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Ouro do Pan também confirma a ascensão de Augusto Lima
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Giancarlo Giampietro

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Scout por Rafael Uehara

Augusto Lima foi promessa durante bastante tempo nas categorias de base do Unicaja, mas nunca teve muitas oportunidades com o time principal. Depois de deixar Málaga em 2013, assinou com o Murcia, e sua carreira finalmente decolou, com duas temporadas de muito boa produção. Seguindo nessa toada, o brasileiro teve um belo Pan-Americano, e há rumores de que o Dallas Mavericks estaria interessado em assiná-lo para a pré-temporada da NBA. Seu nome já foi envolvido também com outros clubes europeus de grande porte, mas não se sabe ainda se ele vai procurar um novo destino ou se vai renovar com a equipe na qual se tornou ídolo máximo.

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Porte físico, envergadura
Augusto não é um pivô de muita habilidade, de fino trato com a bola, mas faz a diferença devido ao seu porte físico e sua envergadura. Sua principal contribuição no ataque é o rebote ofensivo, pois o pivô é capaz de buscar a bola fora da sua posição devido aos seus braços longos, além de conseguir saltar com bastante facilidade. De acordo com o site RealGM, Augusto coletou 14,6% dos tiros perdidos pelo Murcia na temporada passada – a sexta maior marca da liga espanhola.

Augusto "mergulha" rumo à cesta: deslocamentos oportunistas

Augusto “mergulha” rumo à cesta: deslocamentos oportunistas

Seu talento não se restringe, porém, a rebarbas. O pivô se encaixa dentro de um esquema ofensivo por meio do pick-and-roll. Augusto geralmente ameaça fazer o corta-luz e usa esse meio segundo de vantagem para partir para dentro com o tipo de velocidade que atrai a atenção de vários marcadores e pode deixar companheiros livres ao redor do perímetro. Ele tem boas mãos para receber a bola em movimento e é uma boa opção para a ponte aérea. Augusto converteu 64,7% dos seus 34 tiros de quadra no Pan e 54,4% de seus 472 arremessos com o Murcia nesses últimos dois anos. Aproveitamento elevado e consistente.

Na defesa, Augusto é capaz de dar tocos, mas não protege o aro dessa forma com frequência. Foi apenas um toco para ele em cinco jogos no Pan e 36 em 34 partidas com Murcia na temporada passada. Porém, isso não significa necessariamente uma deficiência. Ele procura fazer seu papel de outra forma, tendo já demonstrado boa agilidade girando pra dentro do garrafão e disposição para cavar faltas de ataque.

Mas sua principal contribuição acaba sendo a marcação acima do garrafão. Augusto consegue trocar de posição no pick-and-roll e marcar jogadores menores. Isto porque tem muito boa mobilidade e coordenação se movendo de lado a lado. Também tem boa velocidade de recuperação para contestar tiros vindos do pick-and-pop.

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Augusto às vezes ´pode ser pego um pouco desatento na briga por rebotes defensivos, nem sempre colocando seu corpo contra o adversário para fazer o bloqueio, mas é, de qualquer forma, muito rápido buscando a bola. Coletou 24,8% dos tiros perdidos pelos oponentes enquanto estava em quadra na temporada passada – a quarta maior marca na liga espanhola.

Com a bola
Quando acionado de costas para a cesta durante o Pan, Augusto passou a bola relativamente bem, mantendo a cabeça erguida e dando assistências para tiros de três pontos. Mas não é de seu costume criar boas oportunidades nessas situações com frequência. Seu jogo é bastante mecânico, nesse sentido. Também nunca demonstrou muita habilidade de passar em movimento, em direção à cesta, por exemplo. Deu assistência em apenas 5% das cestas que o Murcia converteu na temporada passada. Além disso, Augusto também não apresenta um tiro de meia distância como arma recorrente. Isso pode ser corroborado por seu  aproveitamento ruim em lances livres: ele converteu apenas 66% de seus 223 tiros nos últimos dois anos.

O deslocamento lateral deixa Augusto em boa posição para contestação

O deslocamento lateral deixa Augusto em boa posição para contestação

Conclusões, por Giancarlo Giampietro
Pudemos conferir no Pan a confirmação daquilo que a Liga ACB espanhola já sabia: Augusto é hoje um dos pivôs mais promissores que você vai encontrar por aí. Isso tem muito a ver com seu biótipo e com a energia que leva para a quadra. Ele simplesmente não pára, e dessa forma lembra em muito as características do jovem Anderson Varejão. Características que não devem ser subestimadas de modo algum. Vitor Benite, por razões óbvias, foi o atleta mais badalado do Brasil na campanha do ouro em Toronto, devido a uma exibição impressionante na hora de colocar a bola na cesta. Mas Augusto talvez tenha sido tão ou mais influente em quadra, deixando os pivôs adversários comendo poeira em transição, atacando a bola e fazendo a cobertura na defesa, impondo o caos na tábua ofensiva e se apresentar como essa opção confiável de desafogo para as infiltrações dos armadores, se deslocando de modo perspicaz pelo garrafão. Por ter boas mãos, dá para supor também de que vá se desenvolver gradativamente para se tornar uma ameaça ainda maior no ataque.

Murcia tem novo treinador. Troca pode influenciar no futuro de Augusto?

Murcia tem novo treinador. Troca pode influenciar no futuro de Augusto?

Depois de testemunhar tudo isso, é natural que o torcedor brasileiro já *faça planos* para o pivô. Sonha-se com a NBA, com a Euroliga, e tal. Mas talvez o melhor para Augusto seja continuar no Murcia por uma temporada a mais. Foi lá que ele se encontrou como jogador e lá que progrediu a esse ponto. Ele é simplesmente venerado pela torcida, a ponto de ter sido eleito o jogador mais popular da ACB, e terá todo o tempo de quadra que quiser para se desenvolver. Vale mais jogar como referência de um clube modesto, ou ser apenas mais uma peça num time de maior expressão? Há um fator a se considerar. O Murcia trocou de treinador durante as férias. Saiu Diego Ocampo, um espanhol emergente que fez excelente figura em seu primeiro trabalho como treinador principal após anos e anos como assistente de profissionais renomados. Chegou Fotis Katsikaris, o badalado grego que já fez sucesso dirigindo o Valencia e Bilbao. Augusto estará em boas mãos, mas é preciso saber se a química será a mesma. É o tipo de decisão difícil de se ponderar. O que sabemos, de todo modo, é que o brasileiro está bem encaminhado, com uma atitude excelente dentro e fora de quadra, capaz de levá-lo muuuito longe em sua carreira.

Rafael Uehara é paulistano e colaborador de diversos sites estrangeiros. Você pode acompanhar mais de seu trabalho no Bball Breakdown e no Upside Motor. Ou, se preferir, em seu próprio blog, o Baskerball Scouting. Pode segui-lo no Twitter.


Augusto Lima volta a sorrir e se fixa na elite da Liga ACB
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Giancarlo Giampietro

Augusto deixou de ser o garoto da base para ser estrela no Murcia

Augusto deixou de ser o garoto da base para ser estrela no Murcia

Quando optou por deixar o Unicaja Málaga, seis anos depois de ter chegado ao basquete espanhol como um adolescente, Augusto Lima disse que seu objetivo era bem singelo: apenas voltar a sorrir. Pois, com a camisa do UCAM Murcia, o pivô brasileiro conseguiu muito mais que isso. Hoje ele é simplesmente um dos melhores atletas da concorridíssima Liga ACB e, quando se mostra frustrado, é pelo fato de seu time não ter saído vencedor.

Peguem, por exemplo, sua declaração do último fim de semana, em que a equipe foi superada pelo Manresa, fora de casa, depois de tomar logo nos minutos iniciais: “Aqui, ganhamos e perdemos juntos, e se tem de trabalhar, e trabalhar e ir para a quadra como homens. Foi uma derrota dura em uma quadra que sabíamos que seria difícil. Eles começaram o jogo para matar, e nós não fizemos isso. Assim é complicado vencer”.

Pagou geral, não? O mais interessante, porém, é o contexto por trás disso. Sob todas as medidas, o Murcia é um clube bastante modesto na Espanha. Em uma temporada isolada, um revés como visitante, mesmo contra o lanterna do campeonato, seria tranquilamente aceito por seus torcedores e pelos observadores mais distantes.

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Acontece que o time vive hoje a melhor arrancada em sua história de Liga ACB. Está na briga por uma vaga na prestigiada Copa do Rei. Para tanto, precisa se manter entre os oito primeiros – a zona de classificação também para os mata-matas. “Nossa torcida quer que disputemos a Copa, e sonhar é grátis, mas nós no vestiário não nos esquecemos de que somos um clube humilde.”

O Murcia nunca ficou acima da 12ª posição na elite espanhola. Entrou em quadra nesta terça-feira como o 7º. Já é, então, uma campanha excepcional, que coincide justamente com a melhor temporada como profissional de Augusto. O pivô desponta como a força-motriz por trás desse sucesso.

Em qualquer consulta aos números da Liga ACB, vai ser fácil encontrar o nome do brasileiro, que deu um salto significativo em praticamente todas as estatísticas avançadas, mesmo sendo menos envolvido no ataque (sua taxa de uso baixou de 21,46% para 19,77%). Vamos lá:

– Augusto é hoje o jogador com maior PER, o índice de eficiência por minuto (26,6), acima de um craque como Ante Tomic e do veterano Fran Vázquez.

– O principal fundamento que o leva esse posto é o rebote. O brasileiro lidera a liga em percentual de rebotes (de acordo com aquilo que está disponível para ser coletado): 21,5%, superando o gigantesco Walter Tavares, cabo-verdiano draftado pelo Atlanta Hawks e o mesmo Tomic.

Na tábua ofensiva, com 18,6%, sua vantagem ainda é maior para Vazquez e o jovem Marko Todorovic (draftado pelo Houston Rockets).

– Já são todos dados excelentes, mas o que mais chama a atenção, para mim, é o fato de ele ser o terceiro em aproveitamento de tocos e o quinto em rendimento nos roubos de bola.

Essa combinação de top 5 para rebotes, tocos e roubadas diz tudo sobre o jogo do pivô, para quem não está familiarizado com seu basquete. Um jogador muito atlético, vigoroso, que corre a quadra de modo mais veloz, acelerado que muito armador. Ataca a tabela com ferocidade e tem muita agilidade em seu deslocamento lateral e vertical – daí o fato raro de ser um grandalhão de 2,08m posicionado entre os cinco maiores ladrões de bola do campeonato. “Meu jogo é bastante físico”, resume.

É importante avaliar pelas estatísticas avançadas e por minuto, até por justiça com aqueles que seriam seus principais concorrentes: os atletas de Barcelona e Real Madrid. Os dois gigantes espanhóis basicamente estocam os melhores atletas do país (e do continente), e a divisão de tempo de quadra em seus elencos acaba limitando suas médias totais. Enquanto, em Murcia, aquele que se destaque mais vai jogar sem parar.

Ocampo, cobrança e trabalho para fazer Augusto crescer na Espanha

Ocampo, apoio, cobrança e trabalho para fazer Augusto crescer na Espanha

De qualquer forma, segue seu ranking em números totais também: melhor reboteiro (com 7,8) e terceiro em tocos (1,5) e roubos (1,5), sendo que, nas recuperações de bola, ele e o búlgaro Kaloyan Ivanov, do Androrra, são os únicos pivô entre os 15 primeiros.

Numa projeção numérica por 36 minutos, com o ritmo de jogo nivelado (como se todos os times atacassem com a mesma quantidade de posses de bola), ele cai um pouquinho, mas ainda se vê no topo: 2º em rebotes (11,3, atrás do gigantesco Walter Tavares, cabo-verdiano draftado pelo Atlanta Hawks); terceiro em tocos (2,1, atrás de Tavares e Sitapha Savane) e quinto em roubadas (2,2, atrás de Sadiel Rojas, Luke Sikma, Diamon Simpson e Pavel Pumpria).

Isto é: sob qualquer medição, o pivô brasileiro aparece com destaque. Mais agressivo, com quatro double-doubles na temporada, o mesmo que somou em toda a jornada 2013-2014. Mesmo com tantos dados animadores, Augusto prefere não se vangloriar. Adota costumeiramente o discurso de que tudo seja produto do meio. “Tanto faz”, disse. “É o trabalho da equipe faz que tenha esses números. Só me interessa que avancemos em bloco, e que a torcida esteja contente com a equipe.”

De qualquer forma, o pivô destaca o trabalho com o técnico Diego Ocampo, uma das revelações da temporada ao seu lado. Aos 38, Ocampo pode ser considerado um estreante na profissão – mas só se for para falar de “treinador principal”. Mas já é um veterano de banco, depois de muitos anos como auxiliar de profissionais aclamados como Aíto García Reneses, Manel Comas e Joan Plaza.

“Diego está muito em cima de mim, trabalhando comigo, e creio que estou nesse bom momento”, disse o brasileiro. “Isso é para conseguir as coisas para a equipe. É para isso que vou todos os dias para a quadra com o objetivo de matar. No final, tudo o que vem de números e ações é para a equipe. Quero seguir ajudando desta maneira, com meus rebotes.”

O sorriso
Foi quando se apresentou ao Murcia na temporada passada que Augusto soltou a seguinte frase: “Quero voltar a sorrir e ser importante para o UCAM Murcia”. Poderia soar novamente muito protocolar, mas nesse caso o contexto também contava uma história mais ampla. Considerando as poucas e boas pelas quais havia passado o pivô carioca nos últimos anos, nada mais que justo.

Em Málaga, desenvolvimento na base, mas poucas chances no time principal

Em Málaga, desenvolvimento na base, mas poucas chances no time principal

Vejamos: mesmo com a cidadania espanhola obtida, o que lhe dava segurança no elenco malagueño, Augusto mal conseguiu sair do banco do Unicaja na temporada 2012-2013, mesmo com o clube disputando a liga espanhola e a Euroliga. Ele simplesmente não teve condições de mostrar serviço, repetindo um padrão de campanhas anteriores, nas quais só jogava mais quando era cedido para equipes menores como o Granada ou a filial Axarquía.

Ao mesmo tempo, passou o campeonato todo procurando contornar um problema nas costas que se mostraria muito mais sério do que o imaginado. Quando se apresentou a Rubén Magnano em São Paulo, acabou vetado nos exames médicos: foi constatada uma hérnia de disco. Nem a Copa América poderia disputar.

Em uma de suas visitas ao Eurocamp da adidas em Treviso. Não foi draftado

Em uma de suas visitas ao Eurocamp da adidas em Treviso. Não foi draftado

Isso aconteceu poucas semanas depois de ter sido ignorado no Draft da NBA. Ele viajou para os Estados Unidos com Raulzinho e Lucas Bebê, deu um duro danado em Los Angeles, passou por algumas cidades para treinos particulares, mas não foi escolhido por nenhuma franquia – ao contrário do que ocorreu com os compatriotas.

Então chega uma hora que basta, né? De notícia ruim a caixa de correspondência já estava cheia. Deixou um clube tradicional como o Unicaja em busca de um recomeço. De um lugar onde pudesse realmente se sentir relevante novamente. Em que pudesse sorrir, e a modesta agremiação, que já havia tido sucesso com outros brasileiros no passado (Paulão e Vitor Faverani) lhe oferecia essa oportunidade. Foi recebido como “um grande jogador“, nas palavras do presidente do clube da universidade católica, mantenedora do time, José Luis Mendoza.

Aos 21, ele já era uma espécie de veterano. “Vim para oferecer tudo o que aprendi e para tomar decisões importantes. No Málaga eu era um jovem da base. Aqui, meu papel muda”, afirmou. “Desde o primeiro momento estão me tratando muito bem, e venho me sentindo muito à vontade. Eles me deram muita confiança.”

Na elite
Confiança era do que Augusto Lima precisava para realizar seu potencial atlético, sempre evidente. “Os pontos e rebotes seriam consequência naturais disso – sem contar os euros, sempre importantes, que certamente chegarão ao final da temporada, quando se tornar agente livre.

Augusto, ainda na briga pelo rebote e por uma próspera carreira

Augusto, ainda na briga pelo rebote e por uma próspera carreira

Claro que ainda há muito o que melhorar em seu jogo. Não estamos tratando de um produto acabado. Seu lance livre e o tiro exterior em geral são bem fracos. Assim como sua capacidade para criar jogadas por conta própria e para os companheiros – tem média de 0,4 assistências a cada turnovers nesta temporada, enquanto apenas 5% de suas posses de bola terminam com passe para cesta. Você tem, então, de saber usá-lo. No ataque, deve ser explorado perto do garrafão, em movimentos de pick and roll ou com cortes fora da bola, vindo do lado contrário. Não é para colocar a bola nele em um lance de isolamento, um contra um e esperar que ele trabalhe com a mesma eficácia a partir daí.

Afinal, ele ainda é um cara que depende muito da energia que vá ter em quadra. Não por acaso, seu rendimento varia drasticamente entre os jogos disputados dentro e fora de quadra. Suas médias, respectivamente: 17,8 pontos para 6,6, 9,6 rebotes para 6,2, 1,8 roubada para 1,2, 77,6% nos arremessos de quadra para 42%. Detalhe: os minutos não mudam tanto assim, saindo de 25,4 para 22,3.

De qualquer forma, na defesa, já é um jogador que vai ajudar qualquer time devido aos seus atributos físicos, empenho e inteligência. Mesmo com suas limitações, sustenta uma produção elevadíssima já por uma temporada e meia.

Daí o estranhamento por sua exclusão do grupo principal da seleção neste ano, além de ter ficado escondido até mesmo no elenco do Sul-Americano. Um atleta de elite na Espanha é só mais um no basquete brasileiro? Imagino que vá ser algo remediado nas próximas convocações…

Porque, conforme já dito aqui, o sucesso de Augusto não é abstrato. Algo que você possa simplesmente designar como “bons números num time fraquinho”. Esse até poderia ser o cenário da temporada passada. Para o ano vigente, porém, o Murcia subiu junto com seu pivô: de 36,7% (11-19) com ele, para 56,2% (7-6).

A despeito da crise geral na economia europeia, a liga ainda é fortíssima, com um nível de competitividade único em todo o continente. O time hoje está na oitava colocação, na zona de classificação para os playoffs e a Copa do Rei. A cada rodada, porém, a volatilidade é grande: o Valencia, uma equipe de Euroliga, e o Zaragoza têm a mesma campanha, enquanto outros quatro concorrentes aparecem com seis triunfos e sete reveses – entre eles o Obradoiro de Rafael Luz e o Laboral Kutxa, outro time de Euroliga.

O que vem por aí?
Consistência é algo que Augusto já conquistou. Para a segunda metade da temporada espanhola, a grande meta seria realmente manter o Murcia entre os oito melhores da Espanha. “Temos de estar concentrados no que fazer a cada jogo, em nosso trabalhos, e manter a humildade. As coisas estão saindo bem, e temos de lutar por tudo”, diz.

O jogo para Augusto ainda é lá embaixo da tabela, mas com muita eficiência e domínio

O jogo para Augusto ainda é lá embaixo da tabela, mas com muita eficiência e domínio

Não apenas seria histórico para o clube, como lhe renderia uma bem-vinda exposição – ainda que na Espanha ele seja muito mais badalado hoje do que pelo basqueteiro brasileiro em geral. Jogar a Copa do Rei seria uma tremenda experiência. É uma competição que atrai olheiros de todos os cantos.

Um scout de uma equipe da Conferência Oeste da NBA, por exemplo, está sempre me falando sobre como o pivô progrediu sensivelmente em quadra. Caso chegue ao basquete americano, cumpriria com uma trajetória semelhante à de Faverani – mais um brasileiro que saiu jovem daqui, ingressou na base de o Málaga, mas só foi brilhar na Espanha em outro clube, até fechar um contrato nos Estados Unidos, tendo passado batido pelo Draft. É um paralelo do qual está ciente. “Fazem muito essa comparação. Somos jogadores com alguma característica parecida, como por exemplo a forma de falar. Mas penso que Vitor é o Vitor, e eu sou o Augusto. Ele chegou à NBA. Quero primeiro ser importante aqui e, se chegar a hora de dar o salto, iria encantado.”

Augusto está desfrutando de tempo, ritmo e sucesso em quadra, mas agora é hora de competir. Ainda há um longo caminho pela frente. É por isso que não se daria mais que uma nota maior que 7 para o que vem fazendo até aqui. “Sempre quero algo a mais, e as derrotas ainda me custam muito”, disse. No nível que ele alcançou, a simples alegria de ir para o jogo já não é o bastante.


Dupla Augusto-Raulzinho começa arrebentando na Espanha
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Giancarlo Giampietro

Augusto e Raul, companheiros de Sul-Americano, reunidos. (Foto do Instagram do pivô)

Augusto e Raul, companheiros de Sul-Americano, reunidos. (Foto do Instagram do pivô)

Vamos aguardar ansiosamente as cenas dos próximos capítulos. Porque o primeiro já foi de arrebentar: neste domingo, na abertura da Liga ACB espanhola 2014-15, a dupla Augusto Lima e Raulzinho começou arrebentando a boca do balão – e também um dos times mais fortes da competição, o Valencia, causando a grande surpresa da jornada, numa vitória por 85 a 76.

Em tempo: salvo uma grande zebra, Real Madrid ou Barcelona serão campeões, com elencos estelares que estão entre os três, quatro melhores de toda a Europa na certa, e precisam ser acompanhados por qualquer basqueteiro que queira ver um produto extremamente qualificado além da NBA. Para o basqueteiro brasileiro, porém, o time a ser visto é o modesto, mas decente clube localizado ao sudeste do país, com duas das nossas maiores revelações reunidas por uma temporada toda. Augusto já estava lá, e a ele se juntou o armador, vindo do Gipuzkoa Basket, de San Sebastián.

Segundo diversos relatos – como o do site oficial da equipe –, o pivô e o armador, titulares, já apresentaram uma boa química em quadra neste domingo, e a coisa só vai melhorar com a sequência de treinos e partidas. São dois atletas de primeiro nível para os padrões europeus, explosivos e agressivos, que podem machucar, e muito, qualquer defesa no jogo de pick-and-roll.

Já um dos destaques da temporada passada na Espanha, misteriosamente ignorado por Rubén Magnano na seleção principal, além de subutilizado por José Neto no time do Sul-Americano, Augusto sinaliza estar empenhado para subir mais um degrau.  “Foi uma grande partida do Augusto. Ele demonstrou o compromisso que tem com o clube”, disse o técnico Diego Ocampo, que inicia seu trabalho pelo Murcia. Prestes a completar 38 anos, ele assume um clube adulto pela primeira vez desde 2007, tendo assistido Aito García, pelo Sevilla, nas últimas duas temporadas. Antes, havia sido auxiliar de Joan Plaza. Ótimos professores, registre-se.

“Grande partida” talvez seja até eufemismo, minha gente. Confiram a impressionante linha estatística do brasileiro: 22 pontos, 7 rebotes (3 ofensivos), 4 roubos de bola e 2 tocos em apenas 27 minutos. Mais que isso, acertou 10 de seus 11 arremessos, sem tomar conhecimento do croata Kresimir Loncar, ou do ucraniano Serhiy Lishchuk, dois pivôs experientes e com maior cartaz na Europa. Ainda foi seis vezes para a linha de lance livre, mas aí falhou, convertendo apenas três. No saldo de todos os seus números, atingiu a elevada marca de 31 pontos de valoração, a melhor da rodada até o fechamento deste texto (restavam mais três jogos).

Augusto, em uma de suas quatro enterradas numa estreia de arromba. Alô, Magnano...

Augusto, em uma de suas quatro enterradas numa estreia de arromba. Alô, Magnano…

Em sua estreia, Raulzinho marcou 13 pontos em 26 minutos, matando 5 em 9 tentativas de chute, convertendo seu único disparo de três pontos. Cometeu três turnovers, mas recuperou a bola em duas ocasiões e liderou o time em assistências (6). Com 16 pontos de valoração, teve o terceiro maior índice da sua equipe, atrás também do ala-pivô José Ángel Antelo (20).

Antelo, aliás, é o principal companheiro de Augusto no garrafão. Revelado pela base do Real Madrid, já foi uma grande aposta da Espanha, estreando na primeira divisão com 16 para 17 anos. Sua transição para o profissional, porém, não foi das mais fáceis. Constantemente cedido por empréstimo pelo Real, rodou o país até se firmar em Murcia, ao qual chegou em 2012. Na primeira rodada, o sérvio Nemanja Radovic foi quem complementou a rotação de “grandalhões” – que nem são tão grandes assim, numa combinação de pivôs bastante ágeis, leves. Com 23 anos, ele deixou o Mega Vizura, da Sérvia, em fevereiro e se juntou ao clube espanhol.

Quer dizer: o Murcia vai para a temporada tendo o pivô brasileiro como sua principal referência no jogo interior, mesmo. Uma situação promissora. Hora de ficar (mais) de olho em seu progresso como um protagonista em um clube de Liga ACB. Clube, é verdade, que não vai brigar pelo título, está longe dos maiores orçamentos do país, mas ao menos se mantém na elite do país desde 2011. O clube de futebol da cidade está na Segundona.

Na rotação exterior, Raulzinho teve a companhia no quinteto titular do veteranaço Carlos Cabezas, compondo uma dupla armação. Cabezas deu cinco assistências. Juntos, então, deram 11 passes para cesta, superando toda a equipe adversária, que somou 10. Aqui vale o reforço: do outro lado da quadra estava um Valencia que foi semifinalista no ano passado e vai disputar a Euroliga deste ano.

O Murcia perdeu o primeiro quarto por nove pontos de diferença, permitindo que seu adversário marcasse 27 em 10 minutos. Muito. Reagiu, contudo, nas duas parciais seguintes, levando apenas 31 em 20 minutos, para abrir 11 pontos no placar. “Passamos por um mal momento, mas conseguimos solucionar isso com uma boa defesa. Jogamos como guerreiros. Nos momentos ruins, a torcida continuou com a equipe. Espero que sigamos transmitindo energia”, afirmou o técnico Ocampo.Energia, a gente sabe, é o que não falta no basquete de Augusto e Raulzinho. Agora é ver que tipo de estrago os dois podem aprontar, juntos, em uma longa e instigante temporada pela frente.

*  *  *

Huertas contra sua ex-equipe

Huertas contra sua ex-equipe

O Barcelona de Marcelinho Huertas, atual campeão, já conseguiu um belo resultado na primeira rodada ao vencer o Baskonia (“Laboral Kutxa”) por 87 a 65, em casa. Foi um confronto de dois clubes de Euroliga. A diferença entre os elencos, porém, é bastante grande, ainda com o agravante de a equipe basca, que já teve o próprio Huertas e Tiago Splitter em seu plantel, ter um novo técnico e diversos jogadores para adaptar.  O Barça fez algumas trocas importantes, mas ainda mantém um núcleo consolidado, do qual faz parte o armador brasileiro, que jogou por quase 30 minutos e contribuiu com 13 pontos, 4 assistências, 3 roubos de bola (mais seis turnovers, registre-se).

Depois de anos de parceria e concorrência com Victor Sada, Huertas agora vai dividir a armação do time catalão com o tcheco Tomas Satoranksy, de 23 anos e anormais 2,01 m de altura para a posição. Satoransky está na Espanha há cinco temporadas já, sendo desenvolvido como prospecto pelo Sevilla. Os bravos torcedores do Washington Wizards já o conhecem, uma vez que o jovem atleta foi draftado pela franquia em 2012. No jogo de abertura, porém, ele não foi para a quadra. Ao contrário de Justin Doellman e Tibor Pleiss, principais reforços de Xavier Pascual.

Grande figura do Valencia na última campanha, sendo eleito inclusive o MVP do campeonato, Doellman subtitui Erazem Lorbek no quinteto inicial do Barcelona, ao lado de Ante Tomic. Desses americanos que passa despercebido pela NBA e se torna uma estrela na Europa, o ala-pivô somou 9 pontos, 7 rebotes e 3 assistências em 25 minutos. Já Pleiss, que veio do Baskonia, anotou 12 pontos e pegou 7 rebotes em apenas 12 minutos de jogo – uma apelação do clube catalão, tendo um pivô talentosos desse como um mero reserva para Tomic.

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O Real Madrid também venceu bem: 70 a 57 contra o Gran Canaria. Depois de uma campanha exuberante, mas de final frustrante na temporada passada, a equipe da capital ao menos já aliviou a barra do técnico Pablo Laso ao conquistar a Supercopa, derrotando o Barça no final de semana passado. Sem a versatilidade e habilidade de Nikola Mirotic, mas com a consistência e eficiência de Gustavo Ayón (10 pontos e 13 rebotes em 27 minutos), o Real vem com um plantel talvez ainda mais poderoso. Andrés Nocioni e Facundo Campazzo, por exemplo, são reservas e tiveram, respectivamente, 13 e 15 minutos, de tempo de quadra. Estreante no basquete europeu neste ano, porém, o enjoado Campazzo já começa a deixar sua marca.


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