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Arquivo : David Stern

Chris Paul, o poderoso chefinho, assume a presidência do sindicato de jogadores da NBA
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Giancarlo Giampietro

Chris Paul para presidente

O repórter Lee Jenkins, da Sports Illustrated, relata que Chris Paul foi presidente de sua classe nas sétima, oitava, décima, 11ª e 12ª séries, durante sua adolescência. “Para os que estão perguntando, na nona série ele não concorreu”, completa.

Aí você fica até em dúvida: estamos diante de uma piada?

Os jogadores da NBA vão responder, hoje, que não. Afinal, acabaram de eleger o astro do Los Angeles Clippers como o novo presidente de seu sindicato. E, de acordo com as histórias que lemos sobre o #CP3, não é de se estranhar, mesmo: ele está acostumado a liderar,  ou, no seu caso, mandar.

Estamos falando de um armador, afinal. Mas daqueles que ditam as coisas.

Por exemplo, podemos afirmar que Steve Nash tem tendências socialistas em quadra, falando sempre de como gostaria de ver suas equipes compartilhando, em plena comunhão. Vejam o que ele diz a Zach Lowe, do Grantland, aqui: “Em Phoenix, eu pensava sempre, que poderia jogar e fazer mais de 20 pontos, arremessar mais, mas talvez minha efetividade fosse diminuir. Talvez o equilíbrio do time fosse abaixo. Talvez nós não tivéssemos aquele diferencial, aquela coisa especial que tínhamos porque os outros estão recebendo mais a bola e sentem que vão recebê-la. Não é minha natureza arremessar”.

Não pensem que isso não passa pela cabeça de Paul. Não se trata definitivamente de alguém egoísta – estima-se que, em sua carreira, 46,3% das cestas feitas por seus parceiros vieram de assistências do craque. A diferença é que para o impetuoso baixinho as coisas são mais práticas. Seu ideal é jogar para vencer, não obrigatoriamente para deixar quem está ao seu lado feliz. Se isso significa que ele tem de ir para a cesta, jogar para fazer 40 pontos, que assim seja. E que não entrem em seu caminho. Do contrário, você vai ouvir pacas.

Dizem que, no Clippers, Blake Griffin e DeAndre Jordan, mais espirituosos,  já teriam problemas sérios quanto a isso, muita dificuldade para suportar toda a pressão que o armador faz – feito Kobe, ele é daqueles que colocam o dedo na cara, mesmo, apontam erros e não toleram “desculpas”. Além disso, após a saída de Neil Olshey para o Portland Trail Blazers, em Los Angeles virou ponto passivo de que o jogador seria o gerente geral informal do clube, opinando em todas as decisões esportivas da franquia. Doc Rivers que se enquadre!

Também dizem que, quando a turma bicampeã olímpica se reúne – Wade, LeBron, Bosh, Carmelo etc. –, é ele quem dá as cartas e não para de falar, na quadra, no vestiário, em festa de casamento, na mesa do bar, no busão ou no metrô (lembram!?), em qualquer lugar. E que, se não for ele a falar, que abram espaço para o “Little Chris”, seu filhinho, mandar brasa. : )

Muito bem.

Agora Chris Paul tem muito sobre o que falar, mesmo. Uma série de reuniões, vice-presidentes (Steve Blake e Anthony Tolliver entre eles), secretário do tesouro (James Jones!) e muito mais para comandar, num mandato inicialmente previsto de um ano e meio, sucedendo Derek Fisher. Dessa vez os operários não tiveram chance, com uma estrela subindo ao poder pela primeira vez desde Patrick Ewing, cuja presidência se encerrou em 2001. LeBron James chegou a cogitar sua candidatura, mas foi dissuadido numa conversa com, e quem mais?, o próprio Paul.

A agenda do novo presidente requer tempo, e talvez alguém da estatura de LeBron não tivesse tanto tempo assim – ou talvez fosse importante preservar a imagem do maior jogador da atualidade, guardando qualquer intervenção do ala para momentos mais críticos.  Por ora, parece que há muito o que arrumar, mesmo, dentro de um combalido sindicato, que anda envolvido em em batalha judicial contra o ex-diretor executivo Billy Hunter, demitido em março, tendo empregado até filhos, cunhados, tios, sobrinhos e, se bobear, até o cachorro na administração da entidade.

Hunter, todavia, já é passado. O maior desafio de Paul é se sentar à mesa com o próximo comissário da NBA, Adam Silver, que assume em fevereiro e fechar as diversas pontas pendentes no acordo trabalhista (não tão) definido (assim) em 2011, com duração prevista por dez anos, mas que pode ser refeito em 2017, caso jogadores ou os donos dos clubes optem. Entre os tópicos mais espinhosos, está a pra-lá-de-urgente regulamentação de um controle antidoping mais adequado na liga. Exames de sangue detalhados vão ser liberados? Serão feitos testes de supetão? Em que período do ano?  O limite de idade para inscrição no Draft – hoje de 19 anos, com os proprietários tentando elevar para 20 –, a criação de uma terceira rodada no processo de recrutamento de novatos – que permitira aos clubes um controle sobre maior gama de jogadores –, o  relacionamento com a D-League e o número mínimo de jogadores contratados por cada franquia são outras questões em pauta para serem acertadas.

Barra pesada? Preocupante? Nada disso. “Foi algo que vi como um desafio, algo que sabia que seria capaz de conduzir. Foi uma oportunidade incrível, e muita responsabilidade vem com este cargo”, disse Paul. Oportunidade incrível? Eu, hein? Haja confiança para o poderoso chefinho da liga.


Jason Collins se assume gay e, após 12 anos, passa de coadjuvante a estrela na NBA
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Giancarlo Giampietro

Jason Collins, 34, acumulou em todo o campeonato 2012-2013 da NBA exatos 41 pontos, marca atingida ou superada por outros atletas em 22 ocasiões em apenas um jogo. No total, ele ficou apenas 38 minutos em quadra. Entrou na competição como jogador do Boston Celtics, clube que sonhava com o título, e terminou com o Washington Wizards, franquia que tem como hábito dar férias mais cedo aos seus atletas – leia-se, antes dos playoffs, em abril. Ainda assim, o pivô pode ter protagonizado a grande notícia da temporada nesta segunda-feira, ao se assumir homossexual em um artigo para a revista Sports Illustrated, que tem circulação mundial e é uma verdadeira instituição esportiva nos Estados Unidos.

Jason Collins, primeiro a assumir homessexualidade na NBA

Jason Collinas, nas bancas na sexta-feira

Só não foi capa (ainda) porque a revista teve de se desdobrar para realizar seu ensaio em primeira pessoa, optando por publicá-lo no site nesta segunda antes de colocá-lo nas bancas na próxima sexta – uma raridade em sua rotina. A repercussão foi imensa, claro. Para se ter uma ideia, Collins começou o dia com pouco menos de quatro mil seguidores no Twitter em mais de 400 dias como usuário. No momento de redação deste post, menos de 24 horas depois, já tinha 84 mil. Não é para menos: estamos falando do primeiro jogador em atividade tanto na NBA, como em todas as principais ligas de esportes coletivos norte-americanas a se revelar desta maneira.

Antes de fazê-lo, costurou o anúncio com o comissário David Stern e seu eventual sucessor, Adam Silver, e recebeu o sinal verde. Não que, a julgar por seu texto,  fosse mudar de ideia em caso de alguma negativa dos cartolas. “Cheguei a este estado invejável na vida em que eu posso fazer praticamente o que eu quero. E o que eu quero é continuar a jogar basquete. Eu ainda amo o jogo e eu ainda tenho algo a oferecer. Meus treinadores e companheiros de equipe reconhecem isso. Ao mesmo tempo, eu quero ser genuíno, autêntico e verdadeiro”, escreveu.

Curiosamente, na semana passada, quando questionado hipoteticamente, Stern afirmou que não esperava nenhum tipo de comoção se algum das centenas de atletas de sua liga se declarasse gay.  Na semana passada! “Isso deveria ser um não-problema neste país”, disse, no sentido de que os Estados Unidos já deveriam estar mais do que habituados com o tema. Em seu comunicado de segunda, foi um pouco mais além: “Como Adam Silver e eu dissemos a Jason, nós conhecemos a família Collins desde que Jason e Jarron entraram na NBA em 2001, e eles têm sido membros exemplares da família da NBA. Jason tem sido um jogador e um companheiro de equipe muito respeitado ao longo de sua carreira, e estamos orgulhosos que ele tenha assumido o manto da liderança sobre esta questão muito importante”.

Claro que rolou uma repercussão danada, dentro e fora da liga. Kobe Bryant, Steve Nash, Kevin Durant e muitos, mas muitos outros jogadores usaram a grande rede para manifestar apoio ao companheiro, falando em “orgulho”, “felicidade”, “respeito” e “admiração” pelo exemplo dado pelo veterano.  (Agora: quem teria a coragem de partir ao ataque, depois do aval público de Stern e de toda a corrente positiva que a declaração de Collins originou? Difícil.) Bill Clinton, Michelle Obama, Martina Navratilova, Andy Roddick, Barry Sanders, entre outras personalidades, seguiram essa linha.

Durante todo o dia, então, lá estava Jason Collins na ESPN, na CNN, na NBC, em todas as TVs, em todos os lugares, justo ele, que nunca foi estrela de nada – um cara sempre reconhecido muito mais como um dos “gêmeos Collins”, ao lado do irmão Jarron, do que como “astro da NBA”.

Jason Collins, que jogou com Nenê na temporada

Jason Collins, num rebote mais que fácil

Em quadra,  seu papel é realmente discreto. Com um jogo pouco chamativo e até bastante limitado em alguns quesitos, já levou diversos ‘especialistas’ e torcedores de Nets, Grizzlies, Wolves, Hawks, Celtics e, agora, Wizards a questionar se era francamente um jogador digno de fazer parte do melhor basquete do mundo.

Acontece que o pivô sempre fora muito mais valorizado por treinadores do que por qualquer outra classe. Não só por sua postura profissional exemplar, valorizada nos vestiários, mas também pelo sutil impacto que pode causar por meio dos pequenos detalhes de um jogo, muitas vezes captados apenas em métricas mais avançadas, em vez dos apanhados básicos de números como pontos, rebotes ou tocos.

Quer dizer, “sutil” talvez não funcione como um termo apropriado, uma vez que, para cumprir bem suas determinações em quadra, Collins já desceu a marreta em muita gente. “Eu odeio dizer isso, e eu não tenho orgulho disso, mas uma vez fiz uma falta tão dura em um jogador que ele teve que deixar a arena em uma maca”, referindo-se ao ala Tim Thomas, ex-Sixers, Bucks, Knicks, Suns.

Mas não fica nisso apenas, no ato de dar pancada. De nada valeria seu porte físico robusto, sua presença intimidadora, se ele não tivesse a inteligência para usá-los, sabendo exatamente o que precisa e como deve ser feito (corta-luz preciso, com ângulos variados, bloqueio para o rebote, cobertura defensiva, concentração etc.) – Dwight Howard que o diga, sempre teve dificuldade contra ele no mano a mano. Foi, assim, combinando cabeça e força bruta que ele conseguiu sustentar uma carreira de 12 anos na liga, a despeito de sua notória lentidão e de uma impulsão que pouco incomoda a equipe de manutenção dos aros dos belíssimos ginásios da liga.

São todas nuanças que hoje ficam realmente bem menores. Agora, nos livros históricos, “Jason Collins” passou de nota de rodapé a capítulo. Pelo menos até chegar o dia em que uma atitude como a dele, sem dúvida corajosa, não precise mais ser enxergada como um marco.

*  *  *

Antes de Jason Collins, em tempos recentes, apenas o pivô John Amaechi, hoje comentarista, assumiu sua homossexualidade. Mas isso aconteceu bem depois de ele ter se afastado das quadras, em sua autobiografia. Além disso, sua carreira na NBA não foi das mais duradouras (foram cinco anos: 1995-96 e de 1999 a 2003). Seu melhor ano aconteceu em 1999-2000, pelo Orlando Magic, na campanha que revelou Doc Rivers como técnico. Com uma rotação frenética de jogadores, sem grandes estrelas (até então Ben Wallace era um desconhecido), a equipe batalhou demais por uma vaga nos playoffs, registrando campanha de 43 vitórias e 39 derrotas, mas terminou com a 9ª posição. Voluntarioso no ataque, Amaechi foi uma surpresa, registrando 10,5 pontos em apenas 21,1 minutos. Depois disso? Ladeira abaixo, defendendo o Utah Jazz como reserva de Karl Malone.

*  *  *

Acreditem. É difícil encontrar um lance de destaque de Jascon Collins no YouTube, devido a sua extrema capacidade de ser discreto em quadra. Mas o jornalista Beckley Mason, do ESPN.com, teve uma ótima sacada diante desse impasse. Se ele não produz jogadas espetaculares, que se espetacularize o seu basquete feijão-com-arroz, mesmo. Com humor, vamos lá:

*  *  *

Jarron Collins, que se graduou com Jason na prestigiada universidade de Stanford, teve ainda menos “sucesso” que o irmão em quadra: está sem clube desde 2011. Sua última sequência relevante, exagerand, aconteceu nos playoffs de 2010, como uma medida provisória do Phoenix Suns vice-campeão do Oeste.

 


Com amistoso marcado, a NBA enfim ratifica descobrimento do mercado brasileiro
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Giancarlo Giampietro

Linha do tempo, vamos lá:

– 1984: Oscar Schmidt é draftado na sexta rodada pelo New Jersey Nets, mas nunca chega a fazer a transição para a liga norte-americana, numa época de raríssimos contatos entre a NBA e o mundo FIBA.

– 1988: vindo da universidade de Houston, a mesma de Hakeen Olajuswon, o pivô Rolando Ferreira é draftado pelo Portland Trail Blazers na 26ª escolha geral, a primeira da segunda rodada, já uma façanha e tanto. Ele encerra sua carreira na liga em apenas uma temporada, com 12 partidas disputadas.

– 1991: João Vianna, o Pipoka, disputa uma partida oficial pelo Dallas Mavericks e marca dois pontos contra o Spurs em San Antonio. Ele assinou contrato no dia 2 de outubro e acabou dispensado em 12 de novembro.

Nenê e o commish

Nenê podia ter sido do Knicks, mas foi para o Nuggets em marco brasileiro na NBA

– 2002: Nenê Hilário é selecionado na sétima colocação do Draft da NBA pelo Knicks, um feito histórico. É repassado de imediato ao Denver Nuggets, pelo qual jogou até o ano passado, quando foi trocado para o Washington Wizards. Em sua carreira, já tem garantidos mais de US$ 100 milhões apenas em contrato.

– Junho de 2003: É a vez de Leandrinho seguir a rota traçada pelo pivô são-carlense e deixar o basquete brasileiro para se preparar exclusivamente para o Draft. É selecionado pelo Spurs na 28ª escolha para ser repassado para o Phoenix Suns. Pelo clube do Arizona, foi eleito o melhor sexto homem de 2007, sendo um dos melhores arremessadores de três pontos do campeonato por dois anos seguidos.

– Setembro de 2003: Alex Garcia impressiona o técnico Gregg Popovich na disputa da Copa América no Porto Rico e assina como agente livre com o San Antonio Spurs. É dispensado em junho de 2014 e logo contratado pelo New Orleans Hornets. Acabou dispensado pelo novo clube em dezembro daquele ano.

– 2004: seguindo, uma rota diferente, o pivô Rafael Araújo, o Baby, é o oitavo no draft daquele ano, tendo se formado pela universidade de BYU – ao contrário do que teve no basquete universitário, porém, sua carreira na liga profissional dura apenas três anos, até que seu contrato com o Utah Jazz expirou em 2007. No mesmo recrutamento, Anderson Varejão sai em como o número 30, a primeira escolha da segunda rodada, pelo Orlando Magic, mas já é negociado pouco depois para o Cleveland Cavaliers. É ídolo da torcida.

– 2006: Marquinhos, com os mesmos agentes de Nenê e Leandrinho, também tenta a sorte nos EUA e é escolhido na posição 43 do draft pelo Hornets. Fica dois anos no clube, joga pouco (26 partidas no total) e é trocado nem fevereiro de 2008 para o Memphis Grizzlies, que não renovou seu contrato.

Alex, o da NBA

Alex, em novembro de 2004: um Hornet

– 2007: Tiago Splitter, jogando na Espanha, cai no colo do San Antonio Spurs no final da primeira rodada, novamente com a escolha 28, mas dessa vez o clube texano mantém o brasileiro. O pivô jogou mais alguns anos pelo Baskonia até se transferir. Virou titular na atual temporada e deve chegar bem cotado ao mercado.

– 2010: Paulão Prestes é escolhido pelo Minnesota Timberwolves, na segunda rodada (45ª), é aproveitado em jogos de liga de verão, mas não chega a firmar um contrato.

Esse é o campo esportivo.

No dos negócios, a liga desenvolveu seus laços com o país de modo bem tímido – ao menos do ponto de vista oficial, já que seu marketing já era disseminado por meio de suas partidas, site e produtos importados.

Numa teleconferência de imprensa láaaaaaa atrás em 2000, antes mesmo da chegada de Nenê a Denver, o comissário David Stern já ventilava a possibilidade de fazer um amistoso de pré-temporada no brasil. Lembro que, na mesma conversa, ele afirmava que dois jogadores brasileiros tinham chances de entrar na liga num futuro próximo: Guilherme Giovannoni e Jefferson Sobral. A história acabou sendo outra.

De todo modo, uma vez com Maybyner Hilário contratado, a NBA tinha, enfim, alguma âncora firme para evoluir com seus negócios. Mas foi bem aos poucos. O país recebeu algumas das edições do programa “Basketball Without Borders”, um camp coordenado por dirigentes e técnicos de suas franquias, reunindo alguns dos principais jovens jogadores do continente. O último foi em 2011, no Rio. Eventos esporádicos também foram realizados.

BWB no Rio

Atividade do BwB no Rio em 2011

Até que de um ano para cá as coisas esquentaram. Em 2012, começou a operar um escritório da liga no Brasil, localizado no Rio. “O país que receberá o Mundial de futebol e a Olimpíada chama a atenção do mercado internacional”, disse na época o vice-presidente da NBA para a América Latina, Phillippe Moggio, ao repórter Daniel Brito, então da Folha de S.Paulo (texto na íntegra para os assinantes). O próximo passo foi a criação de uma loja oficial online: “Vemos o Brasil como terceiro mercado para a NBA [atrás de EUA e China], é muito importante, pelo crescimento do país, seu bom momento, além da Olimpíada. É uma oportunidade muito grande”, disse Moggio.  Na ocasião, o dirigente garantiu que chegaria ainda o dia em que o país teria um jogo de pré-temporada, pelo menos. “É um compromisso que temos”, afirmou.

Durante a década passada, esse tipo de discurso havia sido repetido tantas vezes, em diversas ocasiões, que sempre foi recomendado um tico de desconfiança. Dessa vez não foi apenas falácia, enfim chegou o dia: 12 de outubro de 2013, com Washington Wizards enfrentando o Chicago Bulls na Arena HSBC, do Rio.

Ter uma arena de primeiro nível sempre foi visto como um grande impasse para a realização de um amistoso ou jogo da liga por aqui. O ginásio escolhido no Rio de Janeiro está de pé desde 2007, quando abrigou os Jogos Pan-Americanos. Na ocasião, apenas como espectador do evento, Leandrinho me disse o seguinte a respeito: “Com certeza (a arena) pode receber qualquer evento da NBA. Garanto que muita gente viria para o ginásio apoiar um time que tenha algum dos brasileiros”.

Em termos de infra-estrutura, a sede não mudou tanto assim para que pudesse ser esse o difrencial na decisão anunciada nesta terça-feira pela turma de Stern. A marcação do amistoso, enfim, ratifica o descobrimento do Brasil, como mercado, pela NBA.


Rodman vira embaixador em visita a ditador norte-coreano apaixonado por basquete
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Giancarlo Giampietro

Sr. Rodman, embaixador

CIA, que nada: mandaram o Rodman, mesmo, para a Coreia do Norte

Numa situação política absurda, realmente faz sentido ter um Dennis Rodman como embaixador.

Antecessor de Ron Artest – aquele que tem um fantástico mundo só dele, relatado aqui em casa – na prática do lunatismo na NBA, o “Verme”, um dos melhores defensores e reboteiros da história, foi convocado pelo produtor Shane Smith para rodar um epsódio de sua série “Vice” na Coreia do Norte. Isso depois de ele ter descoberto que o basquete e, mais especificamente, o mítico Chicago Bulls dos anos 90 conseguiam vencer qualquer resistência do regime norte-coreano com o que esteja etiquetado como made in USA.

Smith, que realizou dois documentários no país asiático, mal podia acreditar quando se deparou com uma bola autografada por Michael Jordan estava exposta no museu nacional, na Sala dos Troféus. Segundo consta, o “artefato” havia sido entregue a King Jong-il em 2000. O falecido ditador a teria como um tesouro, como prova de sua curiosa admiração pelo esquadrão comandado por Phil Jackson. “É estranho porque, quando você chega lá, tudo é muito anti-Americano. As crianças norte-coreanas são alimentadas com propaganda anti-Americana basicamente desde o dia em que nascem. Mas é OK gostar de basquete americano”, relata o produtor.

Se voltar a visitar o país acompanhado de Michael Jordan sempre foi algo, digamos, nada realista, a melhor ideia possível era  chamar Rodman, mesmo. “Dennis topa tudo e qualquer coisa”, resumiu Smith, que também contou alguns Globetrotters para formar uma equipe para a brincadeira que deve durar algo em torno de quatro dias em Pyongyang. O grupo vai participar de um acampamento para ciranças e de alguns amistosos contra combinados norte-coreanos. Mas o grande objetivo, mesmo, seria uma reunião com Kim Jong-un, líder que teria herdado de seu pai a devoção ao basquete.

Sim, Rodman na mesma mesa com o homem que nem pode ouvir falar de Barack Obama.

Não é de se esperar que de um eventual encontro entre essas duas… Hã… distintas personalidades saia qualquer resolução sobre os prometidos testes nucleares por parte do Exército norte-coraeno.

O Verme talvez precisasse de uma ajuda de Artest nessa.

*  *  *

Com 2,01 m de altura (oficiais, diga-se, embora digam que ele não chegasse a tanto), Rodman liderou a NBA por sete anos seguidos em rebote por jogo, de 1991 a 1995, jogando por Pistons, Spurs e Bulls. Sua melhor média aconteceu em 2001, com incríveis 18,7. Em sua carreira, foram 13,1 por partida.

*  *  *

Rodman se despediu da NBA na temporada 1999-2000, como jogador do Dallas Mavericks, aos 38 anos, e média de 14,3 rebotes (!). Ele dormia na mansão do proprietário da franquia, Mark Cuban. O namoro entre os dois excêntricos durou pouco: foram apenas 12 partidas ao lado do então adolescente Dirk Nowitzki, em seu segundo ano na liga. Na ocasião, ele ventilou a seguinte ideia: queria enfrentar o comissário David Stern em uma luta de boxe. “Gostaria que eu e David Stern pudéssemos colocar umas malditas luvas e subir no ringue”, disse. 😉

*  *  *

Apenas um jogador coreano esteve em quadra pela NBA. No caso, um sul-coreano. Foi o pivô gigante Ha Seung-Jin, de 2,21 m, ex-pivô do Portland Trail Blazers, o qual defendeu entre 2004 e 2006. Ele chegou a ser titular em quatro partidas e teve como recorde os 13 pontos anotados em um confronto com Los Angeles Lakers em 2005. De modo inacreditável, porém, deve ser mais lembrado por sua contribuição ao status de Jail Blazers da franquia do Oregon na década passada, quando resolveu sair no tapa com o bósnio Nedzad Sinanovic (2,22 m de altura!!!), depois de um nada inspirado confronto mano-a-mano em quadra, durante treinos de pré-temporada. Hoje aos 27 anos, Seung-Jin atua na liga nacional de seu país.


Geração lituana ganha seu próprio documentário: “The Other Dream Team”
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Giancarlo Giampietro

 

A seleção lituana de 1992 - "O Outro Dream Team"

Olha o visual de gente livre que eram os lituanos em 1992

Vamos deixar as coisas bem claras, pela ordem:

– o blogueiro não é filiado ao PCdoB, nem ao PCB – até porque os personagens do post queriam distância do regime nos anos 90;

– blogueiro nunca participou de um comício comunista (nem liberalista, diga-se) – idem;

– o blogueiro não está envolvido com os produtores do documentário abaixo – apesar de ter escrito recentemente sobre o Sabonis pai e o Sabonis caçulinha por uma coincidência dessas que até irritam, sabe?

Feito o esclarecimento, nos sentimos livres, então, para falar mais um pouco sobre o basquete lituano. Sim, eles mais uma vez. Mas agora vamos muito além do clã Sabonis e lembrar um pouco sobre a segunda grande história das Olimpíadas de Barcelona-1992. Se fazem 20 anos da aparição daquele “Dream Team” de que todos ouvimos falar, também dá para comemorar as duas décadas da seleção báltica que conquistou o bronze naqueles Jogos, uma medalha histórica.

The Other Dream Team, poster

Cartaz do documentário

Sabonis era acompanhado pelo brilhante armador Sarunas Marciulionis e pelo ala Arturas Karnisovas, belo cestinha, entre outras grandes figuras que são tratadas feito deuses em solo lituano. Foi a primeira grande competição em que o país pôde disputar como uma nação autônoma, fora da alçada soviética. Era um torneio para celebração, especialmente para o basquete, seu esporte de maior tradição. E a festa terminou com um final digno de cinema mesmo: uma vitória por 82 a 78 contra a CEI (Comunidade dos Estados Independentes, que reuniu os cacos do império da URSS). Foi a chance para eles provarem que as glórias soviéticas no basquete passavam muito pelo talento daqueles lituanos forçados a defender outras cores. É célebre a ausência do superpivô no pódio devido a sua bebedeira nos vestiários depois do jogo.

Essa história toda está, claro, muito mais bem contada no documentário “The Other Dream Team”, veiculado no Festival de Sudance deste ano, de autoria de Marius A. Markevičius. David Stern, Yao Ming, Bill Walton, Donnie Nelson, Pau Gasol e outras grandes personalidades do basquete estão entre os entrevistados estrangeiros, além das estrelas do filme.

 Entre os causos detalhados está o apadrinhamento da seleção lituana pelo grupo cult-hiponga californiano Grateful Dead, que ajudou sua preparação financeiramente e providenciou as tresloucadas camisetas que os atletas usaram em Barcelona, com a caveira que enterra, desenhada pelo artista plástico Greg Speirs. Veja mais no trailer abaixo.

Para o basqueteiro de plantão, a Lituânia deve ser realmente o país dos sonhos, em que o bola ao cesto é tratado como religião. Um país que sempre dá um jeito de produzir craques atrás de craques, embora não tenha a economia mais poderosa e nem a maior população da Europa. O jovem pivô Jonas Valanciunas, do Toronto Raptors, é hoje quem tem a missão de conduzir essa tradição. Independentemente do sucesso que obter com as novas gerações, com o lançamento desse promissor documentário, ao menos os grandes talentos produzidos em sua terra já têm memória garantida por um bom tempo.

 


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