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Arquivo : Jorge Gutiérrez

Brasil ‘iguala’ Cuba em novo revés. Mais: Marquinhos, Ayón e Gutiérrez
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Giancarlo Giampietro

Ayón, um craque quase, digamos, Scolístico para o México

Ayón, um craque quase, digamos, Scolístico para o México

O Brasil sofreu sua segunda derrota em três jogos pela Copa América, nesta quarta-feira. Perdeu para o México, num ginásio pegando fogo. Vou quebrar um pouco o padrão aqui até para não ser muito repetitivo. O placar meio que já diz tudo: 66 a 58. Pela segunda vez, então, a equipe de Rubén Magnano não conseguiu passar da casa dos 60 pontos.

Isso até quer dizer que podem estar enfrentando defesas fortes, combativas num torneio em que, para o resto do continente, estão valendo duas vagas olímpicas. Natural que ofereçam resistência. Mas… Aí a gente dá uma conferida na tabela completa da competição e faz umas contas. Sabe qual a outra equipe que teve duas partidas com ataque tão anêmico no torneio até aqui?

Cuba.

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Sim, Cuba, que até apresentou alguns talentos interessantes nesta semana (depois de um loooongo inverno), mas é o único time amador em quadra. Literalmente.

Foi uma pesquisa simples de se fazer. Não pediu muito tempo para checar dados de arremesso da zona morta, da cabeça do garrafão, cesta assistidas, média de turnovers por troca de passe etc. Então não é querer me vangloriar, nem nada. Mas acho que, fora o visual, fora o que temos visto nos últimos dias, não vai ter dado mais preocupante que esse. Que, num filtro ofensivo, estejam os brasileiros ao lado dos cubanos. Não rola.

Mineiro, aqui e ali, mostra lampejos de seu talento. É um jogador muito interessante, com diversas qualidades raras para alguém de sua estatura e que podem ser mais exploradas. Mortari sabe

Mineiro, aqui e ali, mostra lampejos de seu talento. É um jogador muito interessante, com diversas qualidades raras para alguém de sua estatura e que podem ser mais exploradas. Mortari sabe

A preocupação maior aqui é que as questões sobre o sistema ofensivo brasileiro vêm de longe (*). Contra a Sérvia, ao ser eliminada nas quartas de final da Copa do Mundo, a seleção, não por acaso, também ficou abaixo dos 60 pontos, terminando em 56. Entender por que isso acontece vai muito além de frases como “a bola não roda”, “o chute não caiu”, “já estão classificados”, “não estão com força máxima”, embora todas elas possam fazer parte da explicação. Como a promessa era de não se estender muito aqui, vamos divagar a respeito desse tópico ao final do torneio. Contra os mexicanos, o Brasil fez mais um jogo amarrado, controlado. Partindo para o trabalho de meia quadra pouquíssimo sucesso: 35% nos arremessos de quadra, mais turnovers (14) do que assistências (12), falha nos tiros de fora 4-13 (o volume reduzido, pelo menos).

(*PS: atualizando, de acordo com a observação pertinente “Hugo X” — só não entendo o anonimato obrigatório dos comentários, mas tudo bem. Vamos lá: vêm de longe os problemas, pensando na Copa América de 2013, a Copa do Mundo do ano passado. O Pan? Vai ser enquadrado na categoria de exceção, se a seleção se classificar para a próxima fase e mantiver o nível de jogo que temos visto aqui. E pode ser que eu simplesmente esteja errado quanto ao nível técnico da competição, que talvez este Brasil fosse muito superior àqueles rivais? Pode muito bem ser isso. Mas também começo a pensar se esse time não está simplesmente cansado. É um elenco mais jovem do que o principal, mas também não é um plantel sub-22. Alguns desses caras vararam a temporada, por assim dizer. Eles se reuniram no dia 14 de junho. Ao final do torneio, serão três meses de seleção. Um período muito mais longo que o normal de anos anteriores. Não há nunca uma só resposta para entender uma equipe de esporte, futebol, vôlei ou bocha. Como disse: vamos voltar a esses tópicos ao final do torneio. É preciso também conversar com os jogadores e treinadores para ver qual a opinião deles, uma vez que a cobertura brasileira na Cidade do México no momento é quase nula.)

Em termos pontuais, sem trocadilho, o que é necessário registrar é que Marquinhos dessa vez teve um volume de jogo bem menor. Partimos de um extremo em que ele estava usando quase 30% das posses de bola da equipe, segundo as contas sempre valiosas do MondoBasket, para outro: o ala flamenguista, que era o segundo cestinha da competição, arriscou apenas três arremessos em 26 minutos, marcou dois pontos e deu uma assistência. Resta saber se isso também foi algo programado, ou se o jogador estava muito preocupado em não parecer um fominha. A abordagem foi totalmente diferente, talvez por reflexo direto do que se passou nas duas primeiras rodadas. O jogo vinha sendo canalizado nele, mas não por uma tentativa de ato heroico da sua parte. Era simplesmente a consequência de um sistema que não funciona e que, por isso, apela ao seu atleta mais talentoso. Um jogador que tem visão de quadra, gosta de envolver seus companheiros e, num ataque mais fluido, pode render horrores.

Vitor Benite, por outro lado, conseguiu produzir, dessa vez conseguindo atacar a cesta, escapando dos bloqueios no perímetro, para marcar 23 pontos, tendo feito mais nos lances livres (10) do que em bolas de três (9). Outro dado chamativo, que quase tira o Everaldo do sério (imagine o Magnano, então…), diz respeito aos rebotes ofensivos. A proteção brasileira inexistiu, permitindo 17 coletas na tábua de ataque para os anfitriões. Comparando: foram 23 defensivos para os caras, enquanto a seleção nacional teve apenas 28 no total.

De resto, não há como não falar sobre o talento de Gustavo Ayón. Para quem acompanha o blog desde a encarnação passada, sabe que é um dos queridinhos desse espaço, ao lado de Andrés Nocioni e Andrei Kirilenko. De todo modo, pelo fato de não ter conseguido encontrar estabilidade na NBA, talvez ainda seja um cara desconhecido pelo público geral. Para os corajosos que se aventuraram na calada da noite para ver esta pelada, o cartão de visitas foi entregue. Pensando no mundo Fiba, o pivô mexicano talvez seja aquele que mais se aproxime de Luis Scola em termos de relevância para a sua seleção. Não estou comparando habilidades, que fique claro, até por serem dois caras que se complementariam muito bem. Foram 27 pontos e 13 rebotes para o cabrón, com impressionantes 12-19 nos arremessos de quadra (63%). Reparem em como ele se desloca dentro do perímetro, criando situações de cesta mesmo quando não está com a bola dominada. Isso é também um talento, e talvez mais difícil ainda de se ensinar, por estar diretamente ligado à visão de jogo. Craque, guiando o time às conquistas da Copa América e do CentroBasket.

Por fim, um destaque também para Jorge Gutiérrez, um jogador para o qual o selo NBA faz justiça. Fosse ele armador do Capitanes, do Peñarol ou do Trotamundos, e talvez não lhe dessem muito valor internacionalmente. Até por ser mexicano, um país que não tem tanta tradição assim na exportação de talentos de ponta. Gutiérrez é um belíssimo armador, grande em muitos sentidos. Alto, bem fundamentado e com explosão que pega as defesas desprevenidas. Há tipos que correm, correm e correm e não chegam a lugar nenhum. Para o apadrinhado de Jason Kidd, funciona de outro modo: com seu ritmo maneiro, deixa para explodir rumo ao garrafão só quando percebe a brecha à sua frente. Terminou com 14 pontos, 7 rebotes e 4 assistências em 28 minutos.


México toma de assalto o grupo da Argentina e se recoloca no mapa do basquete das Américas
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Giancarlo Giampietro

O técnico Sergio Valdeolmillos e sua prancheta

Treinador Sergio Valdeolmillos e a equipe-sensação do torneio

Ter um ala-pivô de NBA, que já foi um jogador top na Liga ACB, em meio a um monte de adversários desfalcados, pode fazer toda a diferença nesta Copa América.

Né, Luis Scola Gustavo Ayón?

Com o ala-pivô do Atlanta Hawks em sua escalação, o México se transformou no bicho papão do Grupo A da Copa América, vencendo seus três primeiros jogos – da mesma forma que fez Porto Rico no Grupo B, de Brasil.

Se alguém estava escondendo jogos nos amistosos, temos o vencedor: a seleção mexicana, que trouxe seus jogadores desconhecidos para um giro de amistosos arqui no Hemisfério Sul e, na hora do vamos ver, adicionou um craque do quilate de Ayón para fazer a diferença. Mas vamos falar especificamente sobre ele um pouco mais adiante no torneio, mas só fica um aviso: de nada vale olhar sua ficha de estatísticas de NBA na hora de avaliar seus talentos. De todo modo, o que temos é uma surpreendente seleção, passados quatro dias.

“Eu bem que gostaria assumir que podemos chegar ao Mundial. É verdade que a soma de vitórias nos gera outra responsabilidade e motivação. Mas a análise que fazemos é que o México não tem uma história no basquete. Viemos com muita humildade”, afirmou o técnico Sergio Valdeolmillos.

Neste ponto, vale destacar a curiosa e relação entre México e o restante do continente.

Com gente da Patagônia ao Alasca, a cada dois anos, a Fiba realiza essa confraternização chamada Copa América, em que velhos conhecidos como Daniel Santiago, Hector Romero, Rubén Garces e outros tantos personagens se reencontram para colocar a conversa em dia. Figuras que o amaaaaante do basquete brasileiro – coisa piegas, hein? Mas vá lá… – aprendeu a achincalhar ou adorar, dependendo do gosto, que tem pra tudo. Nesse ambiente, contudo, os primos pobres da América do Norte parecem verdadeiros estranhos no ninho.

São pouquíssimas as referências que temos deles. Até outro dia desses “Eduardo Nájera” parecia sinônimo de “basquete mexicano”. Ou que tal “Horacio Llamas”? Algo natural, considerando que seja muito difícil o esporte se desprender da política e cotidiano de um país – e eles estão completamente virados para o Norte de sua fronteira, nesse sentido. Seus jogadores estão espalhados pelas universidades das diversas conferências da NCAA espalhadas pela Costa Oeste americana. Na contramão, a liga mexicana paga bem, aproveita americanos de maior quilate do que os que estamos acostumados a receber em clubes do NBB. E fica basicamente  por aí o intercâmbio dos caras.

Daí que corre-se o risco de assumir Ayón como o Nájera da vez, ignorando outros jogadores perigosos como o chutador Orlando Méndez, ala-armador com 14,3 pontos e aproveitamento de 50% nos tiros de três pontos até aqui, um perigo quando livre na zona morta. Os defensores precisam ficar colados para contestar seu arremesso, considerando sua baixa estatura.

Mas vale ficar de olho, mesmo, no ala-armador Jorge Gutiérrez, 24, 14,7 pontos de média e aproveitamento de 61,9% nos arremessos até aqui. O ex-aluno da Universidade da Califórnia não teve problema nenhum em ralar com Alex Garcia nos amistosos de preparação – foi um atleta que chamou muito minha atenção no confronto realizado no Paulistano, por seu primeiro passo explosivo e a habilidade para converter bandejas. Basicamente: um sujeito muito difícil de se conter quando ele bota na cabeça que seu destino final é a cesta.

E adivinha só?

Em seu perfil no site oficial, a Fiba coloca uma foto de… Gustavo Ayón, claro. Figura onipresente, num México que entrou de vez na briga por vaga Copa do Mundo.

Hora de aprender um pouco mais sobre eles.

*  *  *

O México não joga o Mundial desde 1974, quando terminou com a oitava colocação. Sua melhor classificação? Um oitavo lugar em…1967, no Uruguai, quatro anos depois de ter ficado, no Rio de Janeiro, em nono. Em termos de Olimpíadas, olha que coisa: ganharam um bronze histórico nos Jogos de Berlim 1936. O país não disputa essa competição desde Montreal 1976, quando ficou em décimo.

*  * *

Nono, sexto, décimo, sétimo, sétimo e ausente: esse é o retrospecto da seleção mexicana nas últimas seis edições da Copa América. Sim, eles nem jogaram em Mar del Plata.

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No Draft Brasil, o fuçador Luiz Gomes resgata a história de Manuel Raga Navarro, um craque mexicano que em 1970 chegou a ser draftado pelo Atlanta Hawks, em posição de pioneiro. Ele esteve presente nas campanhas da década de 60 citadas acima. Muito antes de Nájera e Ayón. Vale muito a leitura.


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