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Nádia: a dificuldade para se reconhecer e trabalhar um talento
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Giancarlo Giampietro

Nádia Colhado e Clarissa: características que se combinam em forte garrafão

Nádia e Clarissa: características que se combinam em forte garrafão. Crédito: Divulgação/Inovafoto/Wagner Carmo

Você navega pelo Painel do Basquete Feminino e outros fóruns, e vê uma penca de comentaristas prontos para destilar qualquer veneno que esteja disponível naquela hora, naquele dia. No conforto do anonimato, estão dispostos a atacar qualquer coisa. Quando a pivô Nádia Colhado foi convidada para participar de um training camp pelo Atlanta Dream, da WNBA, essa turma ficou ouriçada.

Como pode? Não sabe jogar. Etc.

Porque o que essa turma mais sabe fazer é atacar, mesmo, embora não tenham 1,93 m de altura e agilidade fora do comum para alguém desse porte. Qualidades naturalmente raras, e o que o técnico Michael Cooper enxergou de cara, mas que a galerinha do contra jamais poderia ver ou perceber. A oferta do Atlanta Dream e a provação a que se submeteu, vencendo uma série de cortes para oficializar sua passagem pela liga norte-americana só servem para confirmar o potencial ainda a ser explorado.

Sonhando e aprendendo em Atlanta

Sonhando e aprendendo em Atlanta

Aí ficou difícil para os mais raivosos, que parecem não entender que esta é uma história recorrente no basquete brasileiro, ainda mais no feminino, em que os clubes minguam, a gama de talentos e treinadores vai se reduzindo, compondo um cenário não muito favorável ao desenvolvimento de seus prospectos. Tal qual Nádia, que, aos 25 anos, neste cenário, ainda deve se assumir “muito jovem”. Ela sabe que ainda não está plenamente formada. Aliás, quem está? Os grandes não nos cansam de dar exemplos sobre como há sempre algo a ser melhorado. Kobe Bryant que o diga.

De modo que, na temporada regular de 2014, a pivô da seleção participou apenas de 16 jogos de 34 possíveis, com média de 7,9 minutos por jogo. Neste tempo limitado de ação, o próprio Atlanta Dream reconhece sua produtividade ao apontar que, numa projeção por 30 minutos, suas médias seriam de 10,4 pontos e 6,9 rebotes. Para comparar, a estrela Érika terminou o ano com 13,9 e 8,7, respectivamente, em 29,6 minutos.

Na Copa do Mundo, ela ainda vai seguindo em frente em sua curva de aprendizado, novamente como reserva de Érika, num garrafão que merece respeito e poderia ser mais bem aproveitado, com jogadoras que se complementam bastante, com Clarissa e Damiris fechando a rotação. Um grupo de atletas que complementam muito bem uma a outra: a defesa interior e o chute de média distância de Nádia, por exemplo, além dos recursos de Damiris de frente para a cesta, da vitalidade e energia da Clarissa e da força da natureza que atende pelo nome de Érika.

Crédito: Divulgação/Inovafoto

Crédito: Wagner Carmo/Divulgação/Inovafoto

O blog enviou algumas perguntas para a pivô para que ela contasse mais sobre a experiência nos Estados Unidos, trabalhando sob a orientação do técnico Michael Cooper (um marcador implacável nos tempos de jogador e um dos companheiros prediletos de Magic Johnson no mítico Los Angeles Lakers dos anos 80), a expectativa de se manter no elenco do Atlanta Dream e as perspectivas de uma seleção ainda mais jovem que ela no geral. A entrevista foi feita antes do Mundial e viabilizada pelo Bradesco, patrocinador da CBB e das seleções brasileiras:

21: Qual foi o saldo de sua primeira temporada na WNBA? Você participou de 16 jogos de 34 possíveis na temporada regular, com tempo de quadra limitado. Mas imagino que o fato de estar rodeada pelas melhores do mundo, de treinar contra atletas de ponta já faça diferença. Existe a perspectiva de retornar para o próximo campeonato?
Nádia: Eles fizeram uma reunião após o final da temporada e se mostraram interessados, já que haviam gostado bastante do meu trabalho. Realmente tive pouco tempo de quadra, mas cheguei a atuar mais do que 20 min em alguns. Independentemente disso, qualquer minuto de quadra foi proveitoso. Tive um aprendizado muito grande em tão pouco tempo.  Treinei com a Érika, Sancho (Lyttle, pivô espanhola, estrela europeia) e Aneika (Henry, pivô americana) e aproveitei muito esse tempo que estive ao lado delas. Espero ter a oportunidade de voltar e aprender ainda mais.

Como é a rotina de treinos durante uma temporada da WNBA? Há tempo para fazer um trabalho individualizado com os técnicos? Seria mais com as assistentes Teresa Edwards e Karleen Thompson, ou também com o treinador Michael Cooper? Você acha que voltou à Seleção como uma jogadora melhor?
A rotina foi pesada. Os três sempre me puxavam para o treinamento especifico da posição, mas quem mais ficava ao meu lado era a Teresa. Os três são ótimos. Durante o camp, treinei oito horas por dia, e a maioria dos exercícios era especifica para pivô. Fiz um progresso muito grande em todos os fundamentos específicos, mas sou muito jovem e com certeza ainda tenho muita coisa a melhorar.

Foi uma surpresa o convite para participar do training camp ou algo já discutido com a Érika durante a liga nacional? E a satisfação de passar por tantos cortes e ter a WNBA no currículo? Era uma coisa mais de “aproveitar a experiência o máximo que pudesse”, ou estava confiante, determinada mesmo a entrar no time? 
Fiquei muito feliz. Lembro que quando acabou o jogo contra o Maranhão, o Michael Cooper (que estava no Brasil para observar Érika, sua atleta, e outros possíveis prospectos) me chamou para conversar. E foi aí que surgiu o convite para o camp. A Érika já havia me falado que ele estava vindo ao Brasil e da possibilidade de um convite. Mas, quando cheguei lá, me deparei com muitas jogadoras que também estavam participando desse camp, e todos os dias acreditava que  seria meu último dia lá. Mas o tempo foi passando, muitas, saindo, e eu ia ficando. Isso me deu muita força para dar ainda mais de mim e conquistar minha vaga ao lado de mais duas apenas. Uma delas foi a Shoni (Schimmel, armadora de 22 anos), que já havia sido draftada, então era uma vaga certa.

Para o Mundial, o Brasil levou um conjunto de pivôs muito sólido e versátil. Vocês são atletas cujas características combinam muito bem. É um ponto forte a ser explorado insistentemente?  Com um jogo de dentro para fora, mesmo?
Acho que principal ponto forte do Brasil é o jogo coletivo. As alas e armadoras são muito novas e muito rápidas. Claro que o setor das pivôs está muito bem estruturado e com certeza o treinador (Zanon) vai explorar isso muito bem. Algumas jogadas do Brasil são especificas com o trabalho de pivôs.

O Zanon vem conduzindo uma renovação no grupo. Até onde essa jovem seleção pode chegar? É mais realista pensar em um resultado expressivo no Rio 2016?
Estamos nesse momento focadas no Mundial e é aqui vamos buscar um resultado positivo hoje, claro que não será um trabalho fácil, mas é o que queremos. Em 2016, esse grupo deverá estar bem acima do nível atual e é uma situação natural de evolução e crescimento de um grupo que vem sendo muito bem preparado desde que esse processo de renovação iniciou. Vamos dar o máximo para chegarmos o mais longe possível.


Poderia Brittney Griner ser a 3ª mulher selecionada por um time da NBA? Relembre casos históricos
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Giancarlo Giampietro

Ah, o Mark Cuban.

O dono do Dallas Mavericks volta a fazer barulho – aliás, quando ele realmente para? –, dizendo nesta terça-feira que não veria problema algum se o clube escolhesse a pivô Brittney Griner no próximo Draft da NBA. “Se ela for a melhor jogadora disponível em nossa lista, eu a pegaria. Já pensei a respeito. Será que eu faria? A essa altura, estou inclinado a dizer sim, apenas para ver se ela consegue”, afirmou. “Você nunca sabe, a não ser que dê uma chance para a pessoa, e não é que qualquer selecionado na última parte do Draft tenha muita chance de ficar na liga, mesmo.”

Brittney enterrando

Slaaaaam jam, Brittney!

Se o gerente geral Donnie Nelson não tiver coragem ou interesse em selecionar no dia 27 de junho, em Nova York, Cuban afirmou que ela ainda poderia ter uma chance de entrar para o time sendo testada em alguma liga de verão deste ano.

Jogando por Baylor, Brittney se tornou neste ano a segunda maior cestinha da história da NCAA, primeira divisão, com 3.283 pontos, atrás apenas dos 3.393 de Jackie Stiles. Mas são 36 pontos especificamente que chamam mais a atenção para a talentosa jogadora: os 36 produzidos nas 18 enterradas que tem em sua carreira – é como se ela fosse o equivalente a Wilt Chamberlain ou Shaquille O’Neal no basquete universitário feminino, em termos de domínio físico. Como prova disso, seus 748 tocos são um recorde, incluindo os registros dos homens.

Bastante confiante em suas habilidades e um vasto currículo de títulos e prêmios que não caberia aqui, empolgada com o raciocínio de Cuban, a pivô foi ao Twitter para dizer que está aí, pronta para o que der vier. “Eu dou conta! Vamos fazer isso”, afirmou.

Quem não gostou nada dessa história foi o técnico Geno Auriemma, da universidade de Connecticut e campeão olímpico com a seleção americana feminina em Londres. Repetindo: não gostou n a d i n h a disso. “Obviamente Mark Cuban é um gênio, porque ele foi capaz de transformar algumas grandes ideias em indústrias de bilhões de dólares, e ele faz um grande trabalho como proprietário do Dallas Mavericks. Mas sua condição de gênio sofreria sérios danos se ele ‘draftar’ Brittney Griner. E se Brittney Griner tentar entrar em um time de NBA, acho que seria uma coisa de relações públicas e acho que seria uma farsa. O fato de que uma mulher poderia realmente jogar agora na NBA e competir com sucesso contra o nível de jogo que eles têm é absolutamente ridículo”, afirmou.

Cuba, logicamente, não ficou quieto e defendeu a ideia, rebatendo o treinador. “Nós avaliamos cada jogador elegível para o Draft no planeta. Não estaríamos fazendo nosso trabalho se não considerarmos todo mundo. Com disse ontem para a mídia, ela teria de brilhar nos treiamentos para ser selecionada. Não tenho problema algum em dar a ela essa oportunidade. Espero que ela tente. Nada pode ferir mais uma organização ou uma companhia do que uma mente fechada”

As críticas de Auriemma fazem sentido. Brittney é listada pela universidade de Baylor com 2,03 m de altura e 94 kg. Gigante para o basquete feminino, poderosa. Na NBA, não muito. Para se ter uma ideia, o ala Jared Dudley, do Phoenix Suns, tem 2,01 m de altura e 102 kg. Não necessariamente o jogador mais atlético, mas que consegue dar suas enterradas também, apesar das piadas dos companheiros. Kyle Korver, ala do Atlanta Hawks que quase nunca se aventura no garrafão e representa a finesse, tem 2,01 m e 96 kg.

Por outro lado, a lógica de Cuban é difícil de ser contrariada, independentemente de suas intenções marketeiras. Se ela quiser, topar, quem vai dizer que a garota não pode tentar?

*  *  *

Caso  Brittney Griner e o arrojado dono do Mavs levem os planos adiante, eles podem fazer história, mas não seria algo inédito.

Ann Meyers Drysdale, sensacional

Ann Meyers Drysdale tenta a sorte pelo Pacers

Ann Meyers Drysdale, armadora que se destacou por UCLA nos anos 70, instituição pela qual ganhara uma rara bolsa de estudos, chegou a ser testada pelo Indiana Pacers em 1979, recebendo um contrato de US$ 50 mil. Ela participou de atividades com a equipe por três dias, mas acabou cortada do elenco final para a temporada – os destaques eram os alas George McGinnis e Alex English, além do armador Johnny Davis e do pivô James Edwards.

A dispensa não a abalou de forma alguma, e seu relato sobre a experiência abre muitas perspectivas para a jovem pivô formada em Baylor avaliar: “Passei por isso no colegial e na minha vida toda, jogando contra os caras no playground, então não foi nada muito diferente. No colegial eu tive a oportunidade de jogar no time dos garotos. É nesta fase que seu corpo muda, suas emoções mudam, assim como sua percepção social e as coisas que dizem sobre você. Então quando eu lidava com as pessoas tentando me convencer a não tentar jogar pela equipe dos garotos no meu último ano de colégio, isso ficou na minha cabeça”, afirmou.

“Quem imaginaria que cinco anos depois eu teria a mesma oportunidade? Era um nível diferente, mas tinha conseguido tanta coisa na universidade e pela seleção que não ia permitir que as pessoas me tirassem dessa novamente. Muitas pessoas achavam que era uma situação em que não ganharia nada. Se eu fizesse uma cesta, diriam que haviam me deixado. Se eu levasse um toco, era porque era uma garota, e não tinha nada demais. Já tinha visto isso minha vida toda enfrentado os garotos nos parques, e o que eles ou as garotas diziam sobre mim, ou até mesmo os pais. Mas, quando cheguei a esse alto nível, pude bloquear tudo isso.”

*  *  *

Vocês sabiam que duas jogadoras já marcaram presença no Draft da NBA?

Sim, duas.

A primeira foi Denise Long, pelo San Francisco Warriors, em 1969. Sensação do basquete colegial de Iowa, ela foi selecionada na 13ª (!!!) rodada do Draft daquele ano. O comissário Walter Kennedy, porém, não permitiu que a experiência fosse adiante, anulando a escolha imediatamente. Não obstante, a história teve repercussão imediata, com direito a matérias no New York Times e na Sports Illustrated.

Denise Long, pioneiraDenise marcou 6.250 pontos em sua carreira no colegial, a maior marca do país. O problema é que, naquela época, as universidades não davam bolsa de estudos para nenhuma jogadora. Que fique claro: para nenhuma jogadorA. De modo que a jogadora se viu numa situação extremamente desagradável, sem poder levar adiante sua paixão e vocação. Não havia também basquete feminino nas Olimpíadas – o primeiro torneio aconteceu apenas em 1976. O fim de carreira abrupto nunca foi bem assimilado pela americana, claro, restando apenas um caderno de recortes dos tempos de glória e uma frustração que nunca deixou a ex-atleta. “Eu a perguntei uma vez se ela se arrependia de algo”, disse seu treinador Paul Eckerman. “Ela respondeu que eu poderia ter ensinado tênis ou golfe para ela.”

A segunda ‘draftada’ foi Lusia Harris, em 1977, pelo New Orleans (futuro Utah) Jazz. Uma pivô de 1,90 m, formada em Delta State, ela havia sido eleita por três anos para a seleção das melhores universitárias, com médias de 25,9 pontos e 14,5 rebotes e 64% nos arremessos de quadra. No geral, ela foi a 137ª escolha daquele ano, na sétima rodada, na frente de outros 36 jogadores. Saindo na posição 138, o ala Alvin Scott teria uma carreira de oito temporadas pelo Phoenix Suns.

Lusia Harris, Hall da Fama

Lusia Harris, pré-Karl Malone

A decisão do Jazz, no entanto, não tinha nada a ver com basquete. Era uma ação declaradamente para atrair os holofotes – Lusia nem mesmo sabia o que estava acontecendo e nunca chegou a fazer nenhuma atividade pelo clube, até por estar grávida (!) na época. Anos depois, mas antes de montar a base fortíssima com John Stocktone e Karl Malone, com uma draga de time nas mãos, o gerente geral Frank Layden brincaria a respeito, dizendo que a pivô “era melhor que qualquer um em seu time, menos Pete Maravich”, em referência ao icônico astro, o Pistol Pete. Layden também comentaria com humor a gravidez da universitária, dizendo que havia ganhado dois jogadores pelo preço de um. Em 1992, Lusia Harris se tornou a primeira jogadora a ser indicada ao Hall da Fama do basquete.

*  *  *

Nancy Lieberman conseguiu, sim, jogar contra homens profissionais.

Mas, opa!, não na NBA. Ela chegou a jogar na liga USBL e também pelo Washington Generals, o infame adversário de tantos jogos contra o Harlem Globetrotters, nos anos 80.

Entrou para o Hall da Fama em 1996 e, no ano seguinte, voltou para as quadras, disputando a temporada inaugural da WNBA, com 39 anos, sendo a atleta mais velha da competição. Em 1998, virou treinadora e dirigente, pelo Detroit Shock. Ela acabou afastada de ambos os cargos três anos mais tarde, depois de acusações de que teria se relacionado com a armadora Anna DeForge. Em 2008, no entanto, Nancy voltaria a se envolver com o time de Detroit, premiada com um contrato de sete dias – como jogadora! Aos 50 anos, quebrou seu próprio recorde, e disputou uma partida, em derrota por 79 a 61 para o Hoston Comets, dando duas assistências.

Em novembro de 2009, ela foi pioneira em outra esfera, quando foi contratada para ser a treinadora do Texas Legends, na D-League. Foi, desta forma, a primeira técnica a dirigir um time profissional masculino. Hoje, trabalha como dirigente do clube.

E a qual franquia da NBA o Legends está vinculado?

O Dallas Mavericks, justamente.


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