Aprendendo rápido, Mogi se exibe para olheiros da NBA em Portland
Giancarlo Giampietro
Começou nesta segunda-feira, em Portland, o Nike Hoop Summit, um dos eventos juvenis mais importantes do calendário internacional, especialmente para os clubes da NBA. Providencial para scouts conferirem de perto em um só lugar, durante toda uma semana, diversos atletas de muito potencial, de todos os cantos do globo, e que provavelmente ainda não têm uma ficha tão extensa assim em seus banco de dados.
O ala Wesley Alves da Silva, ou, simplesmente, Mogi, do Paulistano, certamente se enquadra nesse grupo, de talentos intrigantes a serem avaliados com muita atenção a cada sessão de treino até a realização do jogo de sábado, contra a equipe dos Estados Unidos (que não necessariamente é a seleção americana oficial).
Georginho, promessa do Pinheiros, esteve por lá no ano passado. Agora é a vez do campeão de enterradas do NBB, seu companheiro na Copa América Sub-18 de 2014, em Colorado Springs, se testar diante de plateia exigente e curiosa. De olho em um Draft considerado fraco de modo quase unânime, se causar boa impressão na capital hipster do Oregon, deve entrar na discussão imediatamente. Mas é difícil falar em cotação no momento, até pela aura de mistério em torno de seu nome.
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Para alguém que mal jogou pelo time principal do Paulistano, Mogi é encarado como uma interrogação por muitos scouts que entraram em contato com o blog nas últimas semanas. Dos sites especializados, apenas o DraftExpress o acompanha com alguma regularidade, listando-o hoje como o décimo melhor prospecto na geração de 1996. Para o NBADraft.Net, seria o oitavo nessa lista.
No radar
Isso, na verdade, só torna ainda mais interessante o convite que recebeu. Ajuda, claro, ser representado nos Estados Unidos pelo gigantesco WMG (Wasserman Media Group). O grupo passa, sim, por reestruturação após a saída do superagente Arn Tellem para a gestão do Detroit Pistons, mas ainda tem cartela impressionante de clientes. Mas o interesse por Mogi não se justifica tão somente por lobby, claro. Cada um dos 12 estrangeiros convocados chegou ali depois de muita campanha nos bastidores, pode ter certeza.
Para Mogi ser listado, é porque há um interesse, ou curiosidade óbvios por parte da NBA. Resta saber se pesa mais a necessidade daqueles clubes que o acompanham mais de perto, desde aquele torneio em Colorado Springs – quando entrou na mira do DraftExpress, referência óbvia no serviço, por exemplo –, passando pelo adidas Nations do ano passado, na Califórnia. Ou se influencia mais a leva de times que só agora procura se informar melhor pelo ala nascido em Mogi Guaçu.
Se agora está num evento patrocinado pela multinacional norte-americana, foi em atividade conduzida por sua principal concorrente, alemã, no mercado de material esportivo que Mogi fez mais barulho, para se consolidar como um prospecto de primeiro time.
Em Anaheim, o brasileiro brilhou em um combinado sul-americano, ao lado dos compatriotas Daniel Bordignon Barbieri (ala-pivô do Baskonia, em franco desenvolvimento na Espanha), do pivô Lucas “Pipoka” Siewert (pivô já há um tempo no high school americano, na Califórnia e tem hoje sete ofertas de grandes universidades) e do armador Guilherme Santos (hoje segurando o rojão em final de temporada pelo Bauru, após a infeliz lesão de Ricardo Fischer).
Em quatro jogos, Mogi teve médias de 23,8 pontos, 7,3 rebotes e 2,3 assistências, acertando 66,6% de seus arremessos de quadra. Foi o cestinha e também o jogador mais eficiente da competição. Quem esteve por lá, de olho mais nos jogadores de fora do país, anotou seu nome no caderninho. O que nem sempre acontece, devido ao gigantesco tamanho do evento, com nove seleções diferentes, além de uma leva de quase 40 “conselheiros” universitários, como a sensação australiana Ben Simmons, o cestinha Buddy Hield, o jogador do ano, o ala-pivô Brice Johnson, destaque de North Carolina, entre outros.
Físico
Do ponto de vista do biótipo, tem “ferramentas” que os scouts procuram: bom tamanho (1,97m) e envergadura e capacidade atlética acima da média, ou muito acima da média, seguindo os parâmetros do NBB) com agilidade, mobilidade lateral, explosão em ataques verticais e impulsão. E, quando você soma impulsão e longos braços, tem um candidato sério a dar show em enterradas. Outro ponto a ser destacado: o rapaz é daqueles que parece jogar com mola nos pés, capaz de saltar várias vezes em sequência, sem perder força.
Por outro lado, Wesley ainda é muito magro, porém, a despeito de ter ganhado alguns quilos de músculo no ano passado. Não que seja o caso de bombá-lo: você não quer que ele perca em nada de sua rapidez. É só questão de deixá-lo um pouco mais forte apenas, até pelo estilo de jogo agressivo que apresenta, e isso não deve ser problema, de todo modo.
Isso chama a atenção: mesmo que seja magro até mesmo para um jogo de LDB, Wesley não foge do contato físico. Ataca o garrafão de modo incessante, com ou sem a bola, e também se dedica aos rebotes ofensivos, quesito em que tem bom aproveitamento para alguém de sua posição. Há momentos que você pensa que ele até pode se machucar em quadra, mas ele não liga: está constantemente de modo acelerado, vidrado na bola. É o que os scouts americanos gostam de qualificar como “motor” – e o do garoto gira em alta rotação.
Projeto
(Vídeo do adidas Nations 2015 em Long Beach. Wesley é o número 96, de cinza)
Para monitorar o progresso de Mogi, então, restou a eles basicamente os 14 jogos que disputou pela LDB, a liga desenvolvimentista nacional, na qual caíram ainda na primeira fase, e o Campeonato Paulista Sub-19 do ano passado, pelo qual foram eliminados na semifinal. O difícil aí é colocar as ações do ala, ou de qualquer outro jogador promissor, em perspectiva, devido ao desnível em termos de talento.
Suas médias pela LDB foram de 10,6 pontos, 5,4 rebotes, 0,9 roubo, 0,9 assistência e 2,2 turnovers, em apenas 26,3 minutos. Quando jogou exclusivamente com garotos de sua idade, teve maior protagonismo, sendo um dos cestinhas do sub-19, diga-se – só uma pena que o site da Federação Paulista seja tão precário, para checagem de outros dados. Mas também é algo que os olheiros vão questionar. São poucos aqueles que, como Masai Ujiri, se sentem confortáveis em apostar em um garoto de números não muito expressivos num torneio sub-23 brasileiro. Essa dúvida girou em torno de Georginho no ano passado, ao passo que, neste ano, a elevada produção de Lucas Dias pelo Pinheiros não passa despercebida. Mas é aí que entra a parte mais legal (creio) e desafiadora da profissão, não? Justamente analisar o atleta de modo minucioso e projetar o que ele pode fazer entre os grandalhões.
Sem a bola
Bastava ver o Paulistano sub-23 em ação para entender o volume reduzido nas estatísticas. Acompanhado por dois armadores, o badalado Arthur Pecos e Leonardo, Mogi basicamente se via obrigado a atacar como arma secundária, enquanto os dois baixinhos seguravam demais a bola. De tanto driblarem, perdiam diversas oportunidades de assistir o ala em cortes que poderiam gerar cestas fáceis ou lances livres. Para alguém com sua explosão física, dificilmente os marcadores conseguiriam freá-lo se fosse acionado em curva em direção ao garrafão. É nesse tipo de movimentação e em transição que ele produz a maior parte de seus pontos. Basta que o armador o veja. Quando perto da tabela, tem elasticidade e criatividade para finalizar as jogadas, sabendo usar o famoso “euro step” – pense nos movimentos laterais que Dwyane Wade e Manu Ginóbili tanto executaram na carreira –, explorando a tabela, ou cravando com tudo, mesmo.
Em termos de jogadas individuais, o ala ainda precisa trabalhar bastante em movimentos, mesmo que seu primeiro passo consiga lhe colocar em posição de vantagem contra o defensor. Ele é rápido e ganha terreno com facilidade, mas pode refinar seu drible, mantendo a bola mais próxima de seu corpo – como vemos em dois lances de vídeo abaixo –, algo que foi uma das prioridades durante o mês de treinamentos que fez na academia IMG em junho passado. (Sim, a mesma academia que já acolheu Lucas Dias e Georginho, além de Henrique Coelho e Leonardo Demétrio, dupla do Minas, virando uma central brasileira basqueteira na… Flórida, claro).
Mogi também tem de desenvolver seu arremesso. Pela LDB, acertou apenas 68,9% de seus lances livres e 18,2% dos tiros de longa distância (8 em 41 tentativas), regredindo na primeira e evoluindo um pouco na segunda, em relação à temporada 2014-15. Talvez ele nunca vire Marcelinho Machado, mas não que seja um caso perdido. Comparando de um ano para o outro, conseguiu por um pouco mais de arco em seu chute, com a mecânica também mais elevada. Ao menos, ciente dessa deficiência, não força os arremessos a partir do drible. Isto é: ele tem limitações ainda relevantes em seu jogo, que precisam ser atenuadas na hora de se pensar em voos mais altos para a carreira.
Quilometragem baixa
(Duas cravadas de Wesley num top 5 do adidas Nations, jogadas 2 e 4)
De qualquer forma, uma coisa que não podem perder de vista: se Wesley é o jogador mais velho entre os estrangeiros convocados para o #HoopSummit – além dele, só o ala francês Isaia Cordinier nasceu em 1996, enquanto quatro companheiros são de 1998 –, também é um dos que menos tem rodagem. Poucos sabem, mas o ala começou a jogar muito tarde. Realmente tarde: em 2012, aos 16 anos. E não é que estivesse jogando em parques ou na escola até ser descoberto em um projeto social em Mogi Guaçu. Nada disso. Ele mal havia pegado numa bola de basquete até participar dessa escolinha. Como atleta, o máximo que fazia era disputar uma pelada, como zagueirão. E dos piores, ele mesmo confessa, ficando sempre entre os últimos a serem escolhidos.
O fato de, em 2016, entrar em uma lista de candidatos a NBA só mostra o quanto possui de talento natural e o quão dedicado tem sido a seus treinamentos, sob a orientação de Gustavo de Conti e de seu assistente Beto, comandante do sub-23 do Paulistano, que o trouxe do Palmeiras. Os dois ficaram juntos no clube alviverde por aproximadamente um ano, depois de ser levado por seu primeiro treinador para fazer um teste. Beto, aliás, conta uma anedota: Mogi chegou a ser dispensado, mas conseguiu retomar a vaga graças ao apoio do pai de Arthur Pecos. Em 2014, já estava na seleção sub-18.
Até pela inexperiência, o ala ainda comete alguns erros claros em quadra, de posicionamento, se distraindo com facilidade, permitindo cortes pelas costas, arremessos livres etc. No mano a mano, porém, costuma ir bem, colocando muita pressão no adversário, usando sua envergadura e as mãos ágeis. Também devido aos seus atributos físicos, consegue se recuperar em uma jogada. Por vezes, pode se ver sedento pela bola, no ataque e na defesa, congestionando de um lado ou perdendo seu oponente do outro. Falta cultura, e os técnicos do clube até procuram compensar isso ao lhe entregar alguns livros sobre o jogo. Para compensar essa desvantagem, Wesley apresenta um instinto apurado em quadra. Quando não precisa pensar muito em quadra, encontra maneiras de influenciar a partida, seja explorando buracos na defesa adversária, ou com botes rápidos para tentar o desarme. Ele ainda está aprendendo o jogo, fato. Pelo nível que apresenta hoje, dá para dizer que aprende com facilidade.
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