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Jukebox NBA 2015-16: Enquanto o Spurs ainda puder ver a luz
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Long as I Can See the Light”, por Creedence Clearwater Revival

Para falar de um clássico da NBA, nada como ouvir outro. Que, enquanto a luz estiver acesa, visível, não parece que o San Antonio Spurs vá embora tão cedo.

Seja pela possibilidade real de quebra do recorde histórico de vitórias do Bulls de 1996, ou pelos lances inacreditáveis de Stephen Curry, uma coqueluche mundial, é natural que o noticiário, que o apelo popular e que, por consequência, o marketing se concentre no Golden State Warriors nestes dias. Mas basta uma consulta na tabela – e em uma ou outra seção estatística importante – para o povo em geral se dar conta de que a rapaziada de Gregg Popovich está logo ali, pertinho, à espreita, pensando seriamente num sexto título para a franquia.

Quatro derrotas separam o líder do vice-líder do Oeste. Para um time com o padrão do Warriors, pode parecer uma vantagem razoável. Acontece que os dois times ainda vão duelar mais três vezes nesta temporada. Aliás, na lista de argumentos para se crer em um recorde para os californianos, a consistente perseguição do Spurs tem de estar lá no topo, pelo fato de o Warriors (ainda!) precisar lutar para assegurar o mando de quadra nos playoffs. Ainda vai levar alguns dias para que Steve Kerr se sinta tranquilo e confiante em poupar jogadores que não estejam contundidos ou lesionados. Vide a escalação de Draymond Green nesta segunda, contra um enfraquecido Orlando Magic, mesmo que o pivô, figura essencial ao seu esquema, estivesse doente e tenha tomado uma injeção durante o dia.

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Além dos confrontos diretos, há outro ponto para Pop considerar: desde o intervalo do All-Star, o Golden State se mostra relativamente vulnerável. Seja por cansaço, pressão pela busca do recorde, ou, no outro extremo, por relaxamento e “complacência” (nas palavras de Kerr) por acreditar flertar com a invencibilidade, o atual campeão deixou sua antiga fortaleza defensiva ruir nas últimas semanas. Em 10 jogos, só segurou um time abaixo dos 100 pontos: o Atlanta Hawks. Por outro lado, são sete partidas em que os oponentes passaram dos 110 pontos. Seu técnico está ligeiramente preocupado, com toda a razão.

Muita coisa já aconteceu desde as finais. Kawhi assumiu o controle do time

Muita coisa já aconteceu desde as finais. Kawhi assumiu o controle do time

Em San Antonio, proteger a cesta não é problema. A equipe tem a defesa mais eficiente da temporada, com muita folga.  Os 3,8 pontos que a separa do Alanta Hawks, cobrem a distância entre o terceiro colocado (Indiana Pacers) e o 16º (Orlando Magic). Ao contrário da maioria das equipes de Chicago dirigidas por Tom Thibodeau ou dos Pacers de Frank Vogel, a equipe também tem um ataque muito perigoso, sendo o terceiro mais qualificado da liga, abaixo de Warriors e Thunder. Esse equilíbrio deixa o Spurs com o maior saldo por 100 posses de bola (13,2), acima novamente do Warriors (11,7). Os dois times estão numa categoria à parte nesse quesito. O Thunder, para termos uma ideia, vem em terceiro, com 6,7. O Cavs, em quarto, com 5,9.

Está certo: precisamos lembrar que, no único duelo entre os líderes até aqui, o Spurs não teve nenhuma chance. O jogo já havia acabado no segundo período. O que atestou a superioridade naquele momento, mas, ao mesmo tempo, indica que foi um confronto atípico, sem que os visitantes texanos tivessem incentivo para correr atrás do prejuízo e, no caminho, dar algumas dicas do que pretendem fazer em uma eventual final de conferência.

No longo prazo, os indicativos do Spurs são tão ou mais relevantes que este primeiro jogo, assim como as recentes dificuldades encontradas por seu adversário. Não por acaso, existem projeções estatísticas que já apontam hoje o time de Kawhi Leonard (top 5 na votação para MVP, por favor) como o maior favorito ao título. Há divergências entre diferentes modelos, e todos eles obviamente não se equivalem a ciência exata, mas é algo a ser levado em conta: os números põem ambas superpotências num mesmo nível, bem distante da concorrência.

Então é isso: a luz parece nunca apagar para Duncan, Ginóbili e Parker, mesmo que mesmo que, para os dois mais veteranos (Timmy está com 39, Manu, 38), os minutos estejam mais controlados do que nunca. O tempo de quadra do pivô está na casa de 25 minutos em média, enquanto o do argentino não passa nem dos 20. Em minutos totais, seja por lesão ou precaução, os dois são, respectivamente, apenas os sexto e nono no ranking do time na temporada, abaixo de Patty Mills.

LaMarcus faz um estágio avançado com Timmy

LaMarcus faz um estágio avançado com Timmy

A receita é mesma: preservá-los para os jogos que mais importam e, ao mesmo tempo, turbinar a confiança dos mais jovens, encontrar o espaço certo de LaMarcus Aldridge e oficialmente entregar as chaves do reino a Kawhi Leonard. Com a frieza e clareza de sempre, Pop faz tudo funcionar de modo harmonioso. Encontrou oportunidades até para Boban Marjanovic virar um herói cult nos Estados Unidos (alastrando sua cruzada científica para provar que, sim, há lugar para dinossauros no basquete, contrariando a teoria da evolução).

Agora, nas últimas semanas de temporada, uma das tarefas do técnico será integrar os contratados no mercado de “buyouts”, Kevin Martin e Andre Miller, um alvo surpreendente. Para fechar com o veterano armador, o clube dispensou um jogador mais jovem, de futuro, como Ray McCallum. Martin, desde que aprovado em exame médico, deve forçar a saída de Rasual Butler. Ou Matt Bonner? Imagino que Butler, até por ser da mesma posição e por questões de química.

Não é a primeira vez que a gestão Popovich/R.C. Buford opta por esse tipo de negociação. Boris Diaw chegou ao clube durante a temporada 2011-12 desta forma, depois de irritar Michael Jordan até não poder mais. Lembro de mais dois casos abaixo, na seção dos “cards”. Tem mais.

A contratação de Martin não se questiona. A ele deve caber o papel desempenhado por Gary Neal e Marco Belinelli em campanhas passadas, dando ao ataque mais um letal arremessador. Essa vaga na rotação perimetral hoje é ocupada pelos promissor Kyle Anderson, que progrediu muito durante a campanha, e Jonathon Simmons, desses achados dos scouts de San Antonio. É um novato viajado, de 26 anos, que tem uma história incrível até chegar ao basquete profissional. Os dois são talentosos, bastante diferentes entre si, mas crus ainda e, principalmente, não têm chute.

Miller: Popovich afirma que sempre quis tê-lo no time. Mas tarde assim?

Miller: Popovich afirma que sempre quis tê-lo no time. Mas tarde assim?

Quanto a Miller…  O cara foi um dos armadores mais regulares das últimas duas décadas, causando impacto no ataque com sua criatividade para abastecer os companheiros e a habilidade no post up contra oponentes pouco habituados a esse tipo de ataque. Só faz muito tempo que ele não consegue frear ninguém que o ataque frontalmente ao aro. Tampouco representa uma ameaça nos arremessos de longa distância, com aproveitamento a de 21,7% na carreira. Com Parker e Mills, não há espaço na rotação. Será mais  uma voz experiente no vestiário do que qualquer coisa – é o jogador mais velho da NBA, com 37 dias a mais que Duncan, vejam só. Mas precisava, num time tão tranquilo, seguro e viajado? Numa hipotética situação de emergência nos playoffs, ele poderia receber boa carga de minutos? É mais difícil de entender. Mesmo se McCallum não tenha agradado a Pop e Buford, não havia uma alternativa mais interessante na D-League para assumir essa vaga?

Antes de Miller, vale lembrar que o Spurs também fez sondagens a Anderson Varejão, e as dúvidas que surgiram a partir desse interesse foram as mesmas: qual seria o papel do brasileiro, ainda mais com um pivô tão qualificado como Marjanovic e o atirador Bonner fora de quadra, aguardando escassas oportunidades?

O que se sabe é que o clube texano, com esses movimentos, decidiu ir com tudo, de “all in” ao mercado de veteranos. Especulação da minha parte: será por entenderem que chegou, enfim, o momento de despedida, de saideira para Duncan e Ginóbili (e seus detalhes contratuais também dão indícios)? Para tentar se cercar, então, com o máximo possível de veteranos, aqueles que, em tese, erram menos durante um jogo e despertam mais confiança dos técnicos.

Na letra do genial John Fogerty, o narrador pede uma vela acesa na janela, que estava preparado para seguir em frente e caminhar por aí, à deriva, mas preparado para voltar e se sentindo protegido, desde que a luz ainda esteja lá. Enfim. Talvez seja essa a última temporada ou não dessa histórica dupla? Talvez, para eles, tenha chegado a hora de apagá-la. Não sem antes tentar o título novamente.

Buford e Pop vão abastecendo o elenco do Spurs. Com criatividade e pré-requisitos

Buford e Pop vão abastecendo o elenco do Spurs. Com criatividade e pré-requisitos

A pedida? O sexto título da era Duncan-Pop. Era tudo o que Kobe Bryant queria: levar a conta de anéis de campeão da liga à outra mão, igualando Michael Jordan. Desde que se despediu de Phil Jackson, porém, o ala nunca chegou nem perto disso. Duncan, bem mais discreto, tem sua (última?) chance. Para Ginóbili e Parker, a conta chegaria a cinco. Matt Bonner, três. 🙂 Kawhi e Green, dois. Excelência é isso.

A gestão: acho que não precisamos nos estender muito aqui, né? Todo mundo já escreveu a respeito. A prévia do ano passado bateu novamente nessa tecla, para tentar entender esse prolongado sucesso. Aqui, um texto que mostra como esses caras conseguem construir timaços mesmo estando num mercado insignificante do ponto de vista financeiro e de badalação. Basta fazer scout e ter a cabeça no lugar.

Então vamos recuperar uma das aspas que mais fez sucesso nesta temporada, numa cortesia de Popovich, ao falar pela trigésima vez sobre o que eles valorizam num processo seletivo, seja para técnicos, jogadores ou jardineiros:

Boban é gigante, joga muito e tem senso de humor

Boban é gigante, joga muito e tem senso de humor

“Para nós, é fácil. Estamos procurando caráter, mas o que diabos isso significa? Estamos procurando por pessoas – e já disse isso muitas vezes – que já passaram da fase de se acharem mais importantes que tudo, e isso você consegue sacar bem rápido. Você pode falar com alguém por quatro ou cinco minutos, e dizer se eles só pensam em si, ou se eles entendem que são uma peça no quebra-cabeça. Senso de humor é algo muito importante para nós. Você tem ser capaz de rir. Tem de saber brincar e ouvir brincadeira. E precisa entender que não tem todas as respostas. Queremos pessoas que são participativas. Os caras na análise de vídeo podem me dizer o que acham do nosso jogo da noite passada. (O ex-assistente e agora novo gerente geral do Brooklyn Nets) O Sean Marks se sentava nas reuniões dos técnicos quando estávamos discutindo sobre como defender o pick-and-roll e quem jogaria ou ficaria no banco.”

“Precisamos de pessoas que consigam absorver informação e não levar isso pelo lado pessoal porque na maioria dos clubes você pode ver que há uma grande divisão. De repente, constrói-se um muro entre a diretoria e os técnicos, e todos ficam prontos para culpar uns aos outros. Essa é a regra em vez da exceção. Acontece. Mas isso tem a ver com as pessoas. Tentamos encontrar pessoas que possuam todas essas qualidades. Fazemos nosso melhor nesse sentido e, quando alguém chega, vai entender na hora.”

Olho nele: Danny Green

Spurs precisa de Green confiante

Spurs precisa de Green confiante

O Spurs tem o terceiro ataque mais eficiente da temporada, atrás de Warriors e Thunder, e Green, fundamental para espaçar a quadra, nem está jogando o que pode. Para vermos o quão forte é o elenco de Pop. Depois de assinar uma extensão contratual de US$ 40 milhões, dando um desconto ao clube, o ala não encontra seu ritmo nos arremessos de três. Seu aproveitamento de 35% não é ruim, em relação ao que se pratica na liga, mas é muito baixo quando comparado ao que ele atingiu em sua carreira. É o menor percentual desde a temporada de calouro em Cleveland (27,3%), há seis anos, quando ainda estava em formação, em tempos que admitia não treinar tanto assim, se achando o maioral ao sair de uma universidade como a de North Carolina, tão tradicional. Em fevereiro, ele chegou a 49,1% em 53 arremessos. Nos últimos três jogos já em março, porém, acertou só um arremesso em 12. O especialista Chip Engelland, que ajudou Splitter a reconstruir seu lance livre, só espera que a pequena amostra recente seja só um soluço.

Nos playoffs, Green tem média de 42,9% nos tiros exteriores durante a carreira. O interessante é notar que seu aproveitamento acaba servindo como um dos termômetros de campanha do Spurs pela fase decisiva. Em 2013 e 2014, acertou, respectivamente, 48,2% e 47,5%. Por pouco, muito pouco (leia-se: uma bola milagrosa de Ray Allen), o time não levou o caneco duas vezes.  Para comparar, em 2012 e no ano passado, ficou na faixa de 34,5% e 30%. Obviamente que esse não é o único fator que possa derrubar o time. Mas o ala tem sua importância. Quando seu chute cai com elevada frequência, Popovich tem o luxo de contar com uma dupla de atletas que contribuem dos dois lados da quadra o tempo todo, algo que faz diferença. Você não precisa abrir mão da defesa para azucrinar o adversário.

glenn-robinson-card-2006Um card do passado: Glenn Robinson. Reparem que o ala veste um uniforme preto, mas não o do Spurs, e, sim, o do Philadelphia 76ers, pelo qual iniciou a temporada 2004-05. Era só mais uma das muitas tentativas fracassadas do clube de emparelhar com uma segunda (suposta, ou não) estrela com Allen Iverson – Keith Van Horn, Chris Webber, Derrick Coleman, Jerry Stackhouse, Toni Kukoc, entre outros foram testados sem sucesso. Só Dikembe Mutombo, totalmente voltado para a defesa, funcionou de verdade.

Naquele ano, Robinson foi trocado no dia 24 de fevereiro para o New Orleans Hornets, que apenas queria se livrar dos salários de Jamal Mashburn e Rodney Rogers. No início de março, já foi dispensado, ficando livre, então, para assinar com qualquer time. Escolheu o Spurs, numa contratação, pensando hoje, estranha para os padrões da franquia. Escolha número um do Draft de 1994, superando Jason Kidd e Grant Hill, Robinson foi um produtivo cestinha em sua carreira, mas nunca se confundiu como um passador, como alguém que priorizasse o sucesso de seu time em detrimento de seus números.

Em San Antonio, teve tempo de fazer nove partidas pela temporada regular e mais 13 pelos playoffs, saindo do banco com papel reduzido, só para completar a rotação com Manu Ginóbili, Bruce Bowen e Brent Barry. Ficou fora de oito jogos pelos mata-matas e teve média de 8,7 minutos. Pouco, mas valeu o único título de sua carreira, antes de se aposentar. Tracy McGrady, que passou pelo mesmo expediente em 2013, não teve tanta sorte. São as vantagens de se ter um time de ponta, sempre. Os veteranos carentes de título querem participar também.


Deu Lakers (e Huertas) no jogo de temporada regular mais improvável da NBA
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Giancarlo Giampietro

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Kobe Bryant chegou ao vestiário e logo soltou: “Estou tão sem palavras como vocês, caras”.

Foi uma rara ocasião em que deu branco na cuca do Sr. Bryant, especialmente em sua última temporada de NBA, em que saiu contando causos pela América profunda. Dessa vez o astro do Los Angeles Lakers não conseguia encontrar muitas explicações para o que havia acabado de acontecer no Staples Center: seu time, o lanterninha da Conferência Oeste, derrotou o poderoso líder Golden State Warriors por 112 a  95 – apenas a sexta derrota da melhor equipe da temporada.

Mas não só isso: em termos de discrepância entre duas campanhas, essa foi a maior zebra da história da liga. Ou, se quiser uma definição mais politicamente correta e talvez mais precisa, vamos de “o resultado mais improvável” da história da liga, ao se levar em conta que o Warriors tinha um aproveitamento de 91,6% antes de a rodada começar, enquanto o do Lakers era de 19,0%, com um mínimo de 25 partidas disputadas. Curiosamente, nas bolsas de apostas em Vegas, esse triunfo estava pagando 19/1.

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De acordo com os cálculos da central de apostas Westgate Las Vegas Superbook, se, por alguma razão de bebedeira ou piada, você apostou US$ 10,00 nos angelinos neste domingo, foi premiado com um faturamento de U$ 190,00. Para o Warriors, antes de a bola subir, você tinha de apostar U$ 900.00 para ganhar dezinho.

Em outro fato raro da temporada do Lakers, Jack Nicholson estava no Staples Center e adorou tudo aquilo. Quando o Lakers vencia por 18 pontos a 5min53s do fim, o diretor de transmissão local colocou a imagem o astro hollywoodiano para o telão jumbo do ginásio. Aplaudindo, ele soltou um grito de apoio. Era tempo mais que suficiente para um time com Steph Curry e Klay Thompson buscar a virada. Mas não aconteceu, para confusão geral.

Jack e o filho caçula Ray, seu sósia, se divertindo em LA

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Um dos personagens instrumentais na vitória do Lakers? Marcelinho Huertas.

Com o afastamento de Lou Williams por uma lesão muscular e os minutos limitados para Kobe Bryant, o brasileiro voltou a aparecer com regularidade na rotação de Byron Scott. Foi escalado nas últimas cinco rodadas, depois de ter participado de apenas um em nove jogos entre os dias 2 e 24 de fevereiro.

Pois o veterano responde com sua melhor sequência na temporada. Nos quatro últimos jogos, ele acumulou 25 assistências contra apenas cinco turnovers… Em média de 5/1, excelente, em 104 minutos de ação. Contra o Warriors,  foram nove passes para cesta e apenas um desperdício de posse de bola, em 27 minutos. Para completar, anotou dez pontos, igualando seu recorde na temporada, estabelecido justamente na partida anterior, de sexta-feira, contra o Atlanta. Como prêmio, foi apontado por Scott como o “MVP do jogo” e também ganhou elogios de Magic Johnson, para quem, ao lado de Brandon Bass e Nick Young, teve a melhor atuação da segunda unidade nesta campanha.

Não se enganem: a opinião que mais vale aqui é a de… Scott. Magic é uma lenda viva, mas não acompanha tão bem assim o time para que seus palpites sejam levados a sério. Claro que, do ponto de vista da autoestima de um jogador e do torcedor, pesa demais. Do ponto de vista administrativo e de resultados na prática, porém, técnicos e diretores do Lakers já estão habituados a lidar com as cornetadas ou aplausos virtuais de um dos maiores jogadores da história – e proprietário  minoritário da franquia.

Já Scott é quem vai realmente ditar como será o final de campeonato de Huertas, com Rubén Magnano na torcida. Depois de falar mil maravilhas sobre o brasileiro na pré-temporada, o técnico não teve muita paciência com as dificuldades defensivas apresentadas pelo jogador em seu início de adaptação a uma liga de nível atlético infinitamente superior ao que se pratica na Europa. Para piorar, vieram os vines, tweets e highlights (toco de não sei quem, crossover de fulano…), e a tiração de sarro desmedida para um esporte em que estes são lances corriqueiros.

Ok, é claro que você tem de avaliar um jogador como um todo, e a defesa representa 50% do tempo de um jogo, ou quase isso. Mas, convenhamos, quem é o grande marcado perimetral no elenco atual do Lakers, que tem a pior defesa da temporada, levando 109,5 pontos a cada 100 posses de bola e a quarta mais vazada no total, com 108,0 pontos por jogo? Ron Artest? Talvez, mesmo que ele não consiga mais tirar o pé do chão. Anthony Brown? Veio de Stanford, mas ainda está aprendendo. Só não dá para dizer Lou Williams.

É difícil de entender exatamente as motivações por trás da contratação de “Sweet Lou” por Mitch Kupchak/Jim Buss, nem mesmo no hipotético (e absurdo) cenário que a dupla imaginava: o de que a equipe teria alguma chance de brigar por vaga nos playoffs neste ano. O que o tampinha faz: cava muitas faltas, como ninguém na liga; cria situações no mano a mano para atacar a cesta ou se livrar para um rápido arremesso. Não muito mais que isso. Definitivamente não é um cara que, na hora de tentar brecar alguém, vai deixar sua marca.

huertas-floater-lakersSe for para falar em pontuação, em cestinha fogoso, Nick Young já havia sido contratado no verão anterior justamente para isso. Em sua promissora campanha de novato, Jordan Clarkson seguiu pela mesma linha. D’Angelo Russel também é muito mais definidor do que criador hoje. Para não citar o próprio Kobe Bryant, que não tem mais o pique de antes, mas, vimos bem no início, ainda se sentiu confortável em chutar 20 vezes ou mais em uma partida. Por outro lado, Huertas também sabia que o elenco do Lakers era este. O armador, lembremos, acreditava que estava indo para o Dallas Mavericks, até o negócio cair. Sobrou, no final, o time californiano, com toda essa bagunça.

Em 58 jogos, Williams recebeu 1.696 minutos e tentou 610 arremessos, com uma taxa de uso de posse de bola de 22,2%. Todos números inferiores aos de Russell e Clarkson, também em médias, mas não muito. Será que os mais jovens não se beneficiariam de um volume de jogo ainda maior?

Aí vem a questão da “educação”: que Scott estava tentando passar especialmente a Russell a noção de que ele precisaria brigar para se impor no time, que as coisas não viriam de mão beijada na liga para alguém ainda muito imaturo – foi um termo que o treinador usou diversas vezes ao avaliar o garoto, ainda mais em comparação com Chris Paul e Kyrie Irving, ambos seus pupilos em suas temporadas de calouro.

É uma proposta que tem sua lógica, ainda mais agora que o número dois do Draft está desabrochando, para silenciar aqueles (extremamente) apressados que já o sentenciavam como um fiasco, numa comparação desesperada com Karl-Anthony Towns e Kristaps Porzingis, escolhas altas que estavam produzindo muito e brilhando, enquanto a aposta do Lakers penava. Nos últimos cinco jogos, acumula 22,6 pontos, 4,4 assistências, 3,0 rebotes, 1,4 roubo, 2,4 turnovers e 47,2% nos chutes de fora nos últimos cinco jogos, em 32,6 minutos. Mas você pode contra-argumentar facilmente também dizendo que talvez Russell pudesse estar ainda mais confiante e desenvolto no quarto final de temporada se não tivesse que se desvencilhar de tantas amarras nos primeiros meses, amarras que também envolvem o show de despedida de Kobe Bryant.

Além do mais, mesmo que a tese de Scott seja correta, é aí que a gente se pergunta se Huertas não seria melhor solução neste aprendizado de Russell. Ele pode não ter o currículo de Williams na NBA. Mas, como professor e exemplo, não poderiam ser mais diferentes, e o brasileiro colaboraria exatamente com aquilo que o jovem de 20 anos (recém-completos) mais precisa de momento: o equilíbrio entre a busca da cesta com seu belíssimo e suave arremesso, sem desperdiçar sua visão de quadra. Russell já é capaz de encontrar buracos na defesa e deixar um companheiro no jeito para pontuar. Mas pode se enamorar com a bola e segurá-la por muito tempo até partir para a definição no mano a mano – vício igualmente presente no jogo de Clarkson. Botem Lou e Kobe nessa conta, e você tem o time que menos dá assistências na temporada, não importando o critério

Por mais que o Lakers precise perder, perder e perder, para aumentar sua probabilidade no próximo Draft (lembrando sempre que, se a escolha sair do top 3, será encaminhada para Philadelphia), Scott e a diretoria insistem publicamente que o Lakers entrou na temporada querendo vencer. Vai saber. Para um time que, no domingo, tinha aproveitamento inferior a 20%, seu técnico então talvez tenha falhado em buscar outras alternativas e liberar um jogo mais solidário e criativo um pouco mais cedo no campeonato.

Huertas, de todo modo, fez nos últimos dias por merecer mais chances nas próximas partidas, com ou sem Williams. Para quem, segundo Magnano disse ao repórter Marcello Pires, do GloboEsporte.com, “tinha muita vontade de ser trocado”, é um alívio.

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Nessa busca pelo Draft, o Lakers, no fim, deu sorte: seu perseguidor mais próximo, o Phoenix Suns, também venceu, superando o Memphis Grizzlies pela segunda vez em cinco dias. De modo que o time californiano segue com alguma folga na condição de segunda pior equipe da temporada, acima apenas do Philadelphia 76ers, que voltou a perder desenfreadamente. Quem comemorou, então, a soma desses resultados foi, neste mundo bizarro da NBA, foi Danny Ainge, que torce pela derrocada de Brooklyn.

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Sobre o Warriors, como fica a tentativa de recorde? Uma derrota para o Los Angeles Lakers certamente não estava nos planos. Agora, com 55 vitórias e 6 derrotas, o time precisa de 18-3 até o final para superar a marca histórica do Bulls de 1996, ou de 17-4 para igualá-la.

Ainda assim, o ritmo do Warriors ainda é superior ao do Bulls de 20 anos atrás. Nas projeções do “Basketball Power Index” do ESPN.com, a projeção de campanha do Golden State caiu justamente de 73-9 (novo recorde) para 72-10 (empate) após a surra levada em L.A. O mais curioso é que, na probabilidade de título, depois de muito tempo, o San Antonio Spurs aparece pela primeira vez com um percentual superior ao dos atuais campeões: 43,9% x 39,3%.

Na NBA, como vimos, você não pode relaxar nunca, nem mesmo contra um time dirigido por Byron Scott. Pensando na reta final de campanha, além da possibilidade de entrar para a história, o mais urgente é simplesmente se manter na primeira colocação da conferência, uma vez que o Spurs não arreda o pé dessa briga e tem apenas três derrotas a menos na classificação.

De qualquer maneira, para um time que perdeu para Milwaukee, Denver, Detroit e Pistons, não adianta contar os confrontos diretos com o time de Gregg Popovich (três!). Se juntarmos as campanhas dos seis times que conseguiram derrubar o Warriors até o momento, vamos ter 160 vitórias e 216 derrotas. E eles quase perderam para o Sixers também (abaixo). O desafio maior é manter o foco e o pique para os jogos mais fáceis, além daquelas rodadas em que Steve Kerr vai poupar alguns de seus titulares.

Mas tem um fato curioso aqui. Uma coincidência daquelas, na verdade. Exatamente no 61º jogo de sua campanha em 1996, o Chicago também foi espancado, perdendo por 32 pontos para o New York Knicks de Ewing, Mason e Oakley e já de Jeff Van Gundy, que havia acabado de ser promovido após a demissão abrupta de Don Nelson. Obviamente o Knicks tinha um elenco muito mais forte que o do Lakers de hoje.  O ponto em comum das duas jornadas é que tanto o Bulls como o Warriors tiveram a noite de sábado livre nas duas maiores – e mais agitadas – cidades da liga, Nova York e Los Angeles. Engov neles.

“Nós não tivemos muita energia para começar o jogo por qualquer razão que seja”, disse Curry. “Eles estavam errando um monte de arremessos”, se alegrou Scott. Depois dessa exibição, Kerr agendou um treino para a manhã desta segunda-feira, já em Oakland, dia de enfrentar o Orlando Magic. É o primeiro deste tipo para a equipe, numa dobradinha back-to-back.

Os Splash Brothers acertaram apenas um em 18 chutes de três pontos, com um em dez para Curry. O Lakers matou 9-24 (37,5%).

*    *   *

Restam agora, em tese, 18 partidas para a carreira de Kobe chegar ao fim. Mas imagino a apreennsão de torcedores que tenham ingressos garantidos para seus últimos jogos: não existe a garantia de que ele possa entrar em quadra. SEntado no banco de reserva nos minutos finais desta incrível vitória, ele tinha o ombro direito totalmente envelopado. Aos repórteres, diz que há dias em que ele mal consegue girar o corpo para mexer no rádio do carro. Trava e dói tudo. O Lakers segue faturando com a turnê de despedida de seu craque: a franquia lançou três pares de meia em sua homenagem. Contra o Warriors, usaram a do centro:

Meias em homenagem a Kobe Bryant, Lakers

*    *    *

D’Angelo  Russel dá uma de Curry e nem espera a bola cair para comemorar. Abusado. O legal é que o lance foi no primeiro tempo ainda, e, não, quando a partida estava ‘definida’:

Larry Nance Jr. reforça sua candidatura ao torneio de enterradas de 2017:

E Russell perde o controle:


Felício aproveita seus minutos ao máximo: “Aqui estou jogando mais livre”
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Giancarlo Giampietro

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Que Cristiano Felício tinha o talento inato para, no mínimo, ser testado pela NBA, não havia dúvida. A questão é que, entre 30 franquias, era difícil de imaginar que o Chicago Bulls, com seis pivôs sob contrato, seria o primeiro interessado no brasileiro a se mexer e levá-lo para um período de testes. Falando sério,  o clube era muito provavelmente o destino mais improvável para o mineiro de Pouso Alegre.

Mas foi de Bulls, mesmo. Passo a passo, Felício convenceu o técnico Fred Hoiberg e os exigentes cartolas da franquia, John Paxson e Gar Forman, de que valeria investir mais algum trocado em um eventual sétimo homem de rotação. Da liga de verão ao traning camp à pré-temporada à data-limite em janeiro, o grandalhão revelado pelo Minas Tênis avançou e teve seu contrato garantido. Mais que a segurança financeira – especialmente com o dólar em câmbio elevado –, o que conta mais nesse processo é o ganho de confiança para um jogador ligeiramente subestimado por estas bandas.

>> Felício causa boa impressão geral em estreia pela D-League
>> As anotações de um scout da NBA sobre Caboclo, Bebê e Felício

Felíco x Jeff Ayres, ex-Spurs

Felíco x Jeff Ayres, ex-Spurs

Ok, não é que o brasileiro tenha chegado a Chicago e dominado. Em sua primeira temporada na NBA – e a segunda nos Estados Unidos, depois de uma intrigante passagem pelas “prep schools” de lá –, o pivô foi utilizado por Hoiberg em apenas 73 minutos, distribuídos em 15 partidas, para uma média de 4,9. Quando jogou, porém, deus sinais bastante positivos, especialmente na sequência de quatro jogos que teve pela D-League, causando boa impressão geral quando enviado ao Canton Charge, a filial do Cleveland Cavaliers.

Não teve ferrugem que o atrapalhasse. Depois de semanas e semanas de treino, respondeu com 14,3 pontos, 5,5 rebotes, 1,5 toco e 40% nos chutes de longa distância em 23,8 minutos por uma equipe na qual não conhecia ninguém, sem entrosamento nenhum. Numa projeção por 36 minutos, valeu 21,6 pontos, 8,3 rebotes e 2,3 tocos.  Mostrou que estava crescendo, independentemente do quanto estava jogava pelo time de cima, num trabalho mais concentrado com os assistentes Pete Myers, ex-jogador andarilho que voltou ao clube nesta temporada, e Charlie Henry, de apenas 29 anos, que havia trabalhado com Hoiberg em Iowa State. Que Ruben Magnano tenha tomado nota, então, depois de se encontrar com o rapaz.

“A conversa com o Magnano foi muito boa, falamos muito sobre a Olimpíada. Ele viu que não tinha muito tempo de quadra, mas que estava treinando bastante e melhorando. Com certeza, se for um dos convocados para a seleção, vou chegar muito melhor, mais bem preparado do que estava antes. Estou aprendendo com os melhores jogadores e tenho evoluído muito. Isso vai ser um bônus para mim”, afirma Felício ao VinteUm. O interessante é que, nesses poucos minutos, ficou claro como seu repertório se expandiu, fazendo valer o esforço numa rotina que, dependendo da cabeça, pode ser tediosa e alienante. “Aqui estou jogando mais livre”, diz.

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Ao retornar ao Bulls, demorou um pouco para que uma nova oportunidade surgisse. Até que Joakim Noah teve sua temporada encerrada por lesão, Nikola Mirotic foi afastado por uma cirurgia mais complicada do que se imaginava para tratar de uma apendicite, e agora Taj Gibson vai jogando no sacrifício, com dores musculares na coxa. Felício passou a entrar em quadra com certa frequência, mas em um momento delicado: o time está fora da zona de classificação para os playoffs e com muitas questões de relacionamento entre atletas e comissão técnica para serem resolvidas.

Dependendo do desfecho da temporada, a equipe pode entrar em um processo de reformulação, dando adeus de uma só vez a um ídolo como Noah e a Pau Gasol. Enquanto ainda é cedo para aprofundar essa discussão, quieto ao seu modo, Felício vai aproveitando como pode sua experiência de NBA, mesmo que isso não seja tão evidente. Veja a entrevista:

21: Primeiro de tudo, parabéns pelo contrato com o Chicago. É um grande clube, com diversos jogadores de peso em sua posição, e ainda assim apostaram em você, garantindo seu vínculo pelo menos até o final da temporada. Como tem sido essa experiência? Até por esse excesso de pivôs qualificados, foi uma surpresa ainda maior por terem te procurado e te garantido no time, passo a passo? O quanto isso aumenta sua confiança, de ver seu potencial reconhecido? Felício: Acredito que, desde o primeiro momento, foi uma  surpresa, o Chicago ter me chamado para jogar, mas, depois disso, vim trabalhando, trabalhando, e nos jogos de pré-temporada procurei aproveitar os minutos que tive, dando o máximo. Estava sempre buscando melhorar meu jogo. Com certeza para mim foi uma grande surpresa, mas não é algo que veio do nada, mas veio com muito suor, e graças a Deus estou tendo minha oportunidade. Para mim está sendo uma experiência incrível. São vários jogadores de outro nível jogando na mesma posição. No momento eu procuro observar, entender a maneira de como eles veem a jogada e atuam. Isso está me ajudando muito, me dando bastante experiência, para, tomara, num futuro próximo, ter minha oportunidade de jogar tão bem como eles.

cristiano-felicio-big-bullsNo período pré-Draft, lembro de você citar Phoenix e San Antonio como dois clubes que haviam mostrado um certo interesse. E o Chicago? Havia indicado algo? Ou a proposta deles surgiu “de repente”?
Sabia de alguns times que tinham interesse, mas sempre confiei que uma hora minha chance ia chegar, e tenho sempre conversado com pessoas que vêm me ajudando, me informando sobre tudo. Essa aposta de Chicago em mim na summer league foi surpreendente e foi muito interessante o jeito que eles me trataram desde que cheguei. Foi sensacional, e, com certeza, até pela grandeza do Chicago, me motivou bastante para treinar bastante nesse período de espera, para ver se ficaria, ou não. Depois foi pegar essa experiência com os mais velhos, pois no começo não teria muito tempo de quadra, mesmo.

Sabemos que a temporada é uma correria. Viagens atrás de viagens, pelo país todo. O quanto de tempo sobra para você trabalhar com os técnicos? Você faz alguma sessão específica de fundamentos e jogadas com eles? Com quem costuma trabalhar mais?
Sem dúvida nenhuma a temporada é de muita correria, mas a gente procura se ajustar o máximo que pode durante as viagens. Por não estar jogando muito, nos dias entre uma partida e outra, procuro ir para a quadra e trabalhar muito meu jogo ofensivo. Sempre que posso, converso com os técnicos, e eles observam tudo e dizem o que posso fazer melhor, o que devo fazer mais. Trabalho bastante com Charlie Henry e Pete Myers, que estão sempre me ajudando.

O arremesso de três pontos vem aparecendo com mais frequência no seu repertório. Não era uma bola que você tentava tanto no Brasil. Em 2014-15, não há, na verdade, nenhuma tentativa de três computada em suas estatísticas do NBB. E a linha da NBA é mais distante da cesta ainda. Você já tinha a ideia e confiança de tentar esse tipo de chute, ou foi algo trabalhado pela comissão técnica de Chicago?
Sempre tive a confiança de chutar, que venho tentando durante a minha carreira, mas que está aparecendo mais agora. No Flamengo, como tínhamos muitos jogadores que jogavam, não tinha muita chance de tentar essa bola. Como um jogador 5, ficava mais dentro do garrafão, e isso fazia que as oportunidades não chegassem. No sub-22 eu tinha tentado algumas bolas. Aqui estou jogando mais livre, o jogo está ficando mais espaçoso, e eles tendem a treinar diversas posições, e venho treinando bastante essa bola. Agora é trabalhar cada vez mais para, quando precisar, se estiver numa situação de jogo para arremessar a bola, ter a confiança para chutar e converter.

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A passagem pela D-League: o quão difícil é chegar a um time do qual você não conhece praticamente ninguém? E chegar com o selo de ser um atleta de NBA, enquanto a maioria dos companheiros busca justamente essa condição? De todo modo, foi um sucesso sua experiência com o Canton Charge. Depois de tanto treino, ficou feliz de ver os resultados em prática?
Minha chegada ao Canton não foi tão difícil assim, eles  sempre me deixaram a vontade desde o início. Fui muito bem recebido. E o técnico (o espanhol Jordi Fernández, que trabalhou na diretoria do Cavs por quatro anos e também dirige a seleção espanhola sub-20) já conhecia alguns dos meus amigos, e isso me deixou muito mais confortável para poder jogar. Fiz grandes jogos e, com certeza, depois de muitos treinos com o time e das sessões individuais, fiquei muito feliz com o desempenho que tive.

Os Bulls agora passam por um momento difícil, com as lesões de Butler e Noah e a cirurgia do Mirotic. Pode ser um momento importante para você.
Com as lesões, venho tendo algum tempo de quadra, e estou procurando responder da melhor forma que posso, tentando ajudar o time a ganhar. Em alguns jogos tenho ido muito bem, em outros, nem tanto. É algo que acontece durante uma temporada de novato por aqui, e quero tirar o máximo disso. Quem sabe com a volta deles, ainda possa ganhar meu tempo de quadra para ajudar do jeito que posso?

Para a temporada que vem, Gasol e Noah serão agentes livres. Existe alguma perspectiva de mais tempo de quadra? Já houve alguma conversa com você nesse sentido, por parte da diretoria ou dos técnicos?
Sobre a temporada que vem não estou sabendo de nada ainda. Não me falaram nada. Estou procurando me focar o máximo nesta temporada para fazer meu máximo e, quem sabe, no ano que vem poder estar aqui novamente e poder ajudar o time ainda mais do que neste ano.

Para fechar, como foi o encontro com o Magnano? Pensando em seleção, mesmo que não esteja jogando muitos minutos, você acha que vai se apresentar como um jogador mais bem preparado para tentar uma vaga na equipe olímpica?
A conversa com o Magnano foi muito boa, falamos muito sobre a Olimpíada e meu tempo de quadra aqui. Ele viu que não tinha muito tempo de quadra, mas que estava tre inando bastante e melhorando. Com certeza, se for um dos convocados para a seleção, vou chegar muito melhor, mais bem preparado do que estava antes. Estou aprendendo com os melhores jogadores e tenho evoluído muito. Isso vai ser um bônus para mim.


Pat Riley apronta novamente, contrata Joe Johnson e desperta ira na NBA
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Giancarlo Giampietro

O anel que ainda causa barulho na NBA

O anel que ainda causa barulho na NBA

Sem David Stern, se há alguém que chega mais perto do status de um Poderoso Chefão, esse alguém está vivendo em Miami há um bom tempo – sem ter coincidido com o Scarface, diga-se – e que está prestes a completar 71 anos no próximo dia 20. Pat Riley, senhoras e senhores. Ao contratar o veterano Joe Johnson, ele aprontou mais uma vez.

Mas, calma. Não quer dizer que o ala, que estava mofando em Brooklyn, tenha chegado para fazer a torcida festeira do Heat esquecer LeBron. Que ele representa uma evolução, e tanto, comparando com Gerald Green, não há dúvida. Deixa o time mais forte. O exato impacto que terá pelo time ainda está cedo para saber, em que pesem as duas vitórias desde sua estreia.

Por ora, o que chama mais a atenção é a manobra que o clube da Flórida fez para poder acertar com JJ, despertando inveja e, principalmente, a ira de alguns de seus concorrentes. Com uma generosa contribuição de ninguém menos que Beno Udrih, o veterano armador que vai passar por uma cirurgia no pé, não deve jogar mais nesta temporada e, ainda assim, se despediu de South Beach com um gesto que deve fazer dele alguém muito popular na balada.

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Foi assim: o esloveno aceitou encerrar seu contrato com o Miami, na chamada decisão de “buyout”, na qual dirigente e agente negociam a rescisão para que, em geral, o atleta possa buscar uma vaga que lhe apeteça mais, enquanto a franquia tem a chance de, eventualmente, poupar uma grana. Até aí normal.

Acontece que Udrih, com a perspectiva de ficar três meses de molho, não vai jogar por mais nenhum time neste campeonato. Ainda assim, aceitou dar um desconto ao Miami, que não precisaria pagar o restante de seu salário na íntegra. Foi algo em torno de US$ 50 mil a 90 mil. Uma pechincha no mundo da NBA, certo? É, dá para falar que sim. Seja 50 ou 90, o que causa revolta em outras vizinhanças é que esse dinheiro é o suficiente para que o escritório de Riley fuja da temível “luxury tax” (a multa da luxúria, hehe).

Johnson chega ao Miami praticamente de graça. Valeu, Udrih

Johnson chega ao Miami praticamente de graça. Valeu, Udrih

O que isso significa? Um lucro imediato de pelo menos US$ 2,6 milhões para a franquia. São US$ 110 mil de economia em multas mais US$ 2,6 milhões que vai receber daqueles times que estão estourados, acima desse limite. Para o futuro, os ganhos são ainda  imensuráveis, já que se livra de algumas amarras impostas pela liga aos clubes que extrapolam o teto salarial constantemente – o que, em Miami, vinha acontecendo desde os anos LeBron.

Sacou?

O Heat ganhou muito nessa. E Udrih? Literalmente, perdeu dinheiro. E por que ele aceitaria isso?

Pois é. É justamente essa a dúvida que atormenta a concorrência. A dispensa de jogadores nessa fase é mais do que normal. Vimos acontecer com o próprio Johnson.  Varejão nem viajou para Portland e já acertou com o Golden State. David Lee chegou a Dallas para, quem imaginaria, dar um descanso a Zaza Pachulia. Andre Miller agora é do San Antonio. Por aí vamos. Udrih será operado e vai esperar até julho, agosto, setembro… para ter um novo time. Se é que isso vai acontecer. Caso aceite, digamos, uma oferta de salário mínimo garantido do Heat, aí podem esperar que a chiadeira vai aumentar, indicando um acordo por baixo da mesa entre ambas as partes.

O legado Udrih: um bom soldado

O legado Udrih: um bom soldado

“Se isso faz sentido para as pessoas, ou não, é o que Udrih quis fazer, o que ele se sentiu confortável em fazer. Ele ainda é um irmão para nós”, afirmou Dwyane Wade. Foi o famoso “valeu, mermão!”, numa cara-de-pau tremenda.

O plano do Miami, aliás, era ainda mais ambicioso. Eles torciam para que o Philadelphia 76ers, com uma vaga no elenco, recolhessem o esloveno durante o período de “waivers”. Aí a consequência seria de que o Miami iria reduzir ainda mais seus encargos, limpando na íntegra os US$ 2,1 milhões de seu salário, para ganhar margem para contratar mais um jogador pelo salário mínimo – e tudo indicava que já tinha um acordo verbal com o cestinha Marcus Thornton, dispensado pelo Houston Rockets.

O Sixers está abaixo do piso estipulado para a folha salarial, e qualquer que seja a quantia devida teria de ser completada e distribuída entre os 14 atletas do grupo ao final da temporada, com uma vaga sobrando. Caberia ali. Mas Jerry Colangelo e/ou Sam Hinkie não aprovaram essa, claro. Até porque Philly vai receber a escolha de Draft do Heat. Então não seria do interesse deles abrir mais uma brecha para o clube da Flórida melhorar seu elenco.

Ainda assim, por mais que Erik Spoelstra esteja com a rotação enxuta, Riley não vai reclamar de nada, por já ter conseguido quebrar, legalmente, o protocolo da liga para adicionar Johnson sem que isso interferisse nas finanças da franquia para o futuro. Foi uma tacada de mestre de sua equipe. O presidente do clube já afirmou que pretende manter o atleta de 34 anos em sua base na próxima temporada e até que ele decida se aposentar. “A coisa mais importante é que o Pat me disse que isso não é um negócio de curto prazo. Ele gostaria que eu encerrasse minha carreira aqui”, disse o jogador.

A empolgação é geral. O veterano respondeu com 18,0 pontos, 3,5 assistências e 65,2% no aproveitamento de arremessos (15-23)  e 50% de fora (3-6) em 31,5 minutos – só não vamos esquecer que foi contra o Knicks e o Bulls, dois times em desarranjo total. Johnson afirmou que seus dois primeiros jogos pelo Heat o fizeram correr como não havia acontecido nos últimos sete, oito, nove anos. Desde que saiu de Phoenix, basicamente. “Eu me senti rejuvenescido. Estou amando este novo começo”, afirmou. Dá para entender tranquilamente o astral do ala, que escapou de uma situação deprimente em Brooklyn para voltar a brigar pelos playoffs em Miami. Além disso, Johnson afirma que passa as últimas seis férias em Miami e que ficaria feliz em deixar seus filhos de 9 e 2 anos em tempo integral num clima mais quente.

Do ponto de vista esportivo, faz sentido a escolha por Miami, em detrimento de LeBron James. O Cavs tem mais time, muito mais chance de lutar pelo título. Mas os minutos, os arremessos e a participação em geral de Johnson seria mais reduzida por lá. Oras, a divisão de tarefas entre LBJ, Kyrie Irving e Kevin Love já é complicada o bastante para adicionar um veterano que não se vê como sexto, sétimo homem de rotação.

No Oeste, o Oklahoma City certamente receberia JJ de braços abertos, naquele papel que já foi de James Harden um dia, que também teve um Kevin Martin e que hoje está carente, independentemente da autoconfiança de Dion Waiters. Segundo o ala, as conexões que ele tinha com o Heat pesaram mais, citando Dwyane Wade , Amar’e Stoudemire e (!?) Udonis Haslem como caras com quem está mais acostumado. Desconfio que a presença de gigantes como Golden State e San Antonio no Oeste seja outro fator que o tenha influenciado. né?

O Brrooklyn não foi bacana

O Brrooklyn não foi bacana

O quanto Johnson pode render é um mistério. Seria razoável esperar um ritmo desses até o final do ano? Não sei bem. O que também não dá para tirar como padrão é o seu rendimento recente pelo Brooklyn Nets. Ele fazia sua pior temporada desde o ano de novato, em 2001-02, entre Boston e Phoenix. Parecia o fim da linha. Mas temos de entender a conjuntura: ele não é o mesmo jogador de dez anos atrás, claro, quando caminhava para sua primeira seleção para o All-Star, quando fazia, muito bem, um pouco de tudo. Fisicamente ele caiu bastante, não tem como. O aspecto motivacional, todavia, também desmoronou junto, ainda mais nesta campanha em que não havia mais a grife de Deron Williams, Paul Pierce ou Kevin Garnett por perto. Pelo que se pode entender, a dupla Thaddeus Young-Brook Lopez não o comovia tanto assim.

Em Miami, ele pode ser uma arma complementar, com a bola vindo das mãos de Dwyane Wade, dono ainda da quarta maior taxa de uso da liga, e eventualmente de Goran Dragic. Para alguém com tanta milhagem acumulada (quase 40.500 minutos só de temporada regular, mais 3.400 de playoffs), o mais prudente seria Johnson jogar fora da bola e ganhar em eficiência com isso. Só precisa ver o quão rapidamente ele pode se livrar desse cacoete, desenvolvido de modo lastimável em Atlanta, sob o comando de Mike Woodson. Wade não parece preocupado: “Quero que Joe seja Joe”. Ponto.

Por falar em rapidez, desde que Chris Bosh foi afastado pela infeliz reincidência de coágulos sanguíneos, perdendo a versatilidade e habilidade do ala-pivô em meia quadra, Erick Spoelstra resolveu acelerar as coisas em seu time, numa reviravolta mais que bem-vinda. Antes do All-Star Game, o Heat era o segundo time mais lento da NBA. Agora, é o 11º mais rápido, vejam só, num ritmo de jogo que favorece muito mais o estilo de Dragic. Antes, o time era o segundo time que menos arremessava (79,5 por jogo). Agora, é o nono que mais busca a cesta (88,3). São mais oportunidades para os atletas pontuarem, e a partilha também aumenta quando se subtrai o volume de jogo que Bosh concentrava. Dragic (jogando, enfim, como o armador em que se investe US$ 80 milhões), Luol Deng (uma surpresa, com 15,0, 10,0 rebotes nos últimos cinco jogos, mas com menos eficiência nos arremessos, é verdade), Hassan Whiteside (que agora resolveu converter lances livres e, mesmo saindo do banco, rumo a um contrato imenso em julho) e até Wade estão produzindo mais.

No coletivo, o time saltou da 25ª posição no ranking de eficiência ofensiva para a 15ª, sem perder em nada em sua força defensiva, campo no qual subiram do sexto lugar para o quarto, vejam só. De qualquer forma, o asterisco de sempre vale aqui: estamos falando de uma amostra bem menor de jogos. Os adversários vão se preparar mais para essa proposta mais agressiva no ataque, enquanto a tabela de jogos vai se reequilibrar. De qualquer maneira, vale acompanhar com atenção esse processo com muita atenção. O time é muito talentoso.

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Whiteside achou a mão no lance livre e no geral

A questão é se o elenco vai se sustentar, mesmo que o ritmo não seja dos mais frenéticos. No momento, Spoelstra está usando uma rotação de apenas oito homens. Uma rotação de playoff.  Faltam, no entanto, quase dois meses até a fase decisiva começar, e o quinteto titular tem dois jogadores que não são muito conhecidos pela durabilidade. Wade que o diga, com Amar’e lhe fazendo companhia. Qualquer deslize, num Leste muito equilibrado, pode custar a eliminação dos playoffs. O ala-armador dá de ombros novamente: “Essa noção de que possamos correr tanto que eu não seria capaz de acompanhar… é maluca”, diz. É curiosa, nesse sentido, a divisão de forças que Spoelstra tem feito em sua rotação, agrupando os jogadores mais experientes no time que começa as partidas, enquanto Whitside e os promissores calouros Justise Winslow e Josh Richardson saem do banco.

Sem espaço salarial para contratações nem de atletas de salário mínimo, a comissão técnica sabe que esse octeto não deve receber ajuda tão cedo, mesmo com duas vagas abertas – elas só devem ser preenchidas nas últimas duas semanas da temporada regular, para se pagar quase nada em em salário proporcional aos dias restantes no calendário. Gerald Green parece ter entrado em transe – e daí o assédio a Thornton –, Josh McRoberts mal consegue parar em pé e Udonis Haslem já está pronto para assumir algum cargo fora de quadra. Tyler Johnson ainda diz que pode retornar em abril, depois de uma cirurgia no ombro. Bosh não deveria pensar em basquete enquanto não tiver garantia médica de que o jogo não lhe faz mal, ou que não interfere em sua recuperação. É um problema muito sério, que faz do basquete algo menor.

No ano passado, quando Bosh teve uma embolia pulmonar diagnosticada, o Miami desandou e escorregou para fora da zona de classificação dos playoffs. Dessa vez, o time parece mais equipado para suportar a perda de um craque desses, desde que as lesões não se estendam. Esse é mais um testamento da competência de sua diretoria, que se virou como pôde para a montagem de um grupo qualificado, de origem bastante diversificada. Na atual rotação, Wade é o franchise player e Dragic, o agente livre caro, mas adquirido via troca. Luol Deng veio na faixa de US$ 10 milhões. Depois você vai ter Whiteside (desses que justificam a D-League), Stoudemire (fim de carreira, com salário mínimo, mas na melhor forma física dos últimos anos), dois novatos via Draft e Joe Johnson, claro.

Para a próxima temporada, o quadro clínico de Bosh é fundamental, mas Riley terá flexibilidade para poder se intrometer na conversa com os agentes livres mais badalados, dependendo do que decidir sobre Whiteside. Como executivo, ele confia em dois trunfos para tentar atrair caras com a fama de Johnson, mas num ponto ascendente da carreira: o clima e a vida em Miami e, hã, sua própria reputação na liga. São oito títulos de NBA, afinal – um como jogador, cinco na época de técnico e dois como executivo. Desde que chegou a Miami, em 1995, o clube só não foi aos playoffs em quatro anos. Vai argumentar como contra isso? Aí é aturar, mesmo, e conter a inveja.


Jukebox NBA 2015-16: Raptors, Arcade Fire e um recado geral: eles existem
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “We Exist”, por Arcade Fire

Em 2011, com dez anos de estrada, os integrantes do Arcade Fire subiam ao palco do Grammy para, de modo até chocante, receber o prêmio de Álbum do Ano, superando popstars como Lady Gaga, Eminem e Katy Perry. Ninguém entendeu nada, nem a apresentadora Barbara Streisand, muito menos  mesmo o vocalista e compositor Win Butler, que, ao chegar ao microfone,  soltou: “Que diabos?!”

Aquele grupo de esquisitões, nerds e/ou eruditos reunidos em Montreal já atraía bom público em festivais e havia participado da festa antes, mas concorrendo entre os alternativos. Depois daquela façanha, com “The Suburbs”, se tornariam gigantes. Ou, vá lá, gigantes para os patamares atuais do rock. Mas chegaram lá, ganharam estofo, confiança e voltariam, dois anos depois, com um álbum bem mais ambicioso, “Reflektor”, para pista, com direito até a curta metragem dirigido por um dos Coppola e pontas de astros hollywoodianos. “We Exist” está entre essas faixas.

Ok.

Estaria o Toronto Raptors, então, preparado para dar um salto desses?

Bem, falar em título talvez seja algo impensável, mas esse, na verdade, é um discurso útil que vale para praticamente qualquer time que não se chame Golden State Warriors.

Contudo, se os objetivos forem menores, por que não?

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Ao receber o Cavs na sexta-feira, o Toronto Raptors ratificou que, sim, já existe como ameaça ao time de LeBron James ao título – da Conferência Leste, no caso, de acordo com suas atuais configurações. Cleveland, no papel, ainda é o favorito, mas, enquanto não encontra a paz interna, vai ser mais vulnerável do que a combinação de suas peças sugeriria. E aí entra o clube canadense na jogada, disposto a aprontar, seguindo o líder da conferência bem de pertinho, tendo a vantagem de um eventual desempate.

Havia diversos elementos que já serviriam para colocar Toronto como o principal candidato a azarão na conferência, posto que muitos talvez imaginassem que caberia ao Chicago Bulls no início da temporada, numa ascensão gradual da franquia, basicamente desde a partida de Rudy Gay e Andrea Bargnani. Mesmo que tivesse levado um sacode do Cavs no dia 4 de janeiro, fora por 122 a 100, haviam vencido 17 de 21 partidas incluindo antes do reencontro com os LeBrons. Ainda assim, valeu como tanto como um resultado simbólico, como para dar o troco e jogar pressão para cima dos caras, ajudando, de passagem, a tumultuar mais um pouquinho o vestiário.

(Parêntese: entre as celebridades basqueteiras, o grandão Win Butler é autêntico. No All-Star em Toronto, dominou a pelada da sexta e foi eleito MVP. Drake? Que Drake?!)

(Parêntese: entre as celebridades basqueteiras, o grandão Win Butler, que jogava no high school, é autêntico. No All-Star em Toronto, dominou a pelada da sexta e foi eleito MVP. Drake? Que Drake?!)

Será que Bargnani e Gay poderiam imaginar um cenário desses, em que o Raptors entra em março com a quinta melhor campanha da temporada? E Bryan Colangelo? Talvez todos eles quisessem, mas é improvável que acreditassem que fosse possível que ele surgisse assim tão cedo. Mas não por acaso. Em diversos frentes, o clube canadense vem num processo evidente de crescimento, especialmente no mundo dos negócios, se firmando como um dos queridinhos do Canadá (vide o sucesso do slogan #WeTheNorth). A compra de uma franquia exclusiva na liga de desenvolvimento, em uma ação bem rápida, para acolher Bruno Caboclo e os mais jovens, também mostra isso.

De nada adiantaria uma esperta campanha de marketing se o produto em quadra não tivesse substância para sustentá-la. O técnico Dwane Casey sabe que não tem um time perfeito em suas mãos. Mas também está ciente de que conseguiu formar um conjunto bem equilibrado, com uma identidade bem definida e potencial para melhora, a ponto de voltar aos mata-matas com as maiores pretensões da equipe desde os dias em que Vince Carter decolava.

Os dinos têm o quinto ataque mais eficiente da liga e a 12ª defesa. Na subtração de um pelo outro, chega ao sexto melhor saldo de pontos por 100 posses de bola, superado apenas por, veja bem, Spurs, Warriors, Thunder, Clippers e Cavs. Ficar entre os sistemas ofensivos mais fortes, para esse núcleo, não é uma novidade, tendo ficado em terceiro neste ranking na temporada passada e em nono em 2013-14. Já o sistema defensivo resgatou sua credibilidade, depois de ter sido de um décimo lugar há dois campeonatos e de um esquálido 23º na campanha anterior.

Esse uniforme já viu a 2ª rodada dos playoffs. Mas não com Lowry e DeRozan

Esse uniforme já viu a 2ª rodada dos playoffs. Mas não com Lowry e DeRozan

E há caminhos claros para apertar ainda mais a retaguarda. A prioridade seria a recuperação de DeMarre Carroll, afastado do time desde janeiro, quando sofreu uma artroscopia no joelho direito. Até a virada do ano, por exemplo, com seu caríssimo agente livre contratado, a defesa era a décima melhor, se colocando no cobiçado grupo de times top 10 dos dois lados da quadra. Mas ainda não há data para Carroll retornar, e o escritório de Masai Ujiri não deixa vazar nada. Se ele estiver pronto para os playoffs, será um tremendo reforço.

Outra possibilidade, dói dizer, seria o banimento, ou a redução significativa dos minutos de Scola na rotação. Ao consultar os 20 quintetos mais utilizados por Casey na temporada, vemos que lenda viva argentina está relacionada em nove. O duro é que, destes nove, apenas um tem saldo positivo. Os outros oito estão no vermelho, por mais que o camisa 4 tenha adicionado a seu repertório o chute da moda: tiros de três pontos pontos como um ala-pivô aberto. Scola está convertendo 38,3% de seus disparos de três pontos, e o mais interessante é que isso ocorre com um número elevado de tentativas. Ele saiu de 0,4 por 36 minutos quando defendia o Indiana Pacers para 3,0 neste ano.

A eficiência nos arremessos deixa a quadra mais alargada no ataque, facilitando as infiltrações de Kyle Lowry e DeMar DeRozan. Na defesa, porém, as coisas não funcionam. Em tese, isso poderia se explicar pela parceria com Jonas Valanciunas, com dois pivôs muito técnicos, mas extremamente lentos numa liga que tende a punir esse tipo de marcador. Acontece que, nem com Bismack Biyombo ao seu lado no garrafão, o Raptors tem resistido.

Reputação de Ujiri talvez até assuste dirigente que vá negociar com ele

Reputação de Ujiri talvez até assuste dirigente que vá negociar com ele

Daí o estranhamento pela inércia de um gerente geral tão agressivo como Masai Ujiri antes do fechamento da janela de trocas. Só mesmo o nigeriano e seus confidentes sabem ao certo que tipo de negociação e proposta eram atingíveis. Talvez Brooklyn e New Orleans tenham pedido muito por Thaddeus Young e Ryan Anderson. Mas muito quanto? O Raptors está numa posição bem confortável quanto a trunfos para negociações. Tem assegurada todas as suas escolhas dos próximos Drafts, além dos direitos sobre a escolha do Knicks  deste ano (ou do Nuggets, dependendo da ordem, ficando com a mais baixa delas) e mais uma do Clippers. Além disso, o terço final do elenco de Casey é dominado por atletas mais jovens, como Bruno Caboclo e Lucas Bebê, que não serão aproveitados tão cedo.

Moedas de troca Ujiri tinha. Se os negócios oferecidos não eram tão bons, isso não impedia que fosse atrás de outros caminhos. Não dá para criticar tanto alguém que preze pela paciência nos negócios. São vários os clubes que já se colocaram em má situação com uma sequência precipitada de trocas. Mas o clube canadense poderia para assumir riscos moderados, sem o temor de comprometer a sustentabilidade do projeto. Será que Jason Thompson, marginalizado em Sacramento e Golden State e contratado para o lugar do dispensado Anthony Bennett – ô, tristeza! –, pode render no lugar de Scola? Agora não há muito o que se fazer a respeito. Também não é o fim do mundo.

Com Lowry e DeRozan, o ataque conta com dois All-Stars que ditam o ritmo da equipe. Ritmo, por sinal, que é o quinto mais lento da liga, em sintonia com Spurs e Cavs. Isso tem muito a ver com o modo como os dois atacam. São centralizadores, massageam a bola (o Raptors é o segundo que mais arremessa nos últimos quatro segundos de uma posse de bola, com 7,2 por jogo nessas condições), chamam o pick-and-roll, vão para dentro, e dá certo. Juntos, são responsáveis por 56,4% das assistências da equipe. É muito. Mas, comparando com a liga, isso não significa muito, já que o Raptors é o terceiro que menos faz cestas assistidas (14,5%). Como faz, então, para ter um ataque eficiente, sem ser solidário? Não é com o bombardeio de fora. O rendimento de 36,8% nos chutes de três é excelente, o terceiro melhor (Warriors e Spurs). Mas eles não arriscam muito, ficando em 15º em tentativa, no meio da tabela.  Por outro lado, são muitos lances livres para compensar, sendo o terceiro em conversões (Rockets e Wolves). Também se comete poucos turnovers, com 13,2.

Lowry e DeRozan fazem suas melhores temporadas. Depois de um regime durante as férias, o armador se apresentou a Casey em excelente forma, finíssimo. Bacana, certo? Só não deixa de ser engraçado que ele tenha esperado nove anos para chegar a essa conclusão, de que perder alguns quilinhos poderia fazer bem a um armador que adora bater para a cesta e se gabava, antes, de ser um pitbull na defesa. Enfim.

Antes e depois

Antes e depois

Já DeRozan passou a enxergar o jogo com muita inteligência e paciência, para se infiltrar e descolar lances livres. É o segundo que mais converteu chutes na linha nesta temporada, atrás apenas de James Harden. Em seus movimentos rumo ao aro, vem usando cada vez mais o pick-and-roll e também aprendeu a servir aos companheiros. Fica tão confortável com a bola que hoje tem uma taxa de uso maior que a de Lowry.

Além disso, o que vem funcionando muito bem é o banco de reservas. Com Lowry fazendo companhia a Cory Joseph, Terrence Ross, Patrick Patterson e Biyombo, temos um quinteto que vem sendo bastante produtivo, com um saldo de 29,4 pontos por 100 posses de bola. Essa é a quarta melhor marca do campeonato (para um mínimo de 20 jogos e 100 minutos), gente. Outro quinteto que rende bem tem Lowry-Joseph-Ross-Patterson-Valanciunas, mas com uma carga bem menor de minutos (63 contra 201 da outra equipe).

Os bons resultados, aliás, devem gerar um impasse para Casey. Se o time titular não tem rendido conforme o esperado, ao mesmo tempo seria complicado de mexer drasticamente na rotação, já que a segunda unidade tem dado tão certo. Daí que um retorno de Carroll seria providencial. Dependendo de seu estado físico, o veterano poderia ser reinserido naturalmente no lugar de Scola, e vida que seguisse. Se ele não puder jogar, porém, seria a solução estender os minutos de Patterson? Ele manteria sua eficiência com maior carga? Scola daria conta, pelo menos, dos minutos que sobram para a posição? Ou talvez você possa distribui-los entre James Johnson e Ross, com Johnson jogando mais perto do garrafão nesse caso.

Scola produz no ataque. Mas é um problema na defesa

Scola produz no ataque. Mas é um problema na defesa

Diante dessas dúvidas, o argumento por uma postura mais agressiva na busca por trocas ganha mais força. Outro  ponto a ser levado em conta, nesse raciocínio, é a entrada de DeRozan no mercado de agentes livres neste ano e a de Lowry no ano que vem. Os contratos da NBA são cada vez mais curtos, e o prazo de validade de um time competente fica reduzido na mesma medida. Qualquer elevação na produção desse time poderia empurrá-lo com tudo para cima do Cavs, independentemente do estado de espírito dos adversários.Isso, claro, se eles chegarem a esse embate. Por mais que tenham se fixado como o segundo principal time da conferência, não dá para encarar uma série com o Boston Celtics como uma barbada. Isso para não falar, de repente, de um confronto com o Atlanta Hawks logo de cara. Glup.

Num cenário ideal, supõe-se que o clube renove com DeRozan em julho, mesmo que isso os tire de ação no mercado, dando conta do teto salarial nas próximas duas temporadas. Deixar o ala-armador sair seria assumir um grande risco (estamos falando do terceiro jogador do clube em eficiência, com 23,1 pontos, 4,1 assistências, 4,3 rebotes, 6,9 lances livres por jogo e aproveitamento de 83,8%, 26 anos). Para ir atrás de Durant? É realista? Al Horford? Será concorrido. Dwight Howard? Não faz sentido. Há opções mais baratas, que poderiam atenuar uma perda e manter a flexibilidade para manobras. Mas há também como ficaria o relacionamento com a torcida? DeRozan é o Raptor mais longevo desse elenco e acabou de ser eleito All-Star.

Obviamente essas questões todas passam pela cabeça de Ujiri. Como ele mesmo disse a Zach Lowe, do ESPN.com: “Como você passa de bom para excelente na NBA? Isso é realmente muito difícil”. É complicado, mesmo. Cada negócio ou não-negócio tem uma ramificação. A diretoria preferiu apostar na continuidade do time e de seu projeto com os mais jovens. Basta mais uma série desastrada nos playoffs e nova eliminação na primeira rodada, porém, para que essa narrativa seja alterada drasticamente. Pensando no estágio em que o clube estava no início da década, esse tipo de problema não justifica lamúrias. São hipóteses também. Por enquanto, de concreto, o que temos é que o Raptors existe e precisa ser respeitado.

Torcida empolgada geral em Toronto. Querem mais nos playoffs

Torcida empolgada geral em Toronto. Querem mais nos playoffs

A pedida? Final de conferência. Ou, pelo menos, competitividade numa eventual semifinal contra Boston, Miami, Indiana etc. O certo é que chegar aos playoffs já não é o bastante mais. Uma terceira eliminação consecutiva na primeira rodada seria uma tremenda decepção e muito provavelmente poderia resultar na demissão de Dwane Casey, além de chacoalhar as estruturas superiores da franquia.

A gestão: Masai Ujiri é um dos executivos mais bem pagos da liga, por uma razão. Ou várias razões. O New York Knicks que o diga, depois de duas negociações (Carmelo vindo de Denver e Bargnani de Toronto) em que diferentes dirigentes foram rapelados pelo nigeriano. O cara  desfruta de tanta reputação na liga que seus pares deveriam ter receio de iniciar uma negociação com ele. Talvez venha daí, mesmo, a ausência de trocas por parte do Raptors. Vai saber.

O que Ujiri não nega é que, em seu projeto, houve também uma contribuição do acaso, ao tentar arrumar a bagunça deixada pelos últimos anos desesperados de Bryan Colangelo por lá – quando mandou Rudy Gay para Sacramento, jamais imaginaria que essa transação resultaria em uma (r)evolução imediata em seu time, rumo ao topo da conferência.

Claro que há uma contribuição estrutural nessa reformulação. O trabalho com os técnicos do Raptors ajudou DeRozan a virar a ameaça que representa hoje, realizando todo o seu potencial, mesmo que seu arremesso exterior ainda não desperte o horror nas defesas. Se Valanciunas e Ross vão progredir desta maneira, o time ficará em boas condições, uma vez que seus contratos foram firmados em um teto salarial muito mais baixo do que vem por aí nos próximos anos (subindo de US$ 63 milhões na temporada passada para algo em torno de US$ 110 milhões em 2018).

Caboclo: 13,8 pts, 5,8 reb, 1,6 blk, 1,6 ast e 39,1% de quadra pelo Raptors B

Caboclo: 13,8 pts, 5,8 reb, 1,6 blk, 1,6 ast e 39,1% de quadra pelo Raptors B

Ujiri foi promovido de scout gratuito do Orlando Magic no início da carreira a chefão em Toronto por conta de uma vasta rede de relacionamento, mas também pelo trabalho exaustivo na busca por talentos mundo afora, e a história da seleção de Bruno Caboclo, numa articulação (quase) confidencial, é um grande exemplo de sua visão como dirigente.

Naturalmente, o dirigente tratou de buscar atletas mais jovens e conseguiu formar um núcleo bastante homogêno. Tirando Luis Scola, de 1980, todos os outros 14 atletas da equipe nasceram entre 1986 (Lowry e Carroll) e 1995 (Caboclo). Boa parte deles tem a chance de se desenvolver lado a lado, em que pese a curta duração de seus contratos. O problema: Lowry é justamente o segundo mais velho. Agora em março, vai virar trintão. Sem o armador, como essa base se viraria?

A diretoria dos dinos tem de se perguntar o quanto isso tudo vai durar, considerando seu estilo de jogo. Lowry é hoje a grande estrela da turma, tendo se transformado no tipo de jogador que a franquia jamais conseguiu recrutar no mercado de agentes livres. Aliás, pelo contrário: a história diz que estrelas ou candidatos a estrela saem de Toronto rapidamente. Então a linha de questionamento continua: se o armador está no auge, será era a hora do ataque? É legal investir na garotada, mas quando eles serão promovidos para valer? E quantos deles?

Será que Caboclo e Bebê vão conseguir jogar para valer com Lowry no Raptors?

Será que Caboclo e Bebê vão conseguir jogar para valer com Lowry no Raptors?

O time atingiu um nível tão bom em quadra e tem uma rotação estabelecida que torna difícil o aproveitamento dos mais jovens. Ou, vamos colocar assim: mais inexperientes. O armador Delon Wright, irmão mais novo do ala Dorell, pode ser um novato, mas é dez dias mais velho que Valanciunas. Ambos chegarão aos 24 nesta temporada, assim como Lucas Bebê. O ala-armador Norman Powell vai completar 23. Bruno Caboclo é quem ainda pode ser tratado tranquilamente como o caçulinha. Só vai fazer 21 em setembro, pouco antes do próximo “training camp”.

Legal. É boa a base.

Mas com atletas que já estão, ou deveriam estar num estágio de desenvolvimento mais avançado. Preparados para assumir mais responsabilidades, exceção feita a Caboclo. Juntos, eles receberam apenas 476 minutos na temporada. Se fossem apenas um atleta, isso daria 8,2 minutos por partida, e isso só aconteceu devido a lesões de Valanciunas e Carroll, que liberaram boa parte dos 313 minutos de Bebê e Powell. Em suma: é D-League, ou fim da fila no banco de reservas. Se tudo der certo no time de cima, essa é uma condição que deve ser mantida por um bom tempo, a não ser que deem sinal de progresso nos treinos ou na liga menor.

No fim, como Ujiri vai aproveitar esses jogadores é o que pode definir seu trabalho.

Olho nele: Bismack Biyombo.

Biyombo, mas pode chamar de protetor de aro

Biyombo, mas pode chamar de protetor de aro

Se arrumar a defesa era uma prioridade do técnico Dwane Casey, a contratação do centro-africano foi uma dádiva. Se nenhum Rudy Gobert está disponível, se não havia muito espaço na folha salarial para investir pesado além de Carroll, conseguir Biyombo por menos de US$ 3 milhões foi também uma pechincha. Com baixa estatura, mas muita envergadura e força física, o pivô é uma alternativa perfeita a Valanciunas, contra pivôs mais ágeis. Sua verticalidade também funciona muito bem no novo sistema defensivo dos dinos, que tenta empurrar os atletas para o centro do garrafão, para chutes de média distância contestados pelo xerife da vez. Com Biyombo em quadra, fica mais difícil de achar a cesta: os oponentes fazem 5,6 pontos a menos por 100 posses de bola. Suas dificuldades ofensivas ainda o limitam no mercado, mas é provável que ele exerça sua cláusula – não é possível que ninguém lhe pague mais que que os US$ 2,9 milhões previstos em seu contrato. Troque Roy Hibbert por ele, e o Lakers teria um garrafão muito menos acolhedor, certamente, por exemplo.

vince-carter-dunk-elbowUm card do passado: Vince Carter. Muito óbvio? Pois é. Mas, do elenco da temporada 2000-01, a primeira e única vez em que o time venceu uma série de playoff, o então acrobático ala foi o único que sobrou na liga para contar história. Hoje não lembra em nada aquele cestinha de então, explosivo, com um conjunto de ataques enfáticos ao aro praticamente inigualável ou que, no mínimo, só permite que um Jordan, um Wilkins ou um Erving lhe façam companhia. Mas dá sua pequena, esporádica, mas honesta contribuição ao Memphis Grizzlies – o que é curioso, já que estamos falando da franquia que não teve tempo o suficiente para vingar em solo canadense, enquanto, no auge, ajudou o Raptors a se estabelecer comercialmente, enquanto ajudava o basquete a se popularizar por lá.

Para termos uma ideia do quanto valem os 15 anos que se passaram, vamos relembrar do que consistia a rotação do técnico Lenny Wilkens, então: Alvin Williams, Chris Childs, Dell Curry, Morris Peterson, Jerome Williams, Charles Oakley, Antonio Davis e Keon Clark. O último a se aposentar dessa leva toda foi Peterson, em 2011, aos 33, mas sem condições de entrar em quadra por OKC, depois de anos pouco produtivos, com muitas lesões, em New Orleans.

Naquela campanha, Carter tomou uma decisão que se tornaria extremamente controversa e, de certa forma, o empurraria anos mais tarde para fora de Toronto. Em plena semifinal de conferência com o Philadelphia 76ers de Allen Iverson, decidiu viajar para Chapel Hill para receber seu diploma universitário, por North Carolina. Precisamente no mesmo dia de um eletrizante Jogo 7, 20 de maio de 2001. A partida derradeira foi decidida apenas no último segundo, e com posse para o Raptors. Carter pediu a bola, fez a finta e foi para o chute. Deu aro, batendo na parte de trás. Tivesse acertado, seria uma jornada perfeita para qualquer marketeiro da liga: imagine só, você não só estava falando de um superastro em quadra como de um aluno comprometido. Mas não aconteceu, e, de modo inevitável no mundo esportivo, o ala passou a ser questionado com frequência. A equipe ainda voltou aos playoffs em 2002, mas caiu diante do emergente Detroit Pistons que ganharia o título dois anos depois. Seria ladeira abaixo a partir daí, e a amargura da torcida, as derrotas e um ressentimento retribuído por Carter resultaram numa troca do astro com o New Jersey Nets na temporada 2004-05.