Vinte Um

A seleção não encontrou resposta para Bogdanovic

Giancarlo Giampietro

Bogdanovic quase não foi incomodado

Bogdanovic quase não foi incomodado

Bojan Bogdanovic pega a bola na cabeça do garrafão, ignora o baixinho à sua frente e atropela rumo à bandeja. Bogdanovic pega o rebote defensivo, sai em transição, não é acossado por ninguém e faz a cravada, partindo de um lado para o outro da quadra. Bogdanovic usa um corta-luz fora da bola, se libera por uns instantes e mata o chute de fora. Bogdanovic, Bogdanovic, Bogdanovic. O ala da Croácia aterrorizou a defesa brasileira nesta quinta-feira, liderando uma vitória por 80 a 76, pela terceira rodada do #Rio2016. Na briga por vagas, a equipe balcânica se vê em posição favorável em relação ao Brasil.

Desde o Pré-Olímpico Mundial em Turim, esta configuração croata vem derrubando adversários de maior renome ao apostar tudo em torno de suas principais referências técnicas. A hierarquia de seu ataque está clara: 1) Bodanovic, 2) Dario Saric, 3) Bogdanovic, 4) Saric, 4) Bogdanovic, 6) Saric, (…) 15) Krunoslav Simon, 16) Roko-Leni Ukic, 17) Mario Hezonja, e o restante da equipe. Deu para sacar, né? Para vencer estes caras, vai ter de fazer um bom trabalho em cima de sua dupla de NBA. A seleção infelizmente não os conseguiu incomodar muito dessa vez.

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Bogdanovic anotou 31 pontos quase 38 minutos de jogo. A quantidade de pontos é absurda, mas o que assusta mais é a eficiência por trás de quantidade tão rara para um torneio olímpico. Ele matou 63% de seus arremessos, com apenas 6 falhas em 16 tentativas, com direito a 11 lances livres cobrados e 10 convertidos também. Isso é chocante, digno da memória de Drazen Petrovic, o saudoso irmão do atual treiandor da seleção nacional, Aleksandar, que vem fazendo um grande trabalho. O novo gerente geral do Brooklyn Nets, Sean Marks, está pelo Rio e certamente ficou embasbacado com essa atuação. Já Saric foi um problema com sua versatilidade. O jovem ala-pivô recentemente contratado pelo Philadelphia 76ers acumulou 15 pontos, 7 rebotes, 3 assistências e 45% nos arremessos, em 34min51s.

Ao redor deles, Petrovic escalou operários que entendem muito bem o que precisam fazer em quadra, como peças complementares a suas estrelas. Não sei se aqui no blog, ou durante os comentários pelo Placar UOL Esporte (*), mas é muito bacana de ver nesta seleção croata como por vezes menos realmente significa mais em esportes coletivos. No papel, a Croácia poderia ser ainda mais forte, caso tivesse Ante Tomic no garrafão e pelo menos um dos jovens entre Ante Zizic e Ivica Zubac no banco, além de um de seus possíveis americanos naturalizáveis, digamos. Mas Petrovic não apelou. Não ficou chorando por Tomic ou pela garotada. Seguiu em frente com o que tinha e montou uma equipe muito bem ajustada. Claramente moldada em torno de sua dupla de excepcionais.

(*A cada jogo, o site está narrando os jogos da seleção, com comentários online deste aqui, ou de Fabio Balassiano. Fica o convite para acompanhar, mesmo que a TV esteja ligada na hora do serviço.)

Marcá-los é fácil? Não, definitivamente, não. Se fosse, depois de jogar contra Espanha, Argentina e Brasil, o experiente ala não teria médias de 24,7 pontos, 5,4 rebotes, 2,3 asssitências e 53,3%  nos arremessos. Ou Saric ficaria abaixo de seus 13,0 pontos, 8,0 rebotes, 5,0 assistências.  Mas, hoje, a defesa brasileira, que hoje é o carro-chefe da seleção brasileira, não encontrou respostas contra eles e nem mesmo os incomodou.

Saric, astro emergente do basquete europeu

Saric, astro emergente do basquete europeu

Saric cometeu seis turnovers, mas teve toda a liberdade do mundo para chutar e converter três em cinco tentativas de longa distância, sendo que, nas duas primeiras partidas, ele havia errado suas oito tentativas de fora. Para quem acompanha seu desenvolvimento na Turquia, é sabido que o tiro de fora não é o seu forte. Ainda assim, ele passou da casa de 40% em sua última temporada de Euroliga. Por mais que ele não represente ameaça exterior como um Dirk Nowitzki, você não pode dar tanta liberdade assim para seu chute. Quanto a Bogdanovic, hã… ele fez o que quis. Foram diversas as ocasiões em que a defesa brasileira permitiu que ele usasse os corta-luzes com muita facilidade para ganhar terreno ou forçar os 'mismatches', atacando Huertas, Benite ou os pivôs, frontalmente.

As duas faltas cometidas por Alex no primeiro tempo não ajudaram. Por outro lado, Marquinhos poderia ter sido mais utilizado na tentativa de contenção do astro. Ou que fizessem dobras mais agressivas para tirar a bola de suas mãos. Ou que fossem com tudo para cima de Ukic ou Simon, tentando desestabilizar a armação, para a bola chegar mais quente nas mãos do cestinha, como aconteceu no início do terceiro quarto. Enfim. Por muito tempo, a defesa foi passiva diante de um cara que estava endiabrado. Independentemente da presença de Alex em quadra.

Aliás, o 'Brabo' dessa vez deveria ter adotado outra estratégia para tentar parar o melhor jogador de perímetro do outro lado. Bogdanovic é muito forte para ser contido na peitada. Com ele, o melhor seria procurar antecipar seus movimentos e tirar o corredor para o corte, com rapidez, em vez de força. Quanto mais faltas fizerem, pior. O cara acertou 91% dos lances livres, com pontos de graça.

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Com Saric, devido a sua combinação de velocidade e estatura, também é complicado encontrar alguém que dê conta. A melhor alternativa brasileira era Augusto Lima, mesmo que o pivô carioca precisasse ficar flutuando pelo perímetro, distante dos rebotes. Pensando em defesa, ele foi bem na empreitada, e ainda conseguiu agredir o carioca do outro lado, correndo pela quadra feito um maluco em transição, atacando perto da cesta com eficiência (11 pontos em 8 arremessos, em 21 minutos). Para Nenê, hoje, Saric já é muito ágil. E você não quer tirar o veterano do Rockets do garrafão, onde fecha muito bem espaços e ainda dá velocidade na saída em transição, uma vez coletado o rebote.

Nesse ponto, vale um questionamento em relação à rigidez de Magnano em seu constante revezamento. Contra os croatas, especificamente, era o caso de ter enxugado um pouco a rotação. Petrovic vai na contramão dos demais companheiros de profissão do torneio ao priorizar os minutos de suas estrelas. De novo: Bogdanovic jogou por 37min56s. Saric, por 34min51s. Deveria haver um ajuste por parte dos adversários para lidar com os caras.

O altíssimo aproveitamento da dupla e da seleção croata como um todo teve impacto direto no ataque brasileiro também. No geral, os balcânicos fizeram mais pontos em transição do que os brasileiros (13 a 8), algo impensável antes. Foram raras as ocasiões em que o time da casa conseguiu atacar seu adversário de modo desestabilizá-lo.

Enfim. O estrago agora já foi feito, e a seleção conheceu sua segunda derrota em três rodadas. Para não depender de contas, precisa vencer Argentina e Nigéria nas próximas rodadas. Nada está definido até o momento. Vai saber se a Espanha vai reagir. Se a Lituânia vai rumo a um aproveitamento de 100%. O Grupo B é uma loucura. Em meio a esse caos, Bogdanovic está sobrando.

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