Vinte Um

Jogo 5 teve convergência perfeita para o Cavs. É sustentável?

Giancarlo Giampietro

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Em qualquer cobertura mais vasta, daquelas chamadas especiais, hoje em dia, parece impossível fugir do tópico ''sustentabilidade''. Nesta série de textos sobre as #NBAFinals, como ficar fora dessa onda? Não dá, vai.

Na liga americana, o termo também está em voga, à medida em que o uso e a análise das estatísticas se aprofunda. A abordagem um pouco mais fria procura colocar em perspectiva a boa fase de um ou jogador, por exemplo. Daí o uso também de outros conceitos como ''amostra pequena''. Tudo isso é processado para que as exceções sejam cada vez mais classificadas como exceções, mesmo, bem diferente da regra. Daí que, quando um Channing Frye acerta sete bolas de três pontos em dois jogos seguidos de playoff, em vez de elegê-lo já como o maior chutador da história, o raciocínio mais prudente e correto seria questionar se essa produção seria… sustentável.

Quando chegamos às finais de um campeonato, então, esse tipo de questionamento se torna ainda mais forte, já que cada time – no caso, Golden State Warriors e Cleveland Cavaliers – chega para decidir o título com uma extensa rodagem, com uma profunda base de dados para efeito comparativo.

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Depois da grande vitória do Cavs pelo Jogo 5, em Oakland, nesta segunda-feira, com LeBron James e Kyrie Irving se aproveitando das chamas produzidas por Klay Thompson no primeiro tempo para incendiar todo o ginásio, vale dar um passo atrás e avaliar o que aconteceu de normal ou anormal na partida. O quanto disso pode ser carregado para o Jogo 6 na quinta-feira? E a um eventual eletrizante Jogo 7? Certamente cada uma das comissões técnica, vindo de vitória ou derrota, vai fazer esse exercício. Então vamos lá:

A dinâmica LeBron/Kyrie

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Botaram para quebrar

Em quadra, essa foi a manchete: James e Irving formaram a primeira dupla de atletas a passar dos 40 pontos em uma partida pelas finais, com 41 cada. Foi um estrondo, mesmo, sem que defensores ultracapacitados como Klay Thompson e Andre Iguodala pudessem fazer muita coisa.

Um dado curioso é que nem o ala, nem o armador ainda haviam marcado 40 pontos nesta temporada. A estreia neste clube dos quarentões só havia acontecido três vezes antes na história, com  Cliff Hagan (em 1961, pelo Hawks), Magic Johnson (em 1980, pelo Lakers) and James Worthy (em 1989, pelo Lakers).

Para chegar a 112 pontos, o Cavs certamente atacou bem, com eficiência. Agora, eles atingiram um elevado índice de acerto, com 53% nos arremessos, 41,7% de três pontos e 23 lances livres batidos, com uma abordagem bastante individualista de seus astros, e não com um jogo mais solidário que procurasse esgarçar a defesa do Warriors. Somente 34,1% das cestas de quadra da equipe foram assistidas (15 de 44). Segundo o NBA.com/Stats, essa foi a primeira vez em 50 anos que um time passou dos 110 pontos com um percentual tão baixo de assistências. Além disso, as 29 cestas em investidas solitárias foram o máximo em um jogo pelas finais desde 1967, quando o San Francisco Warriors triunfou por 30 pontos na Filadélfia.

A concentração de jogo em seus craques foi absurda até. Dos 112 pontos, 97 saíram direta ou indiretamente das mãos da dupla, ou 87%, entre cestas e assistências. Essa é a segunda maior média da história das finais. Curiosamente, só fica atrás do que vimos no Jogo 1 do ano passado, antes de Irving se lesionar, numa derrota dramática definida apenas na prorrogação. Todas as últimas 25 cestas foram feitas ou assistidas pelos dois astros. A última cesta que não passou pelas mãos dos dois foi uma bandeja de Iman Shumpert na metade do segundo quarto. Os dois vão conseguir sustentar um desempenho desse na volta para casa?

Kyrie Irving
Vale lembrar que o armador anotou 22 de seus 41 pontos em Oakland em jogadas na qual ele avançou pela quadra driblando e não fez nenhum passe. Nesse tipo de situação, acertou inacreditáveis 10 de 15 arremessos (66,6%). Sabe qual era o seu rendimento entre os Jogos 1 e 4 com essas investidas em total isolamento? De 13-39, ou 33,3%, a metade. E aí? Qual é o número mais real? De repente um meio termo entre ambas as marcas?

Fato é que, desde que a série foi para Cleveland, o desempenho de Irving vem sendo bem superior:

Essa tinta verde espalhada pela foto da direita, no entanto, se deve muito ao que aconteceu nesta segunda-feira, mesmo. O jovem astro terminou com o quarto melhor aproveitamento da história das finais entre atletas que tenham tentado ao menos 20 arremessos. Ficou atrás só de atuações de gente como Shaquille O'Neal (em 2004 pelo Lakers), Larry Bird (em 1984 pelo Celtics) e Wilt Chamberlain (em 1970 pelo Lakers, o único deste trio que também passou dos 40 pontos).

LeBron James
Que LBJ costuma responder bem quando está enfrentando a eliminação pelos playoffs, Iguodala acabou de perceber. Acreditem: para alguém que é julgado de maneira irascível como um amarelão, o craque do Cavs, contra a parede, tem números e retrospecto superiores aos de Michael Jordan e Kobe Bryant. (O que não quer dizer que seja o melhor jogador da história. Esses dados só contrariam o imaginário popular que se construiu em torno de sua figura.)

O ala geralmente vai se impor em quadra, mesmo, e o máximo que seu marcadores podem fazer é tentar deixar as coisas um pouco mais difíceis, pelo menos.  Por muito tempo, em seus primeiros anos na liga, a melhor e mais óbvia era receia era realmente pagar para ver seu arremesso. Os marcadores recuavam e o induziam ao chute de longa distância. Em 2010-11, em seu primeiro ano pelo Miami, ele matou só 33%. Tudo era melhor do que a ideia de ver aquele trator ganhando o garrafão e destruindo o aro. Acontece que, cansado de enfrentar esse tipo de estratégia, LeBron trabalhou esse fundamento até alcançar percentual mais elevado entre 2012 e 2014, com pico de 40,6%. Seja por falta de treino, pelas pernas mais pesadas ou por uma combinação desses dois fatores, de um ajuste a sua atual condição física, o ala permitiu que seu rendimento caísse muito, para 30,9%, o pior de sua carreira.

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Esse número foi muito bem recebido pela oposição. Era quase uma benção. Nas finais, para o bem de Iguodala, ele estava com 31,2%. Daí a surpresa ou mesmo incredulidade com o que ele fez pelo Jogo 5, silenciando as vaias que o perseguiram pela Oracle Arena. Dessa vez, James acertou 8 de seus 19 arremessos fora do garrafão (42,1%). Não é algo expressivo assim comparando com o que Kyrie Irving matou de bola ao seu lado, mas é muito melhor do que 9 cestas em 28 tentativas (32,1%), das primeiras quatro partidas. Contra Iguodala, ele acertou 6-10 nos arremessos e 3-4 de longa distância.

Sem Draymond Green
O ala-pivô ficou arrasado ao ver o Jogo 5 de um dos camarotes do estádio do Oakland A's, vizinho da Oracle Arena, segundo seu ex-técnico em Michigan State, Tom Izzo. Sentiu que havia deixado seu time na mão. Podem ter certeza que o impacto maior causado por sua ausência foi sentido em quadra. Especialmente quando o Warriors precisava defender. Sem ele, o Cavs tentou explorar ao máximo o quarteto Bogut, Ezeli, Speights e Varejão situações de pick-and-roll e teve sucesso. O trio de pivôs era presa fácil para LeBron e Kyrie, enquanto James Michael McAdoo, muito mais ágil, não intimidava ninguém. A formação bastante baixa com Curry, Thompson, Livingston, Iguodala e Barnes também não colou.

Para termos uma ideia do quão vulneráveis os atuais campeões estiveram, o Cavs anotou 46 pontos apenas dentro do garrafão, com aproveitamento de 60%, com 24-40. Para comparar, o Warriors somou 42 pontos em tiros de três. Nas duas primeiras partidas como visitante, o Cavs havia anotado apenas 85 pontos por 100 posses de bola. Nesta segunda, sua média foi de 110 pontos. A jornada inspirada de Irving e James, que mataram 19 de 30 arremessos contestados, ajuda a entender essa guinada.  Draymond, sozinho, não iria impedir essas 19 cestas. Mas podem ter certeza de que os dois cestinhas encontrariam mais obstáculos, pelo fato de o ala-pivô ser muito mais ágil que o quarteto usado por Kerr em rodízio e entender perfeitamente o que precisa ser feito na cobertura de espaços. Pode não ter estatura, mas tem força, envergadura e inteligência para ser um candidato perene ao prêmio de defensor do ano. Não existisse um certo Kawhi Leonard em San Antonio, certamente já teria ganhado ao menos um troféu nesta categoria.

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As cestas de três do Warriors
Aquela turma que precisa evitar o consumo daquele amendoim, do queijinho ou do presunto cru durante as partidas do Warriors, sob risco de engasgo, deve ter se divertido pacas com o segundo tempo da vitória do Cavs. Afinal, nessa parcial, os atuais campeões erraram simplesmente 18 de 21 chutes de três pontos, sendo 9 em 10 pelo último quarto. No geral, o time acertou apenas 14-42 (33,3%). Na temporada, sua média foi de 41,6%, enquanto nos mata-matas é de 39,5%. O baixo rendimento num jogo que valia o título muito se deve ao empenho dos defensores do Cavs, com destaque improvável para JR Smith, por exemplo, especialmente no segundo tempo. Mas não foi só isso.

Esmiuçando esse aproveitamento, você encontra um dado surpreendente. Segundo as medições do sistema SportVu – com suas câmeras invasivas acompanhando toda a movimentação dos jogadores –, o Warriors teve ainda nada menos que 19 arremessos de longa distância com atletas ''completamente livres''. A tendência é achar que os marcadores jamais poderiam permitir um número tão elevado de tentativas sem resistência ao time de Steve Kerr. Pois nesta segunda não teve problema: apenas 4 desses 19 chutes foram convertidos. Harrison Barnes, aliás, foi a 'estrela' aqui. O ala não é um dos Splash Brothers, mas chegou ao duelo com 42,8% de acerto – e 60% nos dois jogos anteriores – e matou apenas uma em seis tentativas, desperdiçando diversas tentativas em total liberdade.

Surras?
Até agora, o mais perto de um jogo parelho que tivemos foi o quarto, com vitória tensa do Golden State, mas a qual já estava decidida a dois minutos do fim. Somando o saldo dos cinco primeiros jogos, são 104 pontos de sobra no placar, ou mais de 20 por confronto. Essas serão, digamos, as finais mais desequilibradas jogo a jogo em mais de 50 anos, desde 1965, com um dos tantos duelos Lakers x Celtics gerando uma sobra de 105 pontos. Dependendo da resolução das equações acima será que vamos ter pelo menos uma partida mas apertada? Queremos drama e emoção. Sustentabilidade tem limite.

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