Steven Adams emerge para causar alvoroço no Oeste
Giancarlo Giampietro
Quando o San Antonio Spurs contratou LaMarcus Aldridge, renovou com Tim Duncan, manteve Boris Diaw e ainda fez questão de fechar com David West e Boban Marjanovic, ficou claro: Gregg Popovich queria voltar aos tempos de jogo pesado no garrafão, para tentar fazer paçoca dos adversários e, ao mesmo, se preparar para um eventual embate com o Golden State Warriors. Não dava para correr, duelar em tiros de três pontos ou flexibilizar com eles, acreditava.
Bom, acontece que sua linha de frente envelhecida não conseguiu lidar com a do Oklahoma City Thunder pelas semifinais da conferência. E o duelo como os veteranos do time texano serviu como um bom aquecimento para Steven Adams e amigos. Ao lado de Serge Ibaka e Enes Kanter, o neozelandês saiu de quadra nesta terça-feira mais uma vez dominante, para conduzir seu time a uma intrigante vitória por 108 a 102, para roubar o mando pela final do Oeste.
O emergente pivô combinou 16 pontos com 12 rebotes e 2 tocos em raríssimos 37 minutos de ação por Billy Donovan, 12 acima de sua média nas últimas duas temporadas. Se o técnico mal tirou o folclórico gigante de quadra, é porque não dava, mesmo. A produção de Adams não o permite: com ele patrulhando o garrafão e finalizando com propriedade, seu time teve saldo favorável de 19 pontos.
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Foi o quarto double-double seguido pata o bigodudo nestes playoffs. Nestes quatro jogos, ele anotou surpreendentes 59 pontos, ou, podemos arredondar, 15,0 por rodada. Em termos de rebotes, se formos levar em conta as seis últimas partidas, foram 73, ou 12,1. Chegou a hora de treinadores adversários se prepararem melhor para marcar o kiwi em seus mergulhos no garrafão. Como se lidar com Kevin Durant e Russell Westbrook não fosse o suficiente.
Depois de bater Tim Duncan com vigorosa facilidade, pelo Jogo 1 da final de conferência foi a vez de fazer Andrew Bogut parecer bem velho, mesmo (só 3 rebotes, 2 tocos e nenhum arremesso tentado em 17 minutos). Quer dizer: Duncan e Bogut estão travadões, mesmo. Para ajudar, besta batalha de monstrengos da Oceania, o gigante australiano está se recuperando de um estiramento no adutor direito, ficando ainda mais limitado em seus deslocamentos.
Adams está se esbaldando em jogadas de pick-and-roll e nos rebotes ofensivos, prevalecendo atleticamente, mas também mostrando mais agressividade e habilidade para pontuar ao redor da cesta. Está claramente mais confiante, desenvolto, ganhando o respeito de seus companheiros. Isso aumenta muito sua cotação, para ir além da imagem de grandalhão atlético, enérgico, bom no rebote, mas marreteiro. De repente, a dupla Durant-Wess ganhou a companhia de um terceiro cestinha, e melhor: alguém cujo estilo se molda adequadamente ao que costumam fazer no ataque. Ao contrário de James Harden, que precisa criar com a bola em mãos.
Sempre o Harden, né? Até porque é difícil apagar uma transação dessas dos registros. Mas a menção aqui não é tão gratuita. O pivô neozelandês é justamente a única peça que veio naquela troca que ainda jogando para valer por OKC — Mitch McGary ficou para depois. Obviamente que Adams não é mais valioso, um jogador superior ao Sr. Barba. E também resta saber como o Warriors vai fazer para marcá-lo daqui para a frente. A série só começou. Mas o gerente geral Sam Presti deve estar se sentindo bem ao ver o desempenho recente do atleta.
Que Adams e Kanter tenham conseguido jogar juntos até contra a ''escalação da morte'' dos atuais campeões, sem sofrer na defesa, então, é para fazer o chefinho de OKC pedir aumento. Isso muda tudo no tabuleiro.
No final do primeiro,.Donovan tentou usar Durant e Ibaka em sua linha de frente, numa formação mais leve. De imediato, Steve Kerr também rebaixou seu time, lançando a temível formação com Draymond Green como pivô solitário. Restando 4min04s, os anfitriões ampliaram sua vantagem de seis para 13 pontos.
No segundo tempo, não teve dupla light na zona pintada para Donovan, que voltou a apostar na parceria que deu tão certo pelos períodos finais contra o Spurs: Adams e Kanter. Juntos, os dois jogos pivôs deram saldo de 14 pontos para OKC em 7min45s. No geral, nos 24 minutos após o intervalo, a defesa do time forçou muitos turnovers, soube marcar os arremessos de fora e, completando o serviço, ainda contestou ou amedrontou os perigosos cestinhas do Golden State, que acertaram 8 de 19 arremessos de curta distância, aquela que vão se tornando uma especialidade de Adams. Dominando os rebotes a partir dos erros, tiraram velocidade da partida. No quarto período, o quinteto mortal da casa apanhou, sendo superado por -19,5 pontos por 100 posses, marca que ficaria bem abaixo até mesmo do Philadelphia 76rs no decorrer do campeonato.
Esse tipo de desempenho defensivo, consistente, não deixa de ser surpreendente. Durante a temporada regular, o Thunder intimidava poucos quando tinha de proteger sua cesta. Era o time que nunca tinha uma vantagem absolutamente segura. Como quando perdeu para o Los Angeles Clippers com folga aparentemente inapelável de 17 pontos no Staples Center. À época, Durant reclamou: ''Eles tiveram disciplina, nós, não. Se quisermos virar um grande time, do modo como estamos jogando, estamos nos enganando''.
Contra o Warriors, na hora decisiva, foram muito mais sólidos marcando. Foi dessa forma que OKC venceu um jogo em que Durant e Westbrook converteram apenas 17 de 51 arremessos e no qual o time como um todo fez apenas uma cesta em oito tentativas durante o ''crunch time'', fora de casa, contra um adversário que teve mais descanso (mas com Steph Curry também à procura de seu melhor ritmo, a despeito do show que havia dado em Portland — 26 pontos em 22 arremessos e sete assistências para sete turnovers).
A defesa fica mais forte com Adams em quadra. Se ele não representasse uma ameaça no ataque, seria muito difícil mantê-lo em um jogo de playoff, por comprometer o espaçamento. Como este terror, que tudo crava, pode, na verdade, contribuir para seus companheiros, puxando a marcação para dentro, como Tyson Chandler fazia por Dallas. Quando questionado durante a série contra o Spurs sobre esse paralelo, o neozelandês se surpreendeu.
À distância, parece natural o desenvolvimento de um pivô de 22 anos que passou a jogar em um grande centro apenas aos 19, quando recrutado pela Universidade de Pittsburgh. ''Tudo isso (de progresso) acontece muito devagar. Vai levar um bom tempo ainda para eu chegar ao nível que quero. Estou bem distante, mas estou me esforçando. Estou acostumado com longas jornadas'', afirmou ao jornalista Brian Windhorst, do ESPN.com. ''Eu me tornei um viciado em melhorar.''
Foi mais um desses perfis em somos lembrados sobre como Adams tem 17 irmãos e uma deles é bicampeã olímpica como lançadora de peso e sobre como ele vem de uma cidade ao Norte da Nova Zelândia, Rotorua, de 60 mil habitantes que atrai turistas devido a suas atrações termais, com direito a geysers que liberam enxofre. O que, nas palavras do rapaz, faz o local cheirar a… Precisa completar? Sim, infelizmente, para entendemos outra declaração mais polêmica desta terça. ''Parece que alguém peida em sua cara o tempo todo'', diz
Quem acompanha o noticiário de OKC sabe que Adams é deste jeito. Não é dos mais recatados, digamos. Então é preciso cuidado antes de julgá-lo racista quando se referiu aos cestinhas do Warriors como ''rápidos macaquinhos''. Obviamente que gerou polêmica, e, mais tarde, em entrevista ao USA Today, teve de pedir desculpas. Disse que a frase vinha de um dialeto de sua cidade natal. ''Foi uma escolha infeliz de palavras. Não estava pensando direito. Estava tentando apenas expressar o quão difícil é perseguir estes caras. No dialeto, é diferente. Palavras diferentes, expressões diferentes, coisas do tipo. Estou assimilando, cara, ainda tentando descobrir quais os limites, mas eu definitivamente os ultrapassei hoje.''
Então. É o mesmo Adams que, na entrevista a Windhorst, comenta sobre uma refeição que experimentou em Taiwan. ''Teve um prato que comi lá cuja tradução do nome é 'O Monge Pula a Cerca'. É um prato de peixe com todos esses temperos. Era lindo, cara, era poesia. Tinha toda uma história'', disse.
Nem todo mundo está acostumado a pensar ou mesmo ouvir coisas dessas. Mas fique preparado. Quanto mais exibições de alto nível Adams tiver por OKC, maiores as chances de sair frases do tipo. Bem diferente de um Duncan ou de Aldridge. Mas esses caras não passaram. O problema do Golden State ainda é grande do mesmo jeito.
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