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A NBA inteira aguarda diagnóstico de Stephen Curry
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Giancarlo Giampietro

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O Golden State Warriors espancou o Houston Rockets, por 121 a 94, bateu o recorde de cestas de três pontos pelos playoffs da NBA, abriu 3 a 1 na série, mas não vai comemorar absolutamente nada em seu retorno a Oakland. Pelo menos não enquanto os médicos do clube não comunicarem a Steve Kerr que Steph Curry não sofreu nenhuma lesão mais grave. Que não passe de um susto besta, depois de ele escorregar em uma área molhada da quadra.

Depois de perder dois jogos devido a uma torção de tornozelo, o MVP da temporada (ninguém vai esperar o resultado oficial, certo?) agora caiu de mal jeito ao tentar um arremesso de três pelo segundo período e virou o joelho. O que preocupa demais, especialmente depois de ver sua reação nos corredores e de se saber, via Draymond Green, que ele chorava na lateral da quadra, quando percebeu que não conseguiria jogar mais naquela noite. Curry tentou acelerar sua passada rumo ao vestiário, talvez para provar a si mesmo que a lesão não era tão grave assim, e…

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Para Kerr e seus jogadores, a esperança é que ele não tenha nenhum dano estrutural, de ligamento, e que alguns dias a mais de repouso sejam o suficiente para ele jogar – ajudaria também que Clippers e Blazers prolongassem ao máximo sua série. Vai fazer uma ressonância magnética na segunda-feira, e ninguém merece um desfecho diferente desse. Gregg Popovich certamente detestaria ouvir o contrário. Seria algo devastador e que colocaria um tremendo asterisco na atual temporada.

Por tanto tempo, desde que estes caras abriram sua campanha arrebentando com tudo e todos, virou senso comum que apenas dois ou três fatores poderiam impedir o bicampeonato:

A) o Spurs

B) o Cavs, quiçá

C) uma desgraçada lesão.

Essa terceira alternativa foi tão repetida que até faz o estômago embrulhar. Cadê a madeira mais próxima? Só não vale questionar a decisão de por o armador em quadra. Ele não escorregou porque estava com o tornozelo dolorido. Acidentes acontecem, mesmo com uma equipe que vem controlando sistematicamente o tempo de quadra de seus principais jogadores.

Sem Curry, o Warriors demonstrou seu caráter, bem como a profundidade e versatilidade de seu elenco. Após o intervalo, Andre Iguodala (defesa contra Harden, canivete suíço), Klay Thompson (bangue-bangue!) e Draymond Green (defesa contra Howard, imposição física e canivete suíço) jogaram uma barbaridade.

Os últimos 24 minutos de jogo foram vencidos por 65 a 34, com um bombardeio inclemente de longa distância, mesmo que o melhor arremessador do planeta não estivesse nem mesmo no banco de reservas. Foram 21 cestas de três, ou 63 pontos gerados desta maneira. Recorde. Ao todo, nove atletas mataram ao menos uma de fora, liderados pelas sete de Thompson.

Quer dizer: houve vida sem Curry, com duas vitórias sem que o armador estivesse disponível. Só não dá para se iludir muito com isso. O que o segundo tempo também nos mostrou foi o quanto o nível de esforço deste Houston Rockets pode ser patético. Não há desculpas para esse desempenho.

Fica pior ainda se você for comparar com o que os estropiados Memphis Grizzlies e Dallas Mavericks fizeram para chegar aos playoffs. Mesmo que não representem um desafio tão grande, respectivamente, para San Antonio – que já completou sua varrida – e OKC – depois do susto, a bonança –, não há como questionar sua dedicação geral. Na verdade, não dá para comparar, mesmo, nem imaginar que J.B. Bickerstaff pudesse se comover com seus atletas desta maneira :

(Dave Joerger, com louvor.)

Sem Curry, Steve Kerr pode esperar dedicação semelhante em seu vestiário, claro, com muito mais talento que o Esquadrão Suicida de Memphis ou que os veteranos de Dallas. Pensar em qualquer coisa nessa linha, porém, seria doloroso demais.

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Jukebox NBA 2015-16: Grizzlies, bala na cabeça e resistência
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Bullet in the Head”, por Rage Against the Machine

O Memphis Grizzlies é o símbolo da resistência nesta temporada da NBA. Desde o princípio. Se Chicago e Indiana haviam abandonado o movimento, os senhores do “Grit & Grind” ainda apostavam em sua dupla de pivôs, em atacar o garrafão com brutamontes, em vez de ágeis e serelepes armadores, para abrir a quadra. Só não estavam completamente isolados devido ao resgate desta forma pelo San Antonio Spurs.

O recuo de Gregg Popovich, de todo modo, talvez tenha mais a ver com a proposta que julgue mais oportunista para o contexto atual de sua equipe, para tentar derrubar o Golden State Warrirs. Creio que só resgatou a fórmula que tanto castigou o Phoenix Suns de Nash e D’Antoni, por entender que seria muito complicado apostar corrida com os atuais campeões, em vez acreditar que há uma nova velha tendência na liga a ser capitaneada.

Uma vez eliminado dos playoffs no ano passado em uma épica série contra o Clippers, Popovich pode muito bem ter largado tudo para curtir a rota vinícola californiana. Ou pode ter dado uma espiada na semifinal de conferência entre Warriors e Grizzlies, em que os Splash Brothers e parceiros sofreram um tanto, e pinçado uma ou outra dica dali, a ponto de abastecer seu time com cinco pivôs de nível excepcional para bater bife na zona pintada.

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Já Memphis… Bem, o Memphis, com todo o respeito que o clube a cultivou nos últimos anos, vindo de três temporadas acima das 50 vitórias e de uma liderança de 2-1 neste embate com Golden State, não poderia se planejar seu elenco precisamente por conta de um oponente. Por mais otimistas que seus diretores possam ser, deveriam saber que a luta pelo título era algo improvável. Mas o contrato de Marc Gasol estava renovado, Zach Randolph, ao que tudo indica, não foi envolvido em nenhuma negociação séria, e ainda trataram de contratar Brandan Wright para fazer a escolta do velho par, cobrindo a lacuna deixada por Kosta Koufos.

Acontece que, dessa vez, a tática falhou. Muito antes das lesões, a equipe estava com dificuldade para assumir seu posto entre a elite do Oeste. Não em termos de competir com Warriors e Spurs, dois times que se distanciaram do pelotão muito cedo e com propriedade. A defesa, consistentemente uma das mais fortes da liga, não funcionava, com seu gigante espanhol fora de forma, fazendo sua pior temporada nesta década. Até o All-Star Game, era apenas a 16ª retaguarda mais eficiente da liga. Comparando, o time sempre esteve no top 10 de 2011 a 2015. E não é que tenham perdido intensidade na contenção para inflamar o ataque: seu sistema ofensivo continuava sôfrego (apenas o 20º…), sem uma artilharia confiável de fora.

E aí começou. Mike Conley, Zach Randolph, Wright, as suspensões de Matt Barnes… Até Marc Gasol sofrer uma fratura no pé, passar por cirurgia e ser afastado da temporada. Parecia, à época, a gota d’água. Por mais que tivessem boa vantagem para os times fora da zona de classificação, a posição na zona de classificação aos mata-matas parecia seriamente ameaçada.  E ainda vieram as trocas de Courtney Lee e Jeff Green.  Sério: como você vai sobreviver a isso?

Randolph, um dos poucos rostos familiares por aí. Mas com problemas no joelho

Randolph, um dos poucos rostos familiares por aí. Mas com problemas no joelho

Simples: lutando, resistindo. Os caras não só se seguraram no quinto lugar da conferência, como conseguiram aumentar a vantagem para o sexto, que hoje é o Portland, mas já foi o Dallas. Não que tenham sido espetaculares, arrasadores – desde que seu principal jogador foi vetado, o Grizzlies disputou 20 partidas e venceu 11. Mas um aproveitamento superior a 50%, nessas condições, é algo fenomenal, ainda mais considerando que seu rendimento ofensivo e defensivo caiu desde o All-Star.

E quais são essas condições? Poderíamos dizer “calamitosas”, não fosse a resposta que mais importa, aquela que se dá em quadra, e por isso a trilha a de ser de porrada na orelha, ou, hã, bala na cabeça. É uma música que está entre as letras menos politizadas do Rage Against the Machine, mas entre seus seus sons mais raivosos.

Vejamos: até o início da semana, o time só estava atrás do Washington Wizards, de Nenê e Brad Beal, em termos de jogos perdidos por lesão, uma conta que aumentou recentemente com a ruptura que Mario Chalmers sofreu no tendão de Aquiles – algo muito cruel para um atleta que fazia um belíssimo campeonato e está prestes a entrar no mercado de agentes livres – e com a distensão na virilha de PJ Hairston.

Chalmers estava jogando muito até sofrer grave lesão. Rogaram praga?

Chalmers estava jogando muito até sofrer grave lesão. Rogaram praga?

Para compensar tantos desfalques, a diretoria e seus scouts tiveram de se desdobrar. Hoje já são 27 jogadores utilizados neste campeonato, o que dá mais de cinco quintetos e praticamente dois elencos completos (cada equipe pode ter 15 atletas no máximo). Para constar, as trocas realizadas durante a temporada também influenciam aqui, com a chegada de Lance Stephenson, Chris Andersen, James Ennis, Chalmers e Hairston. Mas foram as questões médicas, mesmo, que mais contribuíram para essa lista, pedindo as contratações de curto prazo, aqueles vínculos básicos de 10 dias. Ryan Hollins, Elliott Williams, Ray McCallum e Jordan Farmar nós conhecíamos de outros verões – e, para constar, quanto à semana passada, Farmar diz que estava sentado no sofá; em sua estreia, contra o Phoenix Suns, cobrou lances livres decisivos pela vitória.  Mas e quanto a Briante Weber, Xavier Munford e Alex Stephenson? Um chegando atrás do outro pela porta giratória. “Com todo o respeito, mas às vezes eu não sei… os sobrenomes deles. Esse é o tipo de temporada que tivemos”, afirmou Matt Barnes ao ESPN.com.

As idas e vindas causam uma bagunça. Se os próprios jogadores não se reconhecem com facilidade, imagine os oponentes como ficam? Depois da vitória mais expressiva desse grupo – um triunfo por 106 a 103 em Cleveland –, Kyrie Irving admitiu que havia se preparado para jogar contra Conley e afins e se viu surpreendido em quadra.  “Tem noite em que não vai ser bonito, mas vamos para a quadra competir e nos dar uma chance real de vencer. É fácil olhar para nosso time e rir, nos subestimar, se você é o jogador adversário. Mas se eles vão para o jogo e acham que podem te dominar cedo, pode ser uma longa e  dura noite para nós, então não queremos nos meter numa situação dessas”, afirmou o técnico Dave Joerger, para quem fazer esse tipo de observação deve ser uma ironia.

Se, para a NBA em geral, seu atual elenco é feito de remendos e renegados, para um treinador que iniciou sua carreira em ligas menores dos Estados Unidos, acostumado a pegar o busão, dormir em motéis à beira de estrada. De 1997 a 2004, passou pelo Dakota Wizards. Antes de chegar ao Sioux Falls Skyforce, pelo qual ficou de 2004 a 2006, ainda teve breve passagem pelo glorioso Cedar Rapids River Raiders. E aí voltou para mais uma temporada em Dakota, até ser contratado como assistente do Memphis.  Então não é que ele vá reclamar de poder contar com alguns veteranos como Tony Allen, Vince Carter e Barnes, que sabem o caminho das pedras, ou de jogadores ainda em busca de formação, mas promissores, que poderiam ser titulares em 90% da Euroliga.

Joerger: não há desconforto em Memphis depois de Dakota

Joerger: não há desconforto em Memphis depois de Dakota

O técnico destaca a liderança de seus atletas mais experientes, ajudando na aclimatação dos mais jovens. E esses caras que estão chegando sabem que pode ser a grande oportunidade de suas carreiras. A mistura vem dando certo. “Normalmente, quando temos tantas contratações pontuais, com jogadores da D-League, é para um time que não esteja competindo mais por nada. Mas o fato de estarmos lutando por uma posição nos playoffs, sustentando e até mesmo aumentando a vantagem, você tem de tirar o chapéu para esses caras que entraram e jogaram”, disse Barnes.

Neste mês, o time só levou sofreu duas derrotas de lavada, incluindo uma surra de 49 pontos contra o Rockets, em Houston. Em suas vitórias, só teve uma por duplo dígito, contra o Clippers, no dia 19. De resto, os placares se alternam entre -10 e +7 de saldo. Melhor é vencer como o Warriors, claro, ou como o Spurs. Mas nem todo mundo tem Splash Brothers. Aí procura-se um jeito. O curioso é que,  casualmente, Joerger encontrou uma formação de “small ball” funcional, mesmo sem arremessadores, mas com atletas versáteis, multifuncionais que cobrem uns aos outros, como Barnes, Carter, Stephenson, o calouro Jarell Martin, JaMychal Green. “Acho que somos uma equipe assustadora. Acho que somos o Golden State sem o poderio de chute. Nós todos podemos fazer muitas coisas em quadra, fazer jogadas”, disse Barnes.

Nesse contexto, gente, Allen tem média de 15,0 pontos neste mês, sendo que em sua carreira o máximo que teve foram 11,5 pontos no terceiro ano em Boston, com direito a jogos de 26 e 27 pontos. Ele não chegava a 20 pontos desde 2011-12. JaMycal é uma revelação (aliás, vale a regra: se um jogador tem o selo do Spurs, mas acaba dispensado, por razões diversas, não custa dar uma investidada).  Stephenson reencontrou a luz, se sentindo livre para criar. Ainda tentando entrar em boa forma, depois de uma lesão em sua última temporada por LSU, o calouro Martin tem seus momentos.

O que dá ainda mais graça nisso tudo é o conjunto de personalidades intrigantes agrupadas pelo gerente geral Chris Wallace. Tony Allen já pautava a loucura por lá, até com karaokê. Matt Barnes deu uma bela contribuição financeira ao clube e à liga em geral com suas suspensões, desde a briga com Derek Fisher a uma visita ou outra ao vestiário do oponente. Zach Randolph já se acalmou bastante desde o final da adolescência em Portland, mas vai aparecer aqui e ali com uma declaração de fazer chorar (de rir). Mario Chalmers é outro de frases daquelas. E aí, em trocas, Joerger ainda ganhou caras como Lance Stephenson, PJ Hairston e Chris Andersen. Para ficar nas referências ao universo pop, é como se fosse o Esquadrão Suicida. Ou como se Mike Conley se visse como Nicholas Cage em “Con Air”, clássico de “Temperatura Máxima”. Todo mundo merece uma segunda chance. Ou terceira. Ou quarta.

Com tanta excentricidade no vestiário, é capaz de os adversários realmente considerarem essa versão do Grizzlies assustadora, por outros motivos. Não era exatamente esse o plano, mas o “Grit & Grind” segue vivo.

A pedida: manter o quinto lugar e tentar infernizar ao máximo a vida dos velhos amigos/inimigos do Clippers na primeira rodada.

A gestão: com tamanho caos em quadra, a franquia passa por mais uma turbulência fora de quadra, como de praxe desde que o bilionário Robert Pera fechou sua compra. Segundo reportagem do ESPN.com, existe uma tensão entre os acionistas minoritários, que acusam um distanciamento de Pera, que os teria afastado das decisões diárias, mesmo que não esteja mais perto do clube, no dia a dia.

Entre tantos ricaços, com as mais diversas origens no mundo dos negócios, imagine a fogueira de vaidades. Esse é o tipo de entrevero que deve acontecer com frequência ao redor da liga, mas que quase nunca alcança as manchetes. Dessa vez só veio à tona quando Steve Kaplan, um desses acionistas minoritários, se colocou como candidato à compra do Minnesota Timberwolves.

Até o momento, o departamento de basquete, com Chris Wallace estabelecido como gerente geral e assessorado pelo veterano Ed Stefanski e pelo supernerd John Hollinger, parece blindado, e nada mais merecido, com tanta dor-de-cabeça para montar o time. Na busca por novas peças, Wallace optou por uma estratégia menos conservadora, e deu certo. Se Ryan Hollins foi contratado, quem o pediu era Dave Joerger. De resto, a diretoria decidiu apostar. “Temos procurado jogadores jovens para se analisar, e é algo que meu histórico mostra. Já me vi envolvido nesse tipo de situação na minha época de Miami, Boston e aqui. E as melhores apostas, como quando trouxemos Bruce Bowen para Miami, Adrian Griffin para Boston, eram caras jovens que não tiveram muitas oportunidades. Eles não tiveram a oportunidade de serem rejeitados e de falharem, como muitos caras mais velhos. Tivemos sorte com alguns desses jogadores, e eles ficaram na liga por um bom tempo”, afirmou.

E o Memphis precisa desse tipo de jogador. Se renovar com Mike Conley, sua folha salarial  já deve atingir a marca de US$ 70 milhões, para oito atletas. Por mais que o teto esteja prestes a subir consideravelmente, não sobraria muito para reforçar uma base envelhecida e que, hoje, não se vê em condições de fazer muito barulho nos playoffs. Sob contrato, seriam apenas dois jogadores jovens para desenvolver:  Jarell Martin e o lesionado Jordan Adams, ala que até agora não disse a que veio.

Ao menos o clube conseguiu recuperar algumas escolhas de Draft com trocas que, no final, não atrapalharam em nada o rendimento do time em quadra.  Courtney Lee contribui para o sucesso do Charlotte Hornets, mas não faria diferença neste novo contexto do Grizzlies. Jeff Green é aquele vive de lampejos aqui e acolá, numa irregularidade que não o permite se fixar em lugar nenhum, mas ainda atrai algum concorrente, sendo trocado pela quarta vez na carreira. Ao cedê-los, conseguiu uma escolha futura de primeira rodada e mais quatro de segunda, compensando algumas negociações do passado, com seleções prometidas ao Denver Nuggets e ao Boston Celtics.

Olho nele: Lance Stephenson

Olho no Lance

Olho no Lance

Para a torcida do Memphis, o ala já virou um problema. Mas dos bons, quem diria. Depois de uma passagem desastrosa pelo Hornets e de mal ser aproveitado por Doc Rivers pelo Clippers, Stephenson chegou a Memphis totalmente desprestigiado. Em seu release para anunciar a transação, o clube citou primeiro a escolha de Draft que receberia de Los Angeles, para depois mencionar o desmiolado ala como complemento. Havia a possibilidade de ele ser dispensado logo de cara, mas alguns atletas se manifestaram internamente a seu favor, acreditando em sua recuperação, de que poderiam, digamos, controlá-lo.

Em 17 jogos, aproveitando-se de tantos desfalques e da carência de homens criativos na escalação, o antigo pupilo de Larry Bird promoveu uma reviravolta em sua temporada. Enquanto Conley não volta, Stephenson é aquele que tem mais recursos no elenco ativo para criar situações de cesta por conta própria, usando 26,2% das posses de bola da equipe, o maior da temporada, produzindo 15,1 pontos, 2,8 assistências e 5,1 rebotes, com 49,8% de acerto nos arremessos, em 26,2 minutos.

O que pega nisso tudo é que, para a próxima temporada, Chris Wallace vai ter decidir o que fazer com o talentoso, mas problemático jogador. Seu contrato prevê um salário de US$ 9 milhões, mas sem garantias. O diretor pode dispensá-lo até julho, sem precisar pagar um tostão sequer. É uma boa grana, sem dúvida, mas, daqui a alguns meses, com a previsão de inflação geral, pode parecer uma pechincha. Agora: obviamente que tudo que se refere ao ala tem de ser apreciado com moderação. Estabilidade nunca foi seu forte, e nas últimas partidas, desde a chegada de Jordan Farmar, seus minutos e arremessos já estão mais controlados por Joerger.

juan-carlos-navarro-grizzlies-cardUm card do passado: Juan Carlos Navarro. Que tal falar sobre oportunidades desperdiçadas? Em 2007, o clube conseguiu convencer Navarro a abrir mão de seu reinado catalão para se juntar ao amigão Pau Gasol no interior do Tennessee. Os direitos sobre o espanhol pertenciam ao Washington Wizards, mas a diretoria queria tanto o cestinha, que aceitou pagar uma escolha futura de primeira rodada para contratá-lo. Como sabemos, o cestinha ficou apenas um ano no time, foi um prejuízo danado. Mas isso não tem nada a ver com a incapacidade de JC de emplacar o apelido de “La Bomba” na NBA. Alguém com seu arremesso, velocidade de raciocínio e personalidade vai encontrar um lugar em praticamente qualquer time do mundo. Acontece que aquele Grizzlies em específico, a despeito da presença de Pau Gasol, não estava preparado para recebê-lo.

Navarro chegou a um clube que havia ficado fora dos playoffs na temporada anterior, depois de alguns anos bem-sucedidos com o genial Hubie Brown e o czar Mike Fratello. A bola da vez era Marc Iavaroni, assistente de Mike D’Antoni no badalado Phoenix Suns de então. Pois a passagem de Iavaroni por Memphis foi um desastre absoluto. É difícil encontrar ex-jogador, ex-diretor, qualquer um que seja, disposto a elogiar o treinador. A equipe entrou em colapso, venceu apenas 22 jogos e, para piorar, mandou seu principal jogador para o Lakers, deixando seu compatriota desolado. Ficou um aninho apenas nos Estados Unidos e logo retornou ao Barça, correndo. É a diferença que faz quando um clube consegue cultivar internamente uma cultura vencedora. Por maior que seja o número de malucos no vestiário hoje, Memphis ainda está segurando as pontas.


Como o Golden State Warriors vai reagir à adversidade?
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Giancarlo Giampietro

Tony Allen, uma peste infernizando os Splash Brothers

Tony Allen, uma peste infernizando os Splash Brothers

O Golden State Warriors viveu um ano praticamente perfeito. Um técnico novo brilhante, um sistema repaginado, e a dominância da NBA.  A melhor defesa, o segundo melhor ataque, sufocando e correndo. O MVP Stephen Curry. O grande salto de Klay Thompson e Draymond Green. Um elenco versátil. Tudo isso para desembocar na melhor campanha da liga, com sete vitórias a mais que o Atlanta Hawks, com um aproveitamento de 81,7%. Não só isso, mas a sexta melhor campanha da história, ao lado de outros times históricos.

Agora, esse mundo perfeito se vê seriamente ameaçado, após duas derrotas seguidas para o Memphis Grizzlies, que se vê liderando a série pelas semifinais do Oeste ao limitar o poderoso ataque californiano a apenas 89 pontos no Jogo 3. A pauta obrigatória, então, é a seguinte: como o Warriors vai responder a tamanha adversidade? A primeira verdadeira resistência que enfrenta desde o início da temporada. “Esse é um processo de aprendizado para nós. Somos um time muito jovem”, afirma o treinador Steve Kerr. “Agora este é o nosso momento da verdade. Você tem de aprender durante os playoffs.”

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Talvez a intenção de Kerr seja dizer que seu elenco é inexperiente, não jovem de idade, uma vez que a média de idade do elenco é de 27 anos, contra 27,7 do Memphis Grizzlies. O núcleo de Stephen Curry (27), Klay Thompson (25) e Draymond Green (25) chegou a esta edição dos mata-matas com apenas três séries disputadas em 2013 e 2014. Do outro lado, o Memphis Grizzlies já tem uma base que está em seu quinto ano de competição em alto nível, com sete séries e 42 partidas na caixola. Entre tantos componentes táticos do confronto, a experiência, o emocional também faz diferença, não há como negar.

As coisas ameaçam sair, ou já saíram do controle de Curry

As coisas ameaçam sair, ou já saíram do controle de Curry

Agora fica essa dúvida sobre como esses caras vão se comportar no Jogo 4, claramente decisivo, nesta segunda-feira. Após a segunda derrota seguida, a resposta deles foi de tranquilidade. De que, obviamente, as coisas não haviam saído como queriam, mas que tinham plena capacidade de reverter o quadro e acalmar a turbulência que, sabem, já gira em torno do time, fora do vestiário. Aliás, é o que eles ouvem durante todo o campeonato, aquela de sempre: o sucesso da temporada regular vai se traduzir para os playoffs? Esse estilo de jogo pode ser vencedor? “Eles são uma equipe que só ataca com arremessos. Arremessos não dão certo. Todo esse tipo de coisa vai aparecer agora”, afirma Draymond Green, com a personalidade de sempre. “É frustrante, mas é divertido”, diz Curry.

Personalidade? Green pode ter atacado muito mal, acertando apenas uma de oito tentativas de cesta, mas ele mesmo diz que não é chutando que ele vai ajudar o Golden State a virar a série. Sua relevância maior está na defesa, na liderança e nos pequenos detalhes. Porém, no quarto período deste sábado, quando o Warriors já tentava antecipar sua reação antes de conceder mais uma derrota, o ala-pivô falhou clamorosamente.

Primeiro, invadiu o garrafão durante um lance livre cobrado por Curry, o maior arremessador desta geração. Perdiam por seis pontos, a 3min35s do fim, e cada cesta era importante. “Foi apenas uma jogada estúpida que você não pode cometer num jogo desta magnitude, e assumo toda a responsabilidade por isso, já que não fez o menor sentido. Você está falando de um cara que supostamente tem um elevado QI”, afirmou, de novo, com a mesma sagacidade de sempre. O atleta é duro ao falar sobre os outros. Não ia mudar o tratamento em uma autorreferência.

Draymond Green corre em direção a Coutrney Lee e ao turnover

Draymond Green corre em direção a Coutrney Lee e ao turnover

O problema é que, dois minutos depois, precisamente a 1min13s do fim, Green se atrapalharia novamente. O Grizzlies já não tinha Marc Gasol em quadra, excluído com seis faltas, e o placar apontava cinco pontos de diferença, com posse de bola para os veteranos. O ala-pivô saiu em disparada com a bola, driblando-a feito um maluco, na tentativa de acelerar o jogo e pegar a defesa desprevenida. Na verdade, quem não estava preparado para a transição era o próprio jogador, que deu de cara com Courtney Lee, pronto dar o bote e recuperar a bola. Um baita estrago.

E aí a gente se pergunta: o que levou Green a deslizar desta maneira? Foram dois erros bestas na conta de um jogador que, sim, continua sendo um dos mais inteligentes da liga. Talvez só mais difíceis de entender do que os três lances livres errados em quatro batidos por Klay Thompson em todo o jogo. Ou o fato de Curry ter desperdiçado também outros dois chutes em sete disparos a partir da linha. Na temporada regular, eles acertaram, respectivamente, 91,4% e 87,9%. Nos playoffs, os números despencaram para 83% e 65%. Nesse contexto, a invasão de Green fica um pouco menos grave, já que não era um ponto tão garantido assim. Nota-se um desequilíbrio do time para além dos lances livres, contudo. Nos tiros de longa distância, mesmo quando bem posicionados e se contestação, os atletas do Warriors falharam nos últimos dois jogos. Acertaram apenas 4 de 18 chutes quando estavam “totalmente livres”, segundo a medição do SportVU, o sistema que digitaliza toda a ação das partidas em cada ginásio de NBA. Quando tinham defensores entre 1,2 e 1,8 m de distância, o aproveitamento foi de apenas 4 em 16. Baixíssimo.

Então será que eles realmente estão se divertindo em quadra? Talvez simplesmente não tenha sido a melhor escolha de palavras por Curry. E outra: mesmo que estejam com a confiança abalada, o erro maior seria acusar o golpe e revelar dúvidas. Não não poderiam jamais fazer isso. Os números, por conta, já são preocupantes. O Golden State converteu neste sábado apenas 43,2% dos arremessos e 23,1% em três pontos (errando 20 de 26) – contra, respectivamente, 47,8% e 39,8% na temporada. No Jogo 2, derrota em casa,  foi ainda pior: 41,9% e 23,1%. O estrago maior acontece no primeiro tempo: segundo dados do Synergy, o time estava acertando 51,2% de seus arremessos e desperdiçando 7,3 posses de bola no primeiro tempo durante os playoffs até o sábado. Neste Jogo 3, foram 38,1% e nove erros em 24 minutos.

Reflexo, claro, da forte defesa do Memphis. Porque tem isso também: não é que o Golden State esteja se afundando contra um Minnesota Timerwolves ou, glup, um New York Knicks. Com formação completa nos playoffs – leia-se: com Mike Conley na armação –, os caras disputaram cinco jogos e ainda não perderam. Só não dá para se ater apenas ao sucesso recente, já que esse núcleo experiente somou mais de 50 vitórias nas últimas três temporadas – e que, na atual, foi por muito tempo o segundo melhor time da conferência, até perder rendimento a partir do All-Star Game. Para ser mais específico, até o dia 18 de fevereiro, o clube tinha a terceira melhor campanha da liga, com 73,6% de aproveitamento.

A identidade, sabemos todos, é fortemente vinculada aos seus pivôs e a opressão física que eles podem proporcionar, com a assessoria da tenacidade de Tony Allen (que já soma 11 roubos de bola na série e 23 nos playoffs, com mais de três por jogo nas últimas quatro rodadas) e da agilidade de Courtney no perímetro. O jogo pesado com a dupla Gasol e Z-Bo, e tal, como uma das raras exceções seguindo essa linha, ao lado do Indiana Pacers de West e Hibbert.  Para o atual campeonato, porém, Joerger também conseguiu desenvolver seu sistema ofensivo, terminando com o 13º ataque mais eficiente – sendo que até o All-Star era o 11º. Nada de outro mundo, de amedrontar oponentes, mas um avanço para quem não havia passado da 17ª colocação nas três temporadas anteriores, seja com Dave Joerger ou com Lionel Hollins.

Mas, sim, a defesa continua o ganha-pão. É a segunda melhor dos mata-matas, atrás apenas do Chicago Thibs. Contra o Warriors, vemos essa retaguarda se recompor rapidamente em transição, com muita consciência do que precisa ser feito. O vício, a força do hábito empurra os jogadores para perto da cesta, certo? Contra Curry e Thompson, você precisa desacelerar alguns metros atrás para contestar os arremessos de longa distância. A ideia é inibir a definição rápida do time que mais acelerou durante a temporada.

Uma vez contido o contragolpe, o serviço continua. Os defensores precisam povoara linha perimetral, com participação dos pivôs, aliás, já que Andrew Bogut, hoje, não representa ameaça alguma lá embaixo. Tantas lesões gravíssimas acumuladas na carreira custam muito ao australiano. Então lá está Gasol, gigante e inteligentíssimo, aparecendo numa cobertura imediata diante dos chutadores, fechando espaços e impedir infiltrações. Com menos gente agredindo com a bola, você também contém a troca de passes, ou pelo menos passes que possam liberar os arremessadores. Sem corredor e sem paciência para entender a melhor hora de atacar, o que temos é um aro amassado, mesmo. Segundo Kerr, seus atletas estão correndo, apressados, em vez de jogar com velocidade, pensando.

Para buscar a virada, é bom pensar com carinho no que aconteceu nas últimas duas partidas. Foi realmente falta de sorte na finalização? Ou tranquilidade? Stephen Curry não se mostra intimidado. “Eles tentam tirar nossas oportunidades de arremesso livre de três, seja em transição ou em meia quadra. Ainda assim, consegui me liberar e tive boas chances, o que me deixa bastante encorajado. Basta manter esses movimentos. Sei que os chutes vão cair”, afirmou o MVP da temporada. Draymond Green assegura que ninguém está surtado: “Perder duas em sequência não vai te deixar feliz. Mas, ao mesmo tempo, ninguém está abandonando o navio aqui. Ninguém está entrando em pânico e jogando a toalha”.

O Warriors sofreu duas derrotas consecutivas em três ocasiões durante sua jornada na temporada regular e, de imediato, reagiu com séries de 8, 9 e 16 triunfos. Qualquer arranque desse nível lhes colocaria na decisão da NBA, perto do título. Os playoffs, porém, são outro assunto, ainda mais enfrentando um adversário de respeito. Agora só resta saber se o aprendizado apregoado por Kerr será acelerado, para que eles possam tentar terminar a história da forma como esperavam.


Prepare-se para uma noite insana de NBA. A temporada chega ao fim
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Giancarlo Giampietro

Não vai rolar de ter o Monocelha e o Wess nos playoffs

Não vai rolar de ter o Monocelha e o Wess nos playoffs

É raro, mas a NBA chega a sua última rodada nesta quarta-feira com uma boa carga de emoção para ser despejada na sua televisão – ou computador. Temos duas vagas de playoffs em aberto, uma em cada conferência, e também todo um estratégico posicionamento dos oito primeiros colocados para ser definido. Segue aqui, então, um guia básico do que esperar na saideira e mais algumas notinhas sobre esse desfecho de temporada. Se der tempo, e tem de dar, atualizo isso aqui mais tarde.

Critérios, critérios
Com tantas disputas equilibradas e a possibilidade de empate na classificação geral, o mais importante talvez seja ter em mente quais são os fatores que ordenam a tabela em caso de campanhas iguais. Preparado para copiar e colar?

1) Um campeão da divisão fica acima de outro time que não esteja no topo da sua divisão.
2) Confronto direto entre os envolvidos no empate.
3) Melhor campanha contra times de sua própria divisão (desde que os times sejam da mesma divisão).
4) Melhor campanha contra times da própria conferência.
5) Melhor campanha contra times dos playoffs da própria conferência.
6) Melhor campanha contra times dos playoffs da outra conferência.
7) Melhor saldo de pontos em toda a temporada

PS: no caso de empate tríplice ou quádruplo – e, glup, até isso foi possível um dia! –, os critérios são os mesmos, excluindo apenas o sexto.

O que tem de mais dramático?
A disputa pelo oitavo lugar tanto do Oeste quanto do Leste, claro.

Paul George tenta retornar aos playoffs, de última hora. Revanche contra Atlanta?

Paul George tenta retornar aos playoffs, de última hora. Revanche contra Atlanta?

Do lado do Atlântico, o Boston Celtics já tinha sua vaga certa desde segunda-feira. Nesta terça, ao vencer o Toronto Raptors com uma cesta no fim de Jae Crowder, assegurou que vai ficar em sétimo, agendando encontro com os LeBrons de Cleveland. Na terça, também tivemos o emocionante (ou quase) duelo entre Indiana Pacers e Washington Wizards, com triunfo do Pacers. Um triunfo que eliminou de vez o Miami Heat, atual tetracampeão da conferência. É apenas a segunda vez que Dwyane Wade não participa dos mata-matas em toda a sua carreira. Desde 2003.

O valente Pacers, então, está no páreo contra o Brooklyn Nets, tendo uma vitória a mais. Ambos vão para a quadra nesta quarta. Os rapazes eleitos por Larry Bird vão enfrentar o combalido Memphis Grizzlies, que ainda tentam uma boa posição para os mata-matas. Já o Brooklyn Basketball tem pela frente a garotada do Orlando Magic. Supostamente, a vida dos Nyets é mais fácil, né? Lembrem-se apenas que estamos falando de um time com 37 vitórias e 44 derrotas. Nada é fácil para esses caras.

Quer saber da ironia aqui? Lionel Hollins depende de uma vitória de sua ex-equipe, o Grizzlies, e de seu ex-assistente, Dave Joerger, com quem hoje não mantém das melhores relações. Caso o Indiana vença, está dentro. Se perder, precisa torcer para Elfrid Payton, Nik Vucevic etc., uma vez que o time nova-iorquino conta com a vantagem no desempate por confronto direto.

(Sobre a vitória do Pacers em dupla prorrogação contra o Wizards? Nas palavras de Charles Barkley, foi “o jogo mais entediante sob essas condições na história da NBA”. O placar? Um singelo 99 a 97. Segundo Ben Golliver, da Sports Illustrated, o mínimo que uma equipe havia marcado até esta terça-feira em 58 minutos de basquete eram 107 pontos. Afe. Então tem isso: a briga de Indy está sendo bonita, considerando tudo o que  os caras enfrentaram na temporada, mas ainda estamos falando de um time bastante limitado, que, numa conferência minimamente mais competitiva, estaria fora há tempos.)

Do outro lado do país, temos a briga de foice entre New Orleans Pelicas (hoje em vantagem também devido ao retrospecto no duelo) e Oklahoma City Thunder. Quer dizer: a NBA vai ficar sem Anthony Davis ou Russell Westbrook nos mata-matas para classificar um time capenga do Leste. Detalhe: estivessem na conferência concorrente, tanto Monocelha como Wess veriam seus times posicionados no sexto lugar. Mesmo um Phoenix Suns em plena decadência e o emergente Utah Jazz levariam a melhor. É demais.

O Pelicans é aquele que tem a missão mais difícil da noite, precisando se virar contra o San Antonio Spurs. Ao que tudo indica, Gregg Popovich não vai poupar ninguém, querendo garantir a segunda posição do Oeste – o que não só rende mando de quadra nas duas primeiras rodadas como serve para evitar o Golden State Warriors até uma eventual final de conferência. Já OKC enfrenta a versão fraldinha e D-Leaguer do Minnesota Timberwolves, com Andrew Wiggins e Zach LaVine dominando a bola, escoltados por Justin Hamilton, Lorenzo Brown e afins.

Westbrook depende de uma vitória própria e um triunfo do Spurs. Só não perguntem a ele se ele vai torcer por San Antonio:

E o que mais?
Falta definir o emparelhamento dos playoffs. De garantido, no Oeste, temos: Golden State Warriors primeiro, Portland Trail Blazers quarto e Dallas Mavericks sétimo. E só.

(Dando um tempo para você rir, enquanto assimila a informação…)

Pronto, deu, né?

Faça chuva ou faça sol, o Blazers de LaMarcus entrará nos playoffs em quarto – mas sem mando de quadra

Faça chuva ou faça sol, o Blazers de LaMarcus entrará nos playoffs em quarto – mas sem mando de quadra

O Los Angeles Clippers ocupa hoje a segunda posição da conferência, tendo concluído sua campanha já com 56 vitórias e 26 derrotas, mas precisa esperar o desfecho da rodada. O certo é que, no mínimo, o novo primo rico angelino fica em terceiro. Caso o San Antonio Spurs vença, assume a vice-liderança. Se ambos os texanos vencerem, o Rockets fica em quarto, com o Memphis Grizzlies em quinto. O Rockets pode, porém, passar seu rival texano, dependendo de um tropeço deles contra o Pelicans, subindo para segundo – superando o Clippers por ser campeão de Divisão. Já o Grizzlies torce contra a dupla texana, mesmo, por levar a melhor no desempate contra ambos, podendo subir para terceiro, abaixo de LAC.

Isso, claro, desde que todos esses times pretendam realmente ficar o mais alto possível na tabela. Com tantas lesões que abalam a rotação de Stotts em Portland, de McHale em Houston e de Joerger em Memphis, não duvido que um time ou outro “escolha” o adversário. Enfim. É tudo muito complicado e talvez nem dê para optar por nada. Peguem o Spurs por exemplo: o time cai para terceiro se perder e o Rockets também. Fica em quinto se perder, Rockets vencer e Grizzlies perder. E termina em sexto se perder e os outros dois triunfarem. Vai arriscar o quê?

O posicionamento do Blazers em quarto volta a levantar a discussão em torno da importância dos títulos de Divisão. A organização ainda procura dar valor para isso – jogadores, técnicos, dirigentes e a comunidade em geral parecem que não. E aí temos o único representante do Noroeste garantido nos playoffs em uma situação confortável. Se fosse ranqueado apenas por seus resultados, o time estaria em sexto. Ainda com uma bela campanha de 51 ou 52 vitórias, mas abaixo dos demais concorrentes. Por ter faturado sua Divisão, se posiciona obrigatoriamente entre os quatro cabeças-de-chave – mesmo que não tenha mando de quadra na primeira rodada, já que tem aproveitamento pior que o de Spurs, Rockets e Grizzlies, independentemente do desfecho nesta quarta. Dá para entender? Claro que não. Sua única vantagem é escapar de um confronto logo de cara com os dois primeiros da conferência. Que puxa.

No Leste, as coisas são mais simples: Atlanta em primeiro, Cleveland em segundo, Washington em quinto, Milwaukee em sexto, Boston em sétimo. A terceira posição fica entre Chicago ou Toronto, com o Bulls dependendo apenas de seus esforços – ou de uma derrota do clube canadense. Se perderem, o Raptors garante o terceiro lugar no desempate por ter vencido a Divisão Atlântico desde o início de dezembro. Mas também fica a dúvida: para o Bulls, que se julga candidato ao título, qual caminho é o menos desagradável: ficar na chave de Hawks ou Cavs? Para o Raptors, a impressão é que eles adorariam enfrentar o Wizards, um time que conseguiu domar durante a temporada.

Intocáveis, ou quase
Sim, foi uma conferência novamente brutal. No geral, os times do Oeste tiveram aproveitamento de 58,4% contra os do Leste, com 262 vitórias e 187 derrotas. Por outro lado, muitos de seus supertimes perderam um pouco de fôlego nessa reta final de temporada devido ao excesso de lesões.

Wesley Matthews, Patrick Beverley e Donatas Motiejunas estão definitivamente fora da temporada. Arron Afflalo pode perder uma semana de playoff, ou até mais, dependendo da recuperação. LaMarcus Aldridge já deveria ter feito uma cirurgia por conta de uma ruptura de tendão na mão direita. Se OKC passar, não terá Kevin Durant, enquanto um eventual retorno de Serge Ibaka ainda é um mistério. Fosse início de temporada, com dores no tornozelo e no pulso, Mike Conley Jr. não estaria jogando. Marc Gasol torceu o tornozelo há duas partidas. Tiago Splitter voltou a sentir a panturrilha, ainda que, segundo o Spurs, não é nada grave. Chandler Parsos está novamente fora de ação, com problemas no joelho – também há gente que assegura que o vestiário do Mavs está, hã, fraturado. Do Clippers a gente nem fala, pois é como se Doc Rivers tivesse um banco inteiro de gente lesionada – “só que não”. Apenas o Golden State Warriors parece intactos (ao menos oficialmente intactos).

(Sud)Oeste selvagem
Agora, se a gente for usar uma lupa para observar o desfecho da temporada e o desequilíbrio interconferências, é para notar na hora que a grande responsável pelo desnível na balança é a pesadíssima Divisão Sudoeste. Se os Monocelhas vencerem nesta quarta, os cinco times dessa divisão estarão nos playoffs. Algo que não acontece desde 2006 (Divisão Central), restando duas vaguinhas para a do Pacífico (Warriors, Clippers) e uma para a do Noroeste. Coisa de louco.  No geral, contra o Leste, os times quinteto sustentou um aproveitamento de 68,5% – e 60,5% contra os irmãos do Oeste.


Memphis Grizzlies: moendo carne, batendo bife
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Giancarlo Giampietro

A torcida também vai tentar moer o adversário

A torcida também vai tentar moer o adversário

Lá pelos idos de maio de 2013, o que na era da Internet já é mais que um século atrás, havia o temor de que a cultura de “Grit & Grind” – praticamente impossível de se traduzir ao pé da letra, mas que tem a ver com a bravura do estilo de jogo do Grizzlies – estivesse seriamente ameaçada em Memphis. O técnico Lionel Hollins estava de saída, Tony Allen era agente livre, Zach Randolph também tinha futuro incerto. Mas o assistente Dave Joerger segurou muito bem as pontas desde que foi promovido,  o pitbull preferido da cidade tinha ganhado um novo contrato, e tudo caminhou bem. Mesmo com a lesão  de Marc Gasol, o time chegou aos playoffs e incomodou bastante. Ponto.

Aí que, ao final do campeonato, as coisas novamente ficaram tensas, de modo chocante. Subitamente, o CEO Jason Levien, que mal havia acabado de assumir a posição, foi derrubado pelo proprietário Robert Pera. Ao mesmo tempo, Joerger foi liberado para conversar com o Minnesota Timberwolves, de sua terra natal. No fim, o magnata tirou o antigo gerente geral Chris Wallace do ostracismo, para lhe reempossar, e decidiu segurar Joerger. Z-Bo ganhou sua extensão contratual. A estrutura, então, foi mantida.

Fora da cidade, pode ter certeza que caras como Blake Griffin, Kevin Durant, Tim Duncan e Dirk Nowitzki acompanhavam tudo com muita atenção. Qualquer passo em falso, qualquer sinal de derrocada do time poderia ser um alívio danado para eles. Afinal, estamos falando do time mais casca grossa da Conferência Oeste. Ou melhor: com a iminente derrocada do Indiana Pacers, já dá para falar no time mais pesado, aquele que a liga toda vai querer evitar. Ainda mais numa série de mata-mata.

Vai encarar? Ninguém quer

Vai encarar? Ninguém quer

Já escrevemos aqui qual a dificuldade de escolher os termos apropriados para explicar do que se trata o lema oficial desta geração do Grizzlies, elaborado num estalo de genialidade por Allen.  No final das contas, o melhor a ser feito é apelar ao populacho: trata-se do famoso moedor de carne. Esses caras fazem isso, como se o FedExForum representasse um grande açougue humano. Não é nem um pouco bacana bater de frente, de lado, ou de costas com gente com Randolph e, especialmente, Marc Gasol, por mais magro que o espanhol esteja esses dias. E aí você põe mais um corpanzil de Kosta Koufos na jogada e alguns alas que aporrinham a vida de qualquer um, e o que temos daí é uma das defesas mais sólidas e nocivas que se pode encontrar.

Tom Thibodeau tem o esquema e excepcionais marcadores em Chicago. Roy Hibbert e David West ainda vão tentar proteger uma fortaleza em Indianápolis. Mas o desgaste físico causado por essa galera encrespada de Memphis deve ser o maior tormento no longo e cansativo calendário de cada equipe.

De estrela a operário, Vince Carter segue relevante

De estrela a operário, Vince Carter segue relevante

O time: Z-Bo já não é mais o mesmo de sua primeira temporada de All-Star, justamente a primeira em Memphis. Mas seu jogo nunca dependeu de impulsão, explosão física ou elasticidade. Enquanto chega aos 33 anos, sua técnica e força física ainda causam estrago perto da cesta o mantêm produtivo. Suas características combinam perfeitamente com as de Gasol, que tem uma visão de quadra privilegiada encarando a cesta como um maestro na cabeça do garrafão, também matando bolas dali. Além do mais, o posicionamento dos dois pode ser facilmente intercambiável. Não sabemos muito bem o quão consciente Wallace foi ao montar essa dupla em 2010, mas deu muito certo. Para assessorar esse núcleo, quietinho da silva, Mike Conley se tornou um dos principais armadores da liga, vindo também sua melhor temporada.

O que sempre falta em torno dessa trinca foram arremessadores que metessem medo. Já não é um problema tão grave assim. Mike Miller fez o serviço em 2013-2014, mas preferiu seguir os passos de LeBron em Cleveland. Para seu lugar, todavia, chegou Vince Carter, que se reinventou em Dallas como atirador de três pontos e marcador e, aos 37,  chega com moral a Memphis. E o veterano não está solitário nessa.

De volta de lesão, Pondexter está preparado para enfrentar os alas mais fortes da liga

De volta de lesão, Pondexter está preparado para enfrentar os alas mais fortes da liga

Courtney Lee foi fruto de outra bela negociação incentivada pelo supernerd John Hollinger que deu certo. Ele liderou a NBA no aproveitamento de arremessos movimento na temporada passada e também consegue incomodar bastante os alas mais baixos, fazendo ótima dupla com Allen, um atacante arrojado, mas, no mínimo, inconstante. Por fim, em seu último sopro, Tayshaun Prince ainda tem envergadura para deixar as linhas defensivas mais rígidas esporadicamente. Em resumo: por mais que não sejam tão discutidos assim na grandes plataformas, este pode ser o elenco mais forte que o Grizzlies já teve.

Olho nele: Quincy Pondexter. O ala, que retorna de uma fratura na perna que o tirou por mais de 60 partidas da última temporada, foi esquecido deixado de fora do parágrafo acima propositalmente. Quando comparado a Allen, Lee, Carter e Prince, tem ainda menos fama, mas pode ser tão ou mais relevante que eles durante a jornada, desde que consiga sustentar um aproveitamento de três pontos próximo aos 39,5% que teve na temporada retrasada. Pondexter é mais alto e forte que Lee e Allen e mais forte e ágil que Prince, oferecendo um meio termo interessante.

Abre o jogo: “Tem tanto chão para isso, que não passa pela minha cabeça. Apenas quero fazer a porcaria do meu trabalho diariamente. Você nunca sabe o que pode acontecer em sete ou oito meses. A franquia pode decidir seguir em outra direção. Vamos ver como todos nos sentimos em julho. Toda essa conversa de agora não vai mudar isso”, Marc Gasol, sobre sua entrada no mercado de agentes livres ao final da temporada, sem firula alguma. Os bastidores da liga já dão como certa a investida de Phil Jackson e o Knicks pelo pivô em 2015.

Você não perguntou, mas… ao lado de San Antonio Spurs, Miami Heat, Oklahoma City Thunder e Los Angeles Clippers, apenas um clube venceu mais de 50 jogos nas últimas duas temporadas, não importando que desfalque tinha. Justamente a franquia que tem a ver com ursos-pardos, mesmo que eles não sejam encontrados tão facilmente assim em Memphis.

kevin-pritchard-grizzlies-cardUm card do passado. Kevin Prichard. Ele, mesmo, o ex-dirigente do Portland Trail Blazers e gerente geral de Larry Bird no Pacers, hoje. Se formos pensar em gente do passado da franquia, ainda em sua encarnação na Costa Oeste do Canadá, dá para lembrar da figura pastosa de Bryant Reeves, além de Anthony Peeler, Blue Edwards, Shareef Abdur-Rahim, Felipe López, entre outros. Mas está nos livros históricos – uns três, pelo menos – que foi Pritchard foi o primeiro jogador a assinar contrato com o clube. Assinou, mas não brilhou. Cortado antes de a temporada 1995-96 começar, não disputou uma partida sequer pela franquia. Naquele ano, faria dois joguinhos pelo Washington Bullets. Depois, adeus, NBA. Formado em Kansas, Pritchard chegou a ser, antes, reserva de Tim Hardaway e Sarunas Marciulionis no Golden State Warriors de Don Nelson. Jogou na Itália, na Espanha e na Alemanha. Mas foi como cartola, mesmo, que ele deixou sua marca. Foi o grande arquiteto da reconstrução do Blazers na década passada, depois dos anos de Jail Blazers, nos quais ganharam mais manchetes policiais do que esportivas. Seu relacionamento com o bilionário Paul Allen e sua trupe, porém, desandou a ponto de ele ser demitido do cargo de gerente geral cerca de uma hora antes do draft de 2010. Cruel. Ele ainda fez uma troca e selecionou Luke Babbitt e Elliot Williams. Vingança em prato frio de carne moída.

 


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