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Arquivo : Kupchak

Do contra, Kobe renova por valor alto. E o futuro do Lakers?
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Giancarlo Giampietro

Fala, Kobe

Você aprende a gostar de um Kobe Bryant por tudo aquilo que ele faz de diferente.

Para começar, são poucos os que podem igualar seus talentos em quadra. Desde que entrou na NBA como um colegial em 1996, sua capacidade atlética já deixava claro que tinha tudo para ser um dos grandes. Ágil, maleável, explosivo, saltitante, já conseguia competir com os grandalhões, ainda que o Los Angeles Lakers tenha controlado direitinho sua decolagem. Foi sendo solto aos poucos. Quanto mais jogou, mais óbvias ficavam outras características que o carregariam ao topo. De atletas de alto nível a liga estava cheia. Que o diga Harold Miner. Mas o ala tinha muito mais que isso. Visão para o passe e dos diferentes ângulos para se infiltrar, chute de média distância e, talvez ainda mais importante, propensão para se ralar na defesa no mano a mano. Sem contar as horas sem fim de internação no ginásio para refinar essas habilidades. Sim, era um craque, distante dos outros.

Com o tempo, foi moldando sua personalidade em uma liga dominada por dinheiro, ególatras e muita gente competitiva, o ala teve diversas fases. Primeiro, tentou se enturmar como um dos manos do hip-hop, tentando combater a imagem de “fresquinho” que tinha, pelo período longo de educação que teve na Europa, acompanhando a carreira do pai. Não deu muito certo, e viu que o negócio era, mesmo, se concentrar dentro de quadra. Já foi o queridinho jovial e exuberante, virou o vilão introspectivo e intratável – os anos entre 2003 e 2006 foram especialmente complicados, com os constantes entreveros com Shaq, a acusação de estupro no Colorado a roupa suja lavada de Phil Jackson etc. –, perdeu, ganhou, retomou a coroa e, hoje, é talvez a melhor entrevista de toda a liga. Consagrado, com um currículo quase imbatível, confiante, inteligente, veterano, faz a alegria de quem consegue gravá-lo. Bem distante do usual.

Como esperar, então, que, na hora de definir algo tão importante como os próximos e últimos anos de uma carreira dessas, ele fosse seguir o convencional, aquilo estabelecido como padrão? No caso, renovar seu contrato com o Lakers com um desconto camarada para a franquia, com a ideia de que, desta forma, poderia ter mais ajuda para buscar o (supostamente) tão sonhado sexto anel? Oras, isso é coisa para Tim Duncan, Kevin Garnett, LeBron James e outros fazerem.

Quer dizer, não que Kobe não os respeite, de um jeito ou de outro. Mas, na cabeça de um sujeito desses, não há quem possa se colocar em seu patamar – e por trás dessa lógica há muito mais coisa que a simples habilidade de jogar basquete.

“Você não pode apenas entender seu esporte. Tem de entender a indústria dos esportes”, afirmou, no Twitter, o astro, depois de ser malhado por 99,5% da internet americana pela extensão contratual que assinou, por mais duas temporadas além da atual, com média salarial superior a US$ 24 milhões. “As regras do teto salarial forçam que os jogadores sejam ‘altruístas’ para ajudar proprietários BILIONÁRIOS. E são as mesmas regras que os proprietários nos obrigaram a aceitar. #Pense”, completou.

Ciente disso, do tipo de coisa que circunda a mente de seu principal pilar, a diretoria do Lakers apostou alto ao já resolver a negociação prontamente. Se cada centavo desse contrato não importasse para o que vai ser da equipe até 2016 (mais abaixo), a definição mais correta para o acordo selado seria a da repórter Ramona Shelbourne, do ESPN.com americano. “É só pensar que ele vai ganhar qualquer coisa a mais que o segundo jogador mais bem pago da liga”.

Saca? Para Kobe, parece realmente importante encabeçar a lista dos holerites emitidos na liga. É uma questão de status, reconhecimento por serviços prestados e relevância para o jogo – e a indústria, como deixou claro no seu tweet. Algo que Jim Buss e Mitch Kupchak sabem muito bem. Além disso, pega bem para a franquia, diante de jogadores e agentes, essa demonstração de “lealdade” e, ao mesmo tempo, agradecimento.

“Sou muito afortunado de estar em uma organização que entende como cuidar de seus jogadores e colocar um grande time na quadra. Eles descobriram como fazer isso. A maioria dos jogadores na liga não tem isso. Eles ficam presos a uma situação difícil, algo provavelmente algo feito intencionalmente pelos times para forçá-los a ganhar menos dinheiro”, disse, depois, o jogador ao Yahoo! Sports em entrevista imperdível. “Enquanto isso, o valor da organização cresce até o teto, graças ao sacrifício de seus jogadores altruístas. É a coisa mais ridícula que já ouvi.”

É difícil fazer frente aos argumentos do Sr. Bryant, não? Os jogadores da NBA vivem em um mundo no qual a ridicularizada franquia do Sacramento Kings é vendida pela quantia recorde de U$ 534 milhões. Se os Maloof conseguiram fazer uma bolada dessas, seria certo que Peja Stojakovic, Mike Bibby ou Chris Webber, no auge do clube, aceitassem ganhar menos para facilitar a vida de empresários que, no fim, se mostraram gestores incompetentes?

Além do mais, a situação de Kobe ainda tem outro aspecto especial. Por mais que o atleto já tenha engordado seu cofre sem parar na última década, a ponto de garantir um vidão para seus eventuais bisnetos ou tataranetos, um atleta desse calibre nunca é devidamente pago. Não dá para dimensionar sua importância para a marca do time. Certamente vale mais que os US$ 30 milhões a serem embolsados apenas por este campeonato.

Ainda não está muito claro o caminho que levou a esse relativamente rápido acerto. Se Rob Pelinka, o homem que negocia por Bryant, já estava forçando a barra nos bastidores. Se a diretoria que resolveu se apressar, mesmo, independentemente da forma física do astro em recuperação de uma cirurgia no tendão de Aquiles ou do quanto a concorrência estaria disposta a oferecer pelo ala, se ele eventualmente viesse a se tornar um agente livre. De qualquer forma, antes de bater o martelo, cartolas e jogador tiveram a chance de ponderar o que faziam. E, justa ou não a remuneração do camisa 24, fato é que, se a prioridade nessa renovação de vínculo fosse realmente esportiva, tentar fazer do Lakers novamente um candidato ao título, os valores divulgados são, mesmo, incompreensíveis.

Sem entrar tanto assim na matemática – há quem faça muito melhor –, a franquia basicamente só poderá contratar um craque de ponta, alguém que faça a diferença, nos próximos dois anos, enquanto durar o novo contrato de Kobe. E, para fazer isso, ainda teria de se despedir de Pau Gasol, se livrar da carcaça de Steve Nash, dos rebotes de Jordan Hill e de qualquer outro “achado” da campanha 2013-2014. As novas regras do acordo trabalhista da NBA basicamente sufocam qualquer time que gaste (mais de) US$ 40 milhões em dois atletas. A ideia era realmente atar as mãos de clubes mais poderosos financeiramente como o Lakers e o Knicks – mbora a ironia das ironia seja que essas regras também detonam com as equipes menores que consigam formar grandes elencos, como o Thunder, que se viu obrigado de escolher entre Ibaka e Harden.

Na atual configuração de negócios da liga, pensando na próxima temporada, o Lakers caminharia para ter Kobe, Astro X, um jogador mediano Y e uma banca de Shawne Williams e Robert Sacres para preencher as lacunas restantes no elenco. Isso é muito pouco, mesmo para o caso de o craque retornar de uma lesão devastadora em plena forma. É possível? Claro, nunca é bom desconfiar de alguém tão obstinado como o ala. Mas já será um desafio e tanto – e, a propósito, ele afirma ainda faltar algumas semanas para que possa retornar. “Tentei me isolar (das negociações de renovação), bloquear isso. Precisava me concentrar na minha recuperação em levar meu traseiro de volta para quadra.”

Kobe afirma também que confia na habilidade de Kupchak em formar uma equipe competitiva. Mas ele talvez simplesmente esteja ignorando as minúcias da nova NBA. Ao defender seus interesses, o ala acabou por deixar os cartolas em uma posição mais difícil, embora esteja pê da vida com quem entenda desta maneira. “Não dá para ficar pensando isso: ‘Bem, vou ganhar substancialmente menos porque existe uma pressão pública para isso’. De uma hora para outra, se você não aceitar ganhar menos, é como se você não desse a mínima para vencer. Isso é pura bobagem.”

Antes dessa frase, porém, ele fez a seguinte colocação: “Muitos de nós (jogadores) temos aspirações para virarem homens de negócio quando nossa carreira chegar ao fim. Mas isso começa agora. Você precisa ser capaz de pensar ambas as coisas”.

Dessa vez, Kobe acabou pensando mais em seus futuros negócios.

(PS: Uma explicação. Não tem sido um final de ano fácil para o blog. Perdi minha última avó, uma semana depois tive de embarcar para uma longa viagem profissional para o outro lado do mundo. Na volta, tinha uma coisa beeeem gostosa para coordenar: simplesmente uma mudança de casa me aguardava, junto com outras obrigações no trabalho, e aí as coisas fugiram de controle. Era melhor parar por um tempo, sentir falta do VinteUm e voltar com alguma coisa que preste para escrever. Espero que este post já sirva de algo. Amanhã de manhã tem mais, sobre os problemas de um ex-armador genial em comandar um timaço numa das vizinhanças de Nova York. As coisas parecem ter voltado ao lugar aqui. Abs, até mais.)


Astros, diretoria e técnico dividem culpa em fiasco do Lakers
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Giancarlo Giampietro

Os astros do Lakers diante de um fiasco

Quem poderia imaginar?

Houve quem apontasse o banco de reservas repleto de inutilidades. Que a idade dos astros poderia ser um problema. Que Dwight Howard estava retornando de uma delicada cirurgia nas costas. Que Mike Brown não daria conta do recado – e, posteriormente, que Mike D’Antoni talvez também não representasse a combinação certa.

Já são muitas ressalvas no parágrafo acima, é verdade.

Mas, de novo: quem poderia imaginar? Com Kobe Bryant, Dwight Howard, Steve Nash, Pau Gasol, o Lakers haveria de encontrar um jeito de vencer. Batata.

Com a temporada se aproximando perigosamente de sua metade, a célebre franquia californiana não consegue se encontrar. Apresentamos um dia desses alguns números de seus concorrentes como Blazers e Rockets para dizer que a luta pelos playoffs no Oeste não estava – ou está – perdida. Desde que os caras arrumem seu próprio time, claro. E aí vieram mais duas derrotas lamentáveis contra Raptors e Bulls para complicar qualquer equação.

O que acontece de tão errado?

Aqui vão alguns personagens que dividem responsabilidade numa campanha sofrida e extremamente decepcionante:

A dupla Mitch Kupchak/Jim Buss: os relatos que vêm de Los Angeles são contraditórios. Há quem diga que Kupchak não tem nada com isso e que é apenas usado pela família Buss como a bucha de canhão, aquele que tem de dar a cara a tapa para imprensa, jogadores e torcedores, mesmo com seu papel cada vez mais reduzido na gestão do time. Mas há quem diga que ele ainda seja fundamental nas decisões, sim. Vai saber. O ponto é que, depois de reunir um elenco deste peso, de forma até milagrosa, impossível de não se elogiar, a diretoria falhou sofrivelmente num outro ponto que nem é tão importante assim, imaginem: encontrar alguém que fosse capaz de dirigir suas estrelas. A insistência com Mike Brown foi um erro desde o começo. Estava mais que claro que o especialista em defesa não tinha o estofo para manipular ou direcionar tantas cobras criadas. Depois de um ano de lo(u)caute, desperdiçaram por completo o training camp fundamental deste ano ao empregar alguém que já estava (moralmente) demitido há tempos. Não era nem mais uma questão de “se”, mas só uma questão de “quando”. Pois bem. Com a possibilidade de assinar com um certo Mestre Zen, disponível e interessado, decidiram fechar com…

Mike D’Antoni: considerando o árido cenário tático que testemunhamos no Brasil, não deixa de ser interessante observar um treinador que se mantenha fiel a suas próprias convicções e filosofia. Ele tem uma visão de basquete clara. Porém, quando você só sabe trabalhar de uma maneira, não importando o elenco que tem em mãos, essa característica pode ser qualificada como teimosia, para não dizer burrice. Por quatro anos, seu plano de jogo pelo Phoenix Suns causou um impacto enorme em toda a liga, a ponto de dobrar até mesmo seu maior rival, Gregg Popovich. E não me venham dizer que não deu certo, que era um brilhareco: o Suns jogou por dois anos a final do Oeste, perdendo para times com Tim Duncan, Tony Parker, Manu Ginóbili, Kobe Bryant, Pau Gasol e Andrew Bynum, foi para os playoffs sempre e venceu 230 partidas (média de 57,5 por ano). Agora… querer repetir essa fórmula com esse plantel do Lakers não faz o menor sentido por diversas razões: 1) hoje ele tem um Steve Nash ainda bem preservado, mas oito (8!!!) anos mais velho do que encontrou pela primeira vez no Arizona; 2) se há alguma deficiência a ser destacada no jogo de Pau Gasol, é sua reduzida velocidade – ele é ágil em seu jogo de pés e lê com facilidade o que acontece em quadra, mas nunca foi de correr de um lado para o outro. Além disso, por mais que se esforce e, de vez em quando dê certo, devido a seu pacote técnico invejável, jamais vai ser um Dirk Nowitzki na linha de três pontos; 3) na verdade, fora o promissor Earl Clark, o ainda inexpressivo Darius Morris e o pivô reserva e baleado Jordan Hill, não há velocistas no time para se querer correr; 4) também não há nem chutadores em excesso para se espaçar a quadra. Então esta seria uma boa hora para D’Antoni rever useus dogmas e se mostrar um treinador mais pragmático.

Pau Gasol: ele até pode se justificar com motivos razoáveis, como o fato de já ter sido trocado pelo Lakers no ano passado, no famigerado negócio vetado por David Stern. Ficou magoado. Depois vem o Kobe alternando críticas indiretas ou diretas com afagos para o barbudo. Aí chega Mike D’Antoni com um sistema que não favorece e até atrapalha seu estilo. Tudo bem, entendemos. Mas, para quem é conhecido como um dos atletas mais cerebrais, inteligentes da liga, o espanhol andou reclamando demais nos últimos meses. Ainda mais agora, quando D’Antoni alterou sua rotação, buscando uma solução mais adequada para seus talentos – colocá-lo no banco para que ele possa jogar o máximo de minutos que puder sem a companhia de Dwight Howard, ficando mais próximo da cesta, em seu hábitat. Gasol chiou e disse que sempre foi uma “estrela titular” em toda a sua carreira. Mais infantil que isso não tem. O espanhol poderia se sentar uma hora dessas para bater um papo com um certo argentino narigudo do Spurs. Dá para tomar um chá e repensar o discurso.

Kobe Bryant: liderar por exemplo era o que Michael Jordan fazia, doendo em quem doesse – Steve Kerr, inclusive, já foi esmurrado pelo astro em um treino, num ato de imbecilidade do maior jogador de todos os tempos. Kobe sempre admirou MJ. A língua de fora, muitos movimentos com a bola e, a cada ano de um modo mais intenso, sua atitude fora de quadra. O superastro não aconselha, não conversa. Ele cobra. Em público mesmo. Cobra porque não deixa de jogar duro em um treino sequer, um jogo sequer etc. Em sua melhor temporada em muito tempo, nada mais do que justo? Podia até ser o caso. Mas, num caldeirão borbulhante como o desta temporada, não ajuda nada esse estilo confrontador. Por um tempo, tá certo, ele se manteve ao lado de D’Antoni, assim como havia feito com Brown. Agora, já começa a questionar o comandante. De todo modo, seu comportamento acaba sendo mais nocivo dentro do elenco, alienando os companheiros. Gasol já sofreu horrores com suas intempéries, e agora diversos rumores dão conta de que sua relação com Dwight Howard não é das melhores.

Agora digam qual o elemento em comum que permeia toda a dissonância entre os cinco personagens acima?

O ego inflado e irredutível.

Jim Buss não toleraria se desculpar e resgatar Phil Jackson. Mike D’Antoni é (foi?) tão celebrado como um gênio no ataque na década passada, então não daria o braço a torcer e adaptari seu sistema ou mesmo descartá-lo por completo. Pau Gasol se cansou tanto de apanhar em Los Angeles e não permitiria que um D’Antoni qualquer passasse por cima de seu status de estrela. Kobe Bryant é pentacampeão, um dos maiores cestinhas da história, o ídolo de ídolos como Nicholson ou Denzel, então não ousem dizer que ele deveria rever sua conduta.

Se esses figurões não conseguirem encarar com franqueza o fiasco que virou o time, sem arrefecer na defesa de suas agendas, vai ficando cada vez mais provável que o Lakers não vá para os playoffs no Oeste.

Inimaginável? Nem tanto.


Mike Brown não é mais o técnico do Lakers. Na franquia, “nada é injusto”
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Giancarlo Giampietro

Nesta sexta-feira, o ESPN.com americano publicou que Mike Brown tinha uma sequência de seis jogos em casa pra tentar acalmar as coisa em Los Angeles. No fim, o site foi muito generoso: depois de quatro derrotas em cinco jogos, o Lakers decidiu demitir o treinador.

Mike Brown e o Lakers

Não, Kobe, em Princeton a gente faz assim…

Na matéria publicada mais cedo pelo grande articulista Marc Stein, uma declaração do gerente geral Mitch Kupchak já havia chamado muito a atenção: “Nada é injusto. Cada um tem uma opinião, e todos têm o direito de ter sua opinião. Você está livre para decidir o que é justo e o que não ´ejusto”, disse. “Acho que é justo dizer que, depois de cinco jogos, não achávamos que estaríamos com uma vitória  e quatro derrotas. Mas temos muitos jogadores novos, alguns lesionados e estamos introduzindo novos conceitos. Vamos continuar a monitorar o time. Entendemos as expectativas.”

Sério: por mais fora do contexto que essas aspas possam ter sido tiradas, já não soava o dirigente mais entusiasmado com o andar da carruagem, não? Ao ler isso, a impressão que ficava que era questão de tempo. Não levou nem dez horas para descer a guilhotina.

Pode parecer uma declaração insensível de Kupchak, mas você precisa entender o contexto disso tudo. O cara já está calejado em Los Angeles. Sabem como as coisas funcionam. Viu Phil Jackson chegar, sair, voltar e se aposentar. Teoricamente. Viu Kobe e Shaq se metralharem pela imprensa. Viu Gary Payton fazer pirraça. Viu o que dá jogar com Smush Parker ao lado de seu astro. São negócios, a pressão é enorme, e assim é a vida dentro da franquia.

Mike Brown nunca pareceu exatamente preparado, com o estofo necessário para controlar uma fogueira dessas. Virou incêndio. Mesmo que  a missão não fosse fácil – e não era –, mesmo que possa parecer insano demitir o técnico depois de apenas cinco jogos, menos de 10% de um calendário cumprido, na cabeça da família Buss, do dirigente ou de Kobe Bryant, nada tem de ser avaliado como justo ou injusto, mesmo.

Em Cleveland, Brown foi engolido pela tensão em volta do futuro de LeBron James. Em Los Angeles, o futuro era agora, e daí para considerar infeliz sua intenção de instaurar o sistema Princeton na equipe é um pulo. Com muitas peças novas, sem tempo para azeitar tudo, foi suicídio tentar algo nessa linha, ainda que, em longo prazo, pudesse fazer sentido.

Dwight Howard agora posa de Laker

Dwight Howard está fora de forma ainda, assimilando novo sistema e companheiros… Mas o Lakers não iria mais segurar Brown

É um sistema que se assemelha em alguns pontos com o dos triângulos, tão bem-sucedido na equipe angelina. Mas, para fazer dar certo, o técnico precisa da confiança de seus jogadores, precisa que eles realmente estejam dispostos a se sacrificarem no início para lucar lá na frente. E, de novo: por mais que Kobe e a direção se esforçassem em público para dizer que davam cobertura ao treinador, no conjunto das coisas, avaliando o cenário geral, a impressão que ficava era de que esse apoio todo não passava de mera formalidade, mesmo.

Do lado do Lakers, a demissão não se deve simplesmente pelas quatro derrotas em cinco jogos. Essa insegurança em torno de Brown pesou muito. Ainda mais para uma franquia acostumada aos métodos de trabalho de um vencedor como Phil Jackson. Lembrem que, quando da primeira saída do treinador mais vitorioso da história, nem mesmo um bicampeão como Rudy Tomjanovich segurou o tranco por lá. Ele ficou apenas 41 jogos no cargo e se mandou. Não aguentava mais o estresse.

Outro ponto: foram oito derrotas na pré-temporada em oito jogos. Ok, não era para contar, mas, quando somadas ao fraco início de campanha, ajudam a dar aquele empurrãozinho. Juntando com as atuações não muito convincentes da campanha anterior, e o risco de o Lakers pagar US$ 100 milhões em salário este ano com mais provavelmente US$ 30 milhões em multas, e o movimento pela demissão começa a ganhar corpo.

Prematuro? Talvez.

Justo? Ninguém que mande no Lakers quer saber.


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