Vinte Um

Por um 2013 melhor para a turma brasileira da NBA

Giancarlo Giampietro

Varejão, Leandrinho e Splitter

Vamos tirar logo isso da frente: eles ganham um belo salário, bem acima da média do esportista tupiniquim, jogam em alguns dos melhores ginásios, cercados de mimos incontáveis, com estafes gigantescos à disposição. Conforme o próprio Nenê disse a seus jovens descabeçados companheiros, eles ocupam algumas das vagas mais cobiçadas no esporte e certamente as mais desejadas do basquete. É só saber aproveitar.

Agora, segundo um dos dogmas expostos na lousa central de diretrizes do QG 21, “dinheiro e luxo não compram ou valem toda a felicidade do mundo”. Mesmo você, leitor mais cínico, precisa abrir o coração nesta época festiva, de cordialidades, resoluções e expiação de culpa, e dar uma colher de chá para os caras.

Vejamos:

Anderson Varejão (Cleveland Cavaliers)
Individualmente, nunca houve uma temporada melhor para o capixaba do que a que ele vive neste ano. Na verdade, é provavelmente a melhor campanha de um brasileiro na história da liga. Com recordes de pontos, rebotes, assistências, roubadas de bola e lances livres, o pivô virou uma unanimidade para os jornalistas de lá, embasbacados com seus números. Pena que nada disso sirva para fazer do Cleveland Cavaliers um time decente. A equipe de Byron Scott (até quando, aliás?) tem um aproveitamento até mesmo pior que o do Charlotte Bobcats, gente. Difícil de aturar isso. De que vale tanto esforço se o resultado, no fim, é invariavelmente uma derrota? Quem sabe, então, se não aparece um time vitorioso interessado em sua cabeleira, que enxergue seu basquete aguerrido como uma grande cartada para se brigar pelo título em maio e junho? Alô, Brooklyn Nets, Atlanta Hawks, San Antonio Spurs, Oklahoma City Thunder e afins.

– Nenê (Washington Wizards)
É uma situação bem mais deprimente do que a de Varejão. Ao menos seu compatriota pode se consolar com a presença de Kyrie Irving ao seu lado e dos promissores Thompson, Waiters e Zeller. Há uma base evidente ali para se construir um bom time. Em Washington, porém, a perspectiva é de terra desolada. Um clube ainda sem comando algum, tático ou gerencial, numa prova clara de que JaVale McGee e Andray Blatche não eram exatamente a causa de todos os seus problemas. E aí temos um jogador que vem se arrebentando em quadra, pisando em uma perna só, aguentando sabe-se lá como 26 minutos por  partida, a serviço da pior equipe da liga. Em Denver, o são-carlense ouviu muitas críticas de que não fazia jus ao seu salário, de que qualquer resfriado era o suficiente para lhe afastar. Na capital norte-americana, o discurso é justamente o contrário. Ainda assim, talvez não seja o suficiente para convencer alguma franquia a investir em seu pesado contrato.

– Leandrinho e Fabrício Melo (Boston Celtics)
O ligeirinho anunciou que está retornando a Boston, depois de passar pelo Brasil para resolver problemas particulares. Esperemos, desde já, que não seja nada de mais grave, com repercussão para os próximos meses, e que ele possa, agora, se concentrar em sua profissão. Porque, a partir de janeiro as coisas ficam ainda mais complicadas para o ala-armador, com o retorno de Avery Bradley. Havíamos escrito aqui desde o momento em que assinou com a franquia mais vitoriosa da liga: não parecia uma situação propícia para ele dar sequência a sua carreira. Muitos fatores conspiravam contra isso, entre eles as contratações de Jason Terry e Courtney Lee muito antes da sua, com vínculos de longo prazo. Isto é, esses caras seriam a prioridade para Danny Ainge & cia. De modo que o brasileiro precisaria jogar demais para assegurar seu espaço.

E como estamos até agora? Em termos de produção estatística, com menos tempo de quadra, Leandro apresenta números mais eficientes do que os de Terry e Lee – mas talvez não o suficiente para lhe valer uma vaga cativa na equipe. Além disso, sabemos bem que a defesa nunca foi um forte do paulistano. É algo que deve explicar sua ação reduzida nas últimas rodadas. Por outro lado, o Celtics não melhorou em nada desde que Doc Rivers optou por reduzir sua carga de minutos (perdendo dez partidas em 19 disputadas).

Com a volta de Bradley, um exímio marcador – um dos melhores de toda a liga, não importando sua pouca idade –, esse quebra-cabeça fica ainda mais intrigante. Dá para pensar em dois desdobramentos completamente diferentes: 1) Barbosa será completamente enterrado no banco de reservas; 2) Bradley dá uma segurança maior ao treinador na retaguarda e acaba liberando alguns minutos de Terry ou Lee para o brasileiro. Talvez essas duas alternativas hipotéticas nem importem. Talvez o melhor, mesmo, seja encontrar um meio de se transferir para o Lakers e se reunir com Nash e D’Antoni num time que precisa, e muito, de um arremessador extra.

Sobre Fabrício? Bem, não mudou muito desde sua seleção no Draft: continua como um projeto do Celtics, que vai se desenvolver aos poucos na D-League, mas que ainda está longe de ser visto como uma solução imediata para o garrafão. Vide a chegada do atlético Jarvis Varnado, um cara draftado pelo Heat, mas que nunca foi aproveitado na Flórida e nem pertencia ao clube afiliado de Boston, mas que foi contratado como uma esperança de fortalecimento de sua combalida rotação.

– Tiago Splitter (San Antonio Spurs)
Opa! Seu pedido é uma ordem. O catarinense hoje aparece como o terceiro pivô mais utilizado por Popovich em sua rotação, com dez minutos a menos do que Duncan e três abaixo de Diaw. Um pequeno, mas bem-vindo avanço para o jogador que tem o terceiro melhor índice de eficiência do clube, superior até mesmo ao de Manu Ginóbili. A ironia é que a promoção ao time titular significa menos oportunidades ofensivas para o pivô, uma vez que ele agora passa mais tempo de quadra ao lado de Duncan e Parker. E mais: a promoção também não significou mais minutos: hoje ele tem 20,2 por partida, contra 19 da temporada passada. A expectativa é a de que essa quantia suba um pouco no decorrer dos próximos dois terços de campeonato e que Splitter possa chegar aos mata-matas em grande forma, pronto para ajudar os texanos e, ao mesmo tempo, subir sua cotação para o próximo mercado.

– Scott Machado (Houston Rockets)
Discutimos aqui.