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Arquivo : Juan Fernández

Argentina surra o Brasil e deixa a preparação do time de Magnano ainda mais nebulosa
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Giancarlo Giampietro

Mais uma bandejinha pra Campazzo

Facundo Campazzo se esbaldou contra a nada combativa defesa brasileira

Depois da surra que o Brasil tomou da Argentina neste sábado, perdendo por 90 a 70 pela Copa Tuto Marchand, o que resta é fazer especulações, sabe? Como se estivéssemos em meio uma guerra fria, com espionagem e contra-espionagem e apelar para a máxima de que só podem estar “escondendo o jogo”.

Por exemplo: no comecinho do jogo, a seleção conseguiu atacar sem problema alguma defesa por zona adversária, com Marcelinho Huertas invadindo o garrafão para servir a Rafael Hettsheimeir em duas ocasiões. As duas jogadas resultaram em enterradas do pivô, muito bem posicionado para receber o passe, na lateral do garrafão. Evitava os três segundos, estava próximo da cesta e, ao mesmo tempo, posicionado entre dois quintos de uma formação 2-3. Raulzinho faria o mesmo com Caio Torres depois.

Daí que o time de Rubén Magnano pouco – ou, se bobear, nunca mais – repetiu esse tipo de investida até o final da partida. Começaram a sair os tiros de média distância teimosos, as tentativas de se jogar no mano-a-mano começaram a aparecer com frequência, enquanto, do outro lado, a pegada defensiva estava bastante afrouxada, algo raramente visto durante a gestão do argentino. Além disso, Huertas ficou em quadra por apenas 13 minutos. Alex, nem isso. Hettsheimeir jogou por 22 minutos.

Então o que aconteceu lá em Porto Rico? O Brasil entrou para jogar um amistoso, e a Argentina, com o Luis Scola jogando até o final, a despeito de uma vantagem superior a 20 pontos, encarou como clássico? Ou os argentinos já estão num estágio consideravelmente superior em sua preparação? Ou eles foram infinitamente superiores ao menos por uma determinada noite? Os jogadores brasileiros perdem a disciplina no decorrer do jogo e o treinador não consegue administrar, orientar? As próximas partidas contra Porto Rico, neste domingo, e Canadá, na segunda-feira, vão nos ajudar a entender. Quer dizer, podem ajudar a entender.

De qualquer forma, se formos ignorar qualquer tipo de trama mirabolante, o que vimos em quadra preocupa.

A começar pela defesa, que supostamente seria o carro-chefe da seleção com Magnano. Facundo Campazzo, que parece melhor a cada torneio, se esbaldou de tantos cortes pelo fundo que conseguiu, com ou sem a bola. Os marcadores se alternaram, e o tampinha seguiu fazendo bandeja atrás de bandeja (17 pontos, 70% nos arremessos e só um turnover). Scola foi surpreendentemente bem marcado por Caio no primeiro quarto, terminando a parcial com apenas quatro pontos e nenhuma cesta de quadra – depois, caminharia para mais um double-double dominante, com 23 pontos, 11 rebotes e 58% nos arremessos. No perímetro, os argentinos acertaram 8 em 17 tentativas (47%). Além disso, eles cobraram 15 lances livres a mais que os brasileiros.

Nos lances livres, aliás, outro problema: a seleção converteu apenas 33% de seus chutes, um horror horripilante, daqueles horrorosos mesmo, que deixaria até Shaquille O’Neal envergonhado. Foram 12 erros em 18 arremessos. Para se ter uma ideia, o melhor aproveitamento do time na noite foi de Arthur, com 75%. Depois veio Giovannoni, com 66,7%. O restante?  Todos de 50% para baixo. Embora não tenhamos os melhores gatilhos do mundo, também não quer dizer que seja ruim assim a coisa. Das duas, uma? ou estão muito cansados e não tiraram o pé coisa nenhuma nos treinos em Porto Rico, ou foram quebrados mentalmente pela Argentina. As duas são bastante possíveis, ainda mais a segunda, considerando o tanto que reclamaram os brasileiros durante a partida, com um gestual que incomoda – embora, diga-se, Julio Lamas também seja uma prima donna neste quesito.

No ataque, o ritmo também não vai nada bem, mesmo. As trocas de passes, quando ocorrem, são inócuas. O aproveitamento de longa distância segue alto (43%), mas o de dois pontos vai baixo (44,7%) – e, sim, há uma diferença brutal entre chutar 43% de fora e 44% dentro da linha de três pontos.

Fato é que, até o momento, o Brasil não apresenta padrão algum de jogo, num reflexo direto de uma convocação mal feita. Magnano está tentando fundir jogadores baixos e velozes com pivôs lentos, pesados. Partes que não se encaixam, que ainda não conseguiram formar uma unidade em quadra.

Veja o quinteto que iniciou o segundo quarto, por exemplo: Luz, Larry, Benite, Hettsheimeir e Caio. Não faz sentido algum essa formação. O que esperar dela? Como fazer uma defesa agressiva se os dois pivôs, por exemplo, não vão conseguir cobrir um pick-and-roll de maneira apropriada. Para eles, qualquer passe em falso a mais no perímetro significa um argentino cortando com liberdade em direção ao aro – até Juan Gutiérrez se deu bem nessa.É na defesa que Splitter, Varejão e Nenê, os três muito velozes, fazem mais falta.

Além disso, impressiona como o conjunto argentino parece muito mais bem preparado e formado. Os jogadores sabem exatamente seu papel em quadra, e isso faz uma diferença danada. Ajuda para que o jogo tenha mais fluência, seja pelo espaçamento ou pelas decisões que passam a ser simplicadas as partir do momento em que cada atleta tenha suas diretrizes claras. O que não impede que eles improvisem, claro, como Campazzo fez muitas vezes.

Enfim, os desfalques estão de todos os lados, as gerações vão sendo trocadas, o tempo passa, o tempo voa, e a Argentina dá um jeito de seguir por cima.

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Com 5min33s restando no primeiro quarto, Raulzinho entrou no lugar de Marcelinho Huertas. Em seu primeiro ataque, fez o passe para cesta de Caio Torres. Um minuto depois, deu uma assistência para Arthur matar de três pontos. Na posse de bola seguinte, cometeu uma falta ofensiva no enjoado Facundo Campazzo ao tentar se livrar da marcação para receber o fundo bola. Acabou substituído no ato, dando lugar a Rafael Luz. Quando entrou, o jogo estava 10 a 8 Brasil. Quando saiu, após 1min23s (!?!?!), estava 15 a 14. O tipo de substituição do (nosso) argentino que não dá para entender. Educação tem limite?

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Juan Fernández, em quadra, é a cara de Pepe Sánchez. Capazzo, em toda a sua sanha, lembra um pouco Alejandro Montecchia.

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Por que os números não dizem tudo ou podem ser bastante enganosos? Vejamos o total de assistências da partida: 14 para o Brasil e apenas seis para a Argentina. Logo, a dedução de bate-pronto poderia ser a de que os argentinos são individualistas em demasia, não? Não. Como o twitteiro profissional Filipe Furtado falou, isso só mostra o quão facilmente eles estavam batendo a defesa oponente, em jogadas simples de tudo. No geral, porém, ficou evidente que o senso coletivo de nossos vizinhos ao sul, a essa altura, está muito superior.

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Levantamento de Guilherme Tadeu, do Basketeria, aponta que esta derrota foi a maior da seleção sob o comando de Magnano.

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Estar atrás da Argentina, de novo, pode ferir o orgulho de alguns, mas não é o fim do mundo, por enquanto. Para classificar para a Copa do Mundo, a seleção precisa estar entre os quatro melhores na Copa América. Quer dizer, tem de superar, em teoria, pelo menos um entre Canadá, Porto Rico e República Dominicana, ainda que não esteja pronto para descartar o Urutuguai e a anfitriã Venezuela, mesmo sem Greivis Vasquez, mas com o ala americano Donta Smith contratado nacionalizado.


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