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Arquivo : Patricio Garino

Guia olímpico 21: o que esperar da Argentina?
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Giancarlo Giampietro

A partir da definição dos 12 jogadores da seleção brasileira, iniciamos uma série sobre as equipes do torneio masculino das Olimpíadas do #Rio2016:

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Lá vem o Luis de novo

O elenco
Armadores: Facundo Campazzo e Nicolás Laprovítoola
Alas: Manu Ginóbili, Nicolás Brussino, Patricio Garino, Gabriel Deck e Carlos Delfino.
Pivôs: Andrés Nocioni, Leo Mainoldi, Luis Scola, Marcos Delía e Roberto Acuña.

A troca de gerações está encaminhada. Claro que eles vão sentir essa passagem. Nenhuma seleção internacional perde jogadores como Luis Scola, Manu Ginóbili e Andrés Nocioni sem sofrer um baque.  A não ser os Estados Unidos. Se algum dia vão poder brigar novamente pelo ouro olímpico? As perspectivas não são tão otimistas, mas está muito cedo para dizer. Mas pelo menos a Argentina pode olhar para seus 12 olímpicos e perceber que há um caminho a ser seguido pelo próximo ciclo.

Entre atletas nascidos nos anos 90, os armadores Facundo Campazzo e Nicolás Laprovíttola, os alas Nicolás Brussino, Patricio Garino e Gabriel Deck e mesmo os pivôs Marcos Delía e Roberto Acuña já compõem uma sólida base para futuros torneios. Especialmente os armadores, que estão subindo degraus na Europa consistentemente, rumo aos grandes clubes do continente. Prometem bastante os eventuais duelos com Raulzinho, Ricardo Fischer, Rafael Luz, entre outros da nova geração brasileira.

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Mas vale prestar atenção nos laterais. Brussino é quem vai ficar mais visado agora, pelo fato de o Dallas Mavericks estar apostando em seu talento – seu contrato, de todo modo, não é garantia: o garoto vai ter de brigar por uma vaga no elenco de Rick Carlisle em outubro. O rapaz de 23 anos não pára de crescer, tem muita envergadura para incomodar na defesa, a despeito do físico franzino, e no ataque pontua com inteligência, se deslocando pela quadra em busca de espaço para o arremesso. Ao meu ver, Garino é um prospecto mais interessante, ou pelo menos mais confiável, seguro para uma aposta. Atlético, forte, aguerrido, pode fazer um pouco de tudo em quadra, vai fazer longa carreira na Europa se a NBA não lhe abrir as portas (alô, Orlando, vocês viram a liga de verão em casa).

Garino chegou para ficar na seleção

Garino chegou para ficar na seleção

(O mais promissor deles acabou cortado por Sergio Hernández: Juan-Pablo Vaulet, draftado pelo Nets no ano passado. Vaulet é de um enorme talento, com capacidade atlética bem acima da média, agressividade para atacar o aro, coletar os rebotes e defender. Tem muita personalidade. Só não dá para cravar que vá virar um craque para liderar a seleção por dois motivos: primeiro, seu arremesso ainda é uma calamidade e, segundo, seu histórico de lesões já é muito preocupante para um garoto de 20 anos.)

A presença de jogadores mais jovens é um alívio para os mais veteranos, podendo fazer o serviço sujo – desde que Hernández não peça para Nocioni aliviar, o que é impossível. E ainda tem a incrível história de Carlos Delfino, que não jogava há três anos, passou por sete cirurgias no pé direito e foi chamado por pura fé.

Rodagem
A Argentina chegou à disputa por medalhas nas últimas três Olimpíadas, ganhando o ouro em Atenas 2004 e o bronze em Pequim 2008. Há quatro anos, os caras derrotaram a seleção brasileira num jogo dramático, mas perderam para Estados Unidos e Rússia e ficaram em quarto. Do grupo de Londres 2012, apenas cinco estão de volta, porém, e um deles é Delfino, que a gente nem sabe se vai conseguir jogar para valer. Leo Mainoldi não estava naquele grupo, mas tem muita bagagem. Do restante do elenco, Laprovíttola e Delía participaram de todas as competições com a seleção principal desde 2013. Garino, Brussino e Deck foram introduzidos ao time no ano passado, enquanto Acuña é estreante.

Para acreditar

Ainda não é simples ficar no caminho de Ginóbili

Ainda não é simples ficar no caminho de Ginóbili

Vou confessar aqui: não gostei nadinha deste uniforme dourado que a Argentina tem apresentado em amistosos. Mas é óbvio que ele diz muita coisa e vale para além do marketing. É só um questão de recordar que não faz muito tempo ainda que a seleção fez uma das campanhas mais memoráveis do torneio olímpico para ser campeã em Atenas 2004.

Chega uma hora em que nossos vizinhos ao Sul não poderão mais levantar essa credencial, tentando dar carteirada toda hora. Mas, enquanto o trio Scola, Nocioni e Ginóbili estiver por aí, é melhor respeitar. Mesmo com os três estando hoje mais próximos dos 40 anos do que dos 30, vai haver diversos confrontos na primeira fase em que eles ainda terão pelo menos dois dos três, quatro melhores atletas em quadra. Sim, ainda. Pode escanear os elencos de seus adversários e conferir isso aí.

Guia olímpico 21
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Com disse Delfino em alguma entrevista que vi por aí, talvez a excepcional ao Basket Plus mesmo, em que ele solta alguma coisa sobre o croata Dario Saric nesta linha: “Vejo muita gente falando sobre ele. Ok. Mas, para a Olimpíada, se tivesse de escolher entre Saric e Scola, o que faria?”, perguntando de maneira retórica. Pois é. O mesmo raciocínio vale para Manu, que só não tem números maiores pelo Spurs porque não compensa para Gregg Popovich desgastá-lo antes dos playoffs.

Questões
A Argentina está renovando seu elenco, mas seus principais atletas não vão correr muito. Dos três craques, apenas Nocioni ainda tem o preparo para ir de um lado para o outro da quadra sem parar. Só porque é maluco, mesmo. Scola nunca foi desses – seus arranques são apenas oportunistas, em contragolpes certeiros. Então, ou Campazzo sai em disparada com qualquer atleta mais jovial que esteja em ação, ou o time se vê obrigado a atacar quase sempre em cinco x cinco.

Esse ritmo mais lento vai obrigar que Scola seja o Scola de sempre, em pick-and-rolls and pick-and-popcom Campazzo, em jogadas de costas para a cesta. Vai forçar também que Ginóbili consiga se esgueirar pelas defesas como foco primário ou secundário do ataque. Que Campazzo e Laprovíttola consigam conduzir o time sem turnovers, mas sem se tornarem burocráticos – nenhum deles é um Prigioni ou Pepe Sánchez. Tudo isso é bem possível.

O problema maior diz respeito ao sistema defensivo e rebotes. Foi na tabela que a equipe foi destroçada pelos brasileiros há dois anos, pela Copa do Mundo. O que pega é que os dois melhores pivôs do time, Scola e Nocioni, são craques e fazem muita coisa em quadra, menos a proteção do aro. Além disso, os dois têm coração enorme, mas não são caras de 2,10m de altura. É difícil lidar com um Gasol, um Valanciunas, um Nenê ou mesmo um Ezeli, do ponto de vista físico e atlético. Esse é o desafio de montar uma linha de frente com Nocioni e Scola. Se os dois fossem companheiros de clube na Europa, por exemplo, num Real Madrid, é muito provável que um seria o substituto do outro.

Por fim, temos Carlos Delfino. Depois de três anos parado e sete cirurgias, foi convocado ‘no escuro’ por Hernández. É uma história maravilhosa, realmente. Mas não dá para saber o que o veterano pode fazer pela seleção depois de retornar ao esporte apenas nesta fase de amistosos, após três temporadas afastado. Quando no auge, Delfino ajudava nos rebotes, nos arremessos de fora e também poderia criar jogadas em situações de aperto para a seleção.

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Brasil se recupera e vence a Argentina. Notas sobre o jogo
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Giancarlo Giampietro

Benite marcou 12 pontos, mesmo chutando 3-12. Compensou com cinco lances livres

Benite marcou 12 pontos, mesmo chutando 3-12. Compensou com cinco lances livres

Com um bom atraso, alguns comentários sobre a vitória do Brasil sobre a Argentina, por 80 a 71, na noite desta terça-feira. Nem o link oficial, nem os “alternativos” estavam funcionando aqui no QG, então ficou para o VT pela manhã. Foi o terceiro amistoso entre os rivais nesta preparação para a Copa América, de modo que os times já se conheciam bem. O interessante desta série é que diversos novos protagonistas estão sendo introduzidos à maior rivalidade basqueteira sul-americana, de ambos os lados. Como o Marcus, por exemplo…

*    *   *

Antes de falar sobre o jogo em si, vocês vão me desculpar se nos atermos a um pequeno ingrediente para lá de saboroso em quadra: a batalha entre Marcus Toledo e Andrés Nocioni. Em linhas gerais, numa partida de basquete, um duelo individual costuma ser só uma de diversas peças de um grande embate no plano geral. As chispas entre Marcus e Chapu, porém, tiveram significado especial. Primeiro porque pudemos ver o ala do Basquete Cearense cumprir em quadra aquilo que muita gente imaginava que ele pudesse fazer há anos. Anos, e não apenas desde o NBB6 e seu ótimo campeonato nacional por Mogi. Marcus é um ala-pivô combativo desde sempre, ganhando cancha nas divisões menores da Espanha e também na Liga ACB, até aprender a canalizar toda sua inesgotável energia de um modo mais eficiente na defesa. Foi o que fez contra um craque como Nocioni — e levou a melhor. O veterano argentino, aliás, experimentou de seu próprio veneno.

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Geralmente cabe ao campeão olímpico a posição de intimidador/agressor. Dessa vez, ele foi a vítima, ficando evidentemente surpreso e incomodado pelos seguidos desarmes de Marcus, a ponto de, no último deles, já no terceiro quarto, reclamar horrores com a arbitragem e ser excluído com cinco faltas e duas técnicas. Por essas e outras, Marcus precisa ser considerado a cada convocação. Você nunca chama apenas 12 atletas. Vai reunir um grupo, fazer cortes e, diante do que vê em treino, define seu grupo. Nem todo mundo que for para o banco vai ter um grande papel, volume de jogo e muitas oportunidades de arremesso. Para encontrar um equilíbrio, existem os operários. Está aqui um que pode ser muito valioso, a ponto de tirar, literalmente, um Nocioni do jogo. Sua importância foi muito além dos seis pontos (todos no primeiro quarto) e dois rebotes.

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Marcus entendeu rapidamente — e apreciou, naturalmente — qual era a natureza desse (coff, coff!) amistoso. Brasil e Argentina, para variar, fizeram um jogo muito físico. Ao todo, foram batidos  44 lances livres, com 24 para os hermanos. Esse combate vigoroso partiu muito muito mais da seleção de Rubén Magnano, talvez frustrada por ter sido oprimida na véspera pelo Canadá, e também por vir de duas derrotas. A pegada defensiva esteve até mesmo num nível acima do Pan, forçando 14 turnovers por parte dos argentinos, compensando a derrota nos rebotes (35 a 29).

Ricardo Fischer era outro exemplo claro essa atitude, mordendo a barra dos calções de Laprovíttola e Richotti, de um modo que deu gosto de ver. O armador do Bauru era mais baixo e menos veloz que os dois oponentes, mas isso não o impediu de fazer excelente papel defensivo, e não só por uma questão de agressividade. Ele se movimentou muito bem lateralmente, com um jogo de pés ágil e impressionante, algo que ele já usa tão bem no ataque. Se formos pensar, Fischer não é um jogador explosivo. Mas, pela inteligência e fundamentos, ele consegue levar seu time adiante no NBB, chegando aonde quer em quadra. Aos poucos, com a extensa bagagem que vai carregando nesta Copa Tuto Marchand, percebe-se que está se ajustando ao nível de competição em seleções e vai produzindo.

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Contra a Argentina, Fischer atacou muito mais a partir da linha de três, mantendo a bola viva com seu drible bem controlado e matando tiros em flutuação, mesmo sem ter por muito tempo a companhia de Augusto Lima, o tipo de pivô que facilita a vida do armador com seus cortes para a cesta, atraindo a defesa. O jogador do Murcia ficou limitado por faltas, cometendo quatro em 16 minutos. Na defesa, quem apareceu para cobrir Augusto foi Rafael Mineiro, um jogador que, sinto, não recebe o devido valor por estas bandas. Você não encontra todo dia um jogador com sua altura e mobilidade. Essa mobilidade pode não ser muito explorada no ataque da seleção (às vezes até mesmo por hesitação do próprio atleta, uma vez que me parece que Magnano tem confiança na sua habilidade para atacar vindo do perímetro). Na defesa, porém, ele vem sendo extremamente útil na defesa, para fechar espaços e acertar a cobertura.

Outros jogadores que não vinham tendo sucesso nesta semana em Porto Rico e renderam bem mais ao mudar a abordagem ofensiva contra a Argentina: Leo Meindl, muito bem nos oito minutos que recebeu no primeiro tempo, forçando inclusive um pedido de tempo de um Sergio Hernández pasmo com suas infiltrações pelo centro da defesa, e Guilherme Giovannoni, que primeiro atacou perto da cesta, correndo para valer em transição, para depois usar o chute de fora (fundamento que mais uma vez deixou a desejar do ponto de vista coletivo, com 33% de acerto, em 5-15).

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Não dá para negar que, entre os três primeiros adversários em San Juan, a Argentina é a que tem a capacidade atlética mais reduzida, de modo que o Brasil conseguiu se impor nessa esfera. De qualquer forma, observando essa atual formação de Hernández, percebe-se aqui e ali alguns jogadores que elevam o padrão habitual da seleção dos últimos anos. Nícolas Richotti já faz sucesso com suas arrancadas pela Liga ACB, então não é uma surpresa. O destaque aqui fica para os jovens alas Patrício Garino, da Universidade de George Washington, um excelente defensor, e Gabriel Deck, sensação nas competições de base da Fiba como um ala-pivô técnico, mas baixo e lento, e que reinventou seu jogo no adulto. São dois caras que vamos ver por anos e anos nas competições continentais.

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Magnano deu uma enxugada em sua rotação nesta terça, mesmo sendo o terceiro jogo em três noites. Sinal do que vem por aí? Danilo Fuzaro não foi para o jogo, assim como Olivinha. Meindl recebeu oito minutos e Marcus ficou com 16. Deryk, muito tímido com a bola, ganhou apenas cinco. Rafael Luz mais uma vez não se fardou. Esperemos que ele esteja bem para a Copa América, e que não seja nada além de medida cautelar da comissão técnica. Mesmo sem jogar, Olivinha dava sua contribuição em termos de animação no banco de reservas. Quando Marcus forçou a quarta falta de Nocioni, após um desarme, o ala-pivô do Flamenguista quase invadiu a quadra para cumprimentar o companheiro. Mesmo que, em teoria, eles sejam concorrentes.

O bacana foi ver novamente a pontuação distribuída, com quatro jogadores em duplos dígitos, liderados por um João Paulo Batista sempre eficiente (15 pontos, 56% de quadra e 5-5 nos lances livres). Da turma que foi para quadra, só Deryk ficou zerado, errando seus dois únicos arremessos, ambos de três.

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Todo paz e a mor com as câmeras de TV, o que é algo chocante, Magnano, pela primeira vez, censurou uma transmissão de TV contra a Argentina. Num determinado momento do quarto período, os adversários ensaiavam uma reação, e ele chamou tempo. Na hora de rabiscar uma jogada na prancheta, percebeu o que estava fazendo e, discretamente, se deslocou na rodinha para colocar seu traseiro de frente para as câmeras. Não era um gesto de ostentação, fiquem tranquilos. Ele só não queria que a concorrência tivesse acesso àquela jogada específica. A preocupação com esse trâmite era tanta que a instrução foi para que os atletas nem mesmo chamassem a jogada em quadra, para não dar bandeira. Jogos secretos, a gente se vê por aí.

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Por fim, reproduzo uma observação do narrador Álvaro Martín, da Fiba e da ESPN, sobre Magnano, que é algo que estamos realmente testemunhando mais vezes neste giro: o argentino tem por vezes deixado os pedidos de tempo na mão de José Neto e/ou Gustavo de Conti. De um modo geral, o treinador tem adotado postura mais leve também (sem deixar de espernear com seus atletas quando achar necessário, diga-se). Estaria o argentino preparando a transição para um mundo pós-Rio 2016? Martín falou sobre o treinador começar a se dedicar às categorias de base brasileiras, mas aí não ficou claro se era apenas especulação de sua parte ou resultado de conversas durante a semana. Magnano tem vocação para lidar com garotos e fez isso constantemente quando técnico da geração dourada de nossos vizinhos. Lembro muito bem de um Sul-Americano Sub-19 em Ancud, no Chile, em 2004, para o qual ele chegou durante a competição e, na hora da disputa por medalhas (e vaga na Copa América), rendeu um de seus assistentes para assumir o comando do time. Estava sempre perto das canteras, tal como faz Óscar Tabárez no futebol uruguaio. A ver.


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