Vinte Um

Arquivo : D-League

Caboclo bate recorde pessoal pela D-League. Aprecie com moderação
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Caboclo vai para a cesta: sua melhor atuação pela D-League

Caboclo vai para a cesta contra filial do Pistons: sua melhor atuação pela D-League?

É realmente muito tentador. Você assiste a uma partida dessas, vê os números e já quer sair por aí batendo o tambor, passando a mensagem: Bruno Caboclo, Bruno Caboclo e Bruno Caboclo.  Nesta segunda-feira, o jovem ala brasileiro voltou a jogar pelo Raptors B pela D-League e marcou um recorde pessoal de 31 pontos em vitória tranquila sobre o Grand Rapids Drive, a filial do Pistons, por 136 a 105.

Independentemente do contexto – nível do oponente, intensidade defensiva, estilo de jogo da liga –, foi uma atuação para se tomar nota, mesmo, com o sorriso armado. Provavelmente sua melhor nesses dois anos de profissional nos Estados Unidos, o que causa um certo frisson na internet basqueteira brasileira. Mas é aí que você tem de tirar o pé e recomendar algo básico. Não tem problema se animar com o progresso do rapaz de 20 anos. Só aprecie com moderação, no entanto:

Antes de falarmos sobre o apanhado diversificado de cestas acima, parece ser mais importante discutir as ressalvas. Não é porque Bruno anotou 31 pontos em 36 minutos em Grand Rapids que, de uma hora para a outra, está pronto para jogar uma Olimpíada. Pelo menos não daqui a pouco, no Rio de Janeiro.

Este foi o ápice do brasileiro com a camisa dos 905s, é verdade, mas que tem de ser avaliado dentro do que vem sendo sua temporada. Vejam só: em suas últimas três partidas pela equipe de Mississauga, ele havia somado exatamente… 31 pontos, amassando o aro, com apenas 10 cestas em 32 tentativas. E o que tiramos disso tudo, entre pontos e altos? A média, claro: o ala jogou outras 34 partidas neste campeonato, com de 14,4 pontos, 6,3 rebotes, 1,1 roubo, 1,6 toco e 1,7 assistência em 33,7 minutos, com 39,8% de aproveitamento nos arremessos, 33,9% nos tiros de três e 73,3% nos lances livres.

Já muda um pouco de figura, não?

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Na hora de pensar sobre Caboclo, não dá para perder de vista de que este é apenas seu segundo ano efetivo como jogador adulto, e olhe lá. Se formos mais rigorosos, é como se fosse o primeiro, na verdade, já que a temporada passada foi muito mais de aclimatação a um país diferente, ao estilo de vida de NBA, a uma realidade totalmente diferente e que tem suas armadilhas. Ele mal viu a quadra, gente. Estamos falando ainda de um projeto, não de uma realidade técnica.

Isso para não falar da pressão. Caboclo não está apenas desenvolvendo suas habilidades sob a batuta dos técnicos do Raptors. Também está em processo de amadurecimento. Hoje ele pode não travar mais na hora de dar uma entrevista, como aconteceu há três anos, para o SporTV, mas ainda é um garoto nada acostumado a grandes partidas. Quando entra em quadra em Toronto, com o ginásio bombando, o placar já está resolvido, e a torcida está pronta para aplaudir qualquer uma de suas ações.

Não sei o quanto é empolgação com o potencial evidente do garoto, ou quanto se subestima seus concorrentes de seleção brasileira e o mundo Fiba em geral. De todo jeito, bom que se diga: quando as 12 seleções olímpicas se reunirem na Barra da Tijuca, serão pouquíssimos os ‘amadores’ por lá. Até porque a grande maioria dessas equipes vai escalar justamente grandes nomes da NBA, ou de clubes do mais alto nível europeu. Outro nível, ooooooutra história.

Jogar e produzir pela D-League não é pouco. Contra o Grand Rapids, o caçulinha foi marcado em diversas posses de bola pelo veterano Dahntay Jones, um ala que sobreviveu na grande liga americana por mais de 10 temporadas graças a sua tenacidade na defesa. Aos 35 anos, seu físico não é mais o mesmo, mas ainda seria tranquilamente um cara que, se interessado, poderia descer o continente e ajudar algum time venezuelano a ir longe na Liga das Américas, tal como fez Damien Wilkins pelo Guaros de Lara. Caboclo não se importou e fez o que bem entendia. A cada jogo, o ala vai enfrentar atletas com este perfil, ou caras mais jovens que não desistem do sonho de uma promoção. A capacidade atlética da liga menor é de embasbacar, e a sede por um contrato valioso, nem que seja com o Sacramento Kings, implica em uma competitividade traiçoeira.

>> Entrevista Felício aproveita ao máximo aos minutos em Chicago
>> Felício causa boa impressão geral em estreia pela D-League
>> As anotações de um scout da NBA sobre Caboclo, Bebê e Felício

Ainda assim, a D-League pode ver a grande maioria de suas partidas descambar para uma pelada, principalmente pelo prevalecimento dos interesses particulares em detrimento do sucesso coletivo de um time. Basta espiar o placar dos jogos em geral para se ter uma ideia (103 a 105…). De modo que a dinâmica dessas partidas não poderia ser mais diferente do que a que a seleção brasileira vai enfrentar no #Rio2016. Se a transição da NBA para a Fiba já pede mais concentração dos veteranos, imagine a da D-League.

Rubén Magnano até poderia chamar o ala para o período de treinos e ver o que dava para tirar dali. O escaldado argentino, porém, já deu a entender, para além das entrelinhas, que essa hipótese tem chance praticamente zero de ser aplicada – para constar, o mesmo raciocínio vale para Lucas Bebê. Difícil discordar dessa lógica, ainda mais para alguém que tem sido tão metódico na formação de seu grupo – com os mais jovens pagando pedágio em um Sul-Americano aqui, outro período de testes ali, antes de serem incluídos em torneios de expressão. Aconteceu com Raulzinho e Rafael Luz. Leo Meindl está passando por isso agora. Lucas Dias, eu ex-companheiro, ao menos já foi para uma Universíade nessa gestão. Caboclo nunca se juntou a time nenhum. (PS: se for para defender a convocação de algum atleta bem mais jovem para o grupo olímpico, estão aí, ao meu ver, as duas possibilidades mais justas. O consistente NBB que Lucas fez pelo Pinheiros vale mais do que a experiência de Bruno neste momento. Mas é pouco provável também que tenha uma chance. Se mantiver sua lógica, Magnano dificilmente convocará alguém de primeira para uma campanha destas.)

Quando selecionou o ala em 2014 na primeira rodada, para surpresa geral, o gerente geral Masai Ujiri se viu obrigado a traçar um plano de longo prazo para desenvolvê-lo. Para a avassaladora maioria dos jogadores em seus contratos de novato, o terceiro ano de NBA já seria de graduação. Eles dificilmente disputam a liga de verão e tal. Já ganham passe livre para conduzir seus treinamentos nas férias do jeito que bem entenderem. Acontece que o ala ex-Barueri e Pinheiros não é um casso corriqueiro desses. Pelo contrário: é um caso especial, com a reputação do prestigiado dirigente envolvida. Eles traçaram um plano de longo prazo, e qualquer que seja a atividade prevista para o verão (setentrional) de 2016, talvez o melhor seja deixar o garoto com eles, mesmo. Em termos de experiência, para reforçar sua confiança, é provável que mais uma liga em Las Vegas seja mais proveitosa do que duas semanas de treino com a seleção.

Enfim, com tudo o que está na mesa, uma Olimpíada não é uma competição para testes e experiência, e aqui voltamos ao jogo desta segunda e ao campeonato de Caboclo em geral. Nesta segunda, sua exibição ofensiva foi uma maravilha, consistentemente atacando o aro. Nesses movimentos, vai lembrar invariavelmente a imagem de Giannis Antetokounmpo, devido ao corpo esticado toda a vida e a uma facilidade impressionante de chegar ao aro. Mal precisa saltar, mal precisa correr. Duas passadas, braço esticado, e pumba, como vemos no vídeo acima. Segue seu quadro de arremessos na noite:

Quando chegou ao garrafão, não houve quem o impedisse de fazer a cesta. De resto, de fora, ele teve muita liberdade para matar seus arremessos, mas não conseguiu, com exceção do cantinho esquerdo da quadra

Quando chegou ao garrafão, não houve quem o impedisse de fazer a cesta. De resto, de fora, ele teve muita liberdade para matar seus arremessos, mas não conseguiu, com exceção do cantinho esquerdo da quadra, sua área preferida há um tempo. O final de sua mecânica de arremesso ainda é inconstante. Há uma ligeira tendência para que suas mãos se abram em direções opostas, alterando a direção do chute, que em diversas ocasiões apenas tocava no aro de raspão

Como fica mais evidente, dá para dizer que os técnicos do Raptors têm trabalhado com Bruno o tipo de ataque que a NBA “dos números” pede hoje: ou você chuta de três, ou vai tentar a finalização lá pertinho da tabela. As bolas “mais eficientes” segundo o cânone recente. Agora, essa opção também tem a ver com as próprias limitações do brasileiro. Vai demorar ainda que apareça um jogo de média distância para ele – este, aliás, já é um tipo de arte perdida na liga. São raros os jovens que chegam com esse tipo de repertório, como o ala TJ Warren, do Phoenix Suns. Para não deixar dúvida, este é o seu quadro de arremessos de toda a temporada:

 No geral, Caboclo ainda tenta mais de 50% de seus arremessos no perímetro (53,1%), quantia bastante elevada. Apenas 7,5% de seus pontos vêm de média distância, enquanto 31,3% saem no garrafão


No geral, Caboclo ainda tenta mais de 50% de seus arremessos no perímetro (53,1%), quantia bastante elevada. Apenas 7,5% de seus pontos vêm de média distância, enquanto 31,3% saem no garrafão, quantia que deve aumentar consideravelmente, se o plano dos técnicos for aplicado, algo que deu muito certo contra o Grand Rapids e, esperamos, passe a virar rotina

Percebem o contraste de cores, certo? O quadro de baixo dá um panorama bem mais honesto sobre o tipo de cestinha que Caboclo é. As diversas manchas vermelhas acima mostram que há muito o que ser feito ainda, e sem pressa. O Raptors 905 não se importa com isso. O que vale aqui é que, no futuro, o brasileiro tenha sido capaz de aprender com seus erros e acertos, assimilar os treinamentos, ganhar cancha e, enfim, contribuir para o time de cima.

Contra o Grand Rapids, Bruno foi quase sempre utilizado numa formação flexível (exceção feita quando a quadra era congestionada pelo imenso Sim Bhullar, que mais parece uma criação de efeitos especiais). O brasileiro era basicamente  um homem na linha de frente, em vez de nos apegarmos a definições como “3” ou “4” – no futuro, para alguém de seu biótipo, poderá marcar praticamente todos os tipos de jogadores.

Para além dos 31 pontos, um ótimo sinal dessa partida foi o fato de que, quando o Raptors B jogou bem, Caboclo foi junto. Isto é: quando a bola girou de mão para mão, com os atletas em constante deslocamento, espaços foram abertos, e o ala soube aproveitá-los com suas infiltrações, em vez de estacionar no perímetro e exagerar na dose em seus arremessos de três pontos. Ele se movimentou com leveza pela quadra e tratou de envolver seus companheiros. Precisamos sublinhar isso: diversos scouts se manifestaram com preocupação ao blog durante a última liga de verão em Las Vegas sobre a “fome” do ala em quadra. Para quem havia jogado tão pouco, achava natural que acontecesse. Durante a temporada da D-League, no entanto, isso voltou a se repetir em diversas ocasiões. Aparentemente, o brasileiro se apresentou dessa vez ao Raptors 905 disposto a atacar de outra forma, e deu muito certo. Foi uma atuação extremamente produtiva, buscando a cesta, mas serenamente, sem forçar a barra. Vamos ver se vai conseguir repetir esse padrão, mesmo sem tanta eficiência assim, nas próximas rodadas.

Apelando à prudência, todavia, um fator importante para se ter em mente é que, tanto para o Raptors, hoje um candidato ao título, como para a seleção, o raciocínio é o mesmo, por ora: o jogador não chegaria para ser cestinha. Suas prioridades mais imediatas são a defesa e a capacidade de executar pequenas tarefas.

Um parêntese estatístico, então, para alertar mais uma vez o perigo de se guiar apenas por números: a linha de Caboclo mostra apenas uma assistência e cinco roubos de bola em 36 minutos. Deduzíramos, então, o quê? Que foi um fominha e um terror na defesa, e não teve nada disso. Vários dos passes do brasileiro resultariam em assistência para um companheiro, assim como boa parte dessas bolas recuperadas vieram em passes interceptados por um seus parceiros também, com o roubo sendo computado a seu favor simplesmente por ter feito o domínio.

Em geral, Caboclo ainda se confundiu muito em posicionamento. Quando envolvido em situações de pick and roll no terceiro período, por exemplo, durante breve reação do adversário, recuou, mas não conseguiu dar conta nem de bloquear o baixinho com a bola em mãos, nem em contestar seu oponente do modo desejado. A impressão que passa é a de que Bruno ainda conta muito com sua envergadura para recuperar terreno e fazer a marcação. As ferramentas estão aí para serem usadas, mesmo, e, com braços dessa extensão, é como se estivesse perto da bola sempre. Mas, se bem posicionado, pode se tornar um defensor realmente implacável, intimidador.

Num jogo tão complexo como o basquete, em que o comprometimento de uma peça pode acabar com toda uma engrenagem. Isso ainda vai pedir um pouco de paciência ainda, e, pensando lá na frente, faz bem ver o quanto ele pode render quando joga solto e confiante como nesta segunda-feira. Sua linha de tempo, no momento, só difere daquela que vale tanto para o Toronto como para a seleção: um time destronar o Cavs no Leste, enquanto o outro sonha com o pódio. Para a temporada que vem, em relação ao seu clube, pode ser que mude, dependendo do que fizerem nos playoffs e de como vão se comportar no mercado de agentes livres. Uma hora essas linhas vão coincidir – pelo menos é o que Masai Ujiri espera. Se tudo der certo, Tóquio 2020 já chega.


Com repertório expandido, Felício causa boa impressão geral pela D-League
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Felíco x Jeff Ayres, ex-Spurs

Felíco x Jeff Ayres, ex-Spurs

Quando um time de NBA perde um pivô com todas as habilidades de Joakim Noah, tende a se enrascar. Mas não o Chicago Bulls. Para Fred Hoiberg, isso significa dar mais minutos para Taj Gibson mostrar seu confiável arremesso de média distância e cobrir terreno com movimentação lateral invejável. Pau Gasol também vai ganhar mais espaço para fazer das suas no garrafão, enquanto Nikola Mirotic tem mais chances para encontrar o rumo da cesta. Ah, e claro, para não falar do hiperprodutivo Bobby Portis, o calouro número 22 do Draft que parece ter sido escolhido, no mínimo, 12 posições mais cedo. Estamos falando já de quatro caras mais que competentes para compor uma linha de frente, e o quinto homem seria um grandalhão pouco ágil ou atlético, mas que faz parte da seleção australiana, é grande, forte, adora uma pancadaria e tem bons fundamentos para ajudar no andamento de um treino e tal.

Pensando nesse mundaréu de gente, não deixava de ser uma grata surpresa que o escritório gerenciado por John Paxson, operando sob as ordens do quase sempre avarento Jerry Reinsdorf, tenha, num primeiro momento, contratado Cristiano Felício e, agora, nesta semana, garantido seu contrato até o final a temporada. Lembremos que, numa decisão rara, o proprietário do clube já havia topado ultrapassar a temida “luxury tax” em US$ 5 milhões neste ano e ainda não viu problema em pagar mais US$ 500 mil para o pivô brasileiro.

Agora, ao vê-lo em ação nesta semana pelo Canton Charge, da D-League, jogando com desenvoltura, energia e repertório expandido, após ter disputado apenas duas partidas pela temporada regular, sem que tivesse entrado em quadra desde o dia 27 de novembro, o voto de confiança e a aposta no mineiro de Pouso Alegre parecem mais do que justificado. Parecem certeiros.

>> Como foi a estreia de Caboclo e Bebê pela filial do Raptors?
>> As anotações de um scout da NBA sobre Caboclo, Bebê e Felício

>> Nada de férias! Análise sobre a liga de verão de Bruno Caboclo
>> Nada de férias! Análise sobre a liga de verão de Lucas Nogueira
>> Problemas dentro e fora de quadra: desenvolvimento intrincado

Ok, não vamos julgar nada com base em duas partidas e 50 minutos pela liga de desenvolvimento. Mas é que, como brasileiros, temos uma vantagem sobre os americanos, né? Pelo menos em relação aos scouts que não tenham feito o dever de casa ao acompanhar o pivô que despontou em cenário internacional na mesma turma de Raulzinho e Lucas Bebê, o tendo se exibido para os olheiros mais atentos em 2011.

Não que os Bulls fossem os únicos antenados. Sei de dois clubes da Conferência Oeste que ao menos colocaram o nome de Felício em pauta para a composição de seus elencos de verão, mas nenhuma oferta foi feita. Um desses clubes esteve no Brasil para avaliar a garotada do Pinheiros e também inseriu seu nome no caderno de notas. Outro adorou o que viu de seus amistosos pelo Flamengo no giro de pré-temporada em 2014. Além disso, claro, pôde ser observado no adidas Eurocamp de Treviso no ano retrasado, seu bom desempenho não foi o suficiente para lhe valer uma vaga no Draft.

Como vemos agora, um ano e meio depois, não era o fim do mundo. Nesta semana, depois de cerca de um semestre de treinos com a comissão técnica de Hoiberg, pudemos ver um atleta com truques novos, enfrentando jogadores de NBA, ou que tentam voltar para lá, além de veteranos aspirantes e universitários recém-formados de sua idade, angariando mais fãs.

“Felício desenvolveu um arremesso de três pontos. Se ele puder sustentar isso, estamos falando de um cara que vai ficar muito tempo na liga”, avaliou um scout presente no ginásio do Santa Cruz Warriors, que recebe o chamado “Showcase” da D-League, com todos os clubes menores reunidos para uma série de partidas da temporada regular, agrupadas, em sequência.

Agressão
Um pouco do que Felício fez na primeira partida do Charge por estes jogos valem mais que uma exibição está aqui:

E aí já dá para reparar em como o arsenal do pivô revelado pelo Minas Tênis apresenta uma surpresinha ou outra. A começar pelos arremessos confiantes de longa distância, devidamente destacados pelo olheiro acima, e um diferencial que, sabemos bem, mais da metade da liga está buscando em seus grandalhões. Contra o Idaho Stampede, ele matou duas em quatro tentativas, sendo que a quarta foi desequilibrada, no estouro do cronômetro ofensivo. Os ataques a partir do perímetro também envolvem arremessos de média distância, do tipo que arriscava pelo Flamengo.

Mas há algo mais interessante aqui. Não é que o brasileiro tenha dado ‘apenas’ um ou dois passos para trás e expandido seu alcance no chute. Ele não parou por aí, literalmente, pois também vem apresentando movimentos calculados e inteligentes em direção ao garrafão quando não está em posição confortável para atacar o aro. Um lance no segundo tempo exibido no clipe acima mostra o jogador buscando a infiltração e finalizando de canhota com muita categoria. Da mesma forma que fez aqui na primeira partida pelo Charge contra o Oklahoma City Blue:

É uma bolaça, hein? Convenhamos. O que chama a atenção é novamente a conclusão com a mão trocada e a paciência que ele teve para iniciar a jogada, cortando da direita para a esquerda, sob controle. Alguém se lembra de ver uma ação semelhante por sua parte durante os títulos do Flamengo pelo NBB? Não me bate na telha, não. Felício esteve sempre em calmo no ataque, sem se precipitar para nada, tomando decisões corretas. Cometeu dois turnovers na primeira partida, mas não foi nada de alarmante. Em um deles, a arbitragem viu o uso indevido do braço na hora de se proteger e buscar a cesta cortando pelo fundo de quadra.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Também não forçou a barra para buscar números e glória, mesmo que não jogasse há tempos. A diferença é que, comparando com Caboclo e Bebê, Felício ao menos teve muito mais tempo de quadra nas últimas duas temporadas pelo Flamengo, ainda que, em muitos momentos, a impressão era a de que ele pudesse ser muito mais utilizado, e seus lances pela D-League americana assim como a dominância na LDB brasileira comprovam isso. Felício pode ser muito mais do que um jogador de corta-luz e rebote no ataque. Sua habilidade como passador é bastante subestimada.

Em meia quadra:

Ou mesmo em transição:

Importante notar que o brasileiro nunca havia jogado com nenhum de seus companheiros antes. O Canton Charge é a filial do Cleveland Cavaliers, que curiosamente quebrou um galho para o rival de Divisão Central. Então na hora de fazer o corta-luz para seus armadores, abrir para o chute, ou mergulhar em direção ao garrafão, as coisas não saíam muito naturais. Falta química, claro. O entrosamento é mínimo. A despeito dessa limitação séria, se saiu bem. É preciso dizer também que ele tem bons jogadores ao seu redor, como os armadores Quinn Cook, campeão universitário por Duke e Coach K, e Jorge Gutiérrez, o mexicano ex-Bucks e Nets, o ala-pivô Nick Minnerath, versátil demais e que estaria ganhando uma boa grana na Europa, o ala John Holland, que joga por Porto Rico, e o ala CJ Wilcox, chutador cedido pelo Clippers. Ajuda ter gente qualificada ao lado, com instruções do técnico espanhol Jordi Fernandez, que trabalhava com academia Impact nos EUA.

Felício conquistou o respeito desses caras. Não basta ter o selo de NBA se não for para justificá-lo. Em termos de atitude, o brasileiro também se mostrou motivado, vibrando com as cestas dos parceiros. Essa atitude positiva se traduziu em energia em quadra, algo que nem sempre acontece no caso de enviados da liga de cima, que podem encarar a passagem pela D-League como um rebaixamento e algo de se envergonhar. Bobagem e egocentrismo exagerado, claro, em vez de se aproveitar a chance. Pois o pivô correu muito bem a quadra toda, com muita disposição e, contra a filial do Thunder, bateu seus adversários consistentemente. Veja esta sequência em que ele ganha o rebote num tapinha e já inicia o contra-ataque para concluí-lo de forma enfática:

Que tal a agressividade? Em detalhe:

Está aí outra abordagem que não era lá tão comum nos dias rubro-negros. Felício está buscando a cravada e o toco, está jogando acima do aro, e isso, no seu caso, vale muito mais como termômetro de intensidade e conforto em quadra do que pelo show:

Então temos isso hoje: um pivô que desenvolveu seu arremesso, sabe quando utilizá-lo, pode por a bola no chão e finalizar com autoridade ou categoria perto da cesta, podendo marcar 35 pontos em 50 minutos, com aproveitamento de 65,2% de quadra. Sai jogo daí, pelo menos no nível da D-League, por ora, aos 23 anos.

Agora, pensando em NBA, todas essas informações são bem relevantes, mas não necessariamente essenciais. Pois, num primeiro momento, tanto o Bulls como a concorrência não vai procurar neste showcase um jogador de referência, para carregar o ataque titular ou da segunda unidade. A prioridade dos scouts é encontrar peças complementares, para ajeitar a rotação. Que possam produzir algo no ataque, mas que, essencialmente, cuide bem das coisas do outro lado. “Rebotes, defesa, jogar duro e de forma inteligente: são essas as chaves para ele”, afirma outro scout ao blog.

Contenção
Contra o OKC B, Felício pegou apenas três rebotes em 27 minutos. Um problema? Não, pelo menos não para que tenha visto o jogo. Este é mais um caso de como se precisa muita calma na hora de falar sobre os números que sejam computados numa súmula de jogo. Foram várias as ocasiões em que o brasileiro simplesmente limpou terreno para que seus companheiros pudessem fazer a captura da bola. Como no vine abaixo, em que consegue conter o corpanzil de Dakari Johnson, um pivô muito promissor vindo da fornalha produtiva de John Calipari em Kentucky:

Felício é um bom reboteiro, com uma base forte nas pernas para guardar posição, excelentes mãos para fazer o controle e tino para se posicionar bem, compensando a impulsão reduzida quando tem os dois pés no chão. Número por número, já foram oito em 22 minutos contra o Stampede.

Na hora de proteger a cesta, uma característica pôde ser notada: Felício se saiu muito melhor contra pivôs mais pesados, que gostem de jogar perto da cesta, do que contra alas-pivôs ágeis e flexíveis que pudessem atacar usando o drible frontal, fora do garrafão. Abaixo, ele consegue segurar Dakari Johnson no tranco. Depois, vê Talib Zanna, mais baixo e leve, lhe contornar. Primeiro, a brecada:

Deu Cesta:

Em quadras brasileiras, Felício já mostrou mais agilidade em seu deslocamento lateral, sendo o tipo de pivô que consegue brecar armadores. Nessas últimas duas partidas, pareceu um pouco mais pesado e lento. Ou talvez seja apenas a relativização de suas habilidades atléticas diante de atletas de primeiro nível, tal como aconteceu em pelo menos três investidas de jogadores do Stampede, deixando o brasileiro para trás. É algo para se acompanhar. Pensando na NBA, é muito mais provável hoje que ele tenha que lidar com Zannas do que Johnsons. É algo que os scouts vão analisar com cuidado.

De toda forma, a impressão em geral no momento é de surpresa e otimismo. Em Chicago, num time que sonha com o título,  com tantos pivôs qualificados acima na rotação, Felício não vai ter muitas chances nesta temporada. Mal vai jogar. Ainda assim, teve seu contrato renovado, o que para ele, no câmbio de hoje, também rende uma gratificante bolada, além da satisfação de (primeiro) dever cumprido. Ao mesmo tempo, Paxson, o gerente geral Gar Norman e o técnico Fred Hoiberg sabem de que tipo de talento estão cuidando. Estão pensando mais longe, pedindo um investimento de Reinsdorf para o futuro. E, assim como aconteceu com Portis, para o restante da liga a capacidade de se seu outro pivô talentoso e novato não é mais segredo nenhum.


Como foi a estreia de Caboclo e Bebê pelo Raptors “B”? Vídeo e observações
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Luas e Bruno retornam a Fort Wayne, mas agora com garantia de minutos

Luas e Bruno retornam a Fort Wayne, mas agora com garantia de minutos

Galera, antes de mais nada, fica o aviso: os jogos da Liga de Desenvolvimento da NBA estão todos disponíveis, gratuitamente, no YouTube e no site oficial do campeonato. Dá para assisti-los ao vivo ou on demand. Agora, isso não fez dessa missão algo fácil: pois o nível do basquete ali pode ser uma dureza de se aturar.

Mas, se é na D-League que Bruno Caboclo e Lucas Bebê vão realmente jogar, com largo tempo de quadra e a liberdade para criar e errar, este é um sacrifício que vamos ter de fazer, né? Analistas, torcedores e, claro, Rubén Magnano.

Pois, lembremos. Todas as notas colocadas aqui, para falar sobre a primeira aventura de Bruno por essas bandas, ainda valem: por mais que a liga caminhe numa direção saudável, para que cada uma das franquias da NBA tenha sua filial, resultando em maior controle sobre o produto apresentado, a grande maioria de suas partidas ainda vai parecer um confronto de bandoleiros.

>> As anotações de um scout da NBA sobre Caboclo, Bebê e Felício
>> Nada de férias! Análise sobre a liga de verão de Bruno Caboclo
>> Nada de férias! Análise sobre a liga de verão de Lucas Nogueira
>> Problemas dentro e fora de quadra: desenvolvimento intrincado

São diversas razões para se compreender esse cenário, e a questão financeira talvez seja a principal delas. Os jogadores que frequentam esse universo ainda ganham em geral muito mal. Seth Curry, por exemplo, que botou fogo na temporada passada, recebeu menos de US$ 50 mil por contrato, até ser chamado por alguns clubes como Grizzlies e Suns e faturar um troco a mais. Por isso, é natural que muitos dos atletas ali em atividade estejam desesperados para receber uma promoção. O que pode gerar uma vibração um tanto individualista em quadra, com gente perseguindo números e façanhas, sem se importar muito com o sucesso da equipe como um tudo.

(Se isso funciona? Claro que não. Os scouts da NBA não estão avaliando estas partidas para descobrir o próximo Michael Jordan. É muito mais provável que seus times estejam precisando mais de um Jud Buechler ou de um Bill Wennington. Ou isso, ou vão atrás de caras mais jovens com potencial atlético de primeiro nível, com a esperança de que seus treinadores possam transformá-los em jogadores efetivos de rotação. Algo que o Warriors fez muito de uns tempos para cá.)

Por mais que os dirigentes do Raptors 905 – ou, o Raptors “B” – se esforcem para montar o melhor elenco possível, a verdade é que, nesse contexto, a mão-de-obra mais qualificada que não tenha deslocado um contrato garantido com a grande liga tende a procurar mercados no exterior, de olho na Europa ou na China. Não sobram taaaaantos jogadores assim para se formar um belo time.

Tudo ainda é um trabalho em progresso para Bruno e o Raptors B

Tudo ainda é um trabalho em progresso para Bruno e o Raptors B

De qualquer forma, no caso do clube fundado em Mississauga, a 22 km de Toronto, a prioridade indiscutível é o progresso da dupla brasileira. O clube comprou sua filial basicamente para que eles possam se testar e serem testados. Claro que não é de uso exclusivo dos brasileiros, mas todo o processo foi acelerado para que Caboclo e Bebê tenham onde jogar. Basicamente isso, ainda mais depois das frustrações encaradas na temporada passada, quando o Fort Wayne Mad Ants não se mostrou tão receptivo assim para utilizar o caçulinha, assim como o jogador deu trabalho nos bastidores, incomodado tanto pela falta de tempo de quadra como pela diferente realidade que encontraria na D-League, em termos de logística, digamos.

Neste ano, com o time de Dwane Casey entrando no páreo novamente com aspirações elevadas, é muito pouco provável que eles deem as caras no time principal. Com DeMarre Carroll, Luis Scola, Bismack Biyombo, Anthony Bennett e mais dois calouros (Norman Powell e Delon Wright), a rotação ficou muito mais forte. Para que eles sejam utilizados, só no caso de excesso de lesões ou de um progresso a passo largo da dupla.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

A diferença agora é que não há mais desculpas. Todo o estafe comandado por Jesse Mermuys, ex-Raptors e Rockets, vai operar sob diretrizes diretas de Masai Ujiri e Casey. O objetivo, aqui, não é vencer e vencer. Mas, sim, desenvolver seus jovens talentos e, aí, sim, se tudo der certo, fazer uma boa campanha.

A jornada começou neste sábado, ironicamente em Fort Wayne, contra o Mad Ants, clube que agora pertence ao Pacers, mas que, na temporada passada, era dividido por mais de uma dezena de franquias, e daí a confusão na hora de se aproveitar os prospectos para lá enviados.

O time da casa venceu por 83 a 80, em partida definida num buzzer-beater. Já deu para ver que Caboclo e Bebê terão espaço para expandirem seu repertório e colocar em prática os trabalhos de fundamento especializados que fizeram com os técnicos do Raptors na temporada passada e também durante as férias. Por exemplo, já tem jogada desenhada para que Bruno finalizasse a partir de uma reposição de bola, envolvendo seu compatriota, por sinal. Vejam:

De qualquer forma, para que os rapazes rendam bem, é preciso que o time esteja organizado – se é que isso vai acontecer, dada a natureza volátil dos elencos e da liga. E, sim, não dá para pedir química de um grupo que foi reunido há menos de um mês e com o qual os dois jovens brasileiros nem treinam em tempo integral. Nessa estreia, o time acertou apenas 40% de seus arremessos de quadra, com 27% de longa distância, conseguiu apenas 14 lances livres e teve o mesmo número de assistências e turnovers (19). De todo modo, tanto Bruno como Lucas foram bem, deram um primeiro passo positivo, com detalhes importantes para serem corrigidos com o tempo.

Do que deu para ver nessa primeira amostra, dá para entender que seus biótipos são aqueles que Ujiri mais valoriza: o time “B” canadense está povoado de atletas longilíneos e ágeis. O ala Michael Kyser, por exemplo, lembra muito Caboclo, que, por sinal, já deve ter batido a casa dos 2,08m de altura.

Seguem, então, alguns clipes e observações sobre a dupla:

Bruno Caboclo
Quanto melhor o time estiver se entendendo, é de se esperar que mais chances ele tenha para atacar em movimentações coordenadas. Por ora, Caboclo ainda não vai pegar a bola, colocá-la no chão e atacar por conta própria. Foram raras as situações em que esse tipo de investida aconteceu neste sábado. A boa notícia é que, quando conseguiu partir para o garrafão, em geral teve sucesso. Vejam essas duas bolas ainda no primeiro período. A primeira veio com direito a giro e finalização em conversão:

Nesta segunda, ele improvisa e consegue converter um arremesso de grau elevado de dificuldade. Não foi a melhor decisão com a bola, mas funcionou – se formos descontar o fato de que ele dá uma passada a mais com a bola, o que aconteceu por ter parado de driblar muito cedo, mesmo que C.J. Fair tenha oferecido um corredor:

E por que deu certo? Além da conivência da arbitragem, repare que em ambas as situações a passada extensa e a envergadura de Bruno o ajudam muito. Especialmente na segunda bola, em que se vê pressionado por Fair e pela cobertura de Rakeem Christmas vindo do lado contrário. Espremido na quina esquerda tabela, consegue soltar a bola por cima de dois defensores bastante atléticos (e muito bem treinados por Jim Boeheim, de Syracuse).

Tomara que não tarde a acontecer que o caçula brasileiro pratique o desapego em relação aos chutes forçados, ainda mais de longa distância. Ainda que, realisticamente, o chute da zona morta seja aquele de maior probabilidade que terá a serviço do time principal, no nível da D-League não faz sentido que ele fique estacionado na linha perimetral, por seguidas e seguidas posses de bola, como mero espectador. Dada a sua ansiedade, quando entrou na linha de passe, o ala se precipitou em diversas ocasiões para dispará-la. Aqui, as únicas duas ocasiões em que o chute rápido, com mecânica elevada e arco fluido, foi certeiro:

No geral, porém, o brasileiro converteu apenas duas em nove tentativas (22,2%), e não por não saber arremessar, mas, sim, por ter se perdido na seleção de disparos. Seja de primeira, com a bola pegando fogo na mão, ou a partir do drible, com direito até a um ousado passo para trás que resultou numa falha feia:

Nem todo mundo é Stephen Curry, Kevin Durant, James Harden ou Carmelo Anthony nesta vida. É aquela bola que pode valer highlight quando cai, mas em geral resulta em pedradas, mesmo. Pois não é fácil. Naaaaada fácil.

Esse tipo de gana pela cesta deve ser dosado aos poucos por Mermuys. Dá para entender de onde vem isso. Estamos falando de um jogador que mal entrou em quadra na temporada passada e que tem apenas 20 anos e pouca ou quase nenhuma rodagem em competições de alto nível. Ainda assim, foi escolhido pelo Raptors numa primeira rodada de Draft e encara, ao seu modo, alguma pressão. Quer provar que é jogador, que o que está fazendo nos treinos já rende frutos, que isso e aquilo. Por outro lado, a comissão técnica e a diretoria têm de cuidar para que o atleta não adquira maus hábitos, que não lhe ajudarão em nada na liga. Uma coisa é tentar ser assertivo, outra, inconsequente.

E não é que Bruno não estivesse olhando seus companheiros. Terminou a partida com quatro assistências, o que o torna basicamente um Magic Johnson quando comparado ao ala Scott Suggs – esse, sim, um fominha profissional.  O ala de 26 anos, revelado pela Universidade de Washington, passou pelo basquete francês na temporada passada e foi testado por Orlando e Miami durante as ligas de verão. Se for para julgar por uma só partida, dá para entender o porquê de não ter ficado. Suggs tratou a bola como se ela fizesse parte de seu corpo e só pudesse ser desencaixada se fosse para um arremesso. Para o volume de jogo, de 20 disparos em 39 minutos e muitos, mas muitos dribles, que ele tenha acabado o duelo sem nenhuma assistência é algo cômico. Ou doentio, escolham.

O mais interessante foi que Caboclo deu duas belas assistências quando também estava em progressão para a cesta, mostrando que, aos poucos, o jogo começa a desacelerar em sua cabeça, e novas perspectivas vão se abrindo, até mesmo como coordenador de um pick-and-roll:

Os números finais de Caboclo: 16 pontos, 13 rebotes, 4 assistências, 3 roubos, 2 turnovers e 6-16 nos arremessos de quadra. Para um jogador que por vezes só corria em quadra de um lado para o outro e, quando recebia a bola, poderia se precipitar com ela, sua linha estatística não saiu nada mal e dá suculentas dicas sobre o seu potencial.

Um parêntese sobre os rebotes: o brasileiro se posicionou bem, salta do chão rapidamente, tem braços enormes, mas em muitas ocasiões simplesmente não estava disputando com ninguém perto de sua cesta (foram 10 defensivos).  Vamos acompanhar a temporada para ver o qual será o nível de produção nesse sentido. Sobre a defesa, em geral, ele se mostrou desatento, dando muita distância para seu oponente, confiando que iria se aproximar devido aos braços e pernas compridas. Nem sempre aconteceu. Fato é que alguém com sua envergadura, mãos e mobilidade precisa flutuar mais próximo ao aro, para coisas como esta acontecerem:

Lucas Bebê
O jogo teve uma dinâmica diferente para o pirulão, que esteve limitado a 21 minutos de ação devido ao excesso de faltas (cinco). Foram duas no primeiro período, com pouco mais de cinco minutos de jogo, e uma terceira logo que ele voltou para a quadra no segundo período, com menos de dois minutos disputados. Para piorar, a quarta saiu quando restavam 9min58s para o fim do terceiro. Quer dizer, ele perdeu basicamente dois quartos de ação. Isso, depois de ter começado muito bem a partida, aprontando coisas assim:

 

Que tenha se perdido com faltas e refreado uma arrancada foi uma pena. O que isso indica? Ferrugem, claro. Falta de ritmo e também sua própria ansiedade, quando ia um pouco além na tentativa de fazer um desarme ou quando saltava antes do tempo para buscar o toco – para alguém de sua envergadura, a verticalidade da qual Roy Hibbert virou símbolo na época de Pacers talvez já fosse o bastante para impedir a cesta ou até mesmo um arremesso. Mais: o carioca ainda sofre com os trancos de jogadores mais fortes e físicos, como Rakeem Christmas, draftado por Cleveland e repassado a Indiana. Ao tentar compensar, pode se ver punido com o apito.

Bebê parte para a bandeja: acionado sempre de frente para o aro

Bebê parte para a bandeja: acionado sempre de frente para o aro

Bebê, ao que parece, nunca vai ser uma fortaleza de jogador, como contraponto a outras figuras recentes que construíram um corpanzil que contradizia o apelido infantil, como Nenê e Baby. Fazer a defesa pela frente, tentando tirar a linha de passe para seu oponente, é o melhor caminho, então, ainda mais com sua agilidade e seus braços compridos. Mas ainda lhe falta força na base para ao menos se proteger de atletas que buscam o contato. Depois das seguidas lesões dos últimos anos, e tão jovem, fica a dúvida também sobre seu condicionamento físico para encarar longas viagens, jogos corridos e pancadaria.

Por que uma coisa está clara, desde a sua breve passagem pelo Mad Ants na temporada passada: se não tiver problemas com faltas, o pivô vai ser candidato ao prêmio de defensor do ano neste nível de jogo. Christmas, que tem sua idade, foi um adversário desafiador, com 24 pontos e 7 rebotes em 32 minutos, com 11-19 nos arremessos. Mas tem sete centímetros a menos e não é tão rápido ou veloz como o brasileiro.

Lucas intimida quando bem posicionado no garrafão. Mesmo quando foi muito além em uma cobertura ou no deslocamento para fechar espaços ao redor do garrafão, tem o pacote atlético que lhe permite a recuperação e a proteção do aro. Mas não é só uma questão de biótipo. Quando concentrado, o pivô apresenta timing excepcional e ainda tem uma capacidade admirável e muito valiosa para dar tocos com as duas mãos, dependendo do lado e do ângulo de ataque. Que tal dois bloqueios com a canhota?

O legal também é notar como o cabeleira sai em disparada uma vez executada a ação na defesa. Bebê acelerou sempre que pôde, como deve fazer. Imagino que seja algo planejado, sugerido por Mermuys, e faz muito sentido. Poucos vão poder apostar corrida com ele.   O que não significa que Lucas seja um jogador de uma nota só. Ou melhor, de um pique só.

Em meia quadra, sendo acionado sempre de frente para a cesta e bem longe de movimentos de post up, ele já tem habilidades muito interessantes, sendo a principal dela a habilidade para concluir o pick-and-roll com elevado índice de acerto. A outra é a visão de quadra. Desde os tempos de Estudiantes que ele se mostra capaz de servir aos companheiros na cabeça do garrafão. Neste primeiro jogo da nova temporada, deu para perceber um novo elemento: ele está autorizado para por a bola no chão e atacar. E aí que lances lindos como este podem surgir:

Tenham em mente que esta infiltração terminada em passe foi feita por um jogador de 2,13m de altura, em meio ao tráfego. Joakim Noah teria ficado orgulhoso, convenhamos. Não foi um lance isolado. Tanto na saída em transição como no ataque em meia quadra, o espigão ganhou liberdade para avançar. Saibam que, quando mais jovem, no Estudiantes, isso seria algo impensável, e talvez muito mais pelo conservadorismo de seus treinadores do que por limitações suas.

Não é que sempre tenha dado certo. Os dois turnovers de Lucas no jogo vieram justamente em situações nas quais foi para o drible. O primeiro foi uma falta ofensiva, quando atropelou um adversário no limiar do semicírculo (por outro lado, foi mais uma jogada em que foi capaz de bater a primeira linha defensiva e ganhar o garrafão, faltando aí a percepção do que estava literalmente a sua frente). O segundo foi na última posse de bola do Raptors 905, a 3s9 do fim, quando a partida estava empatada em 80 a 80, e eles tinham a chance de definir a parada:

A jogada estava desenhada para Caboclo, novamente, como se percebe. Acontece que o Mad Ants estava preparado para isso. Christmas e Shane Whittington, também do Pacers, dobraram para cima do ala, tendo o pivô falhado em tirar Whittington da jogada, aliás. Bebê, então, recebe o passe numa posição complicada e tenta avançar pelo fundo da quadra. Acaba desarmado. O time da casa pediu tempo, e…

Dói, né? Mas faz parte do desenvolvimento de um jogador. Em sua estreia pela D-League na temporada passada, Caboclo errou uma reposição de bola pelo Mad Ants que também lhes custou caro. Acontece. O bom é que, nesta campanha 2015-16, eles realmente terão a chance de compensar essa frustração. A segunda chance, por exemplo, já veio neste domingo, quando este artigo estava prestes a ser publicado.

Seus números finais: 11 ponto, 9 rebotes, 4 assistências, 3 tocos, 2 turnovers em 21 minutos, com 4-6 nos arremessos.

Para Caboclo, a lista de tarefas ainda é ampla e o progresso será bem gradativo, sendo que alguns dos ajustes dependem diretamente de seus treinadores e companheiros. Mais movimentações em direção ao aro, menos chutes tresloucados, mais atenção defensiva, o refinamento do drible etc. Terá espaço para isso. Para Bebê, a questão das faltas é fundamental. Se não conseguir ficar em quadra num jogo da liga menor, dificilmente vai ganhar a confiança de Casey para competir por minutos com Bismack Biyombo. Caso jogue com energia elevada, foco e deixar seus instintos o guiarem em quadra, pode fazer estragos. Nada disso é garantido, e a dupla vai ter de trabalhar duro por mais um ano mesmo que a condição de “jogador de NBA” ainda não seja ratificada para valer neste ano.

Atualização
Deu tempo de assistir ao segundo duelo entre o Raptors 905 e o Mad Ants, em Fort Wayne. Caboclo aparentemente assimilou num estalo as instruções de seus técnicos. Sua seleção de arremessos foi muito melhor, sabendo a hora de atacar e arriscar, deixando que o jogo chegasse até a ele. Ainda que seu time tenha feito uma péssima apresentação, ele foi para o jogo e marcou 25 pontos em 18 arremessos e 34 minutos, com 3-8 para longa distância. Já Bebê se atrapalhou novamente com as faltas, cometendo três no primeiro tempo. Pior: permitiu que isso entrasse em sua cabeça e passou a vagar pela quadra, reclamando de árbitros, companheiros e de si mesmo, numa frustração exagerada. Terminou com 8 pontos e 9 rebotes em 26 minutos. Imagino que vá levar um bom puxão de orelha no retorno ao Canadá.

Que Caboclo tenha feito uma bela partida neste domingo só pode pegar bem para o seu currículo. Pois havia um espectador ilustre em Fort Wayne: Larry Bird. Sim:

Larry, the Legend

Larry, the Legend

O chefão do Pacers provavelmente estava mais interessado em observar Christmas e Whittington, mas certamente tomou novas notas sobre Caboclo. Novas? É, pois é. Rumo ao Draft de 2014, posso afirmar que o Indiana era um dos clubes mais interessados no jovem brasileiro. Talvez só atrás mesmo do Raptors.


Nada de férias! Como foi a liga de verão de Bruno Caboclo?
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

É verão!

No Hemisfério Norte, digo. A estação do ano mais comemorada pelos caras lá de cima, que tanto sofrem durante inverno e outono com temperaturas abaixo de zero, e tal. Se aqui no Brasil estamos bastante mal acostumados com temperaturas calorosas durante boa parte do ano, em terras austrais a chegada das férias e do sol ganha proporções milagrosas. Eles arrumam as malas e vão para a estrada, mesmo, para curtir até o último dia que der. Que o diga Chevy Chase.

Para Bruno Caboclo, porém, depois de tanto frio que passaram em Toronto, andando pelos subterrâneo, e tudo mais, não tem coisa nenhuma de férias. O ala foi para Las Vegas, mas a trabalho, em uma das três summer leagues que a NBA promove neste ano. Pela primeira vez em muito tempo, teve a chance de jogar bons minutos, dia após dia, para tentar mostrar serviço ao técnico Dwane Casey e ao gerente geral Masai Ujiri. Mostrar que, a despeito de uma temporada um tanto conturbada, aproveitou o trabalho individual com os técnicos do time. Então dá para entender a ansiedade de muita gente aguardando suas atuações em sua segunda participação na Liga de Verão de Las Vegas. Que tipo de novas artimanhas ele poderia exibir? Como estaria sua fluência ofensiva? Sua curva de desenvolvimento?  Vamos examinar.

Por Rafael Uehara, especial para o VinteUm

Caboclo, e o penteado diferente. E o jogo?

Caboclo, e o penteado diferente. E o jogo?

O contexto: Bruno Caboclo esteve em quadra por apenas 87 minutos oficiais na temporada passada; 23 com o Toronto Raptors na NBA e 64 com o Fort Wayne Mad Ants da liga de desenvolvimento.

Quando a franquia canadense surpreendeu a todos ao escolhê-lo com a 20ª escolha da primeira rodada do draft, o comentarista da ESPN Fran Fraschilla classicamente opinou “he is two years away from being two years away”. Já se tinha mais ou menos uma ideia que Bruno veria pouco tempo de quadra entre os melhores do mundo.

Mas o fato de ele também ter jogado muito pouco na liga de desenvolvimento foi bastante decepcionante. A razão é porque o Toronto era um dos times que não tinha franquia própria na liga de desenvolvimento e dependia de um acordo com a franquia de Fort Wayne. Diferente das franquias que pertencem a times da NBA e são usadas com o principal foco em desenvolver jogadores, técnicos e estratégias para a matriz, Fort Wayne se mantém viva atraindo o público e patrocínio da região e o faz tentando competir pelo título. Logo, põe em quadra quem acha que o ajuda a ganhar e o brasileiro de 19 anos que mal tinha experiência na liga brasileira não se encaixava nesse critério.

Afundado no banco de reservas em sua primeira temporada. Era o esperado, porém

Afundado no banco de reservas em sua primeira temporada. Era o esperado, porém

A boa notícia é que o Toronto acaba de comprar uma franquia para disputar a liga de desenvolvimento na próxima temporada, o que vai proporcionar ao Bruno todo o tempo de quadra que ele precisa para começar a tentar alcançar o potencial que todos veem nele, o que é vital porque é muito provável que ele mais uma vez não faça parte dos planos de Dwane Casey neste próximo ano ainda.

Os Raptors acabaram de contratar DeMarre Carroll e ainda contam com DeMar DeRozan, Terrence Ross, James Johnson e Norman Powell no elenco. Mesmo com as saídas de Lou Williams, Greivis Vasquez (Casey gostava de ter dois armadores em quadra em algumas situações) e rumores de que o time será mais agressivo usando um de seus alas como ala-pivô em formações menores, ainda é difícil ver o Bruno como parte da rotação.

Especialmente considerando que ele não impressionou muito na liga de verão de Las Vegas na semana passada. Geralmente se espera um salto de produção das escolhas do primeiro round indo do primeiro para o segundo ano, possível de se ver logo na liga de verão. Giannis Adetokunbo ainda não é grande coisa, mas foi de qualquer forma uma peça importante em um time que se classificou para os playoffs no Leste, e mostrou já na liga de verão do ano passado o que estava por vir. Mas esse não foi bem o caso com Bruno, que não foi eficiente com seus tiros e não teve oportunidades de mostrar habilidades a mais do que aquelas esperadas.

De longa distância: no momento, o que Bruno faz com maior freqüência em quadra é o tiro de longa de distância. É um atleta com bom porte físico, mas não se apresentou para contra-ataques muito. Tocou na bola mais na meia-quadra mesmo e sempre se posicionava no lado oposto à bola, sem participação na criação de jogadas contra a defesa armada — isso ficava por conta do armador Delon Wright e do ala-armador Norman Powell, calouros recém-draftados, mas muito mais experientes e habilidosos que o brasileiro. Sua função era de atirador e como resultado, 63% de suas tentativas foram tiros de três pontos.

Caboclo conseguiu descolar um bom número de lances livres, mesmo não sendo muito criativo com ab ola

Caboclo conseguiu descolar um bom número de lances livres, mesmo não sendo muito criativo com ab ola

Bruno tem boa mecânica em seus lançamentos, mas dispara de maneira um pouco metódica, pouco fluida, e essa fração de segundo que ele perde para acionar o arremesso faz bastante diferença contra os atletas do melhor basquete do mundo – mesmo aqueles da liga de verão que estão sofrendo para arranjar emprego como 15º homem de um elenco. Por ora, Bruno tem muito mais capacidade para acertar tiros sem contestação do que lidando com qualquer tipo de defesa. No geral, converteu apenas 10 dos seus 36 tiros de três pontos nos cinco jogos que disputou.

Trabalho com a bola: Bruno teve algumas oportunidades de criar em situações em que o armador penetrava e o achava em posição de tiro ao redor do perímetro. Marcadores dão o pique para contestar o tiro, e, com uma ameaça de chute, cria-se a chance de partir para dentro.

O caçula ainda não tem muita explosão com a posse da bola e dificilmente criou a separação necessária para agredir. De todo modo, o ala consegue chegar ao aro ou arranjar lances livres devido ao seu porte físico. Tem longas passadas e vai da linha dos três pontos até o aro em dois dribles e dois passos. Também não é qualquer aala que consegue parar o impulso de alguém que mede 2,06 metros e pesa 96 quilos.

Bruno converteu 10 cestas de dois pontos em 21 tentativas e cavou em média 4,6 lances livres a cada 36 minutos em quadra, ambas as marcas bem promissoras. Porém, por outro lado, seu controle de posse é bem mediano e ele ainda tem muito pouco reconhecimento do jogo ao seu redor, sofrendo ao tentar criar para seus companheiros de time – registrando apenas quatro assistências nas cinco partidas e 11 perdas de posse.

Defesa: devido a seu porte físico e envergadura, espera-se que Bruno se desenvolva em bom defensor. Mas no momento ele ainda não é grande coisa. Individualmente, ele até consegue impedir a penetração de jogadores do seu próprio tamanho, mas não se mostrou capaz de permanecer na frente de jogadores menores.

Marcando o pick-and-roll, Bruno teve dificuldade de ir por cima do corta-luz e se recuperar com velocidade. Talvez seja possível que ele seja grande demais para esse tipo de estratégia, sendo melhor ir por baixo e usar sua envergadura para contestar tiros de longa distância.

Bruno também teve alguns lapsos que lhe custariam tempo de quadra em qualquer outro ambiente que não fosse a liga de verão. Em determinado lance de jogo contra o Chicago Bulls de Cristiano Felício, resolveu deixar um arremessador do nível de Doug McDermott completamente livre no canto e partiu para dentro do garrafão sem a menor razão. A bola eventualmente chegou às mãos de McDermott, que acabou errando, mas que não se deve deixar de modo algum sozinho nesse tipo de situação. Um lapso que realmente não seria perdoado em um ambiente mais exigente como a temporada regular nos playoffs, em que as vitórias valem (e custam) tanto, especialmente para um time com ambições de ir longe nos playoffs.

Conclusões, por Giancarlo Giampietro: durante toda a  temporada passada, os dirigentes e técnicos do Toronto Raptors afirmaram que o principal objetivo com Caboclo era aclimatá-lo à América do Norte, à cultura da NBA. Como este blog já reportou, talvez o garoto tenha se sentido até bem demais fora de quadra, com algumas questões disciplinares que deixaram o clube preocupado.  e que, do ponto de vista esportivo, iriam se concentrar no desenvolvimento de seu corpo. Ele já aparece mais forte, mesmo. Ainda assim, isso não quer dizer que não tenham trabalhado em quadra, especialmente com o técnico Jama Mahlalela. Em Las Vegas, então tivemos a chance de ver como está seu progresso dentro das quatro linhas. O que se nota é que ele ainda não está pronto para fazer parte da rotação do Raptors, mesmo que o plano fosse que ele jogasse mais já no segundo ano. Isso só deve acontecer pela franquia da Liga de Desenvolvimento, mesmo, o Raptors 905, hospedado em Mississauga. Caso o ala aceite essa situação, sem se ver desprestigiado por estar jogando na liga menor, terá uma boa oportunidade de expandir seu jogo para além da dinâmica de “correr e se posicionar no lado contrário à espera do chute de três”. É de se esperar que, depois de tanto reclamarem da dinâmica do Fort Wayne Mad Ants, vão deixar o brasileiro agora à vontade para arriscar e errar, até que os acertos se tornem mais frequentes. Cabe ao brasileiro abraçar essa situação e tentar tirar o melhor dela, para adicionar mais elementos ao seu jogo e mostrar potencial para além dos atributos físicos.

Rafael Uehara é paulistano e colaborador de diversos sites estrangeiros. Você pode acompanhar mais de seu trabalho no Bball Breakdown  e no Upside Motor. Ou, se preferir, em seu próprio blog, o Baskerball Scouting. Pode segui-lo no Twitter.

PS: um contrato de freelancer que começou neste mês deixará a atualização do blog um pouco intermitente durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos. Análises sobre os jogos da seleção brasileira durante o Pan só no Twitter, ok?


O arremesso dos playoffs 2015 da NBA é de Curry. Por enquanto?
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Com as fotos abaixo, nem é preciso apelar para a verborragia:

d

Foto já clássica. Curry acerta da zona morta para forçar a prorrogação em Nova Orleans, após ficar atrás por 20 pontos

Uma foto já clássica

De perto, podemos ver a expressão de torcedores que já sabiam o que estava acontecendo. E Curry de olhos fechados

Nós contra eles

Nós contra eles

O ângulo para o arremesso

O ângulo complicado para o arremesso, ainda mais com um Monocelha vindo em sua direção

E ainda foi falta em cima do craque do Warriors. Vitória poderia ter saído antes da prorrogação

E ainda foi falta em cima do craque do Warriors. Vitória poderia ter saído antes da prorrogação

I-na-cre-di-tá-vel, Curry. Cruel demais

I-na-cre-di-tá-vel, Curry. Cruel demais

Rumo ao 3 a 0. Fui!

Rumo ao 3 a 0. Fui!

Para quem está boiando, o seguinte: o New Orleans Pelicans tinha 20 pontos de vantagem no início do quarto período contra o Golden State Warriors (89 a 69). Jogo 3 de uma série melhor-de-sete pelos playoffs da NBA. O time havia perdido as primeiras duas partidas. Uma vitória aqui poderia, quiçá, mudar os rumos do confronto. Mas o líder da Conferência Oeste batalhou. Teve uma reação daquelas que vai ficar na memória de sua torcida por muito tempo, obviamente por causa do arremesso acima.

Faltando pouco mais de 9 segundos para o fim, o técnico Steve Kerr pediu um tempo, três pontos atrás no placar. Sua jogada deu certo, com a reposição de Draymond Green para Stephen Curry na ala esquerda, com Quincy Pondexter em seu encalço. O primeiro arremesso deu aro, saiu curto demais. Mas ainda deu tempo para Marreese Speights pegar o rebote ofensivo e acionar o cestinha mais uma vez. Pondexter, um bom defensor, deu uma cochilada e demorou para reagir. Por um instante, se distrai com o próprio Green ao seu lado direito. Quando acorda, Curry já tinha a bola em mãos novamente para fazer o disparo. O detalhe é que Speights faz uma proteção mínima para o astro, talvez o suficiente para afastar Tyreke Evans e Anthony Davis, que se aproximavam. Caiu: 108 a 108. Venceram, depois, por 123 a 119. Foi o arremesso dos playoffs até agora. Com o seu talento e a possibilidade de uma longa campanha do Warriors, não duvido faça outro ainda mais chocante.

Agora o lance todo:

Já havia feito o mesmo exercício no ano passado, com um chute de três de Vince Carter no apertado duelo entre Mavs e Spurs pela primeira rodada. O Dallas foi quem mais deu trabalho ao San Antonio no fim. Tal como naquele lance, aqui o efeito é o mesmo: as fotos dão noção muito maior do drama e da dificuldade em torno da cesta de Curry do que o vídeo, não? O VT ao menos nos ajuda a contar: foi qualquer coisa em torno de 3s5 a espera que o gatilho teve de esperar entre a primeira tentativa falha e a bola consagradora. Sim, em menos de quatro segundos pode acontecer tudo isso.

*    *    *

Algumas notas sobre o jogo e a cesta.

(Vocês não acreditaram nessa história de escrever pouco e deixar a imagem contar tudo, né?)

A primeira vai na onda do contra. Curry tentou 29 arremessos e converteu apenas 10 (29% 34%, na verdade, com a auditoria do camarada Felipe Neves, um jornalista que sabe, sim, fazer contas!). Da linha de três, foram 11 erros em 18 tentativas. Ainda assim, marcou 40 pontos porque também é um mago no drible, bate a defesa e vai lá dentro descolar lances livres (matou 13 em 14, parecendo até mesmo James Harden nessa). Vi por aí algumas mensagens questionando o queixo caído de toda a liga com os Splash Brothers de Golden State, e achei um ponto válido, mesmo: se essa linha estatística fosse de Russell Westbrook – ou… Kobe–, qual seria a reação majoritária? Mesmo no caso de uma vitória e um arremesso dramático?

Reparem, por favor, que a pergunta tem muito mais a ver com o que se fala sobre o armador de OKC e sobre a lenda viva do Lakers do que Curry, que não fez sua melhor partida, esteve abaixo da média, mas, poxa, marcou 17 pontos em 7 minutos de quarto período e mais 5 de prorrogação. Errou sete de seus últimos 11 arremessos, mas converteu O Chute que importava, não? Além disso, seguiu a linha da nova contagem de arremessos: pode ter tido um aproveitamento baixo de quadra, mas compensou com o elevado número de bolas de longa distância e lances livres. Enfim.

*   *   *

Mais arremessos de três proporcionam chances maiores de rebotes ofensivos. A matemática comprova isso. A defesa em geral está distorcida, desequilibrada, a bola respinga no aro para mais longe, para fora do semicírculo etc. Mas os jogadores do New Orleans simplesmente não conseguiram fazer um bloqueio de rebote decente. A torcida se dividia entre o apoio aos atletas e a aflição, a cada segunda segunda chance obtida pelos adversários. Foram 12 rebotes ofensivos apenas no quarto período para os queridinhos da América. Uma dúzia, e com baixa estatura!

Sim, quem merece (mais e mais) aplausos aqui é Steve Kerr, gente. Que não abriu mão do jogo em nenhum momento. Numa última tentativa, no início do quarto período, ele mandou para a quadra uma formação sem pivôs: Shaun Livingston, Leandrinho, Iguodala, Klay Thompson e Draymond Green. Livingston, Thompson e Green têm 2,01 m de altura. Iguodala, 1,98 m. Leandrinho, 1,94 m (mas com a envergadura de um cara muito mais alto). A ideia: ganhar em velocidade, mobilidade, enquanto, na defesa, podiam trocar tudo, procurando apenas manter Green com o Monocelha. A tendência é ver cada vez mais disso, conforme praticam o Milwaukee Bucks e o Philadelphia 76ers. O Miami Heat conquistou dois títulos assim também.

*    *    *

Em tempo: Leandrinho marcou os primeiros quatro pontos do quarto – e todos os seus seis pontos nessa parcial. O agora veterano ala-armador vai contribuindo de modo significativo para Warriors, ainda que em poucos minutos. Tem um papel definido e vai  produzindo.

*    *    *

A nota mais alternativa e curiosa da noite? O Santa Cruz Warriors está disputando a final da D-League. A série contra o Fort Wayne Mad Ants, o time que contou com breves passagens de Lucas Bebê e Bruno Caboclo, começou nesta quinta. Pois o Warriors B também venceu fora de casa, zerando uma desvantagem de 20 pontos. Coincidência?

O atlético ala-armador Elliot Williams, escolha de primeira rodada de Draft que não vingou em Portland, foi o cestinha, com 31 pontos. O pivô bósnio Ognjen Kuzmic é o único cedido pelo time de cima. Somou 18 pontos, 13 rebotes e 4 assistências. Quem também esteve em quadra foi o ala Darington Hobson, que não deixou saudades em Brasília, e Taylor Griffin, o irmão do Blake. Do outro lado, o único atleta cedido pela NBA ao Mad Ants é o pivô Shane Whittington, do Indiana Pacers.


Lucas Bebê dá as caras na D-League. Como foi a experiência?
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

lucas-bebe-mad-ants-d-league

Depois de passar nove dias com o Fort Wayne Mad Ants, nos confins da D-League, Lucas Bebê foi chamado de volta pelo Toronto Raptors nesta quinta-feira. O problema é que o brasileiro retorna ao Canadá com um problema muscular na perna direita, sofrido em duelo com o Bakersfield Jam em seu último compromisso durante a semana. Segundo sua assessoria, o pivô deve passar por um exame detalhado ainda nesta sexta, para saber qual a gravidade da contusão (ou lesão, dependendo do que a ressonância mostrar).

Certamente não era a notícia que o gerente geral Masai Ujiri queria ouvir, esperando apenas que não seja nada muito grave. De qualquer forma, a primeira passabem do brasileiro pela liga de desenvolvimento da NBA foi muito mais produtiva do que as duas de seu compatriota, Bruno Caboclo, que, depois de uma estreia produtiva, mal viu a cor da bola por lá, dando trabalho fora de quadra.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Oficialmente, foram quatro jogos para Bebê, com médias de 8,3 pontos, 10,0 rebotes, 2,0 tocos, em 20,1 minutos, com 42,9% no aproveitamento dos arremessos de quadra e 50% nos lances livres. O mais correto, no entanto, é falar em apenas três partidas, uma vez que foi na quarta que ele sentiu uma fisgada na coxa, com apenas dois minutos de ação. Se formos excluir essa, aí as médias sobem para 11,0 pontos, 13,0 rebotes, 2,6 tocos, em 25,6 minutos. Um belo rendimento, ainda que tenha sido pouco eficiente no sistema ofensivo.

Antes de soltar fogos pela vizinhança, porém, é bom lembrar que os números da D-League tendem a ser extremamente inflados, devido ao ritmo acelerado das partidas. A coisa pode descambar para uma pelada facilmente, com uma chuva de arremessos. Se chovem bolas para a cesta, rebote não vai faltar, vai? É preciso dar um desconto a qualquer análise superficial estatística aqui, pois foi exatamente este tipo de basquete que predominou durante as três aparições de Lucas por lá, mesmo que ele não tenha enfrentado os malucos do Reno Bighorns. Para quem não sabe, a liga disponibiliza o VT de todos os seus jogos no YouTube, na íntegra, além de transmiti-los ao vivo.

Em Toronto, pouquíssimos minutos

Em Toronto, pouquíssimos minutos

É isto: depois de um looooooooooongo inverno, podemos avaliar como anda o pivô, que só havia feito seis partidas pelos Raptors na temporada, entrando invariavelmente com os duelos decididos, em clima de garbage time – um cenário que, francamente, anula qualquer possibilidade de avaliação mais séria sobre um jogador. Antes de avançar com o pivô, é importante ressaltar alguns pontos, para que fique bem claro o que representa sua experiência com as Formigas Malucas:

1) O Toronto não está penalizando um jogador ao enviá-lo para a D-League. Faz parte do plano de desenvolvimento.

2) A queda de rendimento do time canadense neste ano só dificulta as coisas. Acabaram as sacoladas, diminuíram as chances de aproveitamento. Em um momento difícil, o técnico Dwane Casey não vai, mesmo, chamar os calouros brasileiros. No entendimento da comissão técnica, não estão nada preparados para enfrentar uma situação dessas. Então a D-League acaba sendo a melhor via para eles mostrarem serviço. Uma pena que Bruno a tenha desperdiçado, por ora.

3) Na D-League, basicamente todo atleta cedido pela NBA encontra um ambiente meio que, ou totalmente hostil. A posição deles é invejada, é o sonho de todos os jogadores que estão ali, abrindo mão de melhores propostas da Europa para ganhar muito pouco – os salários variam de US$ 13 mil a US$ 25,5 mil… por temporada. Confiam que, estando literalmente mais próximos da grande liga, terão mais facilidade de convencer scouts e dirigentes a contratá-los.

4) No caso do Fort Wayne Mad Ants, a complicação ainda é maior: estamos falando do único clube da liga que não tem afiliação exclusiva, abrindo suas portas para 13 equipes da NBA. Isso bagunça o coreto. E outra: o clube não deve satisfações a nenhuma outra entidade. Toca seu projeto, e obrigado. No caso, entram em quadra para vencer e vencer – como se jogassem uma W(in)-League, ao contrário da maioria de seus concorrentes. Então, ok: se vocês querem mandar a molecada, não há problema. Mas ele serão usados nos nossos termos. É o que discurso que vem de lá.

Precisa decorar os quatro tópicos acima antes de se empolgar ou chiar diante do que a duplinha faz nas viagens entre Fort Wayne, no estado de Indiana, e Toronto.  Não obstante, também termos de levar em conta outros dois fatores para diferenciar Bebê e Caboclo, para que não se compare a produção de quadra dos dois brasileiros. (Quer dizer, nem tem muito o que comparar, já que o ala de 19 anos nem bem jogou. Mas isso vale para uma eventual terceira chamada.)

Lucas pode ser um novato na NBA, mas já é profissional há um bom tempo, e encarando competição de alto nível na liga espanhola – o campeonato nacional mais forte da Europa. Também é três anos mais velho. Além disso, sendo um pivô de 2,13 m de altura, o carioca não é dos tipos mais fáceis que se encontra por aí, né? Alto, ágil, comprido. Um biótipo que se encaixa em qualquer elenco, ainda mais num time como o Mad Ants que tem carência no jogo interno. No perímetro, Caboclo enfrenta concorrência mais volumosa e, também, apetitosa.

Aliás, nada melhor do que falar sobre apetite. O ponto mais positivo que percebi nas atuações de Bebê foi sua disposição em quadra. Não teve bico, nem nada. Quando acionado pelo técnico Connor Henry, o pivô mostrou muita energia em quadra. Não chega a ser uma novidade para quem o acompanha desde os tempos de Liga ACB, mas é bom conferir que ele segue correndo a quadra tanto na transição defensiva como na ofensiva, pedindo sempre a bola, ou brigando por ela:

Quando estava no banco, manteve uma atitude positiva cumprimentando um por um de seus novos companheiros na apresentação, em lances livres errados, levantando-se para aplaudir cestas de três etc. Na sua estreia, contra o Delaware 87ers, filial do Philadelphia 76ers (waka-waka-waka), chegou até mesmo a invadir a quadra após uma falta dura do pivô Drew Gordon em cima do ala CJ Fair. Queria tirar satisfações, falando bastante. Foi retirado na manha pelo assistente Jaren Jackson, aquele ex-Spurs.

Os sprints são importantíssimos para um pivô em ação na D-League. Pois, para seguir nas metáforas alimentícias, a turma do perímetro tende a ser um pouco fominha. Ainda mais quando você tem o imortal Jordan Crawford – sim, ele, mesmo, de volta da China – como seu companheiro. Os grandalhões podem ter dificuldade para receber a bola – então é melhor acelerar mesmo no contra-ataque com a esperança de que alguma boa alma enxergue seu empenho e o recompense. No caso de um pirulão de 2,13 m, mais 50 centímetros de afro, descendo a ladeira? Difícil não notar. Diversos pontos do brasileiro saíram nesse tipo de jogada:


Só assim, mesmo. No jogo em que se machucou, contei sete posses de bola para o Mad Ants. Sabe em quantas ele recebeu ao menos um mísero passe? Somente em duas, sendo que, na segunda, foi apenas na reposição lateral, estando o armador da vez bem marcado. Curiosamente, na primeira vez em que foi devidamente envolvido no ataque, ele mostrou uma de suas habilidades mais subestimadas: o passe a partir do poste alto. Está certo que o defensor deu uma boa viajada, mas aí vai uma assistência para Trey McKinney-Jones, que esteve no Brasil com o Miami Heat, durante a pré-temporada:

Até porque, fora o saco sem fundo que é Crawford e alguns outros atletas ansiosos para o arremesso, como Xavier Thames e Fair, em situações de meia quadra há todo o desentrosamento de Lucas com os demais atletas. O cara mal tem tempo de treinar, chegando da metrópole canadense e já precisa jogar, com muita responsabilidade: impressionar seus chefes de verdade e, ao mesmo tempo, justificar o carimbo de NBA diante de gente cheia de desconfiança no vestiário. Por isso, por vezes, apenas vagava de um lado para o outro, indo e voltando. Em algumas ocasiões, nem bem havia chegado ao garrafão, e um tiro de três já havia sido tentado.

Nesse contexto, contei apenas uma bola – uma! – em que o pivô foi municiado no ataque de costas para a cesta. E não deu para saber o que ele faria nessa ocasião, já que sofreu a falta de imediato. Ou seja: não dá para saber se os treinos com os técnicos do Raptors resultaram em evolução no seu arsenal ofensivo. Sem jogadas desenhadas especificamente para ele, o carioca usou os rebotes ofensivos e algumas poucas combinações bem-sucedidas de pick-and-roll para encestar. A jogada pode parecer simples, mas requer química e um armador disposto e/ou capaz de enxergar a quadra – não foi o caso de Gary Talton, infelizmente; posso ter dado azar, mas peguei três jogos bem fracos do cara.

Ainda assim, sua capacidade no corte para a cesta sem a bola segue valiosa. Em duas passadas, Bebê consegue chegar ao aro. Isso chama a atenção da defesa. Se não vier o passe, pode acabar abrindo a quadra para um chute de três, chamando a ajuda lá dentro. Se a defesa se desequilibrar, ele ainda tem grandes chances de coletar o rebote ofensivo, devido a sua envergadura e agilidade e também a sua capacidade de saltar seguidas vezes.

Esses atributos são obviamente o carro-chefe do brasileiro. Habilidades naturais que precisam ser mais e mais refinadas em Toronto. Em compensação, o atleta ainda segue com dificuldade para absorver o contato físico no garrafão ou debaixo da tabela. Os duelos com o Iowa Energy mostraram isso, com Jarnell Stokes, do Memphis Grizzlies, e o já rodado Willie Reed levando a melhor no corpo a corpo com o brasileiro – em duas partidas, os dois somaram 80 pontos e 66 rebotes abusando de todos que encontravam pela frente. Do outro lado, a fragilidade também atrapalhou na hora de finalizar em meio ao tráfego, com contato (como vemos acima). Isso também ajuda a explicar aproveitamento bem baixo nos chutes de quadra, especialmente para alguém da sua estatura. Na NBA, as coisas ficam ainda mais difíceis.

Devido a essa desvantagem em termos de força, é meio que imperativo que Lucas se posicione bem no garrafão na hora de marcar individualmente ou de lutar pelos rebotes. Se não tem a base muito forte para aguentar o tranco de gente mais parruda, deve fazer a defesa pela frente, para cortar a linha de passe, aproveitando-se até mesmo de sua envergadura. O problema é que, justamente por ser longo toda a vida, o pivô acredita que pode bloquear todo e qualquer arremesso num raio de cinco ou mais metros. Por isso, tende a caçar os jogadores que estejam com a bola. Mesmo que chegue no tempo certo, se falhar em atingir a bola, vai deixar um rival livre logo atrás.

Agora, é aqui que lembramos que Bebê mal jogou neste ano. Então não dá para saber exatamente o quanto essas recorrentes questões seriam (ou estão sendo) corrigidas e desapareceriam com mais tempo de quadra, com mais rodagem. Pois é inevitável que ele entre em quadra sedento pela bola, propenso a cometer um ou outro deslize tático. Nesse sentido, atrapalha bastante o fato de o Raptors não ter o seu próprio time na D-League, podendo conduzir esse processo de modo muito mais cuidadoso e acelerado.

Da sua parte, de todo modo, o pivô precisa se manter concentrado, com objetivos a longo prazo, evitando as distrações que o mundo em torno da NBA pode oferecer. O mesmo vale para Caboclo. Chegando aos 23 anos, Lucas ainda é um jogador jovem, mas que já deixou de ser o caçula da turma há tempos e ainda tem muito o que trabalhar para virar um jogador de ponta. O potencial é indiscutível e está aí para ser realizado, para que os números vultuosos não precisem de asterisco nenhum no futuro.


O intrincado caminho para o desenvolvimento de Caboclo e Bebê
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

622_828a5c2b-8615-3086-8ab7-f334b09f9ee2

O Toronto Raptors já surrava o Milwaukee Bucks, em casa, quando Lou Williams recebeu a bola no meio da quadra e viu Bruno Caboclo bem posicionado para o passe, já cruzando a linha de três pontos. O passe foi na medida, e o ala partiu direto para a enterrada. A essa altura, princípio de quarto período, o Air Canada Centre já estava agitado. Depois do lance, entrou em polvorosa, para celebrar o calouro que adotaram prontamente como um xodó. Foi uma estreia perfeita, talvez o momento mais especial da temporada, do ponto de vista brasileiro. Era 21 de novembro, ainda muito cedo no campeonato, mas tudo se encaixava como um conto de fadas para um garoto que nem bem havia jogado como profissional no Brasil e já estava lá na NBA querendo mandar seu recado.

Acontece que aquele seria um episódio isolado, quase um espasmo. O ala mal jogaria depois. De acordo com os planos do time, não há nada de errado com isso. Desde o momento em que anunciou a seleção de Caboclo na 20ª posição do Draft, o Toronto Raptors, representado pela figura de seu gerente geral Masai Ujiri, pregou paciência. O jogador seria lançado aos poucos. Beeem aos poucos. Para o pivô Lucas Bebê, mesmo três anos mais velho, o panorama era o mesmo. Tudo muito calculado.

O difícil, porém, é fazer que as revelações brasileiras, que tanto querem jogar, entenderem e abraçar a causa, o projeto: já se circula pelos bastidores da NBA que o clube canadense tem vivido algumas das semanas mais complicados no processo de desenvolvimento dos dois. Múltiplas fontes da liga americana – de outros clubes, frise-se –, passaram ao VinteUm relatos de uma turbulência em Toronto envolvendo Bruno e Lucas.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Os dirigentes do Raptors, com o gravador ligado, se concentram em fatos positivos – algo mais que natural, considerando que, em termos práticos, qualquer cartola, quando fala de seus jogadores, está se referindo a patrimônio do clube, seja para o uso na quadra ou como bem de valor.

Conversei em Nova York com quatro fontes diferentes ligadas ao time: Ujiri, o chefão; o treinador Jama Mahlalela, quem mais passa tempo em quadra com o brasileiro; o chefe do departamento de scouting internacional Patrick Engelbrecht, o homem que ‘descobriu’ Caboclo; e Kyle Lowry. Eles discorreram sobre o trabalho com os jovens brasileiros. São aqueles que mais os veem em ação no dia a dia de treinos, uma vez que jogos, para valer, são escassos. As declarações, no entanto, ganharam um contexto muito diferente dias depois do All-Star Weekend, a partir da notícia sobre a visita-surpresa dos jogadores aos camarotes do Carnaval do Rio de Janeiro, na Marquês de Sapucaí.

Bruno Caboclo, Lucas Bebê, carnaval, Toronto, Rio

Caboclo e Bebê mal têm jogado pelo time canadense. Depois do furor da estreia, o ala só seria utilizado em mais três jogos, com um total de 16 minutos. Seria na D-League em que ele ganharia mais tempo para botar em prática aquilo que tem treinado diariamente com a comissão técnica. Bebê não foi enviado para a liga de desenvolvimento da NBA, mas também foi pouco acionado pelo técnico Dwane Casey (menos de 24 minutos em seis partidas). De novo: nada ao acaso.

Por tudo o que o blog ouviu, tanto empenho nos treinos e as poucas oportunidades para jogar levaram os atletas a um nível de frustração alarmante, sucedida por atitudes questionáveis fora de quadra. “Muita exposição, muito cedo”, “não há como negar que coisas ruins aconteceram”, “há problemas em Toronto com os dois”… Esses foram alguns dos comentários endereçados. O que se sabe, nos corredores da liga, é de atos indisciplinares, que não precisam ser publicados. São uma mistura de imaturidade e um certo deslumbre com todas as armadilhas que podem cercar a vida de qualquer jogador da liga norte-americana, quanto mais de dois jovens estrangeiros.

A ida ao Rio de Janeiro para o Carnaval não pegou bem. Pessoalmente, ao ver as fotos da Sapucaí, de início não achei crime algum naquilo. Não foram os primeiros, nem serão os últimos atletas da NBA a sair pela noite, e, além do mais, eles estavam em meio a uma semana de folga. Aliás, não custa lembrar que a ATP (Associação dos Tenistas Profissionais) usou o desfile das escolas de samba para promover o Rio Open, levando Rafael Nadal, David Ferrer e Guga Kuerten para a avenida. Antes da estreia dos espanhóis no torneio – Ferrer seria o campeão.

Por outro lado, os brasileiros viajaram um tanto tarde, já perto da data de retorno aos treinos. Além disso, dá para entender perfeitamente a linha crítica a esse passeio, uma vez que, se eles mal jogam pelo time, precisariam aproveitar qualquer dia disponível de treino para tentar melhorar e buscar espaço no time. Não sei se existe certo ou errado aqui. E, de qualquer forma, já há dois problemas nessa divagação: 1) a opinião de um blogueiro não vale de nada comparada com a de quem trabalha com os jogadores diariamente; 2) a escapada veio nesse contexto já tenso.

A primeira passagem de Bruno pela D-League, por exemplo, terminou bem antes do esperado, depois de apenas três jogos, e não foi devido aos seus altos e baixos em quadra – o que era esperado. “É o que acontece com o jogador jovem. Vai ter esses altos e baixos, jogos de um ou três pontos, vai fazer 20 pontos em outro dia. Ele tem de passar por essa curva de aprendizado. Não acho que possamos esperar muito de seus jogos”, diz o gerente geral Ujiri. O problema não foi a quadra. O brasileiro deu trabalho ao Fort Wayne Mad Ants fora dela e teve de ser resgatado às pressas pelo Toronto.

bruno-caboclo-d-league-mad-ants-loss

Agora, o ala está de volta ao clube de Indiana, com temperaturas gélidas, literalmente ou não. Tem novamente jogado muito pouco: foram 14 minutos totais nos dias 19 e 20 de fevereiro, com um aproveitamento melhor na segunda, contra o Westchester Knicks, na qual fezoito pontos em 10 minutos, com a equipe conquistando sua única vitória em todas as cinco partidas em que escalou o paulista de Osaco. No dia 22, ele nem mesmo entrou em quadra – por decisão do treinador Conner Henry. Independentemente do que acontece atrás das cortinas, este já está longe de ser um cenário ideal para o progresso do ala como jogador.

Em sua estreia pelo Fort Wayne, detalhada aqui, Caboclo fez um primeiro tempo excepcional, mas depois se atrapalhou bastante na volta do intervalo, cometendo muitas faltas e um turnover crucial em uma derrota para o Iowa Energy. No jogo seguinte, sem remorso algum, o técnico Henry deu apenas cinco minutos para o brasileiro, que não escondeu seu descontentamento. Esse tipo de situação jamais aconteceria num clube que fosse exclusivamente controlado pelo Raptors. Nesse sentido, o modelo conduzido por Miami Heat, Houston Rockets, San Antonio Spurs e Golden State Warriors, entre outros, é visto como o ideal.

“Bruno vai ter momentos em que vai parecer muito bom e outros em que vai parecer muito ruim. Vai ser assim. Ele precisa jogar, ganhar experiência. Podemos fazer os exercícios, os treinos a cada dia, mas precisamos que ele jogue mais. Vamos mandá-lo para a D-League para isso”, diz Jama Mahlalela, o assistente do Raptoras, que também ressalta a importância da próxima liga de verão para o brasileiro, a segunda de sua carreira. “Aí será com o nosso sistema, nossos treinadores e minutos prolongados para ele mostrar o que pode”, explica.

Toronto, todavia, não pode depender apenas de um punhado de jogos em julho para desenvolver seus jovens talentos. Por isso, está sondando seriamente o mercado da liga de desenvolvimento em busca de uma filial de seu uso exclusivo. Desta maneira, teriam mais autonomia para botar em prática o que têm de planejado não só para os brasileiros, como para qualquer prospecto no futuro. Esse é um ponto crucial que um scout já havia destacado ao blog, ao término da liga de verão de Las Vegas no ano passado.

Bruno Caboclo, Summer League, Toronto

Duas fontes independentes também disseram ao VinteUm que a franquia busca um time no estado de Nova York, bem próximo de sua base. A cidade de Rochester seria uma possibilidade, estando a apenas 140 km de distância. Por que não no Canadá? Para evitar dificuldades com visto de trabalho e outras burocracias que podem ser facilmente resolvidas num ambiente mais estável como o da NBA, mas seriam muito maiores numa competição bem mais volátil como a D-League. Só não é, de forma alguma, um processo simples de se executar. A criação de mais um time depende de uma série de avaliações, técnicas e comerciais, por parte de ambas as ligas, além da viabilização de toda uma estrutura paralela para o Raptors gerir.

A relação entre a franquia canadense e o Fort Wayne Mad Ants é amistosa, profissional, mas não pode ser aprofundada pelo fato de o clube da liga menor ter total autonomia em suas operações – é o único que não desfruta de um relacionamento direto com um time da NBA. Quando o técnico Conner Henry recebe um talento vindo de cima, de qualquer uma das 13 agremiações com as quais têm convênio, não tem a obrigação de usá-lo, independentemente das necessidades ou do currículo do jogador. Além do mais, o Mad Ants também joga hoje para vencer e vencer, sendo o atual campeão, inclusive. Sua prioridade difere muito em relação ao restante de seus concorrentes.

“É uma situação difícil, acaba sendo complicado manter qualquer tipo de continuidade. Mas existe um diálogo, sim, e podemos expressar o que pretendemos quando mandamos nossos calouros e a melhor maneira de acomodar isso”, diz Mahlalela. “Não é uma situação perfeita, mas você trabalha com as condições que tem e parte daí.”

Caboclo, Ujiri, Toronto

Mesmo com os momentos difíceis nos bastidores, segundo o que VinteUm apurou, o Raptors em nenhum momento envolveu ou ofereceu os brasileiros em negociações na semana passada, antes do encerramento da janela para trocas na NBA, na quinta-feira. Quatro clubes diferentes foram consultados a respeito. Nenhum ouviu sequer um pio de qualquer rumor em torno de Bruno ou Lucas. O consenso é que Ujiri investiu muito – tanto do ponto de vista financeiro, como esportivo – nos dois jogadores e ainda confia no desenvolvimento de seu imenso talento.

É bom lembrar que o contrato de calouros da NBA tem apenas dois anos garantidos – os terceiro e quarto anos são opcionais para as equipes. No caso de arrependimento, os times têm, então, menos compromissos assumidos, menos dinheiro comprometido, e podem facilmente seguir em outra direção. Vide o caso de Fabrício Melo e o Boston Celtics: após um só campeonato, o pivô mineiro foi trocado por Danny Ainge para o Memphis Grizzlies, que o dispensou de imediato, consumindo seu salário final de mais de US$ 1 milhão. Melo ainda tentou assinar com o Dallas Mavericks, mas não passou no corte do training camp. Hoje está afastado do basquete, após ter contrato rescindido com o Paulistano, por conta de graves problemas particulares.

Mas, em Toronto, estamos falando de um conjunto de dirigentes que se encantou há pouco tempo com Caboclo. Gente que sabia que não seria uma transição simples para um adolescente. “Sim, o que se pede é paciência, mesmo. Ele é um garoto muito jovem, tentando se desenvolver. Sabíamos que levaria um tempo para isso acontecer. Mas está tudo bem para nós também. Ele vai ter de passar por esse processo, vai levar alguns anos, mas vamos ser pacientes”, diz Masai Ujiri.

O jovem ala com o qual tiveram contato no período pré-Draft inspira a confiança de que, independentemente dos percalços, o Raptors ainda pode colher bons frutos adiante. “Temos de lembrar: estamos falando de um garoto. Sabemos que é uma peça para o futuro de nosso clube e não para amanhã. Para nós, o que conta é o progresso contínuo, dia após dia”, afirma Engelbrecht. “Ele é um desses caras que se sente em casa no ginásio. É seu ambiente natural, no qual ele fica realmente confortável, quando está treinando. Para nós, esse foi um dos pontos principais para apostar. Pensamos que, não importasse o nível de talento que tivesse, sua dedicação o levaria adiante. Isso nos deu a segurança para realmente considerá-lo naquela escolha.”

Bruno Caboclo, Toronto Raptors, treino, workout

Houve momentos, nas primeiras semanas de convívio em Toronto, em que o clube precisou até mesmo pedir para o ala maneirar em suas idas ao ginásio. Houve dias em que estava ultrapassando a casa de quatro horas de treino, usando estagiários para ajudá-los em séries de arremesso etc. Para a comissão técnica, o ideal é trabalhar por menos horas, mas com muita intensidade.

Em termos práticos, o Raptors vem trabalhando em duas frentes com Caboclo. “Estamos tentando deixá-lo mais forte agora. Estamos nos concentrando em deixar sua base mais forte, mesmo. É para isso que este ano vai servir. Além disso, vamos desenvolvendo também algumas habilidades individuais de NBA, um trabalho extenso em cima disso”, diz Ujiri. Bebê também passa pelo mesmo processo, embora com menos ênfase – já está num ponto diferente de aprimoramento.

O que se mais trabalhou até agora foi realmente o aspecto físico, com a supervisão do renomado Alex McKechnie, escocês que é o diretor de ciência esportiva do clube e que trabalhou pelo Lakers de 2003 a 2011. Durante as ‘férias’, Caboclo e Lucas passaram por um período intenso em um centro de treinamento de Vancouver que tem McKechnie como um dos proprietários. “Foi uma ótima oportunidade para o Alex realmente avaliar o corpo deles, encontrar os pontos fortes e fracos em seus corpos e, a partir daí, elaborar um plano para atacar essas fraquezas”, afirma Engelbrecht.

Agora em Toronto, os brasileiros se dedicam a exercícios diários, específicos antes ou depois dos treinos oficiais comandados por Dwane Casey. É aí que entram Mahlalela e outro assistente, Bill Bayno. Bebê, mais velho e bem mais experiente, vindo de três temporadas na Liga ACB espanhola, o principal campeonato nacional da Europa, estaria mais perto de ser aproveitado. “Esperamos que nessa segunda metade da temporada ele possa ter oportunidades. Não necessariamente ganhando um papel definido no time, mas uns cinco minutos aqui e ali. Em jogos que tenhamos uma vantagem confortável, talvez ele possa entrar no segundo quarto para se testar, para provar um pouco e dar mais motivos para que ele possa continuar treinando forte”, diz Engelbrecht. “Ele tem feito um ótimo trabalho. Esperamos que a comissão técnica se sinta confortável com o nosso time caminhando para o fim da temporada e possa dar a ele alguns minutos. Mas essa é uma decisão dos treinadores. Masai e os técnicos conversam sobre o que querem em termos de desenvolvimento.”

A palavra, então, passa a Mahlalela, um dos técnicos: “Acho que é mais provável, sim, que encontremos minutos primeiro para Lucas do que para o Bruno, mas acho que ele tem de fazer por merecer e, se for chamado, tem de estar pronto para jogar. Ele tem um feeling natural para o jogo, o que nos deixa mais à vontade em colocá-lo em quadra para ver o que pode fazer”. O técnico, porém, relembra: “Ele é mais velho, mais maduro, mas também ainda é um novato na NBA, está tentando encontrar seu caminho e ainda é um trabalho em andamento”.

Em termos de habilidades como atleta, não há dúvida de que há muito potencial para ser explorado pela dupla. Aquela estreia incrível de Caboclo contra o Bucks ainda está na memória, como prova clara e irrefutável disso. Só é necessária a consciência de que aquela euforia passou e o caminho para o sucesso vai passar por semanas e semanas de treino, mesmo, sem muito glamour, sem os holofotes. “Ele vai poder olhar para aquele momento no futuro e perceber o quão especial foi”, diz Mahlalela. “Mas ele tem de continuar trabalhando. Foi um momento único, mas que não vai acontecer o tempo todo.”


O malucão Nick Nolte de volta a um ginásio de basquete
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

A D-League da NBA reúne seus melhores talentos neste fim de semana em Santa Cruz, na Califórnia, para o seu chamado “showcase “. Os times se enfrentam em formato de copa, mata-mata mesmo, no ginásio da filial do Golden State.

Fora uma dúzia de gerentes gerais da grande liga e de uma banca de scouts de times do mundo todo, sabe quem deu as caras por lá?

Nolte, cabeleira, retomando o contato com o basquete 21 anos depois de Blue Chips

Nolte, cabeleira, retomando o contato com o basquete 21 anos depois de Blue Chips

O ator Nick Nolte, um verdadeiro maluco e que anda sumido, provavelmente de saco cheio de Hollywood (na verdade, tem filmado regularmente, mas nenhum papel que lhe renda muito destaque) e da sociedade contemporânea ocidental como um todo. Reparem bem no visual do cara na em foto do jornalista Ken Berger, do site da CBS: está pronto para se tornar um quarto integrante do ZZ Top. Obviamente ele está se lixando para o que um blogueiro brasileiro ou qualquer chupim americano pense.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa
>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

São várias as histórias hilárias, as lendas em torno da jornada de Nolte, hoje com 73 anos. Tem aquela sobre cachorros, que Barcinski já lembrou em seu blog no R7, segundo palavras do grande escritor (não só de literatura policial) James Ellroy. O ator vivia em mansão daquelas na capital do cinema e adotou um vira-lata. Gostou tanto da experiência que saiu recolhendo qualquer cãozinho que visse pelo caminho. Agora, perguntem se ele tinha alguma paciência para dar um belo jeito nos animais? Claro que não. Mas não que maltratasse também. Servia comida da boa e da melhor. Só não ia pegar pra dar banho, nem limpar o que aparecesse de m. pela frente. Mais fácil, então, era instalar uma barraca no quintal e deixar a casa para cachorrada.

O cara obviamente bate em outra rotação. Natural que sua estelar carreira estelar também seja irregular. Já foi indicado três vezes ao Oscar, mas provavelmente seu trabalho mais popular tenha sido “48 Horas“, de 1982, ao lado de Eddie Murphy. Já viram, né? Um clássico.  Para o basquteiro, porém, o vínculo com Nolte se direciona para a década de 90, com “Blue Chips“, um dos filmes estrelados por Shaquille O’Neal, então com 22 anos, completando sua segunda temporada pelo Orlando Magic, pronto para dominar o marketing da NBA.

Em vez de um gênio da lâmpada ou de um super-herói de aço, nessa (ainda) película o pivô faz um papel de… Jogador de basquete. Bem, dãr, vocês sabem. Não sou que vou ficar falando aqui sobre o enredo de uma peça obrigatória em sua coleção, discutindo os percalços éticos da vida de um treinador de basquete universitário, na caça por talentos mundo afora, tentando seduzi-los, mas sem deixar que alguém saiba que passou dos passar dos limites. Nolte faz o treinador Pete Bell, fictício, que recruta o gigante imperdível que atende simplesmente pelo nome de Neon. Ô, loco. Duas décadas depois, a “denúncia” de Blue Chips continua válida. As regras da NCAA só são duras, mesmo, com os jogadores… Enquanto os programas seguem lucrando sem parar.

Confesso que realmente não me recordava de o filme ter sido dirigido por um figurão como William Friedkin (“Operação França”, “O Exorcista” e, mais recentemente, “Killer Joe”, um filme completamente demente com uma performance estarrecedora do bola-da-vez Matthew McConaughey, rodado em 2011). O que só deixa um basqueteiro cinéfilo mais contente e orgulhoso. Já o roteiro tem a assinatura de Ron Shelton, o que faz tudo ganhar mais sentido, já que ele é o cara por trás da história de “Homens Brancos Não Sabem Enterrar”. Curiosamente, Shelton chegou a jogar beisebol profissionalmente, em times filiados ao Baltimore Orioles.

Pete Bell e Neon discutem algumas coisinhas que não podem ser publicadas

Pete Bell e Neon discutem algumas coisinhas que não podem ser publicadas

Em Blue Chips – o termo vem do mercado de ações, do tipo em que você pode investir sua grana sem estressar, traduzido para o mundo do esporte como os prospectos mais badalados com Wiggins, Shaq, LeBron etc. –, temos também a participação de outros atletas como Penny Hardaway (“Butch McRae”, antes da briga em Orlando), Calbert Cheaney (formado em Indiana, jogando por Indiana), Bobby Hurley (o armador de Duke que sofreu um acidente que acabou com sua carreira), Geert Hammink (um holandês cult), Rodney Rogers (eleito melhor sexto homem da liga pelo Suns) e muitos, muuuuitos outros jogadores que estavam entrando na NBA naqueles tempos. Há também papel para Bob Cousy (interpretando!) e outras lendas como Larry Bird, Bobby Knight e Rick Pitino, como eles mesmo.

Fiz uma pesquisa aqui para saber de algum interesse especial de Nick Nolte pelo basquete. Não achei. Então a gente pode fingir que essa foi a primeira vez que ele voltou a um ginásio de basquete desde que gravou o filme com Shaq, 21 anos depois, né?

Foi para ver estes jogos aqui.

Aê.

Valeu, pelo menos, para relembrar o filme e este post aqui: Abdul-Jabbar e Wilt Chamberlain curtindo horrores em Hollywood.


O jogo terminou 174 a 169. E sem prorrogação
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Para não dizer que é mentira

Para não dizer que é mentira

Já escrevemos aqui sobre o experimento sociológico, matemático e alucinógeno aplicado pelo Reno Bighorns na D-League da NBA. A proposta de fazer o jogo de basquete mais acelerado do planeta, com arremessos de três sem parar, poucos segundos gastos no cronômetro, substituições de cinco em cinco, sob o comando de David Arseneault Jr. Tudo com a chancela do bilionário indiano Vivek Ranadive, dono do Sacramento Kings, o clube-irmão das Bigornas. Pois neste sábado os caras talvez tenham alcançado o ‘produto’ máximo em uma vitória sobre o Los Angeles D-Fenders, o afiliado do Lakers, em L.A.

O placar foi de 175 a 169.

Sem prorrogação.

(Sim, 344 pontos em 48 minutos. De D-Fenders, o time da casa ficou apenas no nome, mesmo. O-Fenders combina mais agora.)

Geralmente é legal de citar quantos atletas de um time terminaram uma partida com dígito duplo em pontuação, né? Para mostrar um elenco solidário, versátil, imprevisível. Com um placar desses, porém, as coisas se subvertem: o certo é contar quantos atletas terminaram com menos de 10 pontos. E aí vai: apenas seis. Mas tem um detalhe: se formos contar aqueles que jogaram pelo menos 10 minutos, foram apenas três com dígito simples na linha de estatística: Andrew Warren (6 pontos em 16 minutos) e o gigante canadense de 2,28m Sim Bhullar (4 em 19), pelo Bighorns, e Zach Andrews (2 em 15).

Na real, oito atletas fizeram 20 ou mais pontos, sendo que cinco passaram dos 30. Brady Heslip, o Navarro canadense e cestinha da D-League, anotou 35, acima de sua média de 27,7. David Wear, irmão gêmeo do ala Travis Wear, do Knicks, marcou 33 em 26 minutos, acertando 12 de 18 arremessos, sendo 7 de 12 de longa distância. O ala-armador Jordan Clarkson, do Lakers, liderou a ofensiva de Los Angeles, com 35 pontos. Ele ainda somou 11 assistências e cinco rebotes em 43 minutos, com 16-23 nos arremessos. O ala-pivô Roscoe Smith, ex-Connecticut, somou 32 pontos, 15 rebotes e 7 assistências. O ala-armador Vander Blue, que chegou a assinar com Celtics, Spurs e Sixers na temporada passada, teve 31 pontos, 10 assistências e 5 rebotes. Para constar, o pivô Tarik Black, dispensado pelo Rockets e recrutado por Mitch Kupchak, ficou com 23 pontos e 12 rebotes em sua estreia.

No geral, foram 85 assistências para 132 cestas de quadra, sendo 32 de três pontos. Detalhe: o time angelino converteu apenas quatro tiros de fora. A equipe vencedora levou 98 pontos no primeiro tempo. Tudo muito surreal. Nem em video game.

É basquete ainda, você deve perguntar?

Arseneault Jr. e Ranadive vão dizer que é basquete, sim, no estado mais puro. O resto da liga duvida: nenhum atleta do Reno, a despeito de seus números polpudos, foi recrutado até o momento para jogar na temporada 2014-2015 da NBA – cm exceção do ala Eric Moreland, que pertence ao Kings, claro.

Veja o jogo na íntegra, se não tiver labirintite:

Ironicamente, pouca gente viu o ‘espetáculo’ in loco, já que o jogo foi disputado numa quadra de treino do Los Angeles. O tiroteio ao menos foi transmitido na TV fechada local, com direito a comentários de A.C. Green. Além disso, o time de Reno não conseguiu bater o recorde de pontos em um jogo pela D-League: ele ainda pertence ao… D-Fenders, que anotou 175 no dia 20 de dezembro passado

, justamente contra o Bighorns, que terminou com 152 naquela ocasião.


Tem Caboclo na D-League: hora de botar na prática
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

bruno-caboclo-d-league-mad-ants-loss

Passada a euforia por conta daquela estreia inesquecível, deixando de lado um pouco a empolgação e carinho incrível demonstrados pelos torcedores do Toronto Raptors, é hora de avaliar como andam as coisas para Bruno Caboclo dentro de quadra. Hora de ver como anda seu progresso como jogador. Em meio a um trecho complicadíssimo de sua tabela, a franquia canadense achou por bem mandar o brasileiro para a D-League. Fez certo. Depois de tanto treinamento durante a pré-temporada – e foi muito treino, mesmo –, mas com parcos minutos em jogos oficiais, o jovem ala fez neste sábado sua estreia pelo Fort Wayne Mad Ants, em derrota para o Iowa Energy por 111 a 106.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Marcou 13 pontos em 20 minutos, acertando cinco de seus 14 arremessos (1 de 5 nos tiros de três pontos). Além disso, cometeu cinco faltas e quatro turnovers e deu dois tocos. Avaliar os números isolados assim, porém, não serve para muita coisa, não. O mais prudente é assistir ao que se passou em quadra, e a liga de desenvolvimento da NBA neste ponto é nossa melhor camarada: todos os jogos do campeonato estão disponíveis na íntegra no YouTube (veja abaixo). Antes, porém, de ver o VT, precisa-se primeiro entender que tipo de competição ele está encarando.

Entre os 18 times da D-League, o Fort Wayne Mad Ants, nos confins de Indiana, é o único que não desfruta de uma parceria/sociedade/afiliação exclusiva com um clube da liga grande. O que significa ter convênio com outras 12 franquias: Hawks, Nets, Hornets, Bulls, Nuggets, Pacers, Clippers, ucks,  Timberwolves, Pelicans, Trail Blazers e Wizards. É muita coisa. É também um modelo bem diferente, por exemplo, daquele que Houston Rockets e Oklahoma City praticam, com filiados muito mais próximos. O Rockets tem no italiano Gianluca Pascucci seu vice-presidente no departamento de basquete e, ao mesmo tempo, o gerente geral do Rio Grande Valley Vipers. Chris Finch, assistente de Kevin McHale, já foi o treinador principal dessas víboras do vale do Rio Grande. A integração é muito maior por lá, assim como nas demais equipes.

No cenário quase perfeito que Bruno encontrou em Toronto – um time em ascensão dentro e fora de quadra, de bem com a torcida, e uma torcida fanática e ferverosa –, este é realmente o único senão, conforme um scout de um dos times da Conferência Oeste já havia me apontado. Se o Raptors tivesse um parceiro só seu, exerceria controle pleno sobre o modo como sua grande aposta  será aproveitada.

Em Des Moines, em sua estreia o caçulinha dividiu a quadra com Glen Rice Jr., do Washington Wizards. Os dois eram os únicos atletas enviados da NBA. Mas, durante a temporada, dependendo das circunstâncias, a conta pode ser muito maior. E aí a concorrência por minutos fica mais intensa, enquanto as oportunidades em quadra podem se reduzir na mesma proporção. O técnico do time, Conner Henry (51 anos, ex-jogador de NBA e longa carreira na Europa), ao menos se mostra disposto a aproveitar os reforços pontuais, vendo nisso uma oportunidade para dar um respiro a suas principais peças regulares.

Glen Rice Jr. é o companheiro de NBA de Caboclo no momento; em Iowa, anotou 10 pontos em 18 minutos, com 3-10 nos arremessos e 4-6 nos lances livres

Glen Rice Jr. é o companheiro de NBA de Caboclo no momento; em Iowa, anotou 10 pontos em 18 minutos, com 3-10 nos arremessos e 4-6 nos lances livres

De qualquer forma, é o que Toronto e Caboclo têm para hoje, e já vale como um ótimo teste. Se a D-League apresenta um nível de jogo consideravelmente inferior ao da Association, por outro lado também está a anos-luz de distância da liga de desenvolvimento nacional, a LDB, campeonato que ele efetivamente disputou na temporada passada pelo Pinheiros.

Além de Rice Jr., alguns nomes de destaque do Mad Ants são veteranos como os alas Danthay Jones (aquele mesmo, ex-Denver, Utah, Memphis e tantos outros), Andre Emmet, draftado por Memphis em 2005 e que rodou o mundo, passando pelo Nets também, e Chris Porter, de 36 anos e que jogou pelo Golden State lá nos idos de 2000 e também já conheceu diversas praças. Do outro lado, o imortal Damien Wilkins foi o cestinha, com 29 pontos. O campeonato vai reunir esse tipo de andarilho e jovens atletas badalados no basquete universitário em busca de afirmação como profissionais, como o ala CJ Fair, revelado por Syracuse, e o armador Kalin Lucas, Michigan State.

Essa combinação pode resultar em jogos excessivamente individualistas, com os jogadores tentando mostrar serviço de qualquer jeito em busca de uma promoção. Caboclo, sendo um atleta de NBA, com contrato garantido, vai certamente se tornar um alvo dos concorrentes (internos e externos). Vocês se lembram da surpresa que foi sua escolha pelo Raptors na 20ª posição do Draft. Obviamente diversos prospectos americanos se sentiram “injustiçados” por isso. Aquele tipo de raciocínio asqueroso: “Quem é esse fedelho brasileiro de que nunca ouvimos falar, roubando nosso emprego?”

Outros pontos para serem levados em conta: o brasileiro está enferrujado. Por mais que tenha praticamente morado dentro do Air Canada Center, varando a noite em quadra – aliás, chegou um momento em que os dirigentes se viram obrigados a proibir o garoto de ir para o ginásio para uma sessão extra de treinos, sozinho, por conta própria. Só foi liberado depois num acordo: ao menos teria de ser acompanhado por um integrante da comissão técnica.

Mas tem aquela frase famosa: treino é treino. Jogo? Outra história. Mesmo se estivesse em plena atividade, não dá para esquecer que o atleta ainda é um produto em fase (inicial) de refinamento. Um produto longe de estar acabado. Na D-League, ele vai ganhar minutos para mostrar o que aprendeu, e, ao mesmo tempo, testar suas novas ferramentas – movimentos trabalhados no dia-a-dia com os técnicos do Raptors.

Nos poucos minutos que vimos de Bruno na liga principal, contando aí a pré-temporada, deu para notar o quão cru ainda é o seu jogo no ataque. É por isso que Dwane Casey vai mandá-lo para a zona morta. Não apenas para espaçar a quadra, mas também pelo fato de que ainda não pode confiar em envolver o garoto em tramas mais complexas. Seu arremesso de longa distância, segundo consta, está rendendo muito bem nos treinamentos. Sua capacidade atlética também não se discute – ele pode pontuar em rebarbas ofensivas sem problema. Mas tudo aquilo que está no meio do caminho, o jogo de média distância que DeMar DeRozan faz tão bem, praticamente inexistia até a chegada a Toronto.

Contra o Bucks, a estreia especial. Agora, sem burburinho da torcida, hora de praticar

Contra o Bucks, a estreia especial. Agora, sem burburinho da torcida, hora de praticar

A oportunidade de expandir e praticar contra profissionais, então, é essencial. E outra: num ambiente completamente diferente, com ginásio e público mais acanhados – eram 4.091 espectadores na Wells Fargo Arena nesta sexta-feira. Mais importante ainda talvez seja a ausência do frenesi dos torcedores do Raptors ao seu redor. Isso é importante para deixá-lo relaxado e concentrado apenas no que tem para fazer em quadra.

Contra o Iowa Energy, filial do Memphis Grizzlies, Bruno foi para o jogo no final do primeiro quarto, para marcar o experimentado herdeiro da família Wilkins, de 34 anos e mais de 10 mil minutos em sua carreira de NBA, único titular do time adversário em ação. Com sua envergadura assustadora e movimentação lateral atenta, fez um bom papel e não permitiu que o ala ex-Sonics efetuasse sequer um arremesso.

A primeira tentativa de cesta do brasileiro foi bem sucedida. Com um minuto de jogo no segundo quarto, ele recebeu um passe do canadense Myck Kabongo na ala esquerda, encarou o armador Diante Garrett (ex-Suns, Jazz) e o deixou para trás com facilidade para bater pelo fundo e fazer a bandeja após dois esticados dribles – o tipo de ação que os técnicos do Raptors vêm insistindo com ele. Seu time vencia por 34 a 30, então.

Duas posses depois, ele se viu diante do pivô Josh Warren, e, confiante, também partiu para a cesta, dessa vez cortando pelo meio. Chegou ao aro com a maior tranquilidade.  Ainda que o adversário fosse muito mais pesado, facilitando sua arrancada, foi interessante notar a inteligência do ala ao identificar o buraco no centro da quadra e e atacar por ali. Na NBA isso dificilmente vai acontecer, mas cada um aproveita o que tem ao seu dispor no calor do jogo:

Instantes depois, bem confortável em quadra, ele forçou um arremesso de média distância, desequilibrado, na cabeça do garrafão, ao se chocar com a linha defensiva. O Mad Ants, porém, manteve a bola com mais um rebote ofensivo. Caboclo foi, então, acionado na zona morta, partindo para uma tentativa de enterrada daquelas. Acabou sofrendo falta do pivô Pierre Henderson-Niles. Vejam:

Nem tudo foi perfeito, obviamente, como suas estatísticas lá em cima mostram. Empolgado, acabou errando de modo feio um chute da zona morta, por exemplo, num tipo de movimentação ofensiva em que vai ser aproveitado de modo mais realista quando com a camisa do Raptors:

Por outro lado, e este chute aqui, a partir do drible?

Aqui, vemos como lhe ainda falta força para aguentar o contato depois de uma combinação de pick and roll com Kabongo. O passe do canadense poderia ter sido mais rápido e baixo (o arco elevado dá mais tempo de o defensor se recuperar na cobertura de garrafão), mas o ala também não percebeu isso. Ao receber a bola, poderia ter estacionado e buscado outra solução:

Na defesa, o ala alternou momentos de posicionamento avoado, se afastando muito de seu homem para fazer a ajuda. No quarto período, acabou se atrapalhando todo ao cometer nada menos que quatro faltas em 45 segundos. Sim, isso mesmo, uma sequência inacreditável: a segunda pessoal com 11min43s (tentando bloquear Wilkins, embora o contato não seja claro); a terceira com 11min30s, depois de um péssimo passe em sua direção, tentando recuperar a bola; a quarta com 11min22s, já evidentemente frustrado, empurrando Wilkins no centro da defesa, sem necessidade; e a quinta com 11min15s, novamente em cima de Wilkins, caindo na finta do veterano. Mas houve momentos em que conseguiu incomodar bastante devido a sua envergadura. Nesta posse de bola, ele em duas ocasiões intimida o ala-armador Chris Allen, forçando um estouro de cronômetro:

Quando retornou no quarto final, devido ao excesso de faltas e turnovers, acabou sacado em menos de quatro minutos. O Iowa vencia, então, por quatro pontos (90 a 86), segundo que a recuperação havia acontecido na terceira parcial. Voltou a ser chamado pelo treinador com 2min50s para o fim, quando o placar era de 103 a 95 para os anfitriões. E aí teve uma ótima sequência entre 1min33s e 1min11s, quando deu um toco no pivô Jerrid Famous, perdeu um tiro de três, mas pegou dois rebote ofensivos em sequência e converteu um chute de curta distância para fazer o Mad Ants encostar (103 a 102). Com 15s no relógio, contudo, errou um passe em reposição lateral, que resultou em recuperação de Diante Garrett e um contra-ataque para bandeja (109 a 104). Um turnover crucial:

O nome da liga já diz tudo: é para o desenvolvimento. Conforme o esperado, o garoto mostrou que há muito o que se ajustar, o que treinar, como podemos notar por sua participação acidentada no quarto final. Por outro lado, também apresentou muitas coisas boas. Jogou todo o segundo período, sem timidez alguma em quadra. Teve volume de jogo e coragem para assumi-lo. Além disso, seu time lucrou, venceu quando esteve em quadra, terminando o primeiro tempo com sete pontos de vantagem (58 a 51). Sério e competitivo, Bruno muito provavelmente não se perdoa  pela falha na reposição de bola. Mas é esse tipo de situação que vai fazê-lo crescer, muito mais do que ficar no final do banco de reservas apenas ouvindo os gritos entusiasmados de seus fãs em Toronto.