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Arquivo : Pipoka

Com amistoso marcado, a NBA enfim ratifica descobrimento do mercado brasileiro
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Giancarlo Giampietro

Linha do tempo, vamos lá:

– 1984: Oscar Schmidt é draftado na sexta rodada pelo New Jersey Nets, mas nunca chega a fazer a transição para a liga norte-americana, numa época de raríssimos contatos entre a NBA e o mundo FIBA.

– 1988: vindo da universidade de Houston, a mesma de Hakeen Olajuswon, o pivô Rolando Ferreira é draftado pelo Portland Trail Blazers na 26ª escolha geral, a primeira da segunda rodada, já uma façanha e tanto. Ele encerra sua carreira na liga em apenas uma temporada, com 12 partidas disputadas.

– 1991: João Vianna, o Pipoka, disputa uma partida oficial pelo Dallas Mavericks e marca dois pontos contra o Spurs em San Antonio. Ele assinou contrato no dia 2 de outubro e acabou dispensado em 12 de novembro.

Nenê e o commish

Nenê podia ter sido do Knicks, mas foi para o Nuggets em marco brasileiro na NBA

– 2002: Nenê Hilário é selecionado na sétima colocação do Draft da NBA pelo Knicks, um feito histórico. É repassado de imediato ao Denver Nuggets, pelo qual jogou até o ano passado, quando foi trocado para o Washington Wizards. Em sua carreira, já tem garantidos mais de US$ 100 milhões apenas em contrato.

– Junho de 2003: É a vez de Leandrinho seguir a rota traçada pelo pivô são-carlense e deixar o basquete brasileiro para se preparar exclusivamente para o Draft. É selecionado pelo Spurs na 28ª escolha para ser repassado para o Phoenix Suns. Pelo clube do Arizona, foi eleito o melhor sexto homem de 2007, sendo um dos melhores arremessadores de três pontos do campeonato por dois anos seguidos.

– Setembro de 2003: Alex Garcia impressiona o técnico Gregg Popovich na disputa da Copa América no Porto Rico e assina como agente livre com o San Antonio Spurs. É dispensado em junho de 2014 e logo contratado pelo New Orleans Hornets. Acabou dispensado pelo novo clube em dezembro daquele ano.

– 2004: seguindo, uma rota diferente, o pivô Rafael Araújo, o Baby, é o oitavo no draft daquele ano, tendo se formado pela universidade de BYU – ao contrário do que teve no basquete universitário, porém, sua carreira na liga profissional dura apenas três anos, até que seu contrato com o Utah Jazz expirou em 2007. No mesmo recrutamento, Anderson Varejão sai em como o número 30, a primeira escolha da segunda rodada, pelo Orlando Magic, mas já é negociado pouco depois para o Cleveland Cavaliers. É ídolo da torcida.

– 2006: Marquinhos, com os mesmos agentes de Nenê e Leandrinho, também tenta a sorte nos EUA e é escolhido na posição 43 do draft pelo Hornets. Fica dois anos no clube, joga pouco (26 partidas no total) e é trocado nem fevereiro de 2008 para o Memphis Grizzlies, que não renovou seu contrato.

Alex, o da NBA

Alex, em novembro de 2004: um Hornet

– 2007: Tiago Splitter, jogando na Espanha, cai no colo do San Antonio Spurs no final da primeira rodada, novamente com a escolha 28, mas dessa vez o clube texano mantém o brasileiro. O pivô jogou mais alguns anos pelo Baskonia até se transferir. Virou titular na atual temporada e deve chegar bem cotado ao mercado.

– 2010: Paulão Prestes é escolhido pelo Minnesota Timberwolves, na segunda rodada (45ª), é aproveitado em jogos de liga de verão, mas não chega a firmar um contrato.

Esse é o campo esportivo.

No dos negócios, a liga desenvolveu seus laços com o país de modo bem tímido – ao menos do ponto de vista oficial, já que seu marketing já era disseminado por meio de suas partidas, site e produtos importados.

Numa teleconferência de imprensa láaaaaaa atrás em 2000, antes mesmo da chegada de Nenê a Denver, o comissário David Stern já ventilava a possibilidade de fazer um amistoso de pré-temporada no brasil. Lembro que, na mesma conversa, ele afirmava que dois jogadores brasileiros tinham chances de entrar na liga num futuro próximo: Guilherme Giovannoni e Jefferson Sobral. A história acabou sendo outra.

De todo modo, uma vez com Maybyner Hilário contratado, a NBA tinha, enfim, alguma âncora firme para evoluir com seus negócios. Mas foi bem aos poucos. O país recebeu algumas das edições do programa “Basketball Without Borders”, um camp coordenado por dirigentes e técnicos de suas franquias, reunindo alguns dos principais jovens jogadores do continente. O último foi em 2011, no Rio. Eventos esporádicos também foram realizados.

BWB no Rio

Atividade do BwB no Rio em 2011

Até que de um ano para cá as coisas esquentaram. Em 2012, começou a operar um escritório da liga no Brasil, localizado no Rio. “O país que receberá o Mundial de futebol e a Olimpíada chama a atenção do mercado internacional”, disse na época o vice-presidente da NBA para a América Latina, Phillippe Moggio, ao repórter Daniel Brito, então da Folha de S.Paulo (texto na íntegra para os assinantes). O próximo passo foi a criação de uma loja oficial online: “Vemos o Brasil como terceiro mercado para a NBA [atrás de EUA e China], é muito importante, pelo crescimento do país, seu bom momento, além da Olimpíada. É uma oportunidade muito grande”, disse Moggio.  Na ocasião, o dirigente garantiu que chegaria ainda o dia em que o país teria um jogo de pré-temporada, pelo menos. “É um compromisso que temos”, afirmou.

Durante a década passada, esse tipo de discurso havia sido repetido tantas vezes, em diversas ocasiões, que sempre foi recomendado um tico de desconfiança. Dessa vez não foi apenas falácia, enfim chegou o dia: 12 de outubro de 2013, com Washington Wizards enfrentando o Chicago Bulls na Arena HSBC, do Rio.

Ter uma arena de primeiro nível sempre foi visto como um grande impasse para a realização de um amistoso ou jogo da liga por aqui. O ginásio escolhido no Rio de Janeiro está de pé desde 2007, quando abrigou os Jogos Pan-Americanos. Na ocasião, apenas como espectador do evento, Leandrinho me disse o seguinte a respeito: “Com certeza (a arena) pode receber qualquer evento da NBA. Garanto que muita gente viria para o ginásio apoiar um time que tenha algum dos brasileiros”.

Em termos de infra-estrutura, a sede não mudou tanto assim para que pudesse ser esse o difrencial na decisão anunciada nesta terça-feira pela turma de Stern. A marcação do amistoso, enfim, ratifica o descobrimento do Brasil, como mercado, pela NBA.


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