Vinte Um

Arquivo : D-League

Você acha que seu time chuta muito de 3? Ainda não viu o Reno Bighorns
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Aresneault Jr. tem apenas 28 anos. E conduz um experimento daqueles

Aresneault Jr. tem apenas 28 anos. E conduz um experimento daqueles

Quem aí se lembra do garoto Jack Taylor, aquele armador de 1,78 m de altura que chegou a marcar 138 pontos numa partida do basquete universitário americano em 2012? Foi um, dãr, recorde da NCAA em vitória estratosférica de sua equipe, o Grinnell Pioneers, sobre Faith Baptist Bible, por 179 a 104, pela terceira divisão da entidade. Não importava o nível da partida: os números eram bizarros a ponto de ganhar manchetes no mundo todo.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Foi nesse momento que todo o povo de fora dos confins e das fronteiras da pequenina cidade de Grinnell, de cerca de 9 mil habitantes, na faixa Oeste do Estado de Iowa, teve contato com o di-fe-ren-te. O basquete tresloucado, desses números absurdos, praticado pela universidade  particular do município, comandado por David Arseneault, de 61 anos, o patrono desse sistema. Sim, porque se trata de um sistema, de uma filosofia de jogo, até mesmo com livro publicado a respeito, “The Running Game“.

Quem prestou atenção nesse movimento todo, com bastante interesse, ao que parece foi o indiano Vivek Ranadivé,  bilionário proprietário do Sacramento Kings. Por quê? Pois a filial da franquia na Liga de Desenvolvimento da NBA, o Reno Bighorns, contratou para esta temporada o filho do homem, David Arseneault Jr., de apenas 28 anos, para dirigir seu time. Obviamente que o negócio não foi fechado com o intuito de fazer um jogo conservador.

“Achei que poderia ser uma piada, para ser sincero”, disse o jovem treinador, ao Reno Gazette-Journal, sobre quando recebeu a ligação. “O sistema seria o caos organizado. Estamos tentando aperfeiçoar o caos. Vai ser uma correria. Vamos correr e tentar muito de três pontos. O quão extremo podemos ir? Depende. Mas vamos tentar coisas diferentes e partir daí.”

reno-bighorns-d-league

Arseneault Jr., segundo consta, já era o técnico de fato de Grinnell. Seu cargo era de assistente apenas como nomenclatura, mas era quem dava treinos e lidava com as operações do dia-a-dia. Foi daqueles garotos que não desgrudava do Senior e passava o tempo todo num ginásio de basquete. Mais tarde, jogou de armador na equipe, tentou a sorte no exterior e voltou para casa, até se juntar ao pai no banco de reservas de trajes sociais. Como atleta, não pontuava muito: seu forte era passara a bola, mesmo, com médias de 9,4 assistências na carreira. Em 2007, ele chegou a estabelecer um recorde de 34 assistências num só duelo – mas a marca seria quebrada mais tarde por outro jogador da equipe. Estraga-prazer.

Na temporada passada, os Pioneers marcaram 116 pontos por partida. Eles lideraram toda a NCAA em produção ofensiva por 19 das últimas 21 temporadas. Em volume de tiros de três pontos, foram em 17 temporadas durante esse período. Tudo baseado em uma fórmula.  “Nas últimas duas décadas, o técnico vem colocando em prática seu sistema (“O Sistema”), baseado em sua fórmula (“A Fórmula”), que pede explicitamente  que sua equipe arremesse pelo menos 94 vezes num jogo, 47 das quais deveriam ser em três pontos”, relata o repórter Eamon Brennan, do ESPN.com americano.

Segundo Arseneault Jr., esses princípios foram evoluindo naturalmente. O fato é que a equipe de seu pai estava cansada de apanhar em suas competições, e o técnico saiu em em busca de alternativas para compensar sua suposta falta de talento. Quando consultou os jogadores, eles teriam escolhido um jogo mais acelerado.

armador Ra'shad James é um dos que vai ter de corrrer: 16 pontos de média no início

armador Ra’shad James é um dos que vai ter de corrrer: 16 pontos de média no início

Outra particularidade das táticas boladas pela família: os atletas são substituídos de modo frenético, numa média de um por minuto. Por vezes, o quinteto inteiro é retirado de quadra, para que eles sigam correndo feito malucos, pressionando o adversário com bombas de três pontos e marcação em cima da bola, adiantada, pela quadra toda. É com isso, gente, que o Reno Bighorns está mexendo. E vai ser uma alteração drástica para o clube.

Na temporada, sob a orientação de Joel Abelson, que foi para o New York Knicks, o Bighorns teve o terceiro ataque menos produtivo, com média de 104,8 pontos. Ficaram em antepenúltimo também na quantidade de arremessos de três pontos, com 353 cestas de longa distância no decorrer do campeonato, em 963 tentativas (penúltimo). Para efeito de comparação, o Rio Grande Valley Vipers tentou 2.268 chutes de fora. É a filial do Houston Rockets, totalmente mergulhada em planilhas estatísticas convencidas de que o arremesso de três é um pilar fundamental para um setor ofensivo eficiente.

Essa, hã, preguiça toda já virou passado.

Veja só estes placares:

– 08/11 – Idaho Stampede 158 x 135 Reno Bighorns
– 11/11 – Reno Bighorns 128 x 126 Santa Cruz Warriors
– 14/11 – Reno Bighorns 144 x 152 Iowa Energy
– 16/11 – Reno Bighorns 127 x 116 Grand Rapids Drive

Que tal?

São os quatro compromissos do Reno Bighorns até agora com seu novo técnico.  Quando os expus alguns desses números no Twitter, um dia desses, o companheiro de Saque e Voleio Alexandre Cossenza perguntou se o cronômetro de posse de bola tinha 15 segundos, rindo. O Guilherme Giavoni, que a turma de Sorocaba, conhece bem, reparou: era placar de Jogos das Estrelas. As duas situações bem que poderiam ser verdadeiras. As coisas fariam mais sentido. Mas, não: todos esses jogos foram disputado com os 48 minutos regulares do basquete profissional, com 24 segundos de relógio por ataque, sem prorrogação.

“Demos às pessoas uma chance de ver o que esse sistema pode realmente fazer”, afirmou Arseneault Jr. após a vitória sobre Grand Rapids, na qual sua equipe chegou a ficar atrás no placar por 42 a 19 no segundo período, antes de ir para o intervalo com uma vantagem mínima de 54 a 53. Afe. “Depois de um começo fraco, o time começou a esquentar e a arremessar.”

Veja como funciona, na íntegra da partida contra a filial do Detroit Pistons:

Vale uma autópsia, não?

As estatísticas mostra o seguinte: o clube afiliado do Kings vem com incrível média de 135,5 pontos em seus dois primeiros jogos oficiais. Acho que nem o Harlem Globe Trotters chegaria a tanto. Se formos levar em conta a pré-temporada (cujo padrão, convenhamos, não muda muito aqui), temos 133,5. Ufa, mais maneirados.

Para comparar, dois times meio que – repetindo “meeeeio que” – chegam perto em pontuação após duas rodadas oficiais: o Texas Legends/Dallas Mavericks, com 128,5 pontos, e o Iowa Energy/Memphis Grizzlies, com 127,0. Mas o Iowa nem deveria contar, já que, como vimos acima, enfrentou as Bigornas e teve seus números inflacionados pelo jogo do dia 14 de novembro – nenhum time fez menos que 31 pontos num quarto. Para comparar, em sua segunda partida, o placar foi um triunfo por 102 a 100 sobre o Santa Cruz Warriors. O Bakersfield Jam/Phoenix Suns tem 118,5, em quarto, e o Rio Grande Valley Vipers/Houston Rockets somou 117,0, em quinto.

Jeremy Lin já jogou por Reno. Mas numa equipe mais tradicional

Jeremy Lin já jogou por Reno. Mas numa equipe mais tradicional

Sim, todas as quantias são meio absurdas, pensando nos padrões com os quais estamos acostumados. Mas as contas a da D-League funcionam de uma forma diferente. Ainda assim, mesmo nessa realidade paralela, o Reno promete deixar sua marca em termos de ritmo de jogo. É frenético, mesmo, com 124,6 posses de bola por partida. O Iowa, de novo com o mesmo asterisco, tem 113,6 posses. O Grand Rapids,  111,1. Está cedo, é verdade, vamos monitorar esses números no decorrer da temporada, mas, por todo o contexto apresentado, podemos esperar uma liderança folgada para a equipe, sim, nesse quesito.

Nos dois primeiros jogos da temporada, os caras tentaram 109 arremessos de três pontos no geral, contra 84 do Maine Red Claws/Boston Celtics, e 74 do Vipers. Se mantiver esse ritmo, terão chutado 2.725 bolas de longa distância durante a temporada regular, mais de 500 a mais que os líderes da edição passada. Talvez isso independa do aproveitamento, que foi de 38,5% nas duas primeiras partidas, o sexto.

Numa coisa, porém, não podemos nos perder. Não é que o Bighorns busque apenas o chute de fora. Seu volume ofensivo é caudeloso sob qualquer medida. No total, eles arriscaram 228 arremessos em dois jogos, contra 201 de Iowa e 189 do Erie Bayhawks/Orlando Magic. Na verdade, os tiros do perímetro equivalem a 48% de suas tentativas. Para o Red Claws, o percentual é de 50%.

Entre os atletas, quem está adorando tudo isso é o ala-armador Brady Heslip, canadense formado pela Universidade de Baylor e que já defende a seleção nacional de seu país. Vocês se lembram dele? É um rapaz bastante confiante em sua capacidade de arremesso. Nas duas primeiras rodadas, ele marcou 78 pontos, média de 39. Sozinho, ele tentou 36 arremessos de três, matando 20 (55,6%). Foram 47 chutes para ele no geral. Pura doideira. O ala TJ Warren, calouro do Phoenix Suns e defendendo na D-League o Bakersfield Jam, acumulou 46 chutes, dos quais módicos 13 foram de fora.

Heslip sabe enxergar uma boa chance para arremessar de três pontos

Heslip sabe enxergar uma boa chance para arremessar de três pontos

“É como se fosse o Rio Grande Valley, mas talvez um pouco mais imprudente que eles. Mas não no mau sentido. Eles jogam com velocidade. A única diferença aqui é a defesa. Vamos pressionar o jogo todo e tentar acelerar a equipe. Ninguém jamais jogou desta forma antes. É um experimento”, disse o armador Tajuan Porter, que vem com ‘modesta’ média de 11 pontos por jogo em 22,5 minutos. Quatro de seus companheiros, além de Heslip, têm mais de 15 pontos de média.

Ame-o ou odeio-o, o Reno Bighorns vai seguir em frente com seu sistema amalucado, que nunca foi testado com profissionais. É um cenário bem diferente daquele que Arseneault Sr. pensava. “Meu pai nunca pensou que essa fosse virar uma estratégia competitiva. Ele apenas achava que, se era para eles perderem, para que perder de 60 a 40, se dava para perder de 150 a 130? Pelo menos as pessoas teriam algo de positivo para falar a respeito depois de uma derrota, já que alguém havia marcado tantos pontos”, disse o Junior, convicto de que pode ser bem-sucedido sob os olhares e contra a concorrência de tanta gente séria. “Não vejo motivo para que não. Ao mesmo tempo, estou curioso para saber o quão bem pode correr aqui. Já vi alguns flashes no training camp que indicam que ele pode ser muito, muito sucesso.”

Num basquete brasileiro em que se arremessa de três pontos sem peso algum na consciência, é de se imaginar que a curiosidade para acompanhar esse experimento não poderia ser maior.

*  *  *

Relembre a ‘façanha’ dos 138 pontos de Jack Taylor?

 


Sobrinho de Leandrinho tenta a chance na D-League da NBA
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Ricardo Barbosa, sobrinho de Leandrinho, armador, Osasco

Ricardo Barbosa, armador de 20 anos e 1,85 m de altura, está tentando a sorte nos Estados Unidos também. O jogador se inscreveu no Draft da liga de desenvolvimento da NBA, a NBADL – também popularmente conhecida como D-League. Mas quem seria Ricardo? Era a pergunta de um scout da liga principal norte-americana quando veio me informar sobre essa pequena surpresa na lista oficial que recebera pela manhã. Bem, estamos falando de um sobrinho do Barbosa mais famoso em tempos recentes do basquete nacional: Leandrinho.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

A princípio, minha pergunta para o olheiro foi de espanto: Ricardo quem? Também não conhecia, e havia pouca informação disponível por aí no Google. Checar informações nas federações nacionais nem sempre é a tarefa mais fácil, mas com ajuda da comunidade nerd basqueteira, como o pessoal do Mondo Basquete, e de grandíssimos torcedores do Pinheiros, conseguimos juntar as peças.

Quando obtive acesso à lista oficial – agora já divulgada pela D-League com alguns nomes interessantes como Marquis Teague, Erik Murphy, o dominicano Eloy Vargas e o canadense Brady Heslip –, chamou a atenção o agente que o representava: Sam Goldfelder, cujos atletas vão ganhar mais de US$ 57 milhões nesta temporada da NBA. É um cara poderoso, que conta com Blake Griffin como principal cliente. Quando fui conferir quem mais ele representava, lá estava Leandrinho.

Por aqui, pouco se escreveu sobre Ricardo. A primeira ocorrência que encontrei foi um texto do extremamente valioso blog da Liga Nacional de Basquete, o Território LNB. Numa lista de “novos talentos”, identificando nada menos que 25 jovens atletas para serem acompanhados na LDB de 2013. Ô loco. Ricardo, inscrito pelo Pinheiros – clube que seu tio defendeu depois da cirurgia por que passou no joelho, antes de voltar ao Phoenix Suns –, apareceu na posição 18, com a seguinte descrição: “Nascido em 1994, mostrou uma grande evolução da 2ª para a 3ª edição da LDB. Em São Sebastião do Paraíso mostrou muita versatilidade, começou jogando na 2 e assumiu a armação principal do time após a contusão de Gustavoa Ceccato. Boa defesa e, no ataque, um faro pra encontrar os buracos no sistema adversário”.

Ricardo Barbosa, jogando pelo Pinheiros na LDB

Ricardo Barbosa, jogando pelo Pinheiros na LDB

O garoto, que é filho de Arthur, irmão mais velho de Leandro e uma grande influência na trajetória ímpar do ala-armador, não foi aproveitado pelo time principal do clube da capital paulista, no entanto. Antes, na base, havia jogado pelos times menores de Hebraica e Palmeiras.

Neste ano, Ricardo assinou com o time de Osasco. E foi pesquisando no perfil do clube no Facebook que encontramos também o Eduardo Barbosa, irmão mais velho de Ricardo, que já havia ganhado suas manchetes no passado por ter assinado com o Londrina em 2010. Em termos de clube, Eduardo teve na base a mesma trajetória do caçula, tendo estudado também por dois anos nos Estados Unidos. Na equipe paranaense, que passava por situação financeira bastante grave, trabalhou com o técnico Ênio Vecchi. Justamente o comandante de Osasco.

Agora, o jovem atleta tenta dar um grande salto. Ele é um dos cerca de 180 atletas que estão disponíveis para as franquias da D-League selecionarem neste sábado, pela tarde – 11 deles têm experiência de NBA. Entre eles também consta o veterano armador Luther Head, ex-Houston Rockets, companheiro de Deron Williams na universidade de Illinois, e Chris Smith, o irmãozinho do JR. David Stockton, armador revelado por Gonzaga, nunca jogou lá, mas também tem um sobrenome de peso, com pai famoso.

Como funciona o Draft? São loooongas oito rodadas de escolhas para as 18 franquias. Tal como na liga principal, esses picks estão sujeitos a trocas, e tal, com muitas delas já interferindo na ordem de escolha deste ano. As negociações, porém, só podem acontecer até esta sexta-feira. Não estranhem se Ricardo for selecionado pelo Santa Cruz Warriors, filial do Golden State, de Leandrinho. Na campanha passada, eles contaram com Seth Curry, por exemplo. Esse tipo de acordo é normal.

Dos 18 times, 17 têm vínculo exclusivo com, digamos, seus irmãos da NBA. O único fora da brincadeira é o Fort Wayne Mad Ants, justamente aquele de melhor nome, que acaba sendo forçado a abrir espaço em suas fileiras aos demais 13 clubes da liga administrada hoje por Adam Silver. O Toronto Raptors, de Bruno Caboclo e Lucas Nogueira, está no meio dessa confusão, diga-se.

O training camp dos times começa no dia 2 de novembro, enquanto a largada da temporada regular será no dia 14. Na véspera, os clubes precisam definir seu elenco oficial de 10 atletas. A origem dos jogadores não precisa ser apenas via draft. O site oficial explica tudo em detalhes, mas basicamente os times de cima têm direito de “reservar” alguns atletas para seus afiliados (num limite de quatro). Além disso, durante o calendário regular, sabemos muito bem que há constante intercâmbio entre os dois campeonatos. Brasileiros como Vitor Faverani, no campeonato passado, antes de se lesionar, Scott Machado e Fabrício Melo já passaram por essa rota.


Nenê protagoniza melhor momento brasileiro na temporada
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Nenê sobe livre para a enterrada triunfal, depois de Wall limpar a quadra

Nenê sobe livre para a enterrada triunfal, depois de Wall limpar a quadra

Não dá para dizer que a temporada 2013-2014 seja a mais auspiciosa para os brasileiros na NBA. Não que estejam terrivelmente mal. Nada disso. Mas tem faltado um pouco de brilho, barulho, grandes momentos – talvez pelo fato de a turma ter se assentado em situações cômodas, de estabilidade.

De todo modo, neste sábado, Nenê ao menos conseguiu registrar um grande momento para a legião de exportados, realizando um dos melhores jogos de sua já longínqua carreira na liga norte-americana. Na verdade, o melhor momento, e justo com ele, sempre afeito a dar o mérito aos companheiros. Um cara que não curte muito esse negócio de se gabar em entrevistas – isso, claro, quando ele topa falar com algum repórter. Mas dessa vez não havia muito como ele escapar dos microfones e gravadores.

O pivô marcou 30 pontos na vitória do Washington Wizards sobre o New Orleans Pelicans, igualando sua melhor marca pessoal. Mais: fez a cesta do triunfo, uma enterrada com 0s9 no cronômetro, bem em cima da buzina, mesmo, para definir o placar de 94 a 93. “Apenas rezei”, afirmou o são-carlense, em mais um gesto típico, sempre evocando termos religiosos para suas ações em quadra. “Queria encerrar o jogo com a bola nas minhas mãos. Eles fizeram isso, colocaram nas minhas mãos. O John foi fantástico: uma infiltração daquelas, e ele me encontrou.”

Veja a jogada aqui, eleita pela turma da NBA como a melhor de uma noite cheia de jogos (e, de brinde, veja a enterrada poderosa do brasileiro na 10ª posição, deixando o Monocelha na saudade):

Esses foram apenas os famosos “highlights”, né? Mas, se você quiser saber exatamente o estrago que Nenê fez na defesa do Pelicans, melhor assistir a este compacto com suas cestas de quadra (e algo a mais):

O pivô estava simplesmente com as mãos pegando fogo, tendo convertido 13 de 19 arremessos de quadra. Para quem não clicou no vídeo, a boa nova foi sua confiança na conversão dos chutes de média distância. Na temporada, este vem sendo seu aproveitamento:

Em amarelo: Nenê arremessando de acordo com a média da liga em praticamente todo o perímetro interno, sendo mais eficiente na cabeça do garrafão e dois ou três passos para a direita. Não por acaso, região em que encaçapou diversas vezes contra o Pelicans

Em amarelo: Nenê arremessando de acordo com a média da liga em praticamente todo o perímetro interno, sendo mais eficiente na cabeça do garrafão e dois ou três passos para a direita. Não por acaso, região em que encaçapou diversas vezes contra o New Orleans

Quer dizer, Nenê já precisa ser respeitado na hora de subir para o jump-shot. Se conseguir, de alguma forma, elevar seu rendimento, seu impacto no ataque do Wizards seria mortal: 1) é difícil parar John Wall em suas infiltrações, no mano a mano, de modo que o pivô (Greg Stiemsma, por exemplo, em diversos dos lances acima)  também precisa recuar um bocado no garrafão para fechar a porta; 2) Marcin Gortat é um ótimo finalizador debaixo do aro e também chama a atenção da ajuda, da cobertura; 3) o mais ilustre dos Hilários do esporte tem liberdade para receber o passe e finalizar; se for para matar, deixa os defensores praticamente diante de constante xeque-mate após xeque-mate.

Agora, voltando à discrição de Nenê. Vasculhando os sites norte-americanos, ou mesmo os locais de Washington, foi difícil encontrar mais declarações do brasileiro. Vamos aqui com as únicas duas:

– “Foi uma vitória fantástica” – a básica.

– “Não, não, não. Isso não está certo” – o pivô descrevendo o que pensou quando Anthony Davis (aliás, mais um jogo sensacional para este jovem craque) converteu dois lances livres nos segundos finais para por o time visitante na frente do placar.

A enterrada de outro ângulo

A enterrada de outro ângulo

E só. Se alguém tem outra na manga, favor endereçar em telegrama urgente. É impressionante e diz muito sobre seu comportamento – com a ressalva de que o elenco do Wizards se mandou rapidamente do ginásio, com um voo marcado para Cleveland, aonde jogam novamente neste domingo.

Mas o sumiço do pivô também fala bastante sobre a moral que John Wall tem na capital norte-americana. (Claro, essa não é uma surpresa, já que é, agora oficialmente, o All-Star da franquia.) Sua assistência para a enterrada triunfal de Nenê foi o grande chamariz nos relatos da partida. E, de fato, merecia destaque. “John fez duas jogadas no fim que você não consegue ensinar”, afirmou o técnico Randy Wittman. “Ele partiu para a cesta querendo a bandeja. Estando um ponto abaixo, com o relógio correndo, ele ficou sob controle, para fazer aquela última jogada para o Nenê. Foi uma boa execução no momento  decisivo.”

É… Vejam que Wall atrai a atenção de marcação tripla no garrafão, limpando um espaço precioso para a decolagem de seu pivô. “Eu queria ir para um arremessos”, confessou o armador. “Mas vi Anthony Davis se aproximar. Então pensei em passar por trás para Gortat. Mas aí vi (Jeff) Withey chegar ao mesmo tempo, e então vi Nenê por ali, e e era o passe mais fácil e mais seguro. Por sorte, ele conseguiu fazer a cesta a tempo.”

Fica bem claro o amadurecimento do número um do Draft de 2010. Demorou um pouco mais, mas ele chegou lá, sem perder o embalo da temporada passada, na qual ficou afastado por um longo período devido a complicações no joelho.

O Wizards se mantém na zona de classificação da Conferência Leste, ainda que não consiga de jeito nenhum ultrapassar a marca de 50% de aproveitamento. Wall é quem lidera essa campanha, mas, sem Nenê, pode ter certeza de que não conseguiriam. Por mais que ele diga pouca coisa a respeito.

*  *  *

Varejão e Splitter, de novo lidando com questões físicas

Varejão e Splitter,  lidando com questões físicas

Um bom momento para checar como estão os demais brasileiros, né?

Tiago Splitter vem sofrendo novamente com suas já famosas lesões na panturrilha, o tipo de problema físico que precisa ser muito bem cuidado, para que não vire algo mais grave, que possa lhe atrapalhar nos playoffs. Com Gregg Popovich, porém, não há esse risco. Na semana passada, o catarinense se viu incluído numa lista nada agradável, elaborada pelo jornalista Bill Simmons, editor-chefe e fundador do inigualável Grantland e comentarista da ESPN: a dos 30 piores contratos da liga. Simmons autaliza esta relação anualmente e incluiu o pivô na 23ª posição. “Eu sempre levo pro lado pessoal quando o Spurs paga mais do que deve para alguém. O Spurs é supostamente o clube mais esperto da liga! Por favor, RC Buford! Você é um modelo a ser seguido!!! Você deu US$ 36 milhões para alguém que nem conseguia ficar na quadra nas finais de 2013???? Justo você?? Por quê????”, exclamou, questionou, aloprou.

Splitter recebeu um contrato de US$ 36 milhões por quatro anos. Uma bolada. Mas Simmons não apresentou muitos argumentos para atacar o negócio, além do fato de o jogador ter penado contra o Miami na decisão para questionar esse montante – como se ele fosse o único pivô a ter enfrentado dificuldade contra o time da Flórida . Naturalmente, o comentário despertou uma certa indignação entre os torcedores do Spurs. O blog Pounding the Rock saiu em defesa do atleta, de modo racional. O mesmo blog já havia elaborado um artigo excelente para detalhar a importância do pivô para a defesa texana. Há coisas que os números realmente não contam, ao menos na superfície. Por outro lado, é preciso dizer que Tiago vive sua pior temporada desde o ano de novato, de acordo com medições estatísticas mais avançadas ou em projeções por minuto, mesmo depois de ter descansado durante as férias, sem ter disputado a Copa América. Não quer dizer que esteja mal, mas que pode render mais.

Anderson Varejão estava começando a embalar no garrafão do Cleveland Cavaliers e… Está fora de quadra desde 9 de fevereiro, por conta de alguma contusão/lesão/questão/dor nas costas. O Cavs não divulgou exatamente qual o problema do capixaba, deixando os blogueiros da cidade ressabiados. A ESPN chegou a noticiar que ele teria tomado uma injeção de cortisona, mas o gerente geral David Griffin negou a informação. Em contato com Sam Amico, repórter da FoxSports, contudo, o dirigente confirmou que ao menos um tipo de injeção foi aplicada. Só não quis confirmar qual.

O pivô estreou na temporada um pouco mais tarde, se reabilitando da assustadora embolia pulmonar que o tiro das quadras na temporada passada. Seu tempo de quadra vinha sendo mais controlado, se comparando com os três campeonatos anteriores, mas aos poucos ele vinha recebendo uma carga maior de minutos. Em 2014, tinha médias de 10 pontos, 10 rebotes, 3,3 assistências e 1,5 roubo de bola. Até que parou. Neste sábado, sabe-se que ele não treinou.

– Para Leandrinho, só o fato de já somar 18 partidas na temporada 2013-2014 já é uma vitória, superando uma série de dúvidas sobre seu retorno depois de uma lesão grave no joelho. Prova de sua dedicação, seriedade, devoção aos treinamentos. Aliás, um aspecto muito subestimado na carreira do ligeirinho – não foi só talento natural que o levou ao sucesso nos Estados Unidos. Posto isso, o ala-armador tem perdido rendimento em fevereiro. Depois de abrir o mês marcando 13 pontos em dois jogos seguidos (ambas derrotas, para Chicago e Houston), converteu 17 no total em suas últimas quatro partidas, em seis cestas de quadra, tendo ficado fora da surra do Suns para cima do Spurs, na sexta, abrindo vaga para o calouro extremamente promissor Archie Goodwin. O baixotinho Ish Smith foi o beneficiado.

– Em um ano em que o Boston Celtics joga mais para perder do que para ganhar, a estreia do técnico Brad Stevens na NBA foi considerada pela mídia norte-americana como um dos poucos pontos positivos. É elogiado pelo quanto se prepara para cada confronto, pela eficiência de suas jogadas após pedidos de tempo, pela evolução de Jordan Crawford em suas mãos, entre outros pontos. Agora, no que se refere a Vitor Faverani, acho que o jovem treinador erra, e feio. Dar tempo de quadra para um veterano como Kris Humphries, no último ano de contrato, em detrimento de uma aposta para o futuro, não faz muito sentido. E não é que o pivô gaúcho tenha afundado a equipe quando jogou.  Agora, caminhando para os meses finais de temporada, Faverani se recupera de uma torção no joelho esquerdo. Em três jogos completos pela D-League, teve médias de 16,3 pontos, 12 rebotes, 3,6 assistências e 2 tocos, em cerca de 32 minutos. A ressalva de sempre: os números nesse campeonatos são sempre inflados, pelo ritmo de pelada de muitas partidas. De qualquer forma, Faverani entregou. Agora é ver se consegue voltar para quadra rapidamente e se vai receber mais uma chance adequada de Stevens.

*  *  *

Enquanto isso, na D-League…

Scott Machado, novamente Warrior

Scott Machado, novamente Warrior

– Superada (?) a frustração da dispensa pelo Utah Jazz, Scott Machado voltou à alçada do Warriors, defendendo novamente a filial da franquia em Santa Cruz. Dessa vez, porém, ele é reserva de Seth Curry, o irmãozinho do Steph. Antes que acusem o clube de nepotismo, saibam que o armador tem média de 19,5 pontos por jogo e 6,4 assistências, mesmo que não tenha colocado em prática seu grande arremesso de três pontos (32,5% de longa distância… cai a eficiência quando ele passa mais tempo com a bola, claro). O gaúcho de Nova York tem médias de 20,8 minutos, com 8,6 pontos, 3,4 assistências, 3,1 rebotes e apenas 33,3% nos chutes de quadra…

Fabrício Melo passou um bom tempo em inatividade (inexplicavelmente, diga-se) e assinou com o Texas Legends, a filial do Dallas Mavericks, clube que o cortou no training camp, lembrem-se, numa situação que nunca lhe foi muito favorável. Ainda preciso sentar um dia à frente do YouTube para ver em que tipo de forma está o pivô mineiro, mas depois de fazer ótimas partidas no ano passado pelo Maine Red Claws, seus números na atual campanha por enquanto são tímidos: 4,1 pontos, 3,6 rebotes e horrendo 38,6% nos arremessos em apenas 13 jogos (13,6 minutos). É reserva do imortal Melvin Ely, hoje com 35 anos. Um cara que entrou na NBA no mesmo Draft de Nenê (2002), rodou por várias franquias (Clippers, Hornets/Pelicans. Spurs, Nuggets…) e nunca teve média superior a 25 minutos por jogo.


NBA: 10 caras que abrem o ano novo de bem com a vida
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Kevin Johnson e Jeff Hornacek... Quer dizer, Bledsoe e Dragic pelo Suns

Kevin Johnson e Jeff Hornacek… Quer dizer, Bledsoe e Dragic pelo Suns

Quem está abrindo 2014 estourando champanhe sem o menor arrependimento? Quem nas quadras da NBA está passando pela virada de ano cheio de confiança, satisfeitos com o papel em suas equipes e se valorizando no mercado?

Os LeBrons, Durants e Loves do mundo vão estar sempre bem, é sabido. Não há que se preocupar com eles. Pode ser outono, primavera, feriado, longas viagens, esses caras vão produzir sem parar. Então, por mais que eles desafiem qualquer bom senso estatístico, seria redundante gastar estas linhas aqui para falar deles.

Então vamos nos concentrar num tipo de atividade que – vocês já devem ter percebido – dá mais prazer neste espaço: fugir dos holofotes e prestar atenção nos caras que muito provavelmente poderiam dar um passeio por Manhattan passando despercebidos. Talvez a altura fosse algum indicador, mas não o suficiente para congelar toda a Times Square.

Dessa vez, não estamos falando necessariamente de gente como Jordan Crawford ou Josh McBobs, dos que buscam a sobrevivência na liga. Mas de um pelotão intermediário que jogou muito nas última semanas do ano que se foi e entram em 2014 de bem com a vida:

Thaddeus Young, ala do Sixers.

Thad Young, difícil de segurar em contra-ataques

Thad Young, difícil de segurar em contra-ataques

Michael Carter-Williams é a bola da vez em Philly, e não há muito o que se fazer a respeito. Quando entra em quadra, o armador influencia o jogo de diversas maneiras, no ataque ou na defesa. Foi um achado para Sam Hinkie no Draft, ainda mais em 11º. Tudo em seu desempenho até aqui indica que vá se tornar um craque.

Mas, na hora que o Sixers vai surpreender alguém, Thaddeus (de “Youngs” já estamos cheios, não é verdade?) também tem talento para ser uma figura decisiva.

Pegue os últimos quatro jogos da equipe, por exemplo. Depois de uma derrota vexatória contra o Nets por 130 a 94 – e, sim, apanhar desta maneira para o patético time de Jason Kidd já se arquiva aqui no blog como “vexatório” –, Young elevou seus números a um patamar de saltar aos olhos. Marcou 110 pontos, pegou 35 rebotes, , conseguiu dez roubos de bola e acertou42 de seus 76 arremessos. Em médias: 27,5 pontos, 8,75 rebotes, 2,5 roubos e 55,2% de aproveitamento*.

(*PS: assim como em todos os números citados no post, estão computados apenas jogos até 31 de dezembro de 2013, por motivos de… Lentidão de sistema, digamos.)

Está certo que a concorrência não era das mais ferrenhas: Nets de novo (vitória por 121 a 120, no troco), Bucks, Suns e Lakers. O estilo de jogo também ajuda: três desses times gostam de correr, que é o que o ala mais sabe fazer, e o time do Brooklyn ficou automaticamente mais leve com a lesão de Brook Lopez.

Mas não deixa de ser impressionante.

Em meio ao projeto de reformulação do Sixers, Thaddeus pode estar querendo uma troca, ou não, mas com esse tipo de atuação é provável que termine a temporada em outra cidade, mesmo.

(Agora um segredinho: os números se inflaram desta forma também desde o retorno de Carter-Williams de uma infecção cutânea na perna. Não é acaso.)

Kyle Lowry, armador do Raptors.
Outro jogador envolvido em rumores de troca em dezembro. Também não se trata de coincidência, é possível dizer. Desde que o time canadense despachou Rudy Gay para a capital californiana, os boatos se concentraram em Lowry: ele seria o próximo a negociado. Mas o que estava em andamento se emperrou.

O baixinho que já foi um pitbull na defesa, mas hoje se interessa muito mais pelo ataque foi cobiçado pelos trapalhões de Nova York. Mas a reputação (positiva) de rapina de Masai Ujiri acabou atrapalhando. Até James Dolan se opôs a pagar o tanto que o Raptors pedia. Uia. Isso é o mesmo que dizer que o ex-presidente Lula teve arroubos de modéstia num discurso.

Paralelamente a essa disputa entre nova-iorquinos, o Raptors acabou se acertando, para espanto de alguns, mas não de todos. Bill Simmons, o SportsGuy da ESPN, chegou a comparar o ala a um câncer. O time que se livra dele melhora instantaneamente, notou. Ouch.

Com a bola girando mais em quadra, Lowry vem se soltando. Reparem em seus números a partir do confronto de 8 de dezembro com o Lakers, o primeiro sem Gay. A quantidade de turnovers despencou, as assistências decolaram e os pontos e bolas de três vão sendo computados com muito mais frequência.

Lowry se sentiu em casa no Garden. Será que vai jogar mais vezes lá?

Lowry se sentiu em casa no Garden. Será que vai jogar mais vezes lá?

Um jogo em específico vale o destaque: a vitória sobre o Knicks, no Madison Square Garden, claro, dia 27. Não só por ele ter marcado15 pontos e 11 assistências, mas também pelo fato de a torcida dos Bockers ter gritado seu nome das arquibancadas. “Foi esse tipo de acontecimento sobre o qual você nem sabe o que dizer direito. Tipo, é muito legal”, disse o armador. “Se algo acontecer, que aconteça. Mas até que chegue esse dia, sou um jogador do Raptors e vou dar duro aqui.”

James Johnson, ala do Memphis Grizzlies.
Antes de falar sobre o que se passa no presente, aqui convém revisitar o passado desse jogador, que, até pelo nome básico, até pode ser um desconhecido do público em geral. James quem?

Bem, vocês sabiam que ele tem algumas semelhanças com Zlatan Ibrahimovic? De alguma forma, explico: se o atacante sueco é faixa preta de taekwondo, Johnson já foi (é?) um belo lutador de kickboxing. E os dois tiram proveito das habilidades desenvolvidas nas artes marciais para fazer algo de diferente em seus respectivos esportes. Jogo de cintura, agilidade nos pés, elasticidade – imagino que se ganhe tudo isso, né, Ibra?

JJ, o Kickboxer

JJ, o Kickboxer

Uma rápida olhadela nos números do ala indicam isso. É um dos que mais acumula roubos de bola e toco na liga há tempos, em médias por minuto. Pegue, por exemplo, o que ele vem somando pelo Grizzlies por aqui. Em sete partidas, com 23,1 minutos, tem 1,3 bloqueio e 1,4 roubada em média. Em 36 minutos, subiria para 2,2 e 2,0, respectivamente. Andrei Kirilenko está orgulhoso.

E por que só sete jogos pelo Grizzlies, se já estamos em janeiro? Bem, ele começou a temporada na D-League. Na verdade, antes disso, o versátil ala participou do training camp com o Atlanta Hawks, mas o gerente geral Danny Ferry não achou por bem mantê-lo no elenco – talvez por considerar que suas características se dupliquem com as de DeMarre Carroll.

Jogando pelo Rio Grande Valley Vipers, a filial do Rockets, sua produção foi a seguinte: 18,5 pontos, 9,1 rebotes, 4,7 assistências, 3,4 tocos e 1,9 roubo. É muita coisa, mesmo numa liga em que não se pratica muita defesa e num time que joga em ritmo acelerado demais da conta.

E como um talento desses vai parar na liga de desenvolvimento? Digamos que Johnson nunca foi dos jogadores mais disciplinados. Tanto fora de quadra como em ação, fardado. Ele pode pecar um pouco no posicionamento defensivo, na hora de forçar algumas infiltrações descabidas, confiante de que suas habilidades atléticas dão um jeito para tudo. Por isso não sobreviveu em Chicago (foi draftado pelo Bulls em 16º em 2009), Toronto e Sacramento.

Mas também há o outro lado da moeda: por ser um jogador de características pouco tradicionais, difíceis de ser enquadradas, para um técnico que vá querer escalar seus jogadores de 1 a 5 pode ser difícil encontrar sua pocição. Vai de 3? Ou 4? Uma bobagem, mas que em muitos casos pode influenciar demais os rumos de uma carreira.

Fato é que, para um time moribundo com o do Grizzlies, ele oferece energia muito necessária. Até o dia 5 de janeiro, o clube precisa decidir o que fazer com Johnson. Se ele passar dessa data no elenco principal, seu contrato será garantido até o final da temporada. Acho que não há muita dúvida aqui sobre o que fazer, não?

Goran Dragic, armador do Phoenix Suns.
Ele começou mal pelo Phoenix Suns, depois jogou bem como reserva do Phoenix Suns, foi trocado ainda assim pelo Phoenix Suns, jogou no Texas até que voltou para o Phoenix Suns. A relação do armador esloveno com a franquia do Vale do Sol, como já vimos, não é das mais estáveis.

Daí que, quando o time contratou Eric Bledsoe antes da atual temporada começar, não demorou para que todo o mercado da NBA tenha se preparado para a possibilidade de Dragic voltar a ficar disponível. Jeff Hornaceck, porém, não tinha nada com isso.

Dragic e Hornacek: entrosamento no renovado Phoenix Suns

Dragic e Hornacek: entrosamento no renovado Phoenix Suns

O novo surpreendente técnico da eqiupe vem justificando qual era o seu plano desde o princípio: que Dragic e Bledsoe poderiam reeditar a sensacional parceria que ele teve com Kevin Johnson na virada dos anos 80 para os anos 90. Pela mesma franquia, diga-se, que, em 1988-89, alcançou a final da Conferência Oeste, perdendo para um Los Angeles Lakers que lutava pelo tricampeonato (e seria superado pelos autênticos Bad Boys de Detroit).

“Quando Ryan (McDonough, o novo e igualmente surpreendente gerente geral do Suns) me ligou, eu disse a ele: ‘Ei, Eric parece com o Kevin Johnson, quando ele estava jogando aqui em Phoenix, e Goran é mais ou menos como eu era’. Passamos de um time com 25 vitórias para 55. Não acho que nenhum de nós pensou realmente que, quando trocamos por Eric, teríamos de nos desfazer de Goran”, afirmou Hornacek, eleito o melhor técnico do Oeste em dezembro e que vem se mostrando uma das melhores entrevistas da liga.

Vai saber se foi isso, mesmo, que passou pela cabeça do treinador, ou se ele apenas está desenvolvendo uma retórica que, ao mesmo tempo que protege o esloveno, também envolve o sucesso do time nesta temporada. O próprio Dragic ficou um pouco desconfiado.”Quando estava na Europa e descobri, pensei: ‘Ok, agora tenho competição’. No fim, falei com Jeff, ele me disse que nós provavelmente iríamos a maior parte dos minutos juntos.”

Eles estão jogando, mesmo, e o fato é que a dupla armação se encaixou muito bem, ainda mais com tantos chutadores ao redor para espaçar o ataque. Por ser mais jovem e a novidade no time, é natural que Bledsoe chame mais repórteres ao seu encalço. Ramona Shelburne, do ESPN.com, contou uma baita história a respeito.

Mas Dragic, do seu lado, vem jogando muito bem, obrigado. Segundo levantamento do estatístico John Schuhmann, do NBA.com, quando o time tem apenas o esloveno em quadra, os números ofensivos são muito melhores do que com Bledsoe sozinho com os dois em parceria, que age pela melhor defesa. (Agora precisaria checar os adversários que estão por trás dessas contas.)

Dragic está jogando sua melhor temporada na liga, com o melhor aproveitamento nos arremessos, a maior média de lances livres cobrados, a menor de desperdícios de bola. Eficiência alto padrão, e a presença de Bledsoe para ajudar a desafogar as coisas ajuda muito para isso, claro. “Está cada vez melhor com Eric, jogo após jogo. Sei o que ele vai fazer com a bola e ele sabe o que eu vou fazer”, afirma.

No Suns, vale também a menção para o ala Gerald Green, que tem aproveitado os espaços abertos por seus dois armadores. Neste período, tem médias de15 pontos e quase quatro chutes de três pontos por jogo (3,7). O jogador que já teve de apelar para Rússia e China para tentar se encontrar como jogador de basquete e regressar aos Estados Unidos,  recuperou o rendimento de sua breve passagem pelo Nets na temporada 2011-12. Mantendo essa produção, vai deixar a troca que enviou Luis Scola ao Pacers cada vez mais desequilibrada a favor do time do Arizona. Quem diria, Larry Bird, quem diria?

Tyreke Evans, ala-armador do New Orleans Pelicans.
Como novato, Evans terminou sua temporada com médias superiores a 20 pontos, 5 rebotes e 5 assistências. Em toda a história da NBA, quais os únicos jogadores que atingiram esse tipo de rendimento? Michael Jordan, LeBron James e Oscar Robertson.

Bom para você?

Evans para a cesta, de 6º homem

Evans para a cesta, de 6º homem

A galera em Sacramento acreditava ter recebido seu próprio Messias, alguém pronto para resgatar os  anos dourados de Webber, Bibby, Divac e Peja. O que aconteceu a partir de 2008-09? O Kings seguiu perdendo de todo mundo, basicamente. Uma equipe horrorosa, na qual Evans se afundou também. De repente, sua temporada de calouro passou de proeza estatística para o devaneio de um fominha.

Daí que, quando o Pelicans investiu US$ 44 milhões por quatro anos de contrato com o ala, poucos entenderam. A sensação era de que ele merecia muito menos – e que não ficava muito claro o que o clube estava pensando, uma vez que já tinha Jrue Holiday e Eric Gordon no elenco, jogadores que gostam de segurar a bola por um bom tempo também.

Se o jovem time ainda busca um melhor acerto, especialmente na defesa, apostando agora na contratação de Alexis Ajinça, no ataque o desenvolvimento é realmente positivo – eles têm a sexta melhor ofensiva. E a contribuição de Evans tem sido importante para isso, mesmo que seu desempenho na linha de três pontos seja desastroso e que sua pontaria de dois pontos também esteja muito abaixo do esperado.

Acontece que o volume de jogo que Evans tem ao sair do banco de reservas tem sido o suficiente para compensar a pontaria desacertada. Com uma projeção por 36 minutos de 18,3 pontos, 6,3 assistências e 6,7 rebotes – que basicamente supera o que fez como novato –, se firmou como um candidato ao prêmio de sexto homem da liga. Curiosamente, quando Dell Demps, ex-Spurs, conversou com o atleta, ele vendeu esse papel como uma interessante possibilidade a ser estudada pela jovem pretensa estrela. Manu Ginóbili seria o exemplo. Evans gostou da ideia – está colhendo frutos, agora, com o maior índice de eficiência de sua carreira. Podendo ser decisivo também:

Com Gordon mais uma vez afastado por contusão por cinco jogos, o ala-armador tem brilhado, com 20,2 pontos, 8,2 assistências e 5,6 rebotes. Uma dessas exibições foi especial para o atleta: no dia 23 de dezembro, ele ajudou o Pelicans a vencer por 113 a 100 o bom e velho Kings, em Sacramento. Foram 25 pontos e 12 assistências.

“Quandoe stava com a bola, ouvia o Isaiah Thomas dizendo o que ia fazer. Eu fazia a mesma coisa e ainda assim fazia a cesta. Mas você sabe: era apenas diversão”, disse Evans.

Brandon Knight, armador do Milwaukee Bucks.
O rapaz não teve dó alguma do arrebentado Los Angeles Lakers. Na última terça-feira, na despedida de 2013, usou o Staples Center como palco para o jogo de sua vida na NBA até aqui, marcando um recorde pessoal de 37 pontos –18 deles apenas num terceiro quarto devastador em que ele parava em qualquer ponto da quadra, arremessava e balançava a redinha.

Ok, considerando que um Jordan Farmar manco e o lento-quase-parando Kendall Marshall eram seus principais marcadores, a quantia pode não parecer muita coisa. Mas Knight estava batendo na pronta já. Nas sete partidas antecedentes, ele já havia estabelecido médias de 20,7 pontos, 6,0 assistências e 5,8 rebotes. O aproveitamento, está bem, foi de apenas 43% de quadra, mas já superior aos 40,1% que tem na temporada ou os 40,9% de sua carreira.

Knight: acima da média apenas na quina esquerda da quadra e na cabeça do lance livre. De resto? Aprendendo

Knight: acima da média apenas na quina esquerda da quadra e na cabeça do lance livre. De resto? Aprendendo

Sim, Knight ainda está longe de ser um grande arremessador, ou uma ameaça assustadora no ataque. Só tem 22 anos, porém, e pela primeira vez tem carta branca para criar e se virar na NBA. Vale o teste para o Bucks, um time que viu suas metas completamente despedaçadas já no primeiro mês de campanha,

Mais um do Bucks: Khris Middleton. O ala foi repassado de Detroit a Milwaukee como contrapeso na negociação de Brandon por Brandon (Jennings). O ala revelado pela universidade de Texas A&M era tido como um prospecto de potencial considerável por alguns scouts, mas não dos mais badalados. Depois de um ótimo ano como segundanista na NCAA, se recusou a entrar no Draft e viu sua cotação despencar na temporada seguinte, toda detonada por uma lesão no joelho. Dessa vez, não se importou e se inscreveu no recrutamento de 2012. Terminou selecionado pelo Pistons em 39º, já na segunda rodada.

Num elenco cheio de alas jovens, recebeu minutos mais na metade final da temporada e passou, francamente, despercebido. Ele ainda teve flashes na liga de verão de Orlando deste ano, mas Joe Dumars não se importou em cedê-lo para ter um armador que julga de ponta para comandar sua equipe.

Em meio a tantas lesões no Winsconsin – Carlos Delfino, coitado, ainda nem pisou em quadra –, Middleton teve sua chance e a agarrou firme. Agora ao lado de Giannis Antetokoumpo (que já pede há tempos um post só dele), vem formando uma dupla de alas de muito potencial. Somem aí o ala-pivô John Henson, e o senador Herb Kohl queria ver seu time vencendo agora. Mas pode ter ganhado muito mais que isso para o futuro.

Wesley Matthews, ala do Portland Trail Blazers.
Matthes ficou pê da vida quando soube do número 130 durante as férias. Era essa a sua posição no ranking  anual de melhores jogadores da liga que o ESPN.com publica.

“Meus amigos já estavam me provocando e me deixando animado para a temporada. Eu estava me preparando para voltar extremamente faminto, como se não tivesse comido um hambúrguer há várias semanas (nota do editor: : D).  Mas quando saiu o ranking da ESPN? Aquilo foi maluco. Aquilo foi puro desrespeito”, afirmou em entrevista ao The Oregonian.

Wesley Matthews, matando tudo de 3

Wesley Matthews, matando tudo de 3

Essa á frase de alguém fulo, totalmente fulo com tudo e todos. O ala levou para o pessoal. “Nunca me deram o benefício da dúvida na minha vida, então por que começariam agora?”, completou, numa pergunta retórica. Treinou individualmente com o assistente técnico Nate Tibbetts – que viajou até a cidade do jogador, diga-se –, trabalhou duro e tentou expandir seu jogo para além do rótulo de “bom arremessador de três pontos”.

O resultado a gente está vendo. É mais um que curte a temporada mais eficiente de sua carreira, matando acima da média da liga em praticamente todos os cantos da quadra – ainda que se destaque, mesmo, pela periculosidade nos tiros de longa distância, com 43,1% de suas tentativas.

Damian Lillard e LaMarcus Aldridge são os líderes da passeata ruidosa que faz o Blazers neste campeonato, mas Matthews, cheio de som e fúria, também faz valer o piquete.

Trevor Ariza, ala do Washington Wizards.
Se você for fazer um levantamento estatístico do quão eficiente o atlético Ariza foi durante a sua carreira, vai reparar que, do modo como está jogando hoje, ele só fez quando dirigido por Phil Jackson em Los Angeles, entre 2008 e 2009. Naquela época, ele também buscava um novo contrato, a primeira grande bolada de sua carreira.

Se a gente for descontar que fica difícil para Randy Wittman qualquer comparação com o Mestre Zen, sobra um paralelo para a versão 2013-14 de Ariza: sim, ele está novamente prestes a se tornar um agente livre. Tsc, tsc.

Descontadas as motivações que o ala possa ter, não dá para negar que ele esteja fazendo de tudo para ajudar o Wizards em sua tortuosa e tão aguardada trilha de volta aos playoffs do Leste. Em termos de índice de eficiência, só fica atrás do já imponente John Wall e de Nenê.

Da ocasião em que o Wizards chegou ao Rio de Janeiro, reconheço que o conselho publicado para o espectador presente na Arena HSBC era se concentrar na forma de arremesso de Martell Webster – e que para todos simplesmente ignorassem o que saísse de Ariza. Pois o ala deu um tapa na cara da sociedade crítica. Ele, que nunca havia acertado mais que 33,5% de seus chutes de três em sua carreira, elevou gradativamente seu acerto pelo time da capital aos mais que decentes 43,4% deste ano – sem diminuir a carga (são 5,8 disparos por partida).

E um rendimento desse faz toda a diferença. Pois o ala segue um personagem dinâmico em outras facetas do jogo, com sólidos números de rebote e assistências para sua posição e incomodando bastante nas linhas de passe.

Sobre o alto percentual de três pontos, o campeão da NBA em 2009 deu crédito a John Wall. “Ele sabe que estaremos correndo ao seu lado. Sabe aonde estaremos. Se a defesa se fechar, ele sabe tem a nós para recorrer e passar a bola para fora”, disse.

Por um punhado de dólares a mais, nada mal. Nada mal, mesmo.


NBA, onde nepotismo também acontece
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Os irmãos Smith, JR e Chris, agitando em Manhattan

Os irmãos Smith, JR e Chris, agitando em Manhattan

Ray Felton está afastando, com uma lesão muscular na coxa. Pablo Prigioni também, depois de sofrer uma fratura no dedão do pé direito. Iman Shumpert não virou o armador que o time esperava – no máximo, ele consegue controlar a bola apenas como uma segunda válvula de escape. Beno Udrih arrasou ontem contra o Bucks e, ao mesmo tempo, foi arrasado por Brandon Knight.

Tudo isso deixa o técnico Mike Woodson numa situação ainda mais delicada. O New York Knicks já é o time mais decepcionante da temporada. E agora só restou um armador para constar história? Justamente numa posição tão crucial?

E, agora, diabos, a quem ele poderia recorrer?

Ao Chris Smith?!

Acho que não.

Sabe o armador Chris Smith, né? Irmão mais jovem do JR, que ganhou um contrato garantido e salário de cerca de US$ 500 mil para ser o 15º homem do Knicks na temporada, ainda que, segundo relato do superrepórter Adrian Wojnarowski, exista integrantes da própria comissão técnica do time que acreditam que o caçulinha não tenha “sequer talento para ser um jogador da Liga de Desenvolvimento da NBA”.

Chris Smith, nem na liga de verão

Chris Smith, nem na liga de verão

Pois, então. Foi esse o atleta convocado às pressas por Woodson para, ao menos, ajudá-lo a formar dois times nos treinamentos. Ao que tudo indica, Chris não está pronto para encarar um Madison Square Garden lotado e irritado. Na mesma reportagem de Wojnarowski, um gerente geral rival o definiu como “talvez o pior jogador da história das ligas de verão”.

Quando a franquia garantiu o contrato do armador, o burburinho foi tamanho que a direção da liga se viu obrigada a abrir uma investigação interna – obviamente a negociação estava vinculada à renovação com JR, ainda que não haja documentos comprovando isso… Mas até que ponto era algo irregular?

No fim, as repostas que tiveram foram de que não seria um absurdo assim considerar Chris Smith como um cara digno de NBA. “Chris tem talento suficiente”, disse um dirigente, sem se identificar, ao  New York Post. “Ele pode se tornar um jogador da NBA um dia. Algumas equipes preferem manter aqueles que são considerados projetos em vez de jogadores que podem ajudar imediatamente, e Chris é um desses projetos.”

Agora… Obviamente é um projeto. Mas que se frise: de 26 anos. Nascido em outubro de 1987, é mais velho que Stephen Curry, Jrue Holiday, Derrick Rose e Ty Lawson, para citar apenas quatro integrantes de uma das posições mais concorridas da liga hoje em dia. Mais velho também que Brandon Jennings, o atrevido reforço do Detroit Pistons que foi a público no Twitter para questionar o que o (nem tão) jovem Smith fazia por ali, citando dois experientes armadores que hoje fazem carreira na Europa, esperando por uma proposta da liga. “Espere, espere, espere. O irmão do JR Smith está na NBA, mas o Pooh Jeter e o Bobby Brown, não? Pode me chamar de hater, mas isso não dá!”, disparou.

(No fim, o crítico deletou seu post, mas não foi rápido o suficiente para evitar que jornalistas e outros seguidores espalhassem sua mensagem. JR tomou as dores da família. “É meu irmãozinho, então eu vou interferir por ele, de um jeito ou de outro. Não apenas contra Brandon, mas contra qualquer um que diga alguma coisa para ele”, declarou.)

Desnecessário dizer que nem Woodson, nem James Dolan e talvez nem mesmo o ala do Knicks esperam que Chris Smith vire um craque ou alguém do nível de Jennings. Desde o início da temporada, ele foi enviado para a liga de desenvolvimento, defendendo a filial do clube de Manhattan, o Eerie BayHawks. E, mesmo num campeonato com números bastante inflados, o jogador não chega a impressionar, com médias de 11,3 pontos, 4,5 rebotes, 2,7 assistências, 2,0 desperdícios de posse de bola, 24,7 minutos, em seis partidas.

Quando o técnico da equipe, Gene Corss, foi questionado pelo New York Times sobre a perspectiva de Smith se encontrar na NBA, sua resposta não foi das mais entusiasmadas.”Acho que ele tem potencial para trabalhar, continuar a crescer e se tornar um bom jogador. E, qualquer que seja a situação em que ele estiver, acho que pode ter sucesso. Mas você nunca sabe qual a situação que vai rondar um atleta”, disse.

Chega a ser um pouco embaraçoso, não?

Como se um Smith já não fosse o bastante de problema...

Como se um Smith já não fosse o bastante de problema…

Mas tem mais. Mike Woodson nem tem como refutar que o laço de sangue com seu talentoso – mas incontrolável – ala pesa nesse contexto. “Tenho um grande respeito por essa família. É o irmão dele. Eu respeito isso”, disse.

Hein?

E como fica Chris Smith nisso tudo?.

“Isso me ajuda? Obviamente. Ele é meu irmão mais velho. As pessoas querem que fiquemos juntos o tempo todo. E ele me ajudou muito”, afirma.

“É claro que eu tenho muito o que provar”, afirmou o armador ao Times. “Mas eu ainda não consegui jogar direito desde que deixei Louisville. Digo, eu sinto que sou um dos jogadores mais subestimados agora. Mas sempre fui subestimado. Ninguém espera nada de mim. Vão sempre me olhar como o irmão mais novo do JR, porque ele é um atleta fenomenal, sexto homem do ano e tudo isso. Mas eu sempre tive minha própria plataforma, meus objetivos próprios.”

Difícil, porém, é que esses objetivos coincidam com os do Knicks, afundados na Conferência Leste.

*  *  *

O caso de Chris e JR Smith com o Knicks pode ser aquele mais vexatório ou espalhafatoso, mas está longe de ser o único vínculo nepotista na liga norte-americana. O mais grave deles, aliás, deve ser aquele descoberto durante o lo(u)caute que escancarou diversos problemas do sindicato dos jogadores. Entre eles, foi descoberto que o diretor executivo, Billy Hunter, empregava dois filhos e uma nora no órgão. Uma apuração da Bloomberg, aliás, revelou que a família Hunter recebeu mais de US$ 4 milhões em salários durante a década.

De qualquer forma, de modo bem menos escandaloso, o emprego de familiares é usual entre as franquias, especialmente entre treinadores e dirigentes.

Não que a prática seja preliminar ou fundamentalmente errada. É compreensível que, num mundo bastante competitivo, em que por vezes a capacidade de guardar segredos é a mais importante, se corra a alguém da maior confiança. O problema é correr o risco (grande) de misturar as coisas. Quando a confiança é colocada muito da competência. Não se trata de uma regra. Mas, que pode acontecer, ô se pode.

Que o diga Michael Jordan e quem quer que trabalhe para o…

Charlotte Bobcats
No que se refere a nepotismo, Jordan também pode ser considerado o melhor na NBA. Ok, podemos atenuar o termo e dizer que, em matéria de cuidar dos chapinhas do passado e compadres, não tem para ninguém. Buzz Peterson, seu rival dos tempos de colegial e ex-companheiro na Universidade da Carolina do Norte, foi um de seus cartolas. Fred Whitfield, presidente do clube, é seu amigo há 30 anos. Ex-parceiros de Chicago Bulls como Rod Higgins (vice-presidente e manda-chuva do departamento de basquete), Sam Vincent e Charles Oakley também foram aproveitados. Conto em mais detalhes nesta reportagem aqui. Depois que o texto foi publicado, MJ ainda promoveu seu irmão Larry a diretor, no cargo anteriormente ocupado por Peterson.

Cory Higgins, o filho do Rod

Cory Higgins, o filho do Rod

Higgins, aliás, aprendeu direitinho e chegou a contratar seu filho, Cory, como terceiro armador do clube – na época, não havia um scout sequer que entendesse a aposta no jovem graduado pela Universidade do Colorado. O atleta ficou uma temporada e meia na equipe. Aí chegou o dia em que teve de ser dispensado, em dezembro de 2012, olho no olho. “Quando você toma uma decisão como essa, de contratar seu filho, sempre sabe que um dia como esse poderia acontecer. O jogador também sabe disso. O aspecto pessoal é o aspecto pessoal. Mas, quando você dá o próximo passo e se dá conta de que isso é um negócio, você sempre sabe que isso poderia acontecer”, disse o pai, com toda a franqueza do mundo. “Ele não deixa de ser meu milho.”

Então tá.

O Higgins filho tinha média de 3,7 pontos em 10,3 minutos pelo Bobcats, tendo disputado 44 jogos, com aproveitamento de 32,4% nos arremessos de quadra em sua carreira, com 20% nos três.

Em meio a esse contexto, como Jordan ou Higgins poderiam punir Paul Silas, ex-treinador da equipe, quando este optou por não dirigir a draga de elenco que tinha na temporada 2011-2012, pós-lo(uc)aute, quando conseguiram terminar com a pior campanha da história da liga, em termos de aproveitamento de vitórias. Na ocasião, o veterano Paul tinha as melhores intenções. Seu filho Stephen era seu principal assistente, e o papai coruja acreditava que chegaria o dia em que sua cria seria um técnico principal na liga. Então por que não começar logo, pegando experiência? O Bobcats não iria para nenhum lugar mesmo…

(Como podemos testemunhar até hoje. E, antes mesmo da família Silas, os Bickerstaffes haviam tomado conta do banco de reservas. O experiente Bernie foi o primeiro treinador da franquia e teve seu filho John-Blair em seu estafe e por três anos – aos 25, ele foi, inclusive, o assistente mais jovem da história da liga. J.B. hoje trabalha com Kevin McHale no Houston Rockets.)

Minnesota Timberwolves e Boston Celtics
Quando Rick Adelman cedeu e aceitou a bucha que é treinar um Minnesota Timberwolves, ao menos garantiu mais alguns trocados para sua família ao incluir seu filho David em sua comissão técnica. Antes da NBA? O herdeiro havia trabalhado, até então, apenas no nível de high school, em Portland. Não era o currículo mais impressionante disponível no mercado, certeza.

Em Boston, Danny Ainge encontrou um lugar na sua equipe de gestão para o filho Austin. Formado na BYU, na qual foi companheiro do ala Jonathan Tavernari, o Ainge filho migrou direto para o banco de reservas, com terno e gravata. Foi assistente na Southern Utah University e treinador do Maine Red Claws (filial do Celtics na D-League) antes de ser contratado pela franquia mais vencedora da história da NBA.

Em sua defesa: sua saída do Red Claws foi bastante sentida. “Eu sinto muito em ver Austin partir para seu novo cargo com o Celtics”, disse o presidente e gerente geral do clube, Jon Jennings, via release. “Todos nós gostamos de trabalhar com ele. Ninguém trabalhou  mais duro e estava mais comprometido com a evolução de nossos jogadores.”

Além de ajudar o pai na condução e formação do elenco, Austin também quebra um galho do brasileiro Vitor Faverani, ajudando na tradução do espanhol para o inglês, sempre que necessário.

Austin Ainge (e) e o geniozinho Brad Stevens

Austin Ainge (e) e o geniozinho Brad Stevens

Sacramento Kings
Na capital californiana, o processo foi inverso. Michael Malone assumiu o comando de um time pela primeira vez e recorreu ao pai Brendan, extremamente experiente, que seria seu principal assistente. Sua missão seria ajudar a guiar o filho em sua temporada de calouro. Em cerca de três meses, porém, o Malone sênior abriu mão do cargo, dizendo que basicamente não tinha mais paciência para esse tipo de atividade.

“Foi um choque completo para mim. Estava na minha sala, e ele entrou e disse: ‘Estou saindo’. Eu respondi: ‘Aonde você vai?’. E ele simplesmente falou que estava saindo para valer. Foi uma surpresa. Acho que era algo com o qual ele estava lutando por um tempo. Foi difícil lidar com isso e algo muito emocional porque não é apenas a relação de um técnico com um assistente. Há uma dinâmica de pai e filho, mas, para ser justo, eu não estaria aqui se não fosse por ele. Ele me deu um empurrão para chegar aqui”, afirmou o Malone júnior, que vinha fazendo ótimo trabalho no estafe de Mark Jackson no Warriors e com Monty Williams no Hornets, hoje Pelicans, diga-se.

Dallas Mavericks
Don Nelson fechou com Mark Cuban para reestruturar uma franquia que foi uma piada durante grande parte da década de 90. Levou junto na bagagem o filho Donnie, que trabalhou como gerente geral, nos bastidores, como o braço direito de Cuban nas negociações com atletas. O Don filho, porém, já tinha mais o que oferecer. Trabalhou como assistente da seleção lituana em diversas competições coordenou a seleção chinesa por dois anos e em ambos os cargos teve sucesso. Também criou os chamados Global Games, em Dallas, um torneio amistoso que reúne algumas das melhores seleções juvenis do mundo. Ele só ficou em uma situação constrangedora no Texas quando a relação do Don pai e do magnata se estremeceu a ponto de envolver os tribunais. No final, Cuban teve de pagar mais de US$ 6 milhões em um acordo.

Los Angeles Lakers
Bem, o falecido Jerry Buss não quis nem saber: seu legado teria de ser sustentado pelos filhos. Quando seus problemas de saúde o afastavam gradativamente da condução diária da célebre franquia, o Sr. Buss transferiu suas responsabilidades para os dois filhos. Jim ficaria com o basquete. Jeannie, com os negócios. Ric Bucher escreve mais a respeito aqui. Jim foi assistente do gerente geral Mitch Kupchak desde 1998. Na visão dos torcedores do Lakers, é uma nulidade, famoso por seu apreço por corridas de cavalo, por não tirar o santo boné da cabeça e por ter demitido mais de uma dezena de empregados do vitorioso departamento esportivo antes do lo(u)caute.

Jeanie e Jim Buss. Uma popular em LA, outra nem tanto

Jeanie e Jim Buss. Uma popular em LA, outra nem tanto

(Esse processo aconteceu também no Denver Nuggets, lembremos, com Josh Kroenke, de 33 anos, assumindo a presidência do time, deixando o pai Stan mais afastado. Josh jogou por Missouri na NCAA e já marcou Carmelo uma vez. Leia seu perfil aqui, do intrépido Wojnarowski.)

Em quadra, depois de muito tempo separados, hoje em dia para onde quer que Mike D’Antoni vá, ele carrega junto o irmão Dan, mais velho. Enquanto Mike conquistava a Itália – e, sobretudo, Kobe – e Milão, como jogador, depois de passagem não muito brilhante na NBA, Dan era treinador na boa e velha West Virginia, em high school. Na verdade, ele se ocupou disso por (!) 30 anos até ser convencido pelo caçula a assumir um cargo de assistente no Phoenix Suns. A parceria se repetiu em Manhattan e, agora, em Hollywood.

Atlanta Hawks e Utah Jazz
Dias depois de fechar a surpreendente contratação de Paul Millsap, Danny Ferry não foi tão criativo assim ao anunciar seu elenco para a liga de verão de Las Vegas em 2013. As atrações principais eram o brasileiro Lucas Bebê e o alemão Dennis Schroeder, mas não deixava de chamar a atenção o número 45 da equipe, John… Millsap. Irmão (três anos) mais velho de Paul, conseguiu a vaguinha na carona do contrato milionário do ex-jogador do Jazz, claro. A generosidade, no entanto, se limitou a uma assinatura de contrato. Em Vegas, John jogou por apenas 17 minutos, em duas partidas, marcando dois pontos no total.

Em Utah, aliás, John já havia ganhado um empurrãozinho ao defender por um bom tempo o Flash, da D-League, que hoje é chamado Delaware 87ers, afiliado ao Philadelphia 76ers.

Para saber mais sobre a saga dos irmãos Millsap – há ainda Elijah, do Los Angeles D-Fenders, e o caçulinha Abraham, é só acessar o site do Paul.

Golden State Warriors

Seth e Stephen, filhos do Dell

Seth e Stephen, filhos do Dell

Com Stephen Curry e Klay Thompson, o Golden State Warriors causa inveja a muita gente. Será que é justo que o mesmo time possa ter dois arremessadores tão acima da média? Que dois gatilhos desses possam fazer dupla? Bem, há outra franquia que ao menos pode replicar esses sobrenomes. Estamos falando – coincidência ou não! – do Santa Cruz Warriors, filial da equipe na D-League. É lá que jogam Seth Curry e Mychel Thompson, irmãos dos cestinhas.

Seth é mais jovem que Stephen. Os dois herdaram do pai, Dell, a mecânica belíssima e a eficiência nos chutes de longa distância. Mychel, mais velho que Klay, já é moldado de um jeito diferente, muito mais voluntarioso do que o refinado caçula. Os dois são filhos de mais ums ólido veterano da NBA, o pivô Mychal Thompson, bicampeão pelo Los Angeles Lakers em 1987-88.

Comparando com John Millsap, há algo que os separa, contudo. Depois de brilhar pelo Erie BayHawks na liga de desenvolvimento, Mychel foi contratado pelo Cleveland Cavaliers – aparentemente sem influência do sobrenome. Jogou cinco partidas pelo Cavs, sendo titular em três ocasiões. Já Seth se formou pela tradicional Universidade de Duke, sob o comando do Coach K, como um jogador importante na NCAA. Uma grave lesão de tornozelo antes do Draft acabou atrapalhando suas pretensões no recrutamento de calouros. Provavelmente teria espaço em uma grande liga da Europa, mas preferiu acompanhar o irmão na Califórnia.

Los Angeles Clippers
Não foi possível confirmar os rumores de que Doc Rivers, com tantos desfalques, estaria interessado na contratação do Little Chris (Paul) para fortalecer seu banco de reservas:

(Brincadeira. Fui!)


Pressionado, Fabrício Melo recomeça em Dallas e tenta cumprir promessa
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

“Você simplesmente não acha tantos jogadores grandes que sejam tão talentosos como ele. Está na mesma categoria de Al Jefferson e DeMarcus Cousins em termos de seu nível de habilidades ofensivas. Ainda há algum trabalho a ser feito defensivamente e nos rebotes, mas sua evolução é evidente por conta de seu contínuo aprimoramento no condicionamento físico.”

Foi isso o que escreveu Jerry Meyer, analista do Rivals.com – um site especializado no recrutamento de jogadores colegiais nos Estados Unidos –, lá nos idos de 2009, sobre um jovem pivô Fabrício de Melo, que ainda tentava se acostumar a ser chamado de “Fab Melo” por seu mais novo treinador, Adam Ross, na Weston Sagemont Upper School, na Flórida. O brasileiro iniciava sua jornada em quadras norte-americanas e causava uma baita impressão.

Fabrício, tipo Boogie Cousins

Nos tempos de promessa colegial e comparações

Depois de uma avaliação dessas, você pode até duvidar das credenciais de Meyer, mas saiba que ele não estava sozinho nesta barca. Ao concluir sua formação colegial, foi convocado para as principais partidas festivas nesta categoria. Ao lado de Kyrie Irving, Harrison Barnes, Tristan Thompson e outros, por exemplo, disputou o tradicional McDonald’s All-American de 2010.

Três temporadas depois, porém, as comparações com Jefferson e Cousins soam surreais, enquanto o termo “promissor” aparece cambaleante ao lado de seu nome. Embora ainda jovem, aos 23 anos, abrindo apenas sua segunda temporada na NBA, já não seria um exagero dizer que o atleta vê sua carreira a perigo, em uma corrida contra o tempo que se iniciou, na verdade, desde que decidiu tentar a vida de jogador de basquete, mais tarde que o normal para os padrões americanos. Nesta semana, ele abre a pré-temporada como jogador do Dallas Mavericks, mas sem contrato garantido.

“Melo começou aqui (nos Estados Unidos) aos 18. Ele tinha 20 como um calouro de universidade. Faz uma grande diferença em termos de desenvolvimento. Acreditar que ele possa ser um um jogador de NBA agora é uma expectativa injusta”, afirma Amin Elhassan, analista do ESPN.com e ex-integrante de diretorias do New York Knicks e do Phoenix Suns. Para comparar: com os mesmos 20 anos (completados em agosto), Andre Drummond já vai para sua segunda temporada de Detroit Pistons.

De basquete organizado, num ambiente verdadeiramente estruturado, o pivô tem quantos anos? Cinco? Se você for considerar os treinos e jogos colegiais dos Estados Unidos como competição nesse nível, a conta seria essa. Mas Elhassan questiona até mesmo isso. “Ele jogou em Sagemont, no sul da Flórida. Não é que ele estivesse enfrentando jogadores de alta classe”, diz.

E um agravante: no Brasil, passou a encarar o basquete como algo a ser testado para valer aos 15, depois de um ano em que deu bela espichada, ultrapassando os 2 metros de altura. “Como todo brasileiro, eu jogava futebol. Mas reparei que era sempre o último a ser escolhido nas peladas. Aí comecei a jogar basquete e me apaixonei”, disse, com o bom-humor de sempre, em entrevista ao MegaMinas que juro que estava neste link aqui, até ficar fora do ar.

Leva mais tempo para os pivôs desenvolverem seus jogos. Quando eles começam tarde no esporte, esse processo de aprendizado fica ainda mais lento. No caso de Fabrício, ele acabava compensando essa falta de recurso técnico dominando fisicamente os atletas de sua idade em ligas colegiais inferiores da Flórida. Foi o suficiente para inflar seu status, com a NBA aparecendo precocemente como uma plausível meta. “Sei que Fab tem o objetivo pessoal de jogar na NBA. Muitos garotos têm esse sonho e, para a maioria, não é algo razoável. Com ele, hesito em dizer, mas seu objetivo é atingível. Com o tempo, ele será capaz de desenvolver habilidades do nível de NBA”, disse Ross, seu primeiro técnico nos EUA, em janeiro de 2010.

Bem, hoje sabemos que a própria liga reconheceu essas habilidades do pivô, com Danny Ainge lhe dedicando 22ª escolha do Draft de 2012. Mesmo tendo o rapaz passado dois anos na universidade de Syracuse, na qual o técnico Jim Boeheim investe muito na defesa por zona, algo ainda não muito comum na NBA e ainda limitado em suas regras. Quer dizer: era mais um desafio para Melo, fazer sua presença sentir efeito num jogo com espaçamento bem diferente e contra jogadores muito mais experientes e capacitados. “Ele tem algumas ferramentas físicas intrigantes, mas é difícil assimilar a velocidade e as demandas intelectuais do jogo quando não se tem muita experiência. Tem potencial, mas enfrenta dificuldade com o entendimento do jogo”, diz Elhassan.

Para Ainge, chefão do Celtics, essas dificuldades foram tão alarmantes que ele decidiu abortar o projeto apenas uma temporada depois de sua seleção. Fabrício apareceu em apenas seis partidas pelo Celtics na última campanha, acumulando apenas 36 minutos de ação (o equivalente a três quartos de uma partida). No total, foram apenas sete pontos, a mesma quantidade de faltas que cometeu. Na D-League, teve momentos melhores, como na sequência de partidas em que somou 15 pontos, 16 rebotes e um recorde de 14 tocos contra o Erie Bayhawks e 32 pontos, nove rebotes e nove tocos contra o Idaho Stampede. No total, teve médias de 9,8 pontos, 6,0 rebotes e 3,1 tocos (melhor da liga), em apenas 26,2 minutos.

Fabrício Melo, quase dominante na D-League

Pelo Maine Red Claws, alguns minutos, mas sem convencer Ainge

Não foi o suficiente, porém. Toda a paciência recomendada por analistas foi completamente ignorada pelo cartola e por uma crítica e torcida bastante exigentes. “Ele provou ser pouco mais que um projeto a longo prazo, na melhor das hipóteses”, sentenciou o Boston Globe. Duas semanas depois de adquirir o brasileiro, o Memphis Grizzlies também o dispensou, sem nenhuma intenção de desenvolvê-lo sob a tutela de um Marc Gasol. Nenhum clube o recolheu no período de waiver, como destaquei aqui. Seu status caiu tanto, que uma projeção do ESPN.com o apontou como o segundo pior jogador para a temporada 2013-2014.

Agora, em Dallas, Fabrício tem algumas semanas para tentar mudar essa percepção de “fiasco” em torno de seu jogo. Precisa convencer Mark Cuban, Donnie Nelson, o novo gerente geral Gersson Rosas e – por que não? – Dirk Nowitzki de que vale o investimento. É um tipo de experimento em que a franquia texana tem certa experiência. Que o digam DeSagana Diop, DJ Mbenga e Ian Mahinmi, três casos de pivôs fisicamente impressionantes, mas sem muitos recursos técnicos, que foram contratados como jovens agentes livres na gestão de Nelson.

O jeito é pensar a longo prazo, mesmo. Qualquer contribuição do brasileiro para a próxima temporada seria surpreendente (veja mais abaixo), mesmo que a companhia para o astro alemão não seja das mais inspiradoras no garrafão – temos aqui o temperamental Samuel Dalembert, o magricelo Brandan Wright, o frustrado DeJuan Blair e o sargento Bernard James.

Mbenga jogou por sete anos na NBA. Diop talvez tenha se despedido da liga na temporada passada, 11 anos depois de ser draftado. Mahinmi entra em sua quinta campanha, com mais dois anos, no mínimo, de contrato garantido. Será que Fabrício conseguirá ao menos seguir uma trilha dessas?

Pesquisando artigos sobre o início então promissor do mineiro nos Estados Unidos, surgiu também esta frase de seu primeiro treinador, falando sobre o sonho olímpico de seu jovem atleta. “Assim que (a sede de 2016) foi anunciada, ele me telefonou e estava muito empolgado. ‘Coach, o Rio ganhou. Eu vou. Vou estar lá'”, relembrou.

Esta não chega a impressionar tanto como a comparação feita pelo scout, sobre Cousins e Jefferson. Mas, hoje, também está longe.

Acompanharemos qual o desfecho deste conto.

* * *

O Mavs tem no momento 15 jogadores com contratos garantidos. Isto é, para permanecer no elenco texano, Fabrício vai ter de jogar muito em treinos e amistosos para que Mark Cuban e a comissão técnica decidam dispensar alguns destes salários, mesmo tendo que pagá-los na íntegra durante a temporada. Considerando que dez destes atletas acabaram de ser contratados como agentes livres (numa reformulação daquelas), é bem improvável que aconteça. De modo que o brasileiro teria de se contentar em jogar pela filial da D-League, o Texas Legends, que tem Donnie Nelson como um dos proprietários e Eduardo Nájera como técnico, além de Del Harris, Spud Webb e a pioneira Nancy Lieberman na diretoria.

* * *

Os arquivos online também renderam uma anedota de Fabrício em seleções brasileiras de base. Sul-Americano Sub-17 de 2007, em Guanare, na Venezuela. Fabrício foi convocado, ao lado de Augusto Lima, Vitor Benite, Rafael Luz. Todos nas listas recentes de Rubén Magnano. Menos o mineiro, que não foi chamado nem mesmo na pré-lista do argentino para a Copa América. O técnico era José Henrique Saviani, com o ex-armador Cadum como assistente e Lula Ferreira como supervisor. Neste torneio, o pivô foi o que recebeu menos minutos pela seleção, que terminou numa amarga quarta posição. Perderam para Argentina e Uruguai nos mata-matas.


Na ACB, Lucas Bebê deve se concentrar no desenvolvimento técnico de seu jogo, além do físico
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Lugar de Bebê é na quadra

Lucas ouve instruções em Vegas. Pelo Hawks, seria uma cena regular durante a temporada

Antes de desenvolver o físico, Lucas Bebê também tem muito o que progredir em termos de técnica.

No Atlanta Hawks, sobrando uma merreca de minutos na rotação interior, o pivô brasileiro teria muito tempo para puxar ferro, sim. Mas e a quadra? Como ficaria? Lembrando a declaração do seu agente, Aylton Tesch, ao Murilo Borges, da rádio Bradesco Esportes: “Se o Atlanta falar que vai dar de cinco a dez minutos de jogo para o Lucas e que, no final do ano, ele vai estar com 15 kg a mais de massa magra muscular e que vão fazer um trabalho extraquadra, de vídeo, para ele poder aprender mais o jogo da NBA, vale mais a pena do que se ele for jogar 25 minutos na Espanha, onde para condicionamento físico eles só querem que os atletas corram”, disse.

Lucas foi selecionado pelo Hawks no finalzinho de junho. Disputou a Summer League em julho. Ficou próximo de técnicos e dirigentes em Atlanta durante todo esse tempo, enquanto, paralelamente, Danny Ferry ia montando seu elenco para a próxima temporada da NBA. Encerradas essas contratações, não havia como garantir nem mesmo esses dez minutos com o técnico Mike Budenholzer, que tem Paul Millsap e Al Horford como seus principais pivôs, com os veteranos Elton Brand, Mike Scott, Pero Antic e Gustavo Ayón para assessorá-los, vindo do banco.

São cinco pivôs bastante versáteis, oferecendo ao estreante treinador uma combinação de habilidades interessante. Nenhum deles tem hoje a combinação de envergadura e agilidade de Lucas para proteger o aro, mas, no conjunto, é um forte quinteto defensivo. De modo que restaria ao carioca apenas as atividades complementares – ou a D-League. E, entre a liga de desenvolvimento e Liga ACB, não há muito o que escolher, não.

Não só Bebê vai ganhar mais dindin na Espanha, como vai enfrentar uma concorrência muito mais qualificada, num ambiente esportivo trilhões de vezes mais estruturado. Sem contar a familiaridade do jovem atleta com seus companheiros e com a própria competição em si, montando um cenário mais favorável para sua evolução. Se você tem uma opção de continuar num time com tradição no tratamento de jovens, brigando pelos playoffs na segunda liga mais forte do mundo, não há por que abrir mão disso. Um atleta com a sua idade – 20 anos recém-completos – tem de jogar.

“Retornar ao Estudiantes vai permitir que ele continue a se desenvolver, jogando minutos significantes contra uma competição muito boa. Vamos monitorar de perto seu progresso enquanto ele trabalha em direção a cumprir suas metas como um jogador de basquete”, afirmou Danny Ferry, ao anunciar a decisão do clube.

Não adianta também ficar obcecado agora com os músculos do Bebê (frase engraçada, né?). Com o tempo ele vai ganhar o físico necessário para encarar a elite, lembrando que não há muitos Marc Gasols ou Roy Hibberts por aí mundo afora. E, se o plano de Tesch deu certo, o Hawks deve encaminhar um preparador físico para acompanhar o atleta na Espanha.

Agora fica a expectativa para que ele se mantenha concentrado, empenhado em refinar seu jogo e avançar mais na concretização de seu imenso potencial, a despeito se sua preferência por ficar nos Estados Unidos. Caso consiga repetir o salto qualitativo que teve de 2011-2012 para 2012-13, vai estar em condição muito mais vantajosa para fazer a transição para a NBA em 2014.

*  *  *

Agora a parte chata de todo esse processo. E a seleção brasileira?

Lucas pediu dispensa no dia 18 de julho. Claro que, na NBA, as negociações são muito volúveis, uma palavra em julho não tem o mesmo peso em agosto. Naquela época, por exemplo, Gustavo Ayón ainda estava empregado pelo Milwaukee Bucks, antes de sobrar como uma barganha no mercado. Então talvez o brasileiro estivesse confiante, mesmo, de que fecharia com o Hawks para já. De modo que seria mais interessante ficar em Atlanta para afinar a relação com todos, da mesma forma que Vitor Faverani vai fazer a partir da semana que vem.

“Venho por meio desta solicitar o meu pedido de dispensa do grupo que se apresenta nesta quinta-feira, dia 18. Tal pedido se deve ao fato de eu encontrar nos Estados Unidos, disputando partidas válidas pela Summer League e em negociações contratuais para a próxima temporada da NBA. Este é um momento importante para a minha carreira, e que exige a minha permanência para que tudo seja resolvido o mais breve possível”, afirmou o pivô em comunicado oficial.

Em retrospecto, com a possibilidade de jogar na Espanha nunca descartada lá atrás – e, a cada dia que passasse, ela cresceria, naturalmente – , será que não valeria ter se apresentado a Rubén Magnano? Os treinos do argentino são intensos. Lucas poderia ter um bom espaço e já teria dado largada antecipada em sua temporada.

*  *  *

No dia 4 de janeiro de 2014, Bebê vai ter uma rodada animada pela Liga ACB. O adversário é o Obradoiro, o que significa que ele vai enfrentar o compatriota Rafael Luz e, ao mesmo tempo, o jovem pivô Mike Muscala, seu companheiro de Draft no Atlanta Hawks. Muscala definiu seu futuro bem antes, assinando com o time que foi o oitavo colocado na edição passada do campeonato espanhol .


Recusa de Scott Machado ao Spurs em 2012 ganha outro contexto após duas demissões
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Scott Machado

Não sei bem como me posiciono na hora de falar sobre “O que aconteceria se… ?”, sobre rotas alternativas, caminhos hipotéticos, saca?

É meio que da “natureza humana” (gasp!) ficar repensando as coisas? Remoendo, remexendo? Talvez. Mas é fato também que nem todo mundo age desta forma. São admiráveis também essas pessoas resolutas, que avançam como um trator, só mirando para a frente, sem volta. Desde que tenham um pouco de escrúpulo, claro.

Todo esse papinho filosófico para levantarmos uma pergunta daquelas, envolvendo Scott Machado:

“E se ele tivesse dito sim ao San Antonio Spurs?”

Foi uma lembrança do leitor “HFavilla”, em nosso post anterior sobre a dispensa do armador pelo Golden State Warriors. A de que o brasileiro nova-iorquino estava prestes a ser selecionado pelo clube texano no Draft do ano passado, na 59ª posição, mas forçou a barra para que Gregg Popovich o deixasse em paz.

Escreveu o “HFavilla”: “O erro do Scott aconteceu na noite do Draft, quando desprezou o San Antonio Spurs, que tem um armador que, apesar de estar no seu auge técnico, já é veterano e não possui nenhum reserva consistente ainda, fazendo com que o time procure por muitas alternativas. Passaria uns 2 anos evoluindo na Europa? Sim, provavelmente, mas é assim que as coisas funcionam por lá”.

Lembremos aqui o que Scott falou ao vizinho Balassiano em 2012: “O San Antonio Spurs me queria, e eu acabei recusando. Disse ao Aylton (Tesch, seu agente na época) que preferia tentar a sorte nas Ligas de Verão, porque sabia que iriam me mandar jogar fora dos Estados Unidos, algo que eu não queria. Foi uma decisão rápida, na hora mesmo, e que acabou dando certo. Logo depois o Houston Rockets me chamou pra jogar”.

Bem, nada na liga norte-americana é definitivo, como Scott agora já sabe bem. O que “dá certo” numa semana pode não se sustentar no mês seguinte. Contratado pelo Rockets, demitido pelo Rockets. Contratado pelo Warriors…

Reparem no termo que ele usa: “Uma decisão rápida, na hora mesmo”. Por ímpeto, claro. Scott cresceu em Nova York como jogador de basquete, uma cidade com muita tradição em seus playgrounds e colegiais, tendo revelado dezenas e dezenas de talentos que viriam a se tornar profissionais, especialmente armadores – Stephon Marbury, Sebastian Telfair, Mark Jackson são alguns exemplos de uma lista vasta. Neste contexto, imagine a expectativa, a pressão (também financeira), a ansiedade de um garoto da megalópole quando ele se aproxima da liga. Embora não tivesse o maior cartaz, o brasileiro fez um bom trabalho pela modesta universidade de Iona, entrou no radar dos scouts e desenvolveu legítima ambição de ser um cara de NBA.

Daí que, quando as coisas não saem conforme o esperado – descolar um contrato garantido na noite do Draft –, por vezes você se sente impelido a tomar um atalho, a querer resolver as coisas na hora. Foi a decisão que o armador tomou. Em vez de se colocar sob a alçada de uma franquia que é notória no desenvolvimento de seus atletas, preferiu se tornar um agente livre para ampliar seu leque de negociações. Fechou rapidamente com o Houston Rockets, mas acabou perdido nos planos do irrequieto gerente geral Daryl Morey.

Agora, as ressalvas. Os calouros selecionados na segunda rodada de um Draft também não têm presença certa na NBA, diga-se. Depende muito da equipe, de suas necessidades imediatas e do quanto gostam de um determinado jogador. Por exemplo: em 2008, o Bulls se empenhou horrores para ter o turcão Omer Asik. O Portland Trail Blazers o escolheu como o número 36 daquele recrutamento, mas foi convencido a repassá-lo para Chicago em troca de três escolhas futuras de segunda rodada. Três! Quer dizer, o gerente geral John Paxson realmente queria Asik.

No caso de Scott e do Spurs, ao fazer a escolha na penúltima posição da lista, não saberemos dizer se o Spurs estava necessariamente enamorado por Scott. Seria o caso de perguntar para Popovich ou RC Buford algum dia desses. Depois da recusa do brasileiro, o time optou pelo ala-armador Marcus Denmon, da universidade de Missouri. E não deu outra: Denmon iniciou sua carreira como profissional no basquete francês, sendo campeão nacional pelo Élan Chalon ao lado do pivô Shelden Williams.

Neste ano, Denmon participou da liga de verão de Las Vegas pelo Spurs. Quer dizer, estão monitorando o rapaz, de 23 anos. Na rotação do time, teve de dividir espaço com Nando De Colo e Cory Joseph, que são prioridade, e terminou com médias de 10,8 pontos, 2,8 assistências e 2,6 rebotes, em 21,8 minutos. O que ele faz de melhor é arremessar de fora, e ele mandou bala da linha de três pontos sem piedade (26 chutes no total, mais de cinco por jogo), que é sua especialidade. Acertou 38,5% desses disparos, um bom aproveitamento para as peladas que são esses confrontos. Pensando em seu progresso, seria um eventual substituto para Gary Neal, sendo moldando da mesma forma (em termo de vocação ofensiva), mas ainda com deficiências no drible. Não está pronto para a grande liga ainda, mas não é o mesmo que Rockets e Warriors acham o mesmo sobre Scott?

Há outros casos de escolhas de segunda rodada de Buford e Popovich que ainda não foram aproveitados no elenco principal. Entre os americanos, o ala-armador Jack McClinton (51 em 2009) e o pivô James Gist (hoje um nome top na Euroliga, 57 em 2008) são dois exemplos recentes. Temos também diversos jovens europeus nessa condição: o húngaro Adam Hanga em 2011 (também 59), o inglês Ryan Richards em 2010 (49), o centro-africano Romain Sato em 2004 (52), entre outros. Mas aí as coisas fazem mais sentido: são os clássicos casos de “stash picks”, quando as franquias da Europa fazem a seleção com o plano de já deixá-los nas ligas europeias para desenvolvimento.

Enfim, ser selecionado pelo Spurs e virar um jogador de NBA no futuro, então, não é uma ciência exata. Por outro lado, que o brasileiro não estava pronto também para a liga fica claro.

Mas, sabendo o que sabemos hoje, será que ali, nos minutos finais de uma looonga noite de 28 de junho de 2012, quando foi abordado pelos diretores do time texano, será que a resposta seria diferente?

 


Warriors dispensa Scott Machado, que ainda sonha com a NBA: “Não para aqui”
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Scott Machado, e aí?

Scott, sem clube novamente, e, pelo jeito, nada de seleção brasileira

Chega uma hora que é melhor esquecer e seguir em frente com o que você tem, mesmo.*

Scott Machado acaba de ser dispensado pelo Golden State Warriors. “Sabia que isso iria acontecer”, disse o armador em sua conta de Twitter.

Traduzindo: os sinais eram claros de que Scott não tinha muito futuro com o emergente Warriors na NBA, mas isso não quer dizer que ele esteja pronto para abrir mão do sonho de se firmar na liga.

De todo modo, considerando os últimos acontecimentos, fica a pergunta: será que não chegou a hora de o armador e seus familiares e agente pensarem em outras alternativas? De repente buscar o mercado europeu, a afirmação do atleta em outro cenário para, no futuro, fortalecido, tentar um retorno triunfal?

Hoje as coisas estão assim: Scott gravita numa zona cinzenta e muito difícil de ser superada, a de “ser bom o suficiente para aspirar ao grande campeonato”, mas “não ser bom o bastante para descolar um contrato garantido”. Isso quer dizer que, basicamente, o armador teria de se inscrever na D-League novamente e tentar batalhar seu posto. É uma rota ingrata, ainda mais agora que ele não está sob o guarda-chuva de nenhum dos clubes da organização gerida por David Stern – ao contrário do ano passado, quando era um atleta sob contrato com o Rockets ou o Warriors, emprestado para as filiais da liga de desenvolvimento.

Pois, ao dispensá-lo hoje, muito antes do training camp, o Warriors cortou qualquer vínculo com o brasileiro. Com 13 jogadores sob contrato, eles poderiam tê-lo carregado até a pré-temporada tranquilamente. Mesmo que não fossem aproveitá-lo no elenco principal, caso o cortassem antes do início do campeonato, o clube ao menos o manteria sob sua alçada, defendendo o Santa Cruz Warriors. Mas não foi o que fizeram – e daí, das duas uma: 1) ou não tinham interesse, mesmo, ou 2) Scott e seu estafe pediram o corte para que pudessem buscar uma situação mais promissora, pensando em termos de NBA.

A franquia californiana, naturalmente, não elaborou muito a respeito: simplesmente emitiu um comunicado sucinto, direto ao ponto nesta quarta: “Machado assinou originalmente com o Golden State como um agente livre promovido do Santa Cruz Warriors no dia 7 de abril de 2013. Ele apareceu brevemente me cinco jogos pelo Warriors. Ele também participou de seis jogos com o Houston Rockets na temporada passada e passou um tempo significativo na D-League, com médias de 8,9 pontos, 2,5 rebotes e 5,1 assistências em 28 partidas pelo Santa Cruz e pelo  Rio Grande Valley Vipers”.

Na frieza dos fatos, é isso.

Uma chance foi dada a Scott e ele não causou a impressão suficiente para convencer a diretoria de que poderia ser uma peça relevante na próxima temporada. Os negócios de um clube de NBA simplesmente podem tomar guinadas drásticas. Os fatos vão se sucedendo feito rolo-compressor, não importando quem esteja no caminho.

O Warriors sleecionou no Draft deste ano o armador sérvio Nemanja Nedovic. Ele foi a última escolha da primeira rodada do recrutamento. Importante: era uma escolha que não pertencia ao time. Quando a franquia resolveu investir (milhões de dólares) para entrar na primeira rodada e, depois de fazer a compra, optaram pelo armador ex-Lietuvos Rytas, os indícios eram de que o futuro do brasileiro estava seriamente ameaçado. Semanas depois, então, eles resolveram contratar Toney Douglas como substituto de Jarrett Jack. A rotação básica da posição, então, estava assegurada, com dois suplentes para o craque Stephen Curry.

Para piorar, durante a liga de verão de Las Vegas, o ala Kent Bazemore jogou demais, inclusive como um armador improvisado. O brasileiro nova-iorquino, porém, não fez um bom torneio. Embora tenha feito um bom papel na defesa e mostrado seu talento natural como organizador, Scott penou para fazer cestas. A ponto de, na final contra o Phoenix Suns na última segunda-feira, ter sido enterrado no banco de reservas, perdendo espaço para Ian Clark (que, inclusive, acabou de assinar contrato de dois anos com o Utah Jazz). O brasileiro só entrou em quadra com 49 segundos para o fim, e a partida já decidida. Cruel. Mais um duro golpe em sua jornada.

Ainda via Twitter, contudo, em vez de se mostrar resignado, o rapaz delcarou:”Essa montanha-russa ainda não parou!”

E não para, mesmo.

Só fica a impressão de que, no próximo looping, o brasileiro devesse tomar outra rota.

*  *  *

Seleção brasileira? Parece que essa é outra baixa para Rubén Magnano. O nova-iorquino era aguardado em São Paulo no dia 23 de julho. Leia-se: terça-feira. E aí que, nesta quarta, Scott me solta isso aqui na rede de microblogs: “Acho que vou conferir alguns jogos de verão de basquete nesta noite” + “Os garotos que fazem essas acrobacias nos metrôs de NYC são supertalentosos”. Quer dizer, o armador está de volta a Nova York, enquanto seus compatriotas treinam na capital paulistana de olho na Copa América. Com Huertas, Raulzinho, Rafael Luz e Larry, o argentino ao menos está beeem servido na posição. Segue o jogo.

*PS: sim, propositalmente a mesma frase de abertura do post anterior. Essas novelas tomam um tempo danado.


Scott Machado encara uma final perfeita com revanche na D-League
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Scott Machado no ataque

O jogador até pode encampar do discurso de que está numa tranquila, numa relax, numa boa. Mas, quando chega a hora de enfrentar sua ex-equipe, aquela que o dispensou, inevitável que se passe por aquela sensação de buscar vingança ou, no mínimo, de provar que o clube fez uma péssima decisão em não aproveitá-lo. Pois é esse cenário que o armador Scott Machado enfrenta na final da D-League.

Antes de prosseguir, façamos uma pausa rápida para recapitular a saga do brasileiro nova-iorquino nesta temporada, em dez passos: 1) passou batido no Draft; 2) assinou como agente livre com o Houston Rockets; 3) sobreviveu aos cortes de pré-temporada e teve seu contrato efetivado; 4) ficou mais tempo com a filial do Rockets, o Vipers, do que no time de cima; 5) teve seu contrato rescindido pelo Rockets, abrindo espaço para a chegada de Patrick Beverley; 6) voltou a jogar pelo Vipers, mas sem vínculo com o Rockets; 7) foi repassado para o Santa Cruz Warriors, filial do Golden State; 8) assinou um contrato de dez dias com a franquia da NBA, 9) assinou com o Golden State até o final da temporada, 10) mas ficou na D-League.

Pois bem. Quis o destino – aaaah, o destino… – que o Warriors “B” se deparasse justamente contra o Vipers na decisão da liga de desenvolvimento. com Scott no centro das atenções.

A série, disputada em formato melhor-de-três, começou nesta quinta-feira, e, ao final do primeiro jogo, Scott teve de lidar com sentimentos contraditórios, já que ele teve uma boa atuação, mas sua equipe perdeu em casa, por 112 a 102 (se estiver sem ter o que fazer, confira a partida na íntegra no vídeo abaixo). Agora a série vai para a cidade de Hidalgo, com a equipe texana precisando de apenas mais um triunfo para garantir o título.

Nesta quinta, o armador ficou em quadra por apenas 19 minutos, mas aprovou cada instante de ação. Reconhecido muito mais como um armador puro, dessa vez ele foi muito mais agressivo procurando a cesta, anotando 16 pontos em 11 arremessos, com um aproveitamento surpreendente da linha de três pontos (66%, comquatro cestas em seis tentativas).

Agora é esperar para ver se Scott vai ter mais chances no retorno ao Texas para dar um ou outro motivo para a gestão do Rockets se arrepender. De preferência, não apenas com uma final perfeita, mas também com um final perfeito, ganhando o título na casa dos ex-chefes.