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Marquinhos contradiz Magnano em mais uma dispensa “surpreendente” para técnico seleção
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Giancarlo Giampietro

Magnano

Magnano certamente não está perdido na tradução. O que acontece, então?

Senhoras e senhores, nós temos um problema. De comunicação.

Neste caso, não estamos falando das deficiências do blog – deixemos isso pra depois, tá? –, mas, sim, do que vem acontecendo durante esta temporada da seleção brasileira.

Vocês já sabem, claro, que o ala Marquinhos foi o último a pedir dispensa da delegação de Magnano. A diferença para a trupe da NBA que ele passou quase um mês reunido com a moçada antes de pular fora da barca nesta quarta-feira. O que aconteceu? O MVP do NBB e destaque do Flamengo alega que sente fortes dores no joelho, depois de ter sofrido um trauma durante um treinamento, num lance isolado, caindo mal de um salto. Essas dores o afastaram de todos os amistosos e, por fim, o forçaram a comunicar sua desistência.

Até aí tudo bem. Esse tipo de situação acontece. Esporte, lesão, dores, estão todos sujeitos a isso. Porém… O que causa estranhamento é o conflito entre o que diz um (jogador) e o que responde outro (o técnico). De novo.

Você deve se lembrar, né? Da dissonância entre os discursos de Magnano e Splitter, quando o catarinense o comunicou de que não se apresentaria. Agora é a vez de o processo se repetir com Marquinhos. Curiosamente, são dois homens que tinham (têm?) toda a confiança do treinador.

Marquinhos, treinando separado

Marquinhos: sem treinar com bola e sem jogar pela seleção

Na quarta, já sem Marcus ao seu lado, Magnano falou ao vivo para todo mundo ouvir: “Não fiquei decepcionado com ele, mas fiquei surpreso. Clinicamente ele estava recuperado para jogar. Com esta avaliação, tinha a esperança que ele chegaria na Copa América”. Ao passo que o flamenguista conta outra história ao repórter Fábio Aleixo, do Lance!: “Foi uma situação que ficou bem esclarecida com ele. Tivemos uma conversa olho no olho. Ele sabe o que aconteceu. Não vai ter nenhum tipo de problema no futuro”.

Epa. Déjà vu.

Se não clicou no link acima, tudo bem. Recupero aqui as duas declarações que, somadas às do parágrafo anterior, deixam o diálogo bem ruidoso. Splitter alegou sentir um desgaste extremo para não jogar a Copa América. “É um ano que permite você ter um descanso. Obviamente se fosse uma Olimpíada ou um Mundial é outra coisa, você faz um esforço. Tantos anos seguidos de seleção, minha esposa está querendo me matar. Um pouquinho de tudo me fez tomar essa decisão”, disse. Daí que Magnano rebateu: “Pensava que o único problema do Tiago era somente contratual. Depois, o estafe dele me ligou falando que ele não ia se apresentar. Eu não sabia disso (de cansaço)”, afirmou o treinador.

“Surpreso”, “não sabia”… É o que diz Magnano. O que afirmam os jogadores é outra história. O que está acontecendo?

Sabemos que está cada vez mais difícil montar uma seleção – seja ela israelense, brasileira ou russa. A pressão da NBA é imensa. Mas as limitações não ficam só nisso. Como já ocorre há tempos no futebol, a tendência é que a relação de federações  e clubes de basquete se aproxime muito mais do atrito do que de um armistício. Por mais que se incense o amor à pátria, à camisa nacional etc. Os calendários começam a apertar e afestar o principal aspecto que move hoje, sim, o esporte: os negócios como um todo, entre eles a carreira profissional.

Na entrevista ao Lance!, Marquinhos fala: “Joguei toda a temporada com dor. Se eu não parasse agora, poderia acarretar em problema no futuro”. Em seu comunicado para dizer que não vinha ao Brasil, Lucas Bebê anuncia: “Este é um momento importante para a minha carreira, e que exige a minha permanência para que tudo seja resolvido o mais breve possível”. Em entrevista coletiva, Tiago Splitter admite: “Não quero tirar a importância da Copa América, é importante, mas é um ano de  contrato, estou desgastado física e mentalmente”.

Percebem o padrão? Nesse contexto de calendário mais apertado, complicadas negociações e diversos interesses, chegou a hora em que o privado vem antes do coletivo. Vitor Faverani, em conversa breve no Paulistano – a ser publicada nesta sexta ou sábado, vamos ver –, também deixou isso claro. O clube, que o paga, tem a preferência. Simples assim. E, nesse contexto, o técnico da seleção que se vire. É o que temos, um choque de interesses que não vai se encerrar neste ano.

Para alguém competitivo como Magnano, deve bater um certo desespero ou, no mínimo, aflição. Ele confia que seus convocados vão chegar, quer muito que isso aconteça. Não nos esqueçamos que mesmo Varejão (se recuperando de uma embolia pulmonar, diabos!) e Leandrinho (cirurgia muito mais grave no joelho), clínica e publicamente fora de combate, foram convocados da mesma forma. Deve ter algum ditado que resuma melhor essa situação, mas seria algo na linha de que o argentino, a essa altura, parece estar filtrando e ouvindo apenas o que lhe pareça positivo para a seleção.

Daí tantas “surpresas” a cada dispensa? Certamente não é uma questão de tradução português-espanhol. E se for algum jogo político do treinador? Fosse o caso, não seria melhor adotar o discurso de que valoriza “aqueles que se apresentaram,  o grupo, e que não há o que lamentar”? Em vez disso, não só o técnico contradiz publicamente seus atletas – alimentando a pauta jornalística para futuras convocações, diga-se – como perde a oportunidade de afagar aqueles com os quais está concentrado.

Magnano garante que Marquinhos estava liberado para jogar. O ala, que passou por uma cirurgia logo depois do NBB, não o desmente, exatamente. Se estamos falando do joelho operado, não há mais nenhuma restrição alguma. Só acrescenta um detalhe: segundo o jogador, seu problema era outro: “Realmente estava recuperado da artroscopia no menisco, mas fisicamente não estou bem. O edema ósseo é na tíbia, perto da junção com o joelho. Não chegaria em condições ideais na Copa América. Sinto dor para caminhar ainda. É algo que foge do meu controle”.

Nesse ponto o flamenguista pode ficar tranquilo, ao menos. Muita coisa parece fora do lugar aqui.


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