Giovannoni justifica sua convocação e até merecia mais minutos
Giancarlo Giampietro
Por Rafael Uehara*
Muitos contestaram a convocação de Guilherme Giovannoni para estes Jogos Olímpicos. O veterano já não tem mais porte atlético invejável, e havia questionamentos se sua presença não estaria tirando a oportunidade de jogadores com maior potencial. Mas, neste sábado, na derrota da seleção por 111 a 107 contra a Argentina, o veterano mostrou que não só merece presença nesse grupo, mas que, na verdade, deveria ter papel maior na rotação.
O tiro de três pontos é essencial no basquete moderno, mas tem impacto ainda maior quando vem das posições mais altas. Jogando contra um time com escalação padrão, com um ala-pivô puro em quadra, Giovannoni força que esse defensor maior se afaste da cesta, dando maior espaço para seu pivô trabalhar de costas pra cesta e para que seus alas e armadores invadam o garrafão por meio do drible.
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E os números atestam esse impacto. Giovannoni acertou apenas cinco tiros de três pontos em quatro jogos. Em apenas oito oportunidades, este é um aproveitamento excelente. Mas, em termos de números acumulados, não parece lá grande coisa. Mesmo assim, a mera presença dele em quadra aliena a defesa adversária e acelera o ataque brasileiro. De acordo com o site RealGM, antes da partida contra a Argentina, com o ídolo do Brasília em quadra, a seleção marcou em média 113 pontos a cada 100 posses de bola. Excepcional. Pelo #Rio2016, o ala-pivô tem jogado por 14,1 minutos e médias de 6,0 pontos, 3,0 rebotes e 62,5% nos arremessos de longa distância.
Porém, o técnico Rubén Magnano ainda sim tem optado por manter Rafael Hettsheimeir como parte ativa da rotação, e até mesmo como titular, em vez de simplesmente dar todos os seus minutos (9,8) para Giovannoni e jogar com uma formação menor quando ele precisa descansar, se a ideia é sempre ter um entre Nenê ou Felício em quadra. (PS: lembrando que um dos melhores momentos do pivô ex-Real, Málaga e Zaragoza pela seleção aconteceu no Pan, ao lado de um pivô mais flexível, como Augusto).
Magnano provavelmente pensa que Hettsheimeir proporciona o melhor de dois mundos. O pivô do Bauru também tem o tiro de longa distância como principal arma, mas, além disso, tem certa habilidade para trabalhar de costas para a cesta caso o adversário simplesmente coloque um jogador menor nele para contestar os tiros de longa distância com maior rapidez.
Giovannoni realmente, em 2016, é limitado em outros quesitos com a bola nas mãos contra esse nível de basquete. Quando o oponente o impede de atirar rapidamente após o passe, ele não tem muita velocidade pra atacar através do drible, chegar à cesta e finalizar ao redor de pivôs com larga envergadura esperando por ele. Tem força para manter seu equilíbrio contra marcação física, mas seu tiro de média distância criado por ele mesmo também não cai o suficiente para ser carro-chefe de um ataque.
Além disso, nenhum adversário teme que ele possa fazer tamanho estrago contra jogadores menores de costa pra cesta, nunca demonstrando tamanho porte físico para simplesmente forçar posição para arremessos muito curtos perto do aro, mesmo que seu jogo de pés tenha sido sempre uma das principais virtudes de seu basquete.
Porém, Magnano tem ignorado, ou não diagnosticado, que Hettsheimeir também não tem sido grande opção nestes tipos de jogada contra os adversários de alto escalação que temos enfrentado. E que, a essa altura do campeonato, a disciplina de Giovannoni posicionando-se ao redor do arco com maior frequência do que Hettsheimeir (que vira e mexe ainda pede e recebe a bola tentando materializar algo de costas pra cesta), tem maior valor e beneficia o ataque brasileiro mais. Sem contar o fato de que Giovannoni tem sido ameaça maior no rebote ofensivo.
Magnano provavelmente também se sente mais seguro com o tamanho de Hettsheimeir no setor defensivo. Realmente, a presença de Giovannoni em quadra, especialmente em formações junto com Vitor Benite, o deve deixar muito preocupado com a capacidade da seleção de impedir que o adversário bote fogo no jogo.
Giovannoni não tem mais porte atlético para dar tocos, gerar roubos de bola ou trocar marcação e enfrentar jogadores menores com frequência. Mas sua disposição nesse lado da quadra é de se aplaudir. Ele é atento a suas responsabilidades cumprindo com suas rotações e fazendo bloqueio de rebote para tirar seus adversários da tabela. Ele tem coletado 20.4% dos tiros perdidos pelos oponentes enquanto esteve em quadra. Além disso, pensando nos desastrosos minutos inicias do jogo contra a Argentina, em que Andrés Nocioni flutuou com liberdade pelo perímetro, fazendo Magnano pagar pela dupla Hetthsheimeir-Nenê em quadra, fica a dúvida sobre como teria sido aproveitamento de Chapu se Guilherme, um velho conhecido, estivesse mais tempo com ele.
Antes da partida contra a Argentina, a seleção tinha permitido menos que um ponto por posse com Giovannoni no time. Contra a Argentina, a seleção perdeu apenas por um ponto em seus 30 minutos de quadra, em comparação a cinco com Hettsheimeir em seus 15 minutos. Com o pivô do Bauru em quadra, a seleção tinha permitido em média 112 pontos a cada 100 posses de bola do adversário antes da partida de sábado.
Giovannoni não é um jogador perfeito, mas suas virtudes tendem a causar maior efeito do que seus defeitos nestes Jogos Olímpicos, algo que até mesmo os mais críticos hoje talvez não possam contestar. Parece claro que é/era a melhor opção que a seleção tem/tinha em sua função. É difícil fugir da ideia de que, se tivesse sido mais bem aproveitado em todas essas três partidas que a seleção perdeu de forma dolorosa, por diferenças pequenas, talvez estivesse em condição de avançar às quartas com um melhor aproveitamento de um veterano que ainda vem produzindo muito pelo NBB e, de alguma forma, ainda traduz algumas de suas habilidades para o nível olímpico.
*Rafael Uehara edita o ''Basketball Scouting''. Seu trabalho também pode ser encontrado nos sites ''Upside & Motor'' e ''RealGM'', como contribuidor regular. Vale segui-lo no Twitter @rafael_uehara.
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