Vinte Um

Arquivo : Hawes

Derrocada do Clippers começou muito antes da virada do Rockets
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Giancarlo Giampietro

Howard segue em frente. Blake parou pelo caminho

Howard segue em frente. Blake parou pelo caminho

O Houston Rockets foi o primeiro time desde 2006 a sair vencedor de uma série depois de ficar em desvantagem por 3 a 1, tomando duas surras em Los Angeles e perdendo o primeiro jogo sem um tal de Chris Paul em quadra. O que a gente tira desse resultado?

Que foi um colapso homérico do Clippers, claro.

Mas como entender uma façanha, para os texanos, ou um vexame desses, para os californianos? Resumir a um termo até meio chulo como “amarelão” não cola. Afinal, dá para questionar a seriedade, a determinação ou força mental de um time que venceu agora há pouco o Spurs em San Antonio. Duas vezes. Por mais que tenham relaxado demais no Jogo 6, com a vitória praticamente garantida, fato é que perderam três partidas consecutivas para um rival aparentemente dominado, tendo imposto um saldo de 68 pontos nas primeiras quatro partidas.

O técnico David Thorpe, analista da ESPN e mentor de uma extensa lista de atletas da liga, entre eles o ala Corey Brewer e Kevin Martin (um atual jogador do Houston e outro ex-integrante), mandou a seguinte mensagem no Twitter após a virada improvável: “Pessoal, se vocês algum dia questionaram o quanto os executivos causam impacto em grandes times, agora já sabem. O Rockets venceu esta série na sala da diretoria”. Parece a melhor resposta, mesmo.

Banco? Qual banco?

Banco? Qual banco?

Não vamos perder tempo aqui discutindo quem é melhor em quadra: Harden, Howard, Paul, Griffin, Jordan… São todos talentos de ponta. Ambos os times fizeram campanhas excepcionais, empatados com 56 vitórias e 26 derrotas. Tudo podia acontecer na série. Em termos de técnico, o Clippers tinha uma presumida a vantagem, contando com Doc Rivers, um dos poucos campeões da liga ainda em atividade. Um excelente treinador, que comandou o ataque mais eficiente da temporada. Mas que foi sabotado pelas decisões do presidente o clube. No caso, ele próprio.

O Clippers tem a segunda folha salarial mais cara da liga e um dos quintetos iniciais mais fortes da liga, se não o mais forte. Concorre lá em cima com o time titular de Spurs, Warriors e Cavs em termos de rendimento. Mas essa galera não teve quase nenhuma ajuda durante uma maratona de temporada, que culminou com as duas séries mais desgastantes destes playoffs. O que fica mais claro, mesmo, é a diferença no projeto de ambos os clubes, prevalecendo a estrutura dos texanos, mais inquietos, ativos na liga, em detrimento de um oponente que se exauriu em quadra devido aos recursos escassos que tinha em quadra.

estatisticas-banco-clippers-doc-rivers-2015No total, durante 14 jogos da fase decisiva, ou 3.360 minutos disponíveis, os reservas do Clippers receberam apenas 926 (27,5%). E aqui estamos contando toda a carga de Austin Rivers, o jovem ala-armador que começou duas partidas como titular no lugar de um Chris Paul lesionado. Confira nas tabelas ao lado a diferença de produção dos reservas entre os quatro semifinalistas do Oeste. A segunda unidade do Clippers não lidera nenhuma categoria, mesmo com os minutos a mais abertos pela lesão muscular de seu principal armador. Se nos números totais, o time aparece com destaque, isso se deve apenas pelo fato de terem feito duas séries de sete jogos. Em médias absolutas de quatro estatísticas básicas, os substitutos não aparecem não lideram nenhuma coluna. (Os asteriscos aqui: Memphis também perdeu Mike Conley Jr. por três partidas, dando mais minutos a Beno Udrih e, principalmente, Nick Calathes, enquanto, no Rockets, estou contando Terrence Jones como o reserva, por ter encerrado o duelo passado desta maneira).

Tá certo: o Clippers, mesmo com esse plantel limitado, ficou muito perto de eliminar o Houston. Tinha uma vantagem de 19 pontos no terceiro quarto do Jogo 6, em casa. Depois de ter batido o San Antonio Spurs, os atuais campeões, a equipe que é exemplo quando o assunto é explorar todas as peças disponíveis. Justamente, não? Isso só reforça o problema. A série contra os compadres de Tim Duncan já foi muito exigente. Mas era apenas a primeira etapa.

O que levou o mesmo David Thorpe a trocar mensagens de texto com Corey Brewer durante o sétimo jogo no Staples Center, cujo conteúdo agora foi revelado. “Nós dois pensávamos que acabaria o gás do Clippers. O importante era não deixar que abrissem 3 a 0”, escreveu. Quer dizer: está aqui um técnico muito bem conectado, que já trabalhou com dezenas de atletas profissionais de alto nível e recebeu/recusou diversas propostas da liga, falando com um de seus pupilos, e os dois meio que admitindo que, tivesse a equipe californiana um banco melhor, muito provavelmente o Rockets não teria a mínima chance de evitar uma varrida. Mas não era o caso, e o Rockets conseguiu um triunfo apertado no Jogo 2 por 115 a 109 para estender um pouco mais o confronto. Deu no que deu. Na verdade, não foi um colapso, não foi súbito – e, sim, um desmoronamento gradativo.

Uma sucessão de erros
E aí vale dissecar a formação de ambos os elencos. É aqui que se escancara a diferença no projeto de ambos os clubes, prevalecendo a estrutura de Houston – tido nos bastidores da liga como “um clube grande” –, com lideranças irrequietas, em detrimento de um oponente que se exauriu em quadra devido aos recursos escassos que tinha em quadra. Algo difícil de entender considerando que a parte mais difícil já havia sido feita: quando Doc herdou o Clippers de Neil Olshey, já tinha um timaço, com as estrelas garantidas, com Paul, Griffin e Jordan sob contrato.

Dos atuais titulares, o único que chegou sob a chancela do novo manda-chuva foi JJ Redick. Um belo reforço, mas cujos desdobramentos já foram um tanto suspeitos. Para ter o ala, foi orquestrada uma troca tripla com Bucks e Suns, que custou ao clube um prodígio como Eric Bledsoe e mais uma escolha de segunda rodada do Draft. Bledsoe já não aguentava mais ser reserva de CP3 e estava prestes a virar agente livre. Precisava sair, mesmo. Mas ainda era uma excelente moeda de troca. Então não é que Redick tenha vindo de graça, numa barganha. Além disso, nessa mesma transação, o clube recebeu Jared Dudley. O ala fez uma péssima campanha inaugural em Los Angeles, é verdade, mas foi dispensado rapidamente por questão de economia, para escapar de multas pesadas em cima da folha salarial. Daí que, neste campeonato, foi um dos líderes do surpreendente Milwaukee Bucks. Para se desfazer dele, Doc pagou mais uma escolha de Draft, dessa vez de primeira rodada. Um desastre, fruto de impaciência e de um conflito de interesses quando você é o técnico e o dirigente. O treinador quer peças para agora. O dirigente precisa cuidar do que vem pela frente.

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É aí que entram as escolhas de Draft. Mercadorias importantíssimas na NBA de hoje devido ao baixo salário que os calouros recebem. É a grande chance de se contratar jogadores bons, para compor a rotação, pagando pouco. Ainda mais no caso de um Clippers que já paga US$ 48 milhões para seus três principais atletas – e espera pagar ainda mais, na hora de renovar com Jordan. Acontece que não só o técnico-presidente saiu gastando picks por aí, como também não soube aproveitar as que tinha. Em 2013, optou pelo ala Reggie Bullock – um cara vindo de North Carolina, com fama de bom chutador e defensor, o tipo de operário que se encaixaria perfeitamente no atual sistema. Depois de 658 minutos em uma temporada e meia, aos 23 anos, Bullock foi repassado para o Phoenix Suns na transação por Austin Rivers. Neste ano, foi a vez do ala CJ Wilcox, de Washington. Um senior, supostamente pronto para contribuir. Pois o cara terminou a temporada regular com 24 anos (é cinco anos mais velho que Bruno Caboclo, para se ter uma ideia) e apenas 101 minutos de tempo de quadra, em 21 jogos. Inexplicável – a não ser que a diretoria já esteja pronta para considerá-lo um fracasso, o que pegaria muito mal.

Farmar e Hawes: pareciam nomes certos, até que...

Farmar e Hawes: pareciam nomes certos, até que…

Por estar acima do teto salarial, restava a Rivers outras duas alternativas além do Draft para reforçar seu time: as exceções (midlevel e biannual) que cada franquia recebe para efetuar contratações, desde que tenha flexibilidade econômica para tal – que não tenham extrapolado qualquer limite do bom senso de acordo com as regras da liga, basicamente. Os alvos foram Spencer Hawes e Jordan Farmar. Bons nomes. Hawes foi cobiçado por muita gente no mercado, enquanto Famar tinha experiência de playoff e vinha de excelente jornada pelo vizinho Lakers. Acontece que, aí, quem falhou foi o treinador. Em nenhum momento a dupla de agentes livres se sentiu confortável, com dificuldade para mesclar suas habilidades com as do núcleo já pré-estabelecido. Com o quinto maior salário do elenco (mais de US$ 5 milhões), Hawes participou de apenas oito das 14 partidas nos mata-matas e recebeu 57 minutos. Só entrava em caso de extrema emergência, ou com o placar resolvido. Uma bomba. Farmar? Foi dispensado no meio do campeonato após desavenças com o comandante. O que não vai impedi-lo de embolsar boa parte dos US$ 4,2 milhões de seu contrato, mesmo que já esteja em ação na Turquia.

Sem muito mais dinheiro ou alternativas para investir e sem confiar nos atletas mais jovens, restou a Rivers apelar a veteranos para compor seu elenco de apoio. Caras de salário mínimo, que estivessem sobrando no mercado. Acontece que, neste campeonato especificamente, não pintou nenhum PJ Brown ou Sam Cassell no mercado. Vieram nessa, então, Glen Davis, Hedo Turkoglu, Epke Udoh, Chris Douglas-Roberts, Nate Robinson, Lester Hudson, Jordan Hamilton e Danthay Jones. Só Big Bagy e o truco (pasme! já é um ex-jogador em atividade) foram aproveitados na rotação – o que é surreal da par. CDR saiu junto de Bullock. Robinson estava contundido e deu lugar a Hudson. Jones carregou o Gatorade, enquanto Hamilton, que vinha bem na D-League, teve o azar de sofrer uma lesão. Em suma: nada deu certo.

Do outro lado, o Rockets
Vocês sabiam que o finalista do este custa US$ 13 milhões a menos que o time que acabou de eliminar, mesmo contando com dois superastros e com um elenco capaz de suprir as lesões de seu armador titular e de um pivô lituano em franca evolução? Pois então. Para montar este grande time, o gerente geral Daryl Morey precisou mover mundos e fundos. Não foi uma herança.

Padrinho da comunidade nerd da NBA, Morey manipulou sua folha salarial com visão de longo prazo, sabendo também dosar agressividade e paciência, números e scout. Ao mesmo tempo. Cansado de ver um time medíocre morrer na praia, seja numa primeira rodada de playoff, ou mesmo já na temporada regular devido a uma forte concorrência no Oeste, o dirigente se envolveu em uma série de negociações disposto a acumular jogadores de potencial e relativamente baratos, além de ter acertado a mão na maioria de suas escolhas de Draft. O elenco seguia competitivo – para não desagradar ao departamento financeiro e torcedores –, ao mesmo tempo que se posicionava para uma eventual troca de impacto. Foi quando Sam Presti topou uma oferta hoje risível por James Harden (Kevin Martin, Steven Adams, Jeremy Lamb e Mitch McGary, mais os direitos sobre o ala Alejandro Abrines, do Barcelona).

Morey batalhou os telefones para ter Harden em Houston

Morey batalhou os telefones para ter Harden em Houston

Com o Sr. Barba no elenco, ficou mais fácil de convencer Dwight Howard a virar as costas para o Lakers no mercado de agentes livres. Não dá para subestimar um movimento desses – qual foi o último craque a largar Hollywood desta maneira? Kobe pode ter dado uma boa força ao empurrar o pivô para fora de sua franquia, mas o fato é que o clube texano estava muito bem posicionado, técnica e financeiramente, para fechar o negócio.

E o que mais? Trevor Ariza veio praticamente pela metade do preço de Chandler Parsons, num negócio da China, de deixar Yao Ming todo pimpão. O ala campeão pelo Lakers em 2009 não só marca muito mais, como tem um estilo de jogo que casa melhor com Harden e Howard, dois jogadores que controlam a bola no ataque. Jason Terry e Pablo Prigioni chegaram em trocas periféricas, pouco discutidas, mas que hoje se mostram importantíssimas depois da lesão de Patrick Beverley (que veio, lembrem-se, do basquete russo, para vaga que um dia pertenceu a Scott Machado). Corey Brewer custou uns rocados, Troy Daniels e duas escolhas de segunda rodada de Draft, com restrições. Terrence Jones foi draftado, assim como o caçula Clint Capela, de apenas 20 anos e jogando minutos importantes contra o Mavs na primeira rodada. O suíço, o ala-armador Nick Johnson e o ala KJ McDaniels podem render para o futuro, ou serem envolvidos em futuras trocas. De negócios por ora mal-sucedidos, temos Kostas Papanikolau, ala da seleção grega e titular do Barça que não rendeu o esperado, e Joey Dorsey, alguém até decente para ter como o quinto na rotação de grandalhões – mas cujo contrato custou ao time o novato Tarik Black, outro achado no mercado do departamento de scouts. Ah, claro, e o Josh Smith: de graça e compadre de Dwight Howard. Valeu, Stan.

Não quer dizer que Houston também não erre feio. Pagou US$ 9,2 milhões em salários de jogadores que nem foram utilizados durante a temporada: Luis Scola (ainda!), Francisco Garcia, Jeff Adrien e Francisco Garcia. A maior bolada pertence a Scola, superior a US$ 6 milhões, no último ano de um contrato anistiado por Morey em 2012. Agora, se o dono Les Alexander libera sua diretoria para assinar cheques sem pestanejar, esse prejuízo deve ser relativizado. Além disso, o simples fato de o cartola ter se desfeito dessa para montar um elenco que julgava melhor já dispensa o uso de um eletroencefalograma. Se há algo que não se pode reclamar em relação ao gerente geral, é de esmorecimento ou passividade. Morey ouviu um não de Chris Bosh, contratou e trocou Jeremy Lin. Cedeu Kyle Lowry ao Toronto. Não fechou com Goran Dragic quando o preço era mais baixo. Mas fechou tantos, mas tantos negócios bons que chegou uma hora em que o zum-zum-zum nos corredores da liga era o de que seus pares se sentiam intimidados na hora de negociar com ele. Temiam tomar uma rasteira, sem nem perceber o que estava acontecendo.

Em Los Angeles, Doc já não tem nem muito o que discutir com a concorrência.  A não ser que esteja disposto a falar sobre Chris Paul e Blake Griffin. Ou isso, ou está de mãos atadas, num momento em que o que deveria predominar seria a tensão, suplantando a decepção por essa derrota histórica. DeAndre Jordan vai para o mercado de agentes livres em alta, despertando o interesse de muitos clubes. Se perder o pivô, vai fazer o quê? Sua folha salarial já está estourada. Aí teria de resgatar Spencer Hawes. Um jogador com o qual falharam ambos: técnico e dirigente.


Spurs x Clippers: tudo igual na série, mas com opções diferentes
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Giancarlo Giampietro

A formiguinha atômica australiana vem para o resgate dos atuais campeões

A formiguinha atômica australiana vem para o resgate dos atuais campeões

Anthony Davis e seu New Orleans Pelicans podem até ser varridos pelo Golden State Warriors. Não dá para cravar isso ainda, mas pode acontecer. De qualquer forma, mesmo que se despeçam dos playoffs 2015 da NBA sem nenhuma vitória, ainda vão deixar um legado para a fase decisiva. Algo que vai muito além da maior visibilidade para o jovem astro e de um passo importante na sua caminhada para tomar conta da liga. Isso fica para o futuro. Por ora, o que eles nos deram foi a série Clippers x Spurs, a única que troca de cidade com os times empatados.

Em teoria, era para eles terem se resguardado e jogado apenas na segunda rodada. San Antonio basicamente trucidaria o Dallas Mavericks, enquanto o novo primo rico de Los Angeles enfrentaria mais dificuldades contra Memphis, mas ainda são favoritos. O Monocelha não permitiu isso e colocou frente a frente duas das três melhores equipes pós-All-Star Game em termos de equilíbrio ofensivo e defensivo, ou duas das quatro melhores equipes neste período em termos de aproveitamento (vitórias x derrotas).

Depois de uma vitória tranquila para o Clippers na primeira partida, com todas as suas enterradas e a Lob City bombando, o Spurs batalhou sem Tony Parker e, na prorrogação, venceu a segunda por 111 a 107, ao mesmo tempo em que rouba o mando de quadra do adversário. “Será uma série de matar”, afirma Doc Rivers, após a derrota. Sim, Doc, tem tudo para ser.

O time californiano é o time mais atlético em quadra, e isso não vai mudar. Uma dupla como Blake Griffin e DeAndre Jordan põe muita pressão em qualquer defesa, já que qualquer passe num raio de um quilômetro do aro é uma chance de cravada – uma bola sempre bonita, mas também bastante eficiente. Fica ainda mais difícil de parar os pivôs quando eles são municiados por um armador como Chris Paul e rodeados por chutadores como JJ Redick, Jamal Crawford e Matt Barnes. É uma combinação que rende o ataque mais eficiente da NBA nas últimas duas temporadas. Na defesa, os pivôs podem até dar uma viajada no posicionamento, que sua agilidade e impulsão lhes proporcionam uma recuperação pontual para a contestação.

Agora, do outro lado, é o que Doc também diz: “O Spurs ainda é o atual campeão, e eles vão continuar sendo os atuais campeões a cada noite”. Assim como Tim Duncan, prestes a completar 39 anos, seguirá como uma ameaça a ser respeitada até os 74, aproximadamente. É incrível. Se a gente for classificar os astros da liga por longevidade, somente Kareem Abdul-Jabbar se equipara ao orgulho das Ilhas Virgens (quer dizer, imagino que no arquipélago exista ao menos uma estátua para o ex-nadador, nem que seja num complexo aquático). Os dois foram top de linha desde a primeira temporada até a última. Com a diferença que não sabemos se Duncan está de saideira, ou não. Os repórteres que cobrem o time texano de perto juram que não há nenhum indício para isso.

“Ele foi espetacular”, disse o Coach Pop, que teve a sorte de, em sua segunda campanha como treinador da franquia, descolar na primeira rodada do Draft esse pivô formado em Wake Forest. “Ele continua me maravilhando. Ele sabia que precisava ficar em quadra e deu um jeito. Continuou sendo agressivo, o que é realmente impressionante.”

Timmy!!!

Timmy!!!

Para quem não mergulhou madrugada a fundo, Timmy jogou os últimos quatro minutos do tempo regulamentar e toda a prorrogação pendurado com cinco faltas. São as chagas das batalhas com Jordan e Griffin. Terminou o confronto com 28 pontos, 11 rebotes, 4 assistências e 2 roubos de bola. No final, ele estava mais preocupado em pedir desculpas para o seus companheiros, já que acertou apenas uma cesta em cinco tentativas de quadra no quarto final. Que coisa, né? “Fui péssimo. Perdi umas duas ou três bandejas, cometi dois ou três erros defensivos, saindo da minha posição para dar enterradas a DeAndre”, afirmou, todo remoído.

Fora a consistência de Duncan e sua aura de campeão, sabe o que mais que o Spurs vai continuar tendo como larga vantagem em relação ao Clippers? Banco. Opções. Muitas delas. Se o eterno All-Star conseguiu se manter no jogo pendurado, Manu Ginóbili afirmou que perdeu a conta das suas faltas e acabou excluído no quarto final. Poderia ser um baque para qualquer equipe, ainda mais que Tony Parker já havia sido retirado pelo técnico devido a dores no tendão de Aquiles. O francês, visivelmente estourado, depois de sentir a perna esquerda no primeiro embate,  jogou por 30 minutos e só fez um pontinho em lances livres. Para o Spurs, não fez diferença. “Eles perdem Parker, entra o Mills. Manu está fora, Green entra. É o que eles fazem. Você tem de tirar o chapéu para eles”, afirmou Jamal Crawford.

Patty Mills, a formiguinha atômica australiana, marcou 18 pontos em 19 minutos. Boris Diaw foi igualmente importante, fazendo de tudo um pouco para a equipe, com 12 pontos, 9 rebotes, 6 assistências e 2 roubos de bola em 37 minutos. O cerebral ala-pivô francês vai ter de aguentar o tranco, com tempo de quadra elevado, enquanto Tiago Splitter não recupera o ritmo de jogo – o catarinense jogou por 19 minutos e, em determinados momentos, demonstrava pura falta de fôlego. E aqui já vimos um ajuste de Pop: Aron Baynes nem foi acionado, perdendo espaço para Matt Bonner.

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Ao todo, os suplentes do Spurs receberam 103 minutos de rodagem neste segundo duelo. Do outro lado, Rivers segue com sua rotação paupérrima. Não por ser teimoso. Mas, sim, pelo fato de sua versão cartola ter feito um péssimo trabalho na montagem deste elenco. Chega a um embate tão equilibrado como esse, e simplesmente não tem confiança em ninguém que não atenda pelo nome de Jamal Crawford entre os reservas. O perigoso (ainda que por vezes destrambelhado) arremessador ganhou 21 minutos numa noite em que a mão estava fria (4-13 nos arremessos, 1-7 de três pontos, um horror). Depois, contem 11 minutos para o Rivers filho e Glen Davis, velho de guerra. De resto? Hedo Turkoglu teve quatro e Danthay Jones não conseguiu nem arredondar para um minuto o instante em que entrou em quadra para espirrar.  O quarteto somou 17 pontos. Menos que Mills, se você me permite a comparação.

Haja fôlego para o quinteto titular: foram 47 minutos para Griffin e Redick, 44 para Jordan, 43 para Paul e 37 para Barnes. Como de praxe, eles jogaram demais. Griffin saiu com um triple-double (29 pontos, 12 rebotes e 11 assistências, consagrando seu companheiro de garrafão), enquanto Jordan somou 20 pontos, 15 rebotes e 3 tocos. Paul manteve esse ritmo de excelência, com 21 pontos, 7 assistências e 8 rebotes. Redick matou 4 de 9 nas bolas de longa distância. O quinteto titular do Clippers, conforme já ressaltado aqui, foi a unidade mais produtiva da temporada, em números absolutos, vencendo seus oponentes por média de 7,5 pontos.

Agora… Spencer Hawes, a principal contratação para o campeonato, recebeu um gelado “DNP” (não jogou). Assim como Lester Hudson, importado de última hora da China, e Epke Udoh, subutilizado em toda a campanha. Não dá para entender como um time com as pretensões elevadas do Clippers chega ao mata-mata desse jeito, ainda mais depois de seguidas decepções nos playoffs com a mesma base. Simplesmente não dá. Por mais que Rivers seja um técnico de fato brilhante, seu trabalho como dirigente acaba se tornando o maior obstáculo rumo ao título – não se esqueçam que esse núcleo já estava lá quando ele foi contratado.

O Spurs agora vê Parker se juntando a Splitter na fila dos arrebentados. Preocupa, claro. Mas, para qualquer outra equipe, perder o armador e o pivô titulares significaria desespero total, enquanto o adversário celebraria. Na rotação (quase) igualitária de Popovich, todavia, os desfalques são amenizados. Bom para Doc tomar nota a respeito. Pode mai ser mais uma cortesia do Monocelha.


Espetáculo não é o bastante para o Clippers em Los Angeles
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Giancarlo Giampietro

Rivers e Paul: eles sabem que o time precisa de mais

Rivers e Paul: eles sabem que o time precisa de mais

Espetáculo por espetáculo, a turma Hollywood ainda prefere ver Kobe Bryant. Então, se for para o Clippers tomar conta de Los Angeles para valer, nessa geração, eles só podem fazer isso com um resultado expressivo. No caso da metrópole californiana, meus amigos, isso só significa uma coisa: título.

Chris Paul bem sabe disso. “Não quero nem dizer por que vamos ser o time. Nós temos de jogar, de fazer. Já tem muito falatório”, afirmou o veterano. Desde que o armador foi trocado para Los Angeles – pela segunda vez, já que não podemos esquecer o primeiro negócio vetado por David Stern, que o mandaria para o Lakers –, o ex-primo pobre da cidade foi elevado a superpotência e candidato natural ao título. Era o resultado de ter um dos melhores armadores da história da liga ao lado de uma estrela em ascensão como Blake Griffin.

Isso aconteceu em 2011. Desde então, o time teve campanhas de 60,6%, 68,3% e 69,5% de seus jogos, dando pequenos e consistentes passos rumo ao topo. As expectativas só aumentaram na temporada passada com a chegada de Doc Rivers, a evolução de DeAndre Jordan e a contratação de JJ Redick. No geral, porém, o time conseguiu apenas uma vitória a mais na temporada regular, subindo de 56 para 57 (ainda que com oito partidas a menos de CP3). Nos mata-matas, o time alcançou as semifinais da Conferência Oeste, como havia feito em 2012, perdendo para o Oklahoma City Thunder por 4 a 2.

DeAndre foi o terceiro melhor reboteiro da temporda passada, mas não conseguiu livrar ou influenciar o Clippers no geral

DeAndre foi o terceiro melhor reboteiro da temporda passada, mas não conseguiu livrar ou influenciar o Clippers no geral

Essa trajetória nos playoffs, porém, é bem mais complexa. Quando enfrentavam um time complicado como o Golden State Warriors na primeira rodada, Rivers e seus jogadores foram torpedeados pelo vazamento dos comentários ignóbeis e racistas, via TMZ, do ex-proprietário do clube, Donald Sterling. Houve um turbilhão de emoções, incluindo a ameaça de boicote por parte dos atletas de ambos os lados, até que o recém-empossado comissário Adam Silver agiu com firmeza. Depois, contra o Thunder, a lembrança obrigatória fica para o Jogo 5, no qual o Clippers teve uma grande chance de assumir a dianteira da série, com a oportunidade de fechá-la em casa.

Além da série de trapalhadas da arbitragem, que despertou a ira de Rivers na entrevista coletiva, aquela partida ficou marcada por uma exibição completamente desastrosa por parte de Paul, justo ele, o capitão, da mão firme com a bola. Depois de o time abrir uma bela vantagem, tomou uma virada que não poderia ser explicada por uma ou outra decisão equivocada dos homens do apito. O próprio Chris Paul fugiu disso, assumindo a culpa. “Perdemos, e está na minha conta. Eles fizeram a cesta, e tivemos a chance de vencer na última jogada, e eu nem consegui arremessar. Foi muito tonto. Era sou supostamente o líder da equipe. Isso não pode acontecer. A liga pode divulgar algum comunicado sobre a marcação, mas quem se importa? Perdemos”, afirmou.

Acontece. Agora, a NBA é uma liga cruel, extremamente competitiva. O Clippers obviamente ainda está no páreo, produz um clipe imenso de melhores momentos a cada rodada – haja ponte aérea! –, mas o cenário pode ser alterado drasticamente e de modo rápido. Por isso o armador sabe: chegou a hora de ir longe nos playoffs. Bem longe.

O time: ataque não é problema. Com o pulso firme e talentoso de Paul, as habilidades ainda em expansão de Blake Griffin – que é muito, mas muito mais que um pôster –, e excelentes arremessadores ao redor deles, Rivers tem elementos de sobra para coordenar um dos três ataques mais eficientes da liga mais uma vez. Em termos de defesa, o impacto do treinador, porém, não foi tão dramático conseguiu elevar o time de nono para sétimo na temporada passada, e com um número maior de pontos por posse de bola. Quando questionado sobre quais pontos mais o preocupavam, o estrategista não hesitou em apontar os rebotes. “Não sei quais seriam além do rebote. Era isso chegando a esta temporada, e permanece. Pessoalmente, achei que foi um milagre que tenhamos feito o que que fizemos no ano passado do modo como reboteamos. Estava preocupado com isso o ano todo, preocupado nos playoffs. É duro vencer jogos quando as outras pessoas continuam conseguindo arremessos extra”, disse. O Clippers foi o 20º nesse fundamento. De seus principais adversários, o Spurs foi quem ficou mais próximo, em 13º.

A pedida: sucesso nos playoffs e, quem sabe, o título. Estamos combinados.

Olho nele: Spencer Hawes. O pivô tem a oportunidade em Los Angeles de mostrar que é muito mais que o atleta da NBA mais apaixonado pelo Partido Republicano. Hawes foi o primeiro alvo de Rivers no mercado de agente livre, contratado para reforçar sua rotação de garrafão atrás de Griffin e Jordan, para oferecer arremesso de média e longa distância, passe e também reforçar justamente o rebote pedido por Rivers. Nos mata-matas do ano passado, o técnico tinha apenas Big Baby para dar um respiro aos titulares. Como ele vai responder a esse desafio? Em sua carreira, o pivô de 26 anos disputou dois playoffs, pelo Sixers. O que, veja bem, não conta para muito. Era um time café-com-leite, num Leste esvaziado. Não havia pressão alguma. Agora a coisa muda de figura.

Spencer Hawes, reforço no garrafão por US$ 6 mi anuais

Spencer Hawes, reforço no garrafão por US$ 6 mi anuais

Abre o jogo: “Baron estava se preparando, e Sterling começou a balançar os braços, gritando para ninguém em particular.”Por que vocês estão deixando ele cobrar o lance livre? Ele é péssimo! Ele é o pior cobrador de lances livres da história!”, berrava. O Baron estava acertando algo como 87% naquela temporada. Eu estava de pé no meio da quadra, bem perto dos assentos do Sterling, olhando isso de canto, tentando não rir. Olhei para os caras do outro time, tipo, pensando que aquilo não poderia estar acontecendo”, Blake Griffin, em depoimento extenso sobre como era ser um jogador do Clippers sob o amalucado, inconsequente, mas… lucrativo controle de Sterling.

Você não perguntou, mas… o novo dono do Clippers, o bilionário Steve Ballmer, ex-CEO e ainda maior acionista da Microsoft, não vai permitir que seus técnicos e jogadores usem – ou, vá lá, que pelo menos não sejam flagrados em público usando – produtos eletrônicos da Apple. O homem pagou US$ 2 bilhões por seu novo brinquedinho. Então fica assim.

doc-rivers-clippers-cardUm card do passado: Glenn “Doc” Rivers. Primeiro uma pergunta séria: quem aí reconhecia o ex-armador e hoje técnico do Clippers como Glenn? Dr. Glenn Rivers? Um baita ganho em estilo, gente. Mas deixemos de bobagem. O legal desse card é mostrar o jovem Rivers, claro. Mas também para falar daquela temporada: 1991-92, a primeira na qual a franquia foi aos playoffs quando baseada em Los Angeles – em sua primeira encarnação, como Buffalo Braves, com Bob McAdoo, já havia acontecido. No princípio dos anos 90, o clube viva um grande momento, com uma base bastante promissora, na qual constavam também Ron Harper (antes de estourar o joelho), Charles Smith (que migraria para o Knicks), e, principalmente, Danny Manning. O ala-pivô era bem diferente de Blake Griffin, um cara muito mais vigoroso e atlético, mas também foi uma grande aposta técnica e comercial da liga,  até que seguidas lesões o derrubaram. Aos 30 anos, Rivers disputava sua primeira campanha fora de Atlanta e a única em L.A., com 10,9 pontos e 3,9 assistências em 28,1 minutos. Em 1992, seria envolvido numa troca tripla que o mandaria para o Knicks de Pat Riley, com Mark Jackson chegando ao time californiano.


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