Fabrício Melo vive semana decisiva para encaminhar sua carreira pelo Boston Celtics
Giancarlo Giampietro
A história não mudou muito, não. Só um pouco.
Fabrício Melo continua sendo encarado pela diretoria do Boston Celtics como um “projeto”. A diferença: talvez o clube esteja mais disposto a utilizar o brasileiro. O quanto? Muito vai depender de sua atuação durante a liga de verão de Orlando, que começou neste domingo. “Nós conversamos a respeito e ele sabe é uma semana muito importante”, afirmou o técnico Jay Larranaga, que era cotado para assumir a equipe principal até que Danny Ainge surpreendeu a NBA ao contratar o jovem Brad Stevens para o lugar de Doc Rivers.
Rivers que, segundo o Boston Herald, não apostava muito no pivô e, em off, deixava isso claro para os jornalistas. Com uma comissão sendo constituída agora, Fabrício fica mais animado. “Definitivamente vejo isso como um novo começo para mim. Estou pronto para encarar e me sinto muito diferente comparando com o ano passado. Não sabia o que esperar. Agora sei o que acontece. Estou muito mais confortável”, disse Melo
A equipe de verão do Celtics está sob o encargo de Larranaga, que teve coisas positivas para falar sobre o mineiro de Poços de Caldas antes do início do torneio na Flórida. “Ele tem se preparado realmente durante o último mês em Boston, trabalhando duro, então espero que ele tenha uma ótima liga de verão”, disse. “Acho que Fab tem feito um ótimo trabalho desde o momento em que começamos a treinar.”
Legal, e tal. O que pega é que o treinador ainda se sente impelido a fazer uma resalva: “Ele ainda não é um produto finalizado”. É uma repetição natural do discurso de Danny Ainge no ano passado. Sabiam que haviam contratado alguém que levaria tempo para contribuir. Por isso, a liga de verão em Orlando é tão importante: o clube precisa saber o quanto progrediu e o quanto falta para poder ser um atleta de NBA para valer.
Neste domingo, pela estreia da liga de verão contra o Magic, pudemos ver um pouco de tudo do discurso de Larranaga – a NBA TV transmite tudo online durante a semana e, depois, nos brindará com os jogos de Las Vegas. No primeiro tempo, o brasileiro, ainda muito cru ofensivamente, foi ignorado por seus companheiros em muitos ataques, sem mal poder tocar na bola. O canadense Kelly Olynyk, o mais novo draftado da equipe, foi quem centralizou as ações, algo esperado. O jogador de Gonzaga é bastante talentoso e mais desenvolvido que o companheiro nesse sentido. Embora um ano mais jovem, tem muito mais rodagem e bagagem.
No segundo tempo, outro jogo: Fabrício se apresentou de modo mais assertivo em quadra e, mesmo sem o condicionamento físico ideal, batalhou no garrafão com dois jogadores competentes em Kyle O’Quinn e Andrew Nicholson e teve sucesso. E foi recompensado do outro lado, marcando todos os seus pontos após o intervalo. Em uma ocasião, converteu até mesmo um tiro de média distância seguido de falta, e os reservas do Celtics se divertiram horrores no banco.
É claro que ninguém em Boston imagina ou sonha que Fabrício vá virar um Kevin McHale. Ainge o selecionou para proteger o aro, dominar os rebotes, fazer bons corta-luzes e, se possível, contribuir de uma forma ou de outra com pontos debaixo do aro. “Ele tem um potencial tremendo”, diz o técnico. “Ele teve alguns grandes jogos nesta temporada da D-League. Fez algumas coisas que nenhum jogador havia feito antes, com seus triple-doubles (de pontos, rebotes e tocos). Ele teve um ótimo impacto defensivo, então o que nós apenas temos de fazer é levá-lo a traduzir isso para a NBA, e de modo consistente.”
Antes de avaliarmos 0s números de Fabrício neste primeiro jogo, uma nota obrigatória: as estatísticas das ligas de verão são constantemente questionadas por scouts e jornalistas presentes no ginásio. E, de certo modo, elas pouco importam também. Treinadores e dirigentes estão muito mais interessados em ver essas peladas para projetar o que suas revelações podem fazer nos jogos que realmente importam, do que em acumular vitórias em julho.
De todo modo, lá vão: foram nove pontos, oito rebotes e um toco (em Victor Oladipo, ala superatlético selecionado em segundo no Draft deste ano) para o brasileiro, que jogou por 28 minutos. Mas, dentre seus dados, o mais importante foi seu saldo de cestas: +6, o maior de todos os dez atletas do Celtics que foram para quadra. Além dele, apenas o ala-armador Courtney Fells teve saldo positivo na derrota por 95 a 88 diante de um adversário que escalou muitas figuras de seu time principal. Outra marca importante: cometeu apenas três faltas, sem deixar de ser combativo, problema que foi uma constante nas últimas temporadas.
Com diz Larranaga, a despeito de a inexperiência de Fabrício, o desafio é fazer isso de modo consistente durante toda a semana, decisiva. Afinal, um ambiente de extrema competição como o da NBA, não há tanta paciência assim. O pivô se mostra confiante. “Acho que estou muito perto”, disse. “Acho que agora vou jogar. Isso é o que vai me fazer melhorar: apenas jogar basquete. É do que preciso. Agora quero ficar confortável e mostrar o que posso fazer.”
* * *
As opiniões sobre Fabrício depois da estreia:
– Brad Stevens (quem mais importa, no caso): “Não tenho condições de comparar o ano passado, nem mesmo duas semanas atrás com o que vi hoje, mas penso que as coisas que me impressionaram sobre ele foi o modo como ele tentou se comunicar defensivamente. Acho que ele foi bastante ativo, muito engajado. E ele obviamente fez alguns ganchos bem em frente de onde estávamos, mostrando muito toque. Ele é um cara grande que pode jogar no garrafão e ao redor dele. Sabe fazer corta-luzes. Defensivamente, ele parece alguém que tem bons instintos e sabe o que está acontecendo. As primeiras impressões foram boas”.
– Jay Larranaga: “Acho que Fab fez um monte de coisas legais. Ele nos dá uma presença interior. Ele fez alguns ganchos legais, foi para o rebote, deu um belo toco. Ele hoje está como todos nós: um trabalho em progresso, e acho que ele deu bons passos hoje”.
– Jared Sullinger (pivô que também parte para o segundo ano em Boston, muito mais polido também e que está afastado devido a uma cirurgia nas costas, mas acompanha o time feito um assistente técnico): “Comparando com o ponto em que estava no ano passado, ele é um jogador completamente diferente”.
* * *
Uma presença interessante no elenco de verão de Boston: o armador Jayson Granger, que é… Uruguaio (filho de Jeff Granger, ala-pivô americano naturalizado que defendeu nossos vizinhos do Sul por anos e anos). Velho conhecido daqueles que seguem Lucas Bebê na Liga ACB, é mais um dos projetos sul-americanos do Estudiantes. Com 23 anos, 1,88 m de altura, ele vem de uma bela temporada na Espanha e decidiu se testar contra atletas de primeiro nível nos EUA. Neste domingo, acertou apenas um de seis arremessos, mas somou cinco pontos e quatro assistências, ganhando mais tempo de quadra depois da lesão de Nolan Smith, azarado jogador ex-Portland. O jovem Granger, porém, costuma ignorar a seleção uruguaia.