Vinte Um

Huertas eleva suas apresentações em Barcelona e justifica prêmio de melhor do Brasil

Giancarlo Giampietro

Marcelinho Huertas, Barcelona

Huertas abre mais uma temporada com perspectiva de títulos pelo Barça

Não é questão de criar picuinha, provocar polêmicas, embora tudo isso possa acontecer inerentemente. Mas é uma opinião, que, depois da divulgação da premiação do COB nesta temporada, pode se passar até como chapa branca.

Mas vocês sabem que não é o caso, né?

Sabem, mesmo, né?!

Ah, bom. Ufa.

Sobre o Marcelinho Huertas ser o melhor jogador brasileiro hoje – e por hoje só não entenda como o momento imediato, mas, sim, algo como ''hoje em dia''.

Para falar do armador, os números não contam muito – ou contam pouco da história. Explicando: o armador muitas vezes joga como se estivesse imobilizado, algemado no sistema (f)rígido de Xavi Pascual no Barcelona, sem poder criar como fez nos tempos de Baskonia e Bilbao.

Neste ano, a equipe catalã ainda segue apostando a maior parte de suas fichas no sistema defensivo, mesmo que, individualmente, Ante Tomic e Nathan Jawai não causem o mesmo impacto que os pirulões Boniface N'Dong e Kosta Perkovic tiveram na temporada passada, em termos proteção do aro e do garrafão, como explica aqui o  Rafael Uehara – brasileiro que assina, em inglês mesmo, o The Basketball Post e colaborou com o Vinte Um neste mês de dezembro. Na Euroliga, os adversários continuam sufocados. Na Liga ACB, as coisas também tendem a se acertar a longo prazo, mesmo depois de um início irregular que era impensável para uma superpotência dessas.

Para manter esse padrão defensivo, não esperem, então, uma revolução do outro lado do quadra, no ataque. A abordagem ainda será muito mais metódica do que ''cabeça aberta''. Por outro lado, como o Rafael escreveu aqui, aos poucos Huertas vai ganhando um pouco mais de espaço para atacar, aqui e ali, os oponentes em vez de se limitar a alguém que apenas passe de lado, concentrado apenas em alimentar Juan Carlos Navarro ou Erazem Lorbek. Ele faz o que pode.

Contra o Valencia, por exemplo, o Barcelona perdeu para um time desfalcado de Vitor Faverani, mas não olhem para o armador na hora de tentar encontrar um reponsável. Não quando ele fez 21 pontos e seis assistências em apenas 29 minutos. Além disso ele matou todos seus oito lances livres, seus dois chutes de dois pontos e três em quatro disparos de três para totalizar iíndice 33 de eficiência, valendo a nomeação como melhor jogador da rodada. Duas jornadas antes, ele já havia sido impecável com a bola em mãos, anotando 13 pontos sem errar um chute sequer (de qualquer canto) e somado quatro assistências contra apenas um desperdício de posse. Pela  Euroliga, sua melhor atuação aconteceu contra o Partizan, com 24 pontos, nove assistências e cinco rebotes e 38 pontos de eficiência. No geral, vem com aproveitamento altíssimo nos arremessos, incluindo de três pontos.

Não precisa ir muito longe ao avaliar a atual geração da seleção, pensando no time olímpico e demais selecionáveis, e perceber como Huertas é quase uma aberração, numa inversão curiosa de valores, considerando que o Brasil ofereceu, nos últimos anos,  gigantes atléticos aos montes, abastecendo elencos na Europa e nos Estados Unidos sem parar. Agora, pensando nos homens baixos, daqueles que a gente consegue encarar olho no olho, sem cansar o pescoço – jornalista sofre em zona mista de basquete, viu? –, talvez não dê para contar em cinco dedos. E o Scott Machado não vale, tendo sido formado nos EUA.

Mas também não quer dizer que ele mereça a distinção de melhor do ano por ser único em sua característica, e, sim, sua consistência.

Os últimos meses do ano foram todos de Anderson Varejão, com razão. Todos estão testemunhando a quantidade descomunal de rebotes que o cabeleira vem apanhando. Mas nos últimos anos Huertas acabou dando um passo a mais. O 'baixinho' se desgarrou dos grandalhões, impressão que só foi reforçada pela experiência de seleção brasileira que tivemos entre julho e agosto. Em Londres, foi possível observá-lo de perto em muitas ocasiões e contra os melhores do mundo. Nesses jogos foi possível onstatar que, na verdade, esse não era um desafio tão grande assim para seu talento. Agora o Barcelona começa a aproveitar melhor essas qualidades.