Denver Nuggets: em busca de uma identidade perdida
Giancarlo Giampietro
30 times, 30 notas para a temporada 2014-2015
O Denver Nuggets tinha algo especial. Mas decidiu que não era o bastante, já que não estavam se aproximando, materialmente, do título. Deixaram, então, o técnico ir embora, acompanhado pelo gerente geral e por um de seus principais jogadores. Alguns reforços de pouco impacto chegaram, mas boa parte do núcleo central do elenco segue intacta – o que é muito maluco, já que eram atletas contratados pensando no estilo de jogo da gestão anterior, bem diferente do que prega o novo treinador. Por ora, ficou nisso a reformulação do clube. De modo que o que temos para esta campanha é um time perdido no meio do caminho, ainda em busca de identidade.
Em 2012-2013, sob o comando de George Karl, o Nuggets venceu 69,5% de suas partidas na temporada regular. A melhor campanha da história da franquia. Nos playoffs, porém, foram derrubados pelo emergente Golden State Warriors em seis jogos, culminando na quarta derrota seguida logo na abertura dos mata-matas. Com ou sem Carmelo Anthony. Sempre com Karl no comando. Para a família Kroenke, era a hora de dar um basta. Não aguentavam mais tanta frustração, o que dá para entender. Por outro lado, seria mais compreensível o “basta” se eles tivessem alguma ideia de qual direção seguir na sequência. Não parece o caso. Nesse ponto, sugiro também a leitura casada sobre a ficha dedicada ao Portland Trail Blazers, que vai curtindo seu próprio período de lua de mel com a torcida, ainda que sem sonhar com o título.
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Os Kroenkes demitiram Karl e, logo em sequência, não fizeram força para segurar o nigeriano Masai Ujiri na chefia das operações de basquete, depois que ele recebeu uma senhora proposta de Toronto. Os dois haviam acabado de serem eleitos técnico e executivo do ano. Os seguidos fracassos na fase decisiva, porém, pesaram mais alto. Sem se importar que, no meio do processo, Ujiri tenha sido obrigado a negociar Carmelo Anthony e, ainda assim, que tenha mantido o time competitivo e, segundo mostram os números, até melhorado. Karl também se adaptou rapidamente à nova formatação do elenco. Outro fator importante: o Nuggets estava e continua no Oeste. Uma conferência brutal em que, basicamente, qualquer um dos oito classificados acha que pode chegar longe, se contar com um pouquinho de sorte. Isso, claro, não quer dizer que qualquer técnico já entra com a prancheta toda rabiscada de desculpas automáticas, que não deva ser cobrado por uma derrota ou outra. Só não dá para considerar inaceitáveis.
A saída de Ujiri é ainda mais alarmante. Ele havia retornado ao clube como gerente geral em 2010. Enfrentou toda a turbulência em torno de Melo – e ainda saiu ganhando dessa. Ok, são poucos os cartolas que vão ganhar US$ 3 milhões por temporada, num contrato de cinco anos. É mais que muito jogador por aí. Mas me desculpem se não dá para chorar por uma família com capital superior a US$ 6 bilhões, que controla times também da MLB, da NFL e o Arsenal, na Inglaterra…
O novo manda-chuva do basquete, Tim Connelly, tem uma bucha nas mãos. Seu elenco tem alguns ótimos jogadores e uma vasta maioria de atletas medíocres, cuja combinação é moldada para correr. Ao mesmo tempo, correr com a bola, em teoria, não os levou a lugar nenhum – mesmo que essa tenha sido a identidade do time por um loooongo tempo, desde os anos 80 com Doug Moe dirigindo Alex English e Dan Issel. A contratação de Brian Shaw, pupilo de Phil Jackson em Los Angeles, peça integral também do sucesso recente do Indiana Pacers, sinalizava uma mudança drástica nessa direção. Acontece que, até o momento, poucas trocas significativas foram feitas para que o técnico ganhasse o tipo de jogador que se adequaria melhor ao que pensa sobre o jogo.
Não é fácil, claro. Os clubes mal haviam terminado de assimilar os meandros do novo acordo trabalhista, e as estruturas da liga já foram sacudidas novamente com a decolagem do valor dos direitos de transmissão das próximas temporadas. Tantas alterações sugerem precaução, conservadorismo nas transações. Algo que não ajuda Connelly em nada: a impressão que a montagem de elenco é a de que ele está obviamente estocando atletas com salário razoável na esperança de concretizar uma megatroca. Nate Robinson, Randy Foye, JJ Hickson, Darrell Arthur, Randy Foye etc… qual seria o ponto senão aglomerar diversos salários de médio porte, todos mais palatáveis ao mercado, para formar um pacote e ir atrás de oportunidades? E quais oportunidades? Essa é uma boa pergunta. Precisa saber quem seria o próximo Kevin Love da vez. Tem de ser esse tipo de estrela, já que o Andre Iguodala não serviu…
O time: Shaw estava determinado a desacelerar o Nuggets em sua primeira temporada no Colorado. Não deu muito certo. Depois, o discurso mudou para algo como: vamos correr ainda – afinal, precisavam explorar a altitude das Montanhas Rochosas de alguma forma –, mas também vamos defender bem e vamos jogar bem em meia quadra quando os atletas assimilarem melhor os conceitos. Vamos ser oportunistas. Não aconteceu nada disso. O Nuggets esteve abaixo da média da liga tanto atacando como defendendo. Enfim, é uma confusão que só. O retorno de Arron Afflalo ajuda, ainda mais enquanto Danilo Gallinari desenferruja. Ty Lawson precisa cuidar do tornozelo, Kenneth Faried tem um novo contrato de US$ 50 milhões para honrar, enquanto Timofey Mogzgov, Jusuf Nurkic e o inigualável JaVale McGee digladiam por minutos. No que vai dar isso tudo? Impossível dizer, enquanto a tal da troca não sai.
A pedida: chegar aos playoffs, amigos, seria pedir demais.
Olho nele: Kenneth Faried. Até porque, quando o cara está em quadra, é difícil desviar o olhar, mesmo. O ala-pivô do Nuggets usou ao máximo a experiência da Copa do Mundo da Fiba para se valorizar e entrar no radar da indústria do marketing esportivo americana, com sua energia aparentemente inesgotável para fazer das suas a impulsão impressionante, a ferocidade na disputa por rebotes a cabeleira chicoteando de um lado para o outro. O pacote todo que justifica o apelido de Manimal. Tudo muito divertido, sem dúvida. O que Faried precisa fazer, todavia, é elevar o seu jogo como um todo a outro patamar. A parte que não aparece nos clipes de melhores jogadas, no caso. Aprimorar seu posicionamento defensivo e o chute de média distância, por exemplo. Prestes a completar 25 anos, o superatleta ainda tem muito o que desenvolver.
Abre o jogo: “Todo mundo nessa liga pode pular. Mas não há muitos caras fortes”, Jusuf Nurkic, o calouro número 16 do draft, que tem 20 anos apenas, nunca disputou uma Euroliga, mas bate que é uma grandeza. O pivô é um ótimo reboteiro, tem habilidade em seu jogo de pés e potencial para assumir em breve a posição de titular do time, mas, em um primeiro momento, vai ficar conhecido na liga pelos hematomas que causa. Em Denver, já faz sucesso. “Ele traz a dor, ofensiva e defensivamente”, resume o técnico Shaw.
Você não perguntou, mas… Brian Shaw levou o armador Ty Lawson a um treino do Denver Broncos, no início de outubro, para que o tampinha observasse o quarterback Peyton Manning mais de perto e aprender uma coisa ou outra sobre ser um líder. “Espero mais dele do que de qualquer outro no nosso time”, afirmou. “Ele é nossa primeira linha de defesa e de ataque. Conversamos sobre sua liderança. Se ele não for um cara muito falante, tudo bem. Mas você precisa liderar ou de maneira vocal, ou por exemplo. Ele entende isso”, completou. O veterano Manning, uma das grandes personalidades do esporte americano da última década, respondeu a algumas perguntas do armador, com quem se encontrou pela primeira vez. Shaw ele conhecia de Indiana, de seus tempos de Colts.
Um card: Kiki Vandeweghe. O ala foi a 11ª escolha do Draft de 1980. Quatro anos depois, já havia disputado dois All-Star Games pelo Denver, com o time chegando de forma constante aos playoffs, sob o comando de Doug Moe. Foi uma sequência de nove temporadas nos mata-matas, rendendo apenas uma final de conferência em 1985, quando este cestinha de respeito já havia sido mandado para Portland. Aposentado aos 34 anos, em 1993, como jogador do Clippers, Vandeweghe retornou ao Colorado como gerente geral em 2001, após uma boa passagem pelo Dallas Mavericks. Foi com ele que o time retomou o caminho das vitórias, apostando na reconstrução via Draft, que lhes rendeu Nenê e Carmelo – além de Nikoloz Tskitishvili. Dispensado em 2006, assinou com o Nets. Hoje, trabalha nos escritórios da NBA em Nova York.