na esteira de uma campanha pífia, não se deve esquecer, jogar pela janela o que vinha sendo feito na equipe – evolução defensiva, um jogo relativamente mais solidário, mais vitórias do que derrotas. O argentino, com seu currículo, merece mais chances, bem mais. Seu saldo é positivo. Por outro lado, precisa se fazer muito mais presente nas quadras brasileiras, vendo tudo que é partida – Paulista, NBB, LDB, Sul-Americana, Liga das Américas, mas tudo mesmo. Faltou isso durante a temporada – e, se não faltou, ele deve ter visto os jogos errados. Do contrário, como justificar uma convocação tão desconexa como essa? Quantos jogadores estavam numa pré-lista geral coerente, planejada? Esperava mesmo o treinador que a turma da NBA fosse se apresentar? Foi pego desprevenido? E a diretoria nessa, como fica? Que tipo de controle há sobre suas operações?
A impressão que ficou do último ano é que Magnano foi usado muito mais como um cabo eleitoral do atual presidente da CBB – com viagens para cima e para baixo, ''aparições'' aqui e ali – do que como alguém da área técnica. E aí chegamos a um ponto crucial, que vai valer toda a atenção para os bastidores.
Com uma situação calamitosa em termos administrativos, devendo até as calças, Carlos Nunes se bancou não só com o corriqueiro jogo de favores em qualquer eleição de confederação brasileira, mas com o suposto êxito esportivo: ''Ficamos com o quinto lugar nas Olimpíadas! Voltamos!''. Agora como fica? Provavelmente os presidentes de federações estaduais descontentes vão cair matando. Vai ter gente doida, doida para se livrar do ''ar-gen-ti-no'', pedindo cabeças.
Terá jogo de cintura, estofo e personalidade e, mais importante, lealdade o presidente Carlinhos para contornar isso?
Muitos vão falar de Caio, Splitter, Benite, Nenê, Hettsheimeir, Marquinhos, Larry, ausências, baixo nível etc. E até de Jamaica. Mas esta parece a pergunta mais impoirtante a ser respondida nas próximas semanas.