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O Miami Heat de Spoelstra tenta se reinventar
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 fichas para a temporada 2014-2015

LeBron? Que LeBron?

LeBron? Que LeBron?

É o que dá escrever um texto que era para ser prévia, mas não deu tempo de publicá-lo antes e acaba invadindo a temporada. De todo modo, a minha defesa: mesmo se fosse prévia, a ideia era de que essa ficha se sustentasse como material de apoio para a equipe durante todo o campeonato, e tal. Sim, tamanha era a pretensão.

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Basicamente, o que iria escrever é o seguinte: ainda vamos ver na TV uma equipe muito boa, boa o suficiente para fazer estragos na Conferência Leste, mas que, como candidata ao título, só mesmo se inserida com um tremendo de um azarão. E aí o que acontece? Eles vencem três partidas seguidas na semana de abertura, integrando Luol Deng ao sistema, usando os calouros Shabazz Napier e James Ennis e explorando um Chris Bosh simplesmente sensacional. Era a hora de cair no hype e abraçar a causa? Talvez!?

Aí, pumba, passa o Houston Rockets pela cidade, com Dwight Howard e James Harden demolidores, e acaba com a festa. Ajuda a por as coisas sob perspectiva. O time da Flórida havia vencido basicamente um Washington Wizards desfalcado de Nenê, cumprido tabela com o Philadelphia 76ers e derrotado um competente Toronto Raptors, que, no caso, é um de seus maiores fregueses. Então tá. Serviu para zerar qualquer ruído que o campeonato já em andamento pudesse causar, para que eu resgatasse o ponto original.

Bosh começou o ano de modo muito mais agressivo, como se estivesse em Toronto

Bosh começou o ano de modo muito mais agressivo, como se estivesse em Toronto

O Miami manteve Chris Bosh, Dwyane Wade, Norris Cole, Mario Chalmers, Chris Andersen e Udonis Haslem de sua rotação do bicampeonato. Seis caras, vale por um bom conjunto. Mas, da turma que saiu, bem, como dizer isso? Tinha o tal do LeBron James, né? Acho que vocês ouviram a respeito. Ray Allen faz falta, assim como Mike Miller para os playoffs… Mas seriam substituíveis. Quando você tenta reencontrar seu rumo sem LeBron, aí o desafio é muito maior. Até porque todo o sistema de jogo de Erik Spoelstra estava baseado nas vastas habilidades que o camisa 6 lhe entregava. A defesa pressionada. O ataque veloz e espalhado. Enfim. Todo e qualquer detalhe era pensado em torno do craque.

Então o Miami tinha uma base entrosada mantida, mas também precisaria se reinventar. E aí chegou a hora de Spoelstra realmente mandar um recado para os críticos que só acreditavam no sucesso de sua equipe pela qualidade das estrela que tinha em mãos. Que, com um elenco normalzinho, o treinador não faria nada de mais.

Obviamente não é o caso. Não só o Heat não tem um elenco medíocre hoje – e Chris Bosh vai lembrando a todos o quão mortal é o seu arsenal, com ou sem LBJ –, como Spoelstra é muito mais que um cone do lado da quadra. O treinador vai mexer suas peças com criatividade, sem grilhões, experimentando até encontrar a melhor rotação e quintetos que funcionem para determinadas situações.

Spoelstra vai dar um jeito. Algum jeito pelo menos

Spoelstra vai dar um jeito. Algum jeito pelo menos

A dúvida que realmente fica aqui diz respeito a saúde. Sobre o que aconteceria no caso de Bosh ou, principalmente, Wade se lesionarem. Aí o frágil banco ficaria consideravelmente exposto. A não ser que vocês ainda estejam esperando 20 pontos por jogo de Danny Granger. A temporada nem começou, e ele já está novamente lesionado. Essa estaria na prévia na certa

O time: quando você perde LeBron James, multifundamentado e uma aberração atlética da natureza, você está perdendo um caminhão de possibilidades. Mas acho que o ponto principal a ser coberto é o dinamismo de sua equipe. Em termos de habilidades físicas, todo mundo sabe que são poucos os que podem rivalizar com o craque. Então nem adiantava procurar por isso. Em termos de flexibilidade na quadra, porém, a tática pode resolver. E Spoelstra vem fazendo sua parte.

Quem aí já se acostumou com a imagem de um Luol Deng do Miami Heat?

Quem aí já se acostumou com a imagem de um Luol Deng do Miami Heat?

Reparem que Chalmers, Cole e Shabazz Napier têm ficado em quadra por muito mais tempo. O técnico usa o expediente da dupla armação para manter um time veloz e solidário, com a vantagem de que os dois veteranos da posição são bons marcadores e conseguem manter uma certa pressão no adversário – ainda que uma pressão diferente, e, não, a blitz dos últimos anos. Ainda há o fator Josh McRoberts para ser integrado nessa brincadeira, depois de o ex-Bobcat ter perdido toda a pré-temporada depois de uma cirurgia no dedão do pé.

Além disso, na ala, Luol Deng adiciona inteligência em seu giro pela quadra sem a bola, se esgueirando pelos espaços abertos por um ataque ainda com cinco homens abertos. O calouro James Ennis também vai seguir essa linha e dar mais vitalidade quando for para a quadra. O ataque não vai ser problema. A retaguarda e a proteção ao aro, já frágeis com LeBron por lá, é que inspira mais preocupações, como o Rockets expôs na quarta rodada.

A pedida: uma quinta participação seguida nas finais da NBA?! Só o Boston Celtics de Bill Russell conseguiu algo assim. Mas realmente está cedo para se empolgar.

Olho nele: Josh McRoberts. Escrever sobre Napier já ficou batido, né? Obviamente que o armador é talentoso, que merece mais tempo de jogo e que a solução encontrada por Spoelstra para colocá-lo na rotação parece ótima. Então vamos falar um pouco mais aqui sobre McBob, um cara sobre o qual já escrevi aqui, declarando toda a minha simpatia. O ala-pivô vai amplificar a movimentação de bola da equipe com sua visão de jogo praticamente incomparável para alguém da sua altura, mobilidade e habilidade. Nos momentos em que estiver em quadra com Bosh, o ataque do Heat vai ficar muito, mas muito interessante. E ele nem precisa rasgar camisas para chamar a atenção:

Abre o jogo: “Ele não precisa tentar ser o jogador que foi em 2008. Isso pode não ser necessariamente importante para nosso time”, Erik Spoelstra, sobre Wade. O bom para o treinador é que Chris Bosh, sim, parece pronto para jogar como era em 2009, em seu último ano como um Raptor, antes da Decisão e todas as suas consequências.

Mr. Shabazz para fazer o ataque se mexer

Mr. Shabazz para fazer o ataque se mexer

Você não perguntou, mas… o novato Napier deixou de seguir LeBron James no Twitter e deletou todas as mensagens que havia mandado para o astro do Heat Cavaliers, desde que o Rei optou por retornar a Cleveland. É engraçado: durante os mata-matas do basquete universitário, LeBron não se cansava de elogiar as atuações do armador por UConn, rumo ao seu segundo título. “Meu jogador favorito no draft, não tem como alguém selecionar algum armador antes dele e blablabla”, foram as coisas que ele andou falando. Imagine, então, a decepção de Shabazz quando o ala o abandonou. Tadinho. Em sua defesa, o rapaz afirmou que não era ele que controlava sua conta e que não estava sabendo nada disso.

Dwyane Wade, card, Miami Heat rookieUm card do passado: Dwyane Wade. Há 11 anos, o ala-armador entrava na NBA sem tanta badalação – pelo menos considerando o jogador que ele iria virar em Miami. Agora Wade abre uma nova campanha em que há incertezas ao seu redor: depois de tantos problemas físicos, como ele vai reagir novamente com mais responsabilidades ao seu lado? Ao menos seu elenco de 2014-15 é superior ao de 2003, que tinha Caron Butler e Lamar Odom, ainda jovens, e veteranos no fim da carreira como Brian Grant e Eddie Jones. Além deles, Wang Zhizhi, Samaki Walker, Bimbo Coles, Rasual Butler e… Udonis Haslem, claro. O único remanescente ao lado de Wade.


Charlotte Hornets: Michael Jordan de volta na briga
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 fichas para a temporada 2014-2015 da NBA

Não, Jordan não precisou voltar para o ex-Bobcats competir

Não, Jordan não precisou voltar para o ex-Bobcats competir

Não precisa ficar falando muito aqui sobre a obsessão que Michael Jordan tinha por essa coisa que, no esporte, a gente chama de vitória. Vencer, vencer, vencer. No pôquer, no golfe, na bolinha de gude, tudo: o sujeito era compulsivo, a ponto de esmurrar Steve Kerr num treinamento. Então como faz quando alguém com um DNA desses vê sua equipe terminar o campeonato da NBA com aproveitamento de 10,6%, 25,6% e 52,4%? Haja charuto cubano para compensar tanta frustração.

Jordan assumiu o controle da franquia em 2010. Desde então, essas foram as campanhas da equipe, com um salto considerável na temporada passada, quando Sua Alteza se cansou de tanta sacolada. Sua gestão abortou os planos de perder, perder e perder, para coletar escolhas altas no draft, seguindo o modelo que deu tanto certo para o Oklahoma City Thunder. A sorte, porém, não esteve ao lado do finado Bobcats. Em 2012, por exemplo, em vez de Anthony Davis, tiveram de se contentar com Michael Kidd-Gilchrist, que jura hoje ter reconstruído seu arremesso.

Daí que o clube achou por bem sair gastando no mercado de agentes livres, apostando no renegado Al Jefferson, que fez talvez a melhor temporada de sua carreira – pelo menos em termos de sucesso da equipe. Junto com o pivô, acertou na mosca ao contratar Steve Clifford, homem tem a benção do clã Van Gundy. Com Clifford, o time se tornou surpreendentemente a sexta defesa mais eficiente e chegou aos playoffs. Melhor momento para essa guinada não tinha, uma vez que o clube havia sido brindado pela direção com o resgate do apelido Hornets, tão popular na cidade nos anos 90 e largado de canto pelo Pelicans.  Agora, com o moral elevado dentro e fora de quadra, Charlotte quer mais, quer avançar nos mata-matas. Entra em cena Lance Stephenson, o grande e controverso reforço da equipe. Um cara de talento indiscutível, que já sabe o que é ir longe nos playoffs. Será que vai agora? MJ conta com isso. Charuto, só se for celebratório.

(PS: o leitor desde já precisa assinar um termo de compromisso: saio aqui em defesa da classe de jornalistas para que qualquer Charlotte Bobcats que escapar não seja válido para errata, ok? A confusão mental ainda é grande.)

É, Gasol, Al Jefferson dá trabalho

É, Gasol, Al Jefferson dá trabalho

O time: se o agora Hornets conseguir manter sua marcação coesa, já tem meio caminho andado. Clifford adotou táticas mais conservadoras, que deram resultado. A ordem era abandonar a disputa do rebote ofensivo, para qual apenas o hiperatlético e arrojado MKG tinha autorização, aqui e ali. Na tábua defensiva, o contrário: todos bem postados para coletar qualquer rebarba (quesito em que foram os melhores). Na hora de defender a cesta, a ordem era recuar os pivôs e fechar o garrafão,  tentando inibir a infiltração, empurrando os adversários para uma das laterais. São princípios que andam em voga na liga e devem ser mantidos, se não sofisticados. Do outro lado, o clube acabou perdendo um de seus atletas mais criativos: o ala-pivô Josh McRoberts, quase um armador na posição de pivô e que contribuía de modo significativo para um ataque já pouco eficiente (o sétimo pior). A expectativa é que Marvin Williams ao menos replique o tiro exterior de quem está substituindo e que Stephenson não emperre a movimentação da bola, que precisa chegar a Jefferson, um pontuador de primeira, cheio de movimentos e com uma munheca de causar inveja e que jogou a melhor temporada de sua produtiva carreira.

A pedida: não há outro cenário admissível que não a classificação entre os oito primeiros. De preferência, entre os quatro, para ter mando de quadra. E quem diria que estaríamos falando de Charlotte nestes termos…

Olho nele: Stephenson, claro. Talvez ele não queira mais soprar na orelha de ninguém. Na verdade, o que Clifford precisa dele é de um sopro de criatividade com a bola. Por outro lado, com o foco do ataque voltado prioritariamente para Jefferson, é preciso ver como o temperamental ala vai reagir. No melhor dos cenários, Stephenson vai saber a hora de agredir e de acionar o pivô em situações de pick and roll, aliviando também a pressão em cima de Kemba Walker, um armador veloz, energético, mas que não tem tanta categoria assim como os torcedores de Connecticut pensam – sua média de conversão no garrafão é uito baixa. Stephenson, nesse sentido, pode chamar mais defensores e dar um pouco mais de liberdade e descanso ao tampinha.

O que vai ser de Stephenson em Charlotte: história para seguir

O que vai ser de Stephenson em Charlotte: história para seguir

Você não perguntou, mas… o time de Charlotte não resgatou apenas o nome Hornets para esta temporada. No pacote, veio também todo o registro histórico da antiga franquia da cidade, de 1988 a 2002, quando aquela encarnação do time foi alocada para Nova Orleans. Esses números se fundem, então, com o do Bobcats, que foi lançado em 2004. Desta forma, o maior cestinha da franquia é o ala Dell Curry, pai do Stephen, com 9.839 pontos marcados.

Abre o jogo: “Jordan é um fã de Lance. Ama sua competitividade, e falou para ele candidamente sobre como o enxergava como um encaixe perfeito para nossa franquia e sobre as coisas… Que Lance poderia controlar melhor”, Steve Clifford, técnico do Hornets, falando sobre o impacto da participação de Jordan na reunião que selou a contratação de Stephenson. Demais a hesitação no meio da frase, né? Na hora de falar sobre as bobagens que o ala aprontou em Indiana, precaução nunca é demais. Além disso, a declaração também mostra o quanto ainda pesa o nome de Jordan, como um atrativo para o clube, compensando o tamanho diminuto do mercado.

Kelly Tripuca, e que cabelo

Kelly Tripuca, e que cabelo

Um card antigo: depois de viver grandes anos com o Detroit Pistons, pelo qual foi inclusive eleito duas vezes para o All-Star Game, o ala Kelly Tripucka foi trocado para o Utah Jazz e rapidamente virou um desafeto de Karl Malone. De modo que, em 1988, ficou disponível para o draft de expansão e acabou selecionado. Em Charlotte, ele teve o privilégio de ser o primeiro cestinha da história da equipe, com 22,6 pontos por jogo. Ele se aposentaria da NBA em 1991, defendendo o Limoges, da França, atual clube de JP Batista, na temporada seguinte.  Tripucka foi um belo cestinha nos seus melhores tempos, mas nunca foi reconhecido como um bom defensor. Então que diabos ele estava pensando ao tentar dar um toco em Michael Jordan!? Pelo menos, merece aplausos pela coragem:


Vida nova: 5 jogadores que tentam salvar a carreira na NBA
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Giancarlo Giampietro

Xavier Henry, decolando pelo Lakers

Xavier Henry, decolando pelo Lakers

O esporte, assim como a vida, está rodeado de surpresas agradáveis, sim. Mas, ao mesmo tempo, decepção é o que não falta.

(Chorei.)

No jogo jogado, são diversos os atletas em quem se pode apostar uma fortuna, fazer planos grandiosos  e ver toda essa grana ir ralo abaixo. Por vezes, é questão de azar: uma lesão grave e precoce, por exemplo. Más influências externas também podem atrapalhar muito. A falta de personalidade para fazer valer o talento. Um técnico cabeça-dura e rancoroso. A simples avaliação errada de um departamento de scouts. E mais e mais fatores podem determinar uma aposta furada.

Mas qual é o momento exato para definir que uma determinada história deu errada? Até quando os dirigentes, treinadores, torcedores e analistas devem esperar para dar uma carreira como “acabada”? No Brasil, somos especialmente bons nisso. A facilidade que temos para julgar alguém como “lixo” é incrível. Muitas vezes sem saber nem quatro linhas sobre a vida ou o contexto em torno de um atleta qualquer.

Agora brecamos o negativismo por aqui, sem se apegar tanto a amarguras da vida, tá? Afinal, é final de ano, hora de erguer a cabeça, estufar o peito. Simbora.

Então, assim bruscamente, vamos virar o disco. Quer dizer, vamos identificar algumas das boas e surpreendentes histórias do início de temporada da NBA. Uma turma que vai usando os primeiros meses do campeonato para tentar prolongar suas carreiras:

Xavier Henry, ala do Lakers
O pai de Xavier jogava na Bégica. A mãe integrou a equipe feminina da universidade de Kansas. Seu irmão mais velho foi escolhido na primeira rodada do Draft de 2005 – na MLB. Quer dizer: o DNA estava ali, pronto para ser explorado. E não teve jeito: o garoto seguiu a trilha de esportista, com destaque desde cedo. Foi um dos destaques de sua geração no colegial, sendo eleito para jogar o McDonald’s All American, o Nike Hoops Summit (do qual foi o cestinha americano) e o Jordan Brand Classic. Badaladíssimo.

Xavier, astro colegial

Xavier, astro colegial

Depois de se inscrever na Universidade de Memphis, voltou atrás e seguiu a trilha da mãe e passou seu primeiro e único ano de NCAA jogando pelos Jayhawks. Na estreia, anotou 27 pontos e estabeleceu um recorde pela tradicional universidade. Tudo seguia de acordo com o plano, até ser selecionado pelo Memphis Grizzlies em 12º no Draft de 2010. Em suas primeiras semanas com Lionel Hollins, agradou o bastante para ser promovido a titular por 11 partidas. Aos poucos, porém, começou a sentir dores crônicas no joelho e, de janeiro em diante, foi escalado em apenas 10 jogos. Na segunda temporada, foi a vez de ele sofrer uma torção e ruptura de tendão no tornozelo.

Jogado de canto num time com aspiração de ir longe nos playoffs,  foi envolvido em uma troca tripla no dia 4 de janeiro por Marreese Speights (que seria um taa-buraco devido a lesões de Zach Randolph e Darrell Arthur), indo parar no New Orleans Hornets. Em sua nova equipe, nunca chegou a empolgar. Não passou dos 17 minutos por jogo em duas campanhas – teve médias no geral de 14,6 minutos e meros 4,3 pontos, acertando apenas 40,1% dos arremessos. Foi dispensado.

Talvez seja justo afirmar que, quando assinou um contrato  sem garantias com o Lakers para a atual temporada, ninguém deu bola. Até que, na pré-temporada, começou a fazer barulho e conseguiu passar pelos cortes para compor o elenco de um time que precisava de ajuda desesperadamente no perímetro, enquanto Kobe não voltava.

Ok, o ala vem com uma produção inconsistente, não é que esteja incendiando a cidade, mas ao menos seus espasmos indicam que talvez seja muito cedo ainda para que seja descartado. Só tem 22 anos.

(PS: Jonathan Abrams contou tudo com mais detalhe no Grantland esta semana).

Jordan Crawford, ala-armador do Boston Celtics
Crawford não era tão cobiçado assim quando adolescente e, para piorar, ainda perdeu todo o seu último ano de colegial devido a uma lesão de tornozelo. Ainda assim, fez o suficiente em Detroit para atrair algumas universidades, optando por se inscrever na tradicional equipe de Indiana, pela jogou por um ano (2007-2008).

Jordan Crawford, o armador

Jordan Crawford, o armador

Depois que o técnico Kelvin Sampson foi afastado, no entanto, transferiu-se para Xavier e teve de ficar uma temporada de molho por violar alguns dos mais diversos códigos que a NCAA impõe. Ainda assim, o cestinha conseguiu aquele que talvez seja o mais comentado lance de sua carreira, em 2009, quando enterrou na cara de LeBron James durante um coletivo em um camp organizado pelo próprio atleta (ou pela Nike em seu nome, digamos).

Quando voltou para as quadras para valer, arrebentou pelos Musketeers, com média de 20,5 pontos por jogo e 39,1% nos três pontos. Bastou para lhe garantir a 27ª colocação no Draft de 2010, o mesmo de Henry, para o Atlanta Hawks. Lá, ele arrumou uma confusão danada para os mais desatentos que fossem conferir as tabelas de estatísticas do time, uma vez que suas credenciais se misturavam com as de Jamal Crawford. Waka-waka-waka.

Mas esse foi basicamente o único destaque de sua passagem por Atlanta, mesmo, uma vez que foi repassado para o Washington Wizards ainda como um novato. Na capital americana, não demorou para deixar seu talento evidente (um pontuador criativo a partir do drible), ao mesmo tempo em que foi devidamente posicionado na turma dos cabeças-de-vento JaVale McGee e Andray Blatche como uma figura que não ajudava em nada na química no vestiário.

Em dois anos e meio pelo Wizards, por vezes substituindo John Wall na armação, ele conseguiu dois triple-doubles e algumas noites incríveis de cestinha, com quando 39 pontos contra o Miami Heat. Mas nunca chegou nem a 42% no aproveitamento de quadra e tirou muitos companheiros (e técnicos e torcedores) do sério com seu “apetite” pela bola. Em fevereiro deste ano, foi chutado fora da cidade e acolhido pelo Boston Celtics, em troca de um lesionado Leandrinho. Para ver a moral que tinha.

Num time em derrocada física, não ajudou muito nos playoffs. Mas eis que, nesta campanha, em meio a um time de renegados ou desprestigiados, Crawford encontrou a Luz. Ou Brad Stevens, no caso, que o transformou num armador competente, enquanto não termina a reabilitação de Rajon Rondo. O técnico novato guia o a talentoso jogador em sua temporada mais eficiente na liga, e de longe, na qual, não por acaso, é a que está mais passando a bola.

Ao Zach Lowe, do Grantland, Stevens jura que não teve uma conversa do tipo “venha-conhecer-jesus” – e foi esta a pergunta de jornalista, de me matar de rir.

“A única coisa que eu queria ter certeza era de que ele sabia do meu ponto de vista: que era um novo começo e que acreditamos nele”, afirmou. “Eu já tinha visto ele ser quase impossível de se parar na faculdade, em um jogo que eu treinei contra ele. Eu sabia que ele era um cestinha implacável. A outra coisa que eu sabia era que ele não está com medo em momento algum. Mesmo no Torneio da NCAA, numa atmosfera tensa daquelas, e isso pede muito colhão.”

E o que saiu daí? Simplesmente que o Miami Heat está interessado em seus serviços.

DeMarre Carroll, ala-pivô do Atlanta Hawks
“Junkyard Dog”.

Algo como “Cachorro de Ferro-Velho”. Bravo, salivando para dar umas boas dentadas em quem ousar escalar e saltar a grade. Se cuida aí, mermão!

(Associo sempre esse tipo de cão ao doberman, que anda sumido de nosso ecossistema. Sem preconceito, ok.)

Bem, era esse o apelido de Carroll em seus tempos de universitário, especialmente quando ele jogava sob a orientação de seu tio, Mike Anderson, em Missouri – depois de duas temporadas por Vanderbilt.

Criado no Alabama, o ala-pivô não despertava tanta atenção assim dos olheiros, mas conseguiu bolsa-atleta  um universidades grandes – embora não necessariamente de ponta, esportivamente falando. Pelos Tigers, teve seu grande momento ao liderar uma campanha rumo às quartas de final do Torneio da NCAA.

Foi quase uma dádiva para um garoto que havia recebido uma notícia para lá de preocupante um ano antes. Incomodado com uma persistente coceira nas pernas, Carroll procurou dermatologistas para saber se tinha alguma espécie de alergia. Depois de muita investigação, acabou constatado algo bem mais grave: uma doença no fígado. Pior: uma doença no fígado que muito provavelmente exigiria um transplante no futuro.

DeMarre ignora doença e arrepia na NBA. Sobra até para Splitter

DeMarre ignora doença e arrepia na NBA. Sobra até para Splitter

A doença foi mantida sob sigilo por um bom tempo – segundo os médicos, era algo que não afetaria sua carreira. Ele poderia jogar o quanto quisesse e cuidar do órgão depois. Acontece que, após sua grande campanha nos mata-matas universitários, durante os treinos privados pré-Draft, o segredo acabou revelado. Por mais que tentasse amenizar a notícia, viu sua cotação cair. Não era o fim do mundo, contudo. Acabou escolhido pelo Memphis Grizzlies em 27º.

Aos 23 anos – mais velho que o calouro regular destes tempos –, estaria pronto para ajudar na rotação de Lionel Hollins, antes da chegada de Xavier Henry. Ou não. Mesmo num elenco jovem, em formação, na lista dos minutos distribuídos pelo técnico, foi apenas o nono mais utilizado.

Na temporada seguinte, foi trocado para o Houston Rockets, que devolveu Shane Battier ao time do Tennessee. Menos de um mês depois, em abril, foi dispensado. Só voltou no campeonato seguinte, defendendo o Denver Nuggets. Ficou no clube de dezembro a fevereiro, quando foi novamente mandado para o olho da rua, tendo participado de apenas quatro partidas.

De qualquer forma, a recuperação estava por vir. Foi contratado prontamente pelo Utah Jazz, encontrando espaço no banco de reservas do time, fazendo aquilo que mais sabe: correr pela quadra toda, enchouriçar a vida de quem estiver driblando nas redondezas, lutar por rebotes. O serviço sujo. Mesmo sem Deron Williams, o time deu um jeito de se intrometer entre os oito classificados aos playoffs do Oeste.

Depois de mais um ano de contrato pelo Utah Jazz, foi recompensado nesta temporada com uma proposta de certa forma surpreendente – mais de US$ 7 milhões por três anos. E, sim, para quem interessar possa, um valente como Carroll já garantiu US$ 12 milhões na carreira, no mínimo.

“Eu sou o junkyard dog e você realmente não pode tirar isso de mim”, orgulha-se.

James Anderson, ex-Popovich

James Anderson, ex-Popovich

James Anderson, ala do Philadelphia 76ers
Quase todo o elenco do Sixers podia estar listado aqui, na verdade. É o time com mais refugos desde a montagem do Charlotte Bobcats em seu draft de expansão. Mas vamos com este, ao menos por enquanto.

(Além do mais, com um nome tão comum como esses, é um caso perfeito para esta lista, não? Numa liga dominada por LeBrons, Kobes, Dwyanes e Carmelos, fica difícil prosperar como “James Anderson”. Para piorar, ele não consegue ser nem mesmo o “J.A.” mais bem ranqueado na pesquisa do Google, perdendo para um jogador de críquete qualquer homônimo.

Mas, então, sobre o ala Anderson: aqui estamos falando de mais um “McDonald’s All-American”, vindo do Arkansas. Em seu primeiro jogo de NCAA, por Oklahoma State, marcou logo 29 pontos. No segundo ano pela equipe, teve média de 18,3 pontos e foi chamado para a Universíade. Ao final da terceira temporada, com 22,3 pontos, foi eleito o jogador do ano da conferência Big 12.

Estava pronto, então, para entrar na NBA, sendo selecionado pelo San Antonio Spurs em 20­º. E aí que ele se tornou um raro caso de jovem jogador que não evoluiu sob a tutela de Gregg Popovich no Texas. Se, por um lado, teve um pouco de azar com lesões na temporada de novato, por outro ousou reclamar do técnico por não receber os minutos que achava justo ter nos campeonatos seguintes. Aiaiai. Vagou pelo Austin Toros, a filial de desenvolvimento do clube, sem causar sensação alguma e simplesmente não teve seu contrato estendido. O Coach Pop simplesmente desistiu do atleta em dois anos. A partir daí, passaria um bom tempo na estrada viajando de um lugar para outro.

Anderson tentou, então, um emprego com Danny Ferry no Atlanta Hawks, mas não foi aprovado. Foi inscrito na D-League novamente, pelo Rio Grande Valley Vipers, a filial do Houston Rockets. Foi chamado novamente pelo Spurs para cobrir um período de lesão de Stephen Jackson. Voltou para o Vipers, mas foi promovido de imediato para o Rockets, pelo qual disputou apenas dez partidas.

Na hora de escolher os chutadores que rodeariam James Harden e Dwight Howard em quadra, porém, Daryl Morey preferiu outras opções e foi mais um a dispensar Anderson. E aí Sam Hinkie, ex-braço direito de Morey, o recolheu de imediato na lista de waiver.  Em Philadelphia ele também reencontraria o técnico Brett Brown, ex-assistente do Spurs. Ufa.

“Esta é definitivamente uma grande oportunidade para mim. Sinto que esta é o melhor chance que tive até agora. Definitivamente quero aproveitá-la”, afirma Anderson, que começou a temporada como titular nas alas. Ok, agora está saindo do banco, mas jogando mais de 20 minutos por partida, com média de 10,9 pontos e aproveitamento de 47,7% nos arremessos neste mês. Aos 24 anos, ele enfim conseguiu um pouco de estabilidade.

“Ele se encaixa com nosso estilo com suas habilidades para correr na quadra”, disse Brown. “Ele tem um temperamento calmo. Sabe, talvez ele apenas esteja em uma fase de sua carreira em que vai aproveitar e seguir adiante. Talvez eu e nosso clube estejamos pegando James Anderson no momento certo de sua carreira.”

Josh McRoberts, ala-pivô do Charlotte Bobcats
Era 2005, numa época em que a NBA ainda permitia que os colegiais entrassem direto na liga, sem precisar passar pela hipocrisia do mundo da NCAA. De sua geração, Monta Ellis, Lou Williams, Martell Webster, Gerald Green, CJ Miles, Amir Johnson e Andrew Bynum, todos McDonald’s All-Americans, aproveitaram a brecha e se declararam para o Draft. McBob, considerado o ala-pivô mais promissor do país na categoria, optou por jogar em Duke antes de ganhar seus milhões.

Daí que… Podemos dizer que ele foi uma das maiores frustrações no reinado do Coach K. O potencial atlético do jogador sempre foi evidente, assim como sua versatilidade, preenchendo a tabela de estatísticas. Mas ainda havia muito o que trabalhar em seu jogo, como o físico, a consistência e fundamentos (rebote nunca foi o seu forte, por exemplo, a despeito de sua altura, impulsão e agilidade).

Os scouts começaram a se cansar do cara, a garotada em Duke também, e McBob resolveu sair ao final da segunda temporada. No fim, não fez uma coisa (entrar cedo, após o colegial, com base na aposta em seu talento natural), nem outra (ir para a faculdade para desenvolver seu jogo e se candidatar como um prospecto refinado). Resultado: despencou até a 37ª posição do Draft de 2007, via Portland Trail Blazers.

Na Rip City, o ala-pivô foi o jogador que menos minutos recebeu de Nate McMillan: apenas 28. No ano todo!  Bem, em 2008 acabou trocado para o Indiana Pacers, voltando para sua cidade natal com a benção de Larry Bird. Demorou dois anos, mas na temporada 2010-11, enfim, ele virou um jogador de NBA de verdade, com 22,2 minutos por partida, dividindo posição com Tyler Hansbrough, enquanto David West não chegava.

Como agente livre em 2011, assinou com o Los Angeles Lakers – a ideia dos Busses era combiná-lo com Troy Murphy para tentar suprir a ausência de Lamar Odom. Não deu tão certo assim, e na temporada seguinte ele acabou envolvido na supertroca que levou um suposto superpivô que marcaria história no time. “Isso não me incomoda. Não é que eles me trocaram por uma máquina qualquer ou algo assim. Eles me trocaram por um dos melhores jogadores da liga”, afirmou.

McBob, com visual e tudo para agradar Michael Jordan

McBob, com visual e tudo para agradar Michael Jordan

Em Orlando, McBob nem bem arrumou as malas  e já teve de se mudar para Charlotte, aos 25 anos.  “Estava em uma situação horrível em Orlando, onde eles só queriam me ver fora dali. Eles queriam jogadores jovens e contratos expirando. Em Los Angeles, também não estava muito bem, mas isso não é culpa de ninguém. Foi apenas o jeito como as coisas evoluíram para os agentes livres depois do locaute”, disse.

E foi pelo Bobcats que se encontrou.  Embora continue mal nos rebotes, vem com o melhor índice defensivo de sua carreira. Mas o que chama mais a atenção, mesmo, é sua média de 4,3 assistências por jogo, tecnicamente empatado com o armador Kemba Walker no fundamento. Além disso, ele é o segundo que mais cestas de três fez na temporada, atrás também de Walker.

“Tem sido ótimo para mim até aqui, em termos de ganhar uma oportunidade de jogar na minha posição. Você não quer nunca se acostumar em quicar de um lado para o outro. Este é meu sexto ano e já vi tanta coisa. Agora só quero ficar em um lugar em que eu tenha a oportunidade de ajudar e, tomara, vencer algumas partidas”, disse o ala-pivô.

No que depender Michael Jordan, de Charlotte ele não sai: “Espero que ele não exerça sua cláusula contratual. Temos de fazer de tudo para manté-lo”, disse o proprietário da franquia.

Menções honrosas: Gerald Green em Phoenix, Michael Beasley em Miami, Andray Blatche no Brooklyn, Wesley Johnson em Los Angeles e Lance Stephenson em Indiana. Quem mais?


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