Vinte Um

Arquivo : Paulão

Málaga reforça com pivôs seu elenco, e Augusto fica em situação nebulosa na Espanha
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Giancarlo Giampietro

Um dos clubes mais fortes da Espanha e tradicionais da Europa, o Unicaja Málaga estava ficando para trás, bem para trás. Barcelona e Real Madrid mantiveram um núcleo fortíssimo e ainda fizeram contratações mais que pontuais para a próxima temporada.

Os catalães agora contam com o talento do pivô croata Ante Tomic, que veio do arquirrival, aliás, além de um certo armador legendário Sarunas Jasikevicius, de volta após nove anos, nos quais passou por praticamente todos os clubes de elite do continente. Já o Real acertou o retorno do Rudy Fernández, eleito vilão olímpico no Vinte Um, e com o pivô Marcus Slaughter, que nunca teve uma chance real na NBA e construiu sua carreira na Europa, jogando por agremiações menores até chegar ao primeiro escalão.

Augusto enterra na Espanha

Augusto: pivô muito atlético, veloz, saltador, mas que pode ficar preso no banco

E nada de o Málaga se mexer? Mesmo depois de terminar a Liga ACB passada com um decepcionante nono lugar, fora dos playoffs, e de uma campanha nada empolgante na Euroliga, com 17 vitórias e 17 derrotas?

Bem, na semana passada seu elenco enfim começou a tomar uma forma mais séria, e aí vem a má notícia na parte que refere ao basquete brasileiro: as contratações são pouco promissoras para o progresso de Augusto Lima. Três dos principais reforços para o técnico Jasmin Repeša são homens de garrafão: o norte-americano James Gist, o sérvio Kosta Perovic e o espanhol Fran Vázquez, que deixou o Orlando Magic falando sozinho mais uma vez. Eles se juntam ao croata Luka Žorić, e, de repente, a rotação de pivôs da equipe já parece deixar o brasileiro afundado no banco.

Claro que depende de Augusto também, de tentar se impor nos treinamentos e deixar um dos medalhões para fora. Mas é muito difícil: Gist, Perovic e Vázquez chegam com salários altos e status de soluções. Žorić seria o homem a ser batido, mas é muito mais experiente e foi dos poucos, do elenco passado, que agradou e seguiu no clube.

Augusto, hoje com 21 anos, vem sendo preparado em Málaga há tempos, em mais um caso de brasileiro que foi cedo para a Espanha para ser cultivado por um grande clube – trilha aberta por Tiago Splitter em 2000. Dezenas de jogadores daqui repetiram essa rota, e foram poucos os que vingaram. Dois deles apenas quando se desvincularam do Unicaja:

– Vitor Faverani, que hoje está por cima, precisou de uma reviravolta na carreira na temporada passada, na qual jogou pelo Valencia. Hoje é visto como um dos melhores pivôs da liga, mas, diga-se, vai ter de dar sequência ao trabalho e confirmar essa confiança toda no próximo campeonato.

– O armador Rafael Luz conseguiu sair do Málaga para o bem e, até onde se sabe, sem traumas com a diretoria. Na temporada passada, fez um bom campeonato pelo falido Alicante e agora está no Obradorio, com vida própria no mercado espanhol.

Tem também o Paulão, que acabou de assinar com o Cajasol, mas ainda busca estabilidade na carreira após uma jornada igualmente turbulenta pelo clube da Andaluzia. Se Faverani teve problemas de comportamento, o pivô revelado em Ribeirão Preto penava para se manter em forma devido a uma série de lesões que deixou muita gente frustada.

Augusto Lima, do Málaga

Augusto vai tirar o uniforme de treino?

É um problema: o Málaga investe em projetos de base, mas não consegue incorporar os talentos desenvolvidos ao seu time principal. Há muita pressão por resultados em uma liga bastante competitiva, e a saída de Aito Garcia no ano passado, um treinador mais afeito ao trabalho com jovens, não ajudou em nada.

Fica, então, esse impasse para Augusto, que também rendeu bem mais quando foi emprestado para o Granada em 2010-2011 e ganhou minutos preciosos. Tudo para,  campanha seguinte, de volta ao seu clube, ser atrapalhado por uma cirurgia nas costas. Não pôde mostrar serviço e agora enfrenta uma dura concorrência para pisar em quadra.

Lembrando que, até para o seu futuro longe da Espanha, a próxima temporada é muito importante para o brasileiro. Como vai completar 22 anos em 2013, ele participará do draft da NBA automaticamente. Seu jogo – de capacidade atlética, vigor e energia incomuns para alguém de seu tamanho – é bem conhecido pelos olheiros europeus, mas uma boa produção nos meses que antecedem o recrutamento de calouros da liga poderia alçá-lo até mesmo ao primeiro round.

Para produzir, no entanto, ele precisa, antes, jogar.


Paulão tenta a sorte em Las Vegas
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Giancarlo Giampietro

Já que eles são novidade, natural que concentremos esforços para acompanhar a produção de Fabrício Melo, pelo Boston Celtics, e Scott Machado, pelo Houston Rockets, na Summer League de Las Vegas da NBA. Mas fica o convite, aqui, para que observem também por lá o Minnesota Timberwolves, que vai contar com um certo Paulão Prestes em seu elenco.

Desde o ingresso de Nenê e Leandrinho na liga norte-americana, em 2002 e 2003, essa virou meio que uma obsessão do basqueteiro nacional: avaliar a garotada que está surgindo, brincar de mercado futuro e projetar se cada um deles pode, ou não, emplacar uma carreira na NBA. Ser draftado, ser chamado para a seleção aos 18 anos, ser o cincão dos sonhos etc. Fab e Scott foram os últimos a fomentarem esse faniquito que envolve também Lucas Bebê, Raulzinho e, em breve, vai abraçar Lucas Dias.

Paulão Prestes na Lituânia

Paulão estava dando suas trombadas na Lituânia

Mas não faz muito tempo que, nesse contexto, a coqueluche era o Paulão, o força-bruta revelado pelo Ribeirão Preto e ex-aposta do Unicaja Málaga. Em 2007, ele comandou uma campanha histórica da seleção no Mundial Sub-19, terminando fora do pódio, mas com o quarto lugar. Em 2010, foi selecionado pelo Wolves na 45ª posição do Draft. Em 2012? Bem, parece que nem figura mais no imaginário coletivo nacional. Mesmo que ele tenha ainda apenas 24 anos.

Está certo que a carreira do pivô de Monte Aprazível (demais!) não evoluiu, nas últimas temporadas, como o esperado. Contribuíram para o progresso lento as constantes lesões do jogador e também seu complicado rolo com o clube espanhol – algo semelhante aconteceu com Vitor Faverani, embora mais por questões disciplinares do que físicas. Paulão foi emprestado diversas vezes, para o bem, ganhando experiência seja nas divisões inferiores ou na Liga ACB. Mas nunca foi o bastante para convencer o Málaga a aproveitá-lo para valer. Aos poucos, o clube se cansou de pagar seu salário, a relação se desgastou, acabou o namoro. Na última temporada, no fim, para se reerguer, Paulão foi parar na Lituânia, onde virou Paulo Sérgio Prestesas (mais que demais!).

Paulão Prestes, ex-Unicaja Málaga

Paulão, antigo projeto do Málaga, prefere um jogo mais lento

Terminada a jornada báltica, Paulão decidiu mudar drasticamente a direção de sua trajetória. Arrumou as malas e fez uma loooonga viagem rumo a Los Angeles, onde passou um mês treinando, refinando o jogo e o corpo, antes de mostrar serviço a David Kahn e Rick Adelman. Nesta segunda, ele abre sua participação no torneio de Vegas contra o Clippers.

Ao contrário de Fabrício e Scott, que ainda são projetos, Paulão entra em quadra com mais responsabilidade. Vem sendo observado pelos Wolves há dois anos e precisa mostrar de cara que merece uma vaga no clube na próxima temporada – ajuda o fato de eles terem dispensado Darko Milicic e trocado Brad Miller, aliás. No momento, há uma clara carência de pivôs no elenco, e eles talvez precisem de alguém mais barato, principalmente no caso de a volumosa proposta especulada por Nicolas Batum  não for coberta pelo Trail Blazers.

A má notícia? Os técnicos do Minnesota estão falando em incentivar um sistema uptempo em seu time de verão. Querem que atuem num ritmo acelerado. O quanto isso ajuda um pivô como o brasileiro, que é mais pesado e joga trombando de costas para a cesta? Não muito. Se for essa a proposta, mesmo, o paulista tem de se dedicar horrores aos rebotes defensivos: seria um modo de participar do jogo sem se deixar alienar pela correria.

* * *

Fab Melo e Scott Machado jogam nesta segunda também. O pivô do Celtics já vem com mais rodagem, depois de ter atuado semana passado na liga de Orlando.Também tem dois anos de contrato garantidos, então sobra tempo para falar sobre ele. O armador, porém, joga muito mais pressionado.

E como anda Scott? O brasileiro do Queens vai fazer sua terceira partida pelo Rockets. Contra o Raptors, na sexta-feira, ele ficou em quadra por 18 minutos e somou dois pontos, cinco assistências e quatro desperdícios de bola, acertando 1 de 6 arremessos. No sábado, contra o Wizards, ele jogou por 20 minutos e teve quatro pontos, uma assistência, quatro turnovers e 2/4 nos chutes de quadra.

Não são números de encher os olhos, mas vale a ressalva da semana passada: a) as estatísticas não são tão confiáveis nesses torneios, b) os jogadores mal se conhecem, o desentrosamento é visível; c) há muita gente querendo matar a concorrência: o pivô compete com o armador, que compete com os alas, tudo por uma ou duas vagas restantes em cada clube; d) os times não necessariamente vão avaliar números: importa muito mais o modo como cada um se comporta em quadra.

PS: Veja o que o blogueiro já publicou sobre Paulão em sua encarnação passada.