Vinte Um

Cada jogo é uma história: Spurs devolve marretada contra Heat e volta a liderar as finais

Giancarlo Giampietro

Danny Green on fire

Green matou 14 de 17 chutes de fora em 3 jogos de série (70,8%);  galera vibra

''Seven Nation Army'', do White Stripes. A música é boa demais, uma das melhores dos anos 00's. O melhor riff, provavelmente. Mas, no esporte, já estava popularizada pelas torcidas de futebol europeias. Quem começou primeiro a gente não sabe. Provavelmente algum grupo de fanáticos ingleses, também afeitos ao rock. Daí que, quando o Miami Heat decide incorporá-la ao seu ritual de introdução das partidas dos playoffs, fica uma sensação meio contraditória: por um lado, continua sendo uma sonzeira; por outro… Ficou batido, né? Por isso, brotar agora desta cultura ''oba-oba-viva-Miami'' não era de se estranhar.

Daí que, no finalzinho do Jogo 3, a ironia não podia passar despercebida: o inspirado DJ do AT&T Center mandou ver com o superhit de Jack White, e os torcedores fizeram o coro. Mas muito mais por ironia do que qualquer outra coisa: a farra do Jogo 2 promovida pelos jogadores em quadra e levada adiante pelo público não iria passar batida para um grupo de torcedores tão acostumados a playoffs e decisões como os do Spurs.

Nesta terça-feira, então, quando a marretada no jogo foi devolvida, sobrou espaço para a tiração de sarro. San Antonio 113, Miami 77, e os texanos novamente liderando a série final da NBA 2012-2013.

O desafio para a tropa de Gregg Popovich, agora, é de fugir do mesmo clima de euforia em que os astros do Miami embarcam facilmente. Cada jogo num confronto de mata-mata tende a ser uma história. O placar geral está apenas em 2 a 1 – e, não, 120 a 70.

Até porque o Heat ainda não perdeu duas partidas seguidas nesta fase decisiva. Em geral, depois de uma derrota, se acostumaram a responder com autoridade. Tal como fizeram no segundo embate em casa.

Reservas do Spurs também comemoram

O banco do Spurs dessa vez pôde jogar pelos motivos certos, com seu time aplicando a surra

Há diferenças para serem destacadas, contudo. Entre eles o fato de os atuais campeões serem agora os forasteiros, jogando numa terra que parece ensandecida por conta do retorno de seus cowboys aos grandes duelos, aqueles que importam, que valem título. E, talvez mais importante, do outro lado está Gregg Popovich, que sabe administrar muito bem o ego de seus atletas.

Claro que o Coach Pop não entra em quadra para fazer o serviço, e por vezes é muito difícil jogar contra o Miami Heat, como ficou comprovado no terceiro período do Jogo 2 – quando eles criaram o caos em quadra e atropelaram os oponentes no contra-ataque. Acontece que, neste Jogo 3, a turma de LeBron se viu do outro lado da surra, e uma surra aplicada de modo diferente, na mesma terceira parcial.

O Spurs, com a participação consciente  de Tiago Splitter, voltou a ser uma das melhores defesas da liga, mas seu modo de proteger a cesta vem sendo muito mais cerebral do que físico, especialmente nesta série. Eles não investir necessariamente em abafar as linhas de passe, ou em acuar os armadores  com dobras assustadoras – ainda que os turnovers  do Heat tenham ocorrido – 16 no total, permitindo 20 pontos no contragolpe.

Muitos desses desperdícios, porém, aconteceram com os visitantes já grogues, desestabilizados diante de um time que estava muito mais aplicado taticamente e empenhado em fazer as pequenas coisas vitoriosas. Os anfitriões apanharam 19 rebotes ofensivos, salvaram inúmeras bolas que não estavam tão perdidas assim e não pararam de se mexer no ataque buscando o melhor espaçamento e a melhor posição para o chute.

E como esses chutes caíram. Foram 43 cestas de quadra (com aproveitamento de 48,9%), com 16 delas de três pontos (50% na mira, incrível). O estrago maior no ataque ficou por conta novamente do ala Danny Green, que somou 27 pontos, com sete chutes de longa distância, e do ala-armador Gary Neal, que marcou 24 pontos, com seis tiros de fora. Neal, na verdade, merece muito mais destaque por ter aprontado muito mais quando a partida ainda estava em aberto, anotando alguns arremessos com pura confiança, a mais de um passo da linha de três, enquanto Green acertou quatro dessas já no período final, quando Erik Spoelstra ainda teimava em manter seus titulares em ação por muitos minutos desnecessários, sem preservá-los como fez Pop no confronto anterior.

Ao menos eles já estavam sentados quando a música começou…

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O Spurs aniquilou o Heat com apenas seis pontos e oito assistências de Tony Parker em  27 minutos. Só não dá para imaginar que a equipe de Popovich vá ter vida fácil assim em caso de o armador virar desfalque para a continuidade da série, por mais que Neal venha de uma noite mágica e que Manu Ginóbili tenha mais acertado que errado,. Mais do que entender o que acontece com LeBron James, o fato mais urgente da decisão se tornou a ressonância magnética pela qual ele vai passar nesta quarta de manhã em San Antonio. O armador francês foi retirado de quadra por um breve período para ser examinado no vestiário, sentindo dores na coxa e afirmou que sua presença no Jogo 4, na quinta-feira, ainda é incerta.

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A essa altura, a pergunta já é válida: estaria LeBron James exausto fisicamente ou realmente tão incomodado assim com a defesa do Spurs e a postura de sempre-alerta de Kawhi Leonard? Acabou o gás ou talvez ele simplesmente ainda não tenha encontrado a melhor forma de lidar com a formação de barricadas promovida por Popovich para desencorajá-lo que a vá para a cesta? De modo que o cara perdeu toda a agressividade e ritmo no ataque, pensando demais no que fazer com a bola, hesitando. E, por favor, não confunda isso com ''amarelar'': esse tipo de polêmica pela polêmica não vai ter espaço aqui.  No primeiro jogo em San Antonio, o superastro somou 15 pontos, 11 rebotes e 5 assistências, em 39 minutos de esforço em vão, acertando apenas 7 de 21 arremessos (33%). Quer dizer, novamente conseguiu números que seriam uma dádiva para qualquer jogador medíocre. Mas o pior é que estes números não contam muita coisa do que foi sua história no jogo, especialmente antes de marcar 9 pontos em sequência no terceiro período, quando tinha apenas quatro anotados até, então. O esforço de Kawhi Leonard e o apego ao plano  tático dos demais companheiros co Spurs é louvável, mas chegou a hora de o craque e Spo repensarem o modo como reutilizar seus diversos talentos.