Vinte Um

Brasil faz péssima apresentação e perde para o Uruguai pela estreia

Giancarlo Giampietro

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É, a seleção brasileira tem sempre a chance de reagir. Restam mais três partidas pela primeira fase da Copa América. Mais três oportunidades para o time apagar a péssima impressão deixada por sua estreia desta segunda-feira contra o Uruguai. Três chances também para tentar resgatar a fagulha que vimos durante o Pan. Numa derrota por 71 a 57, com uma péssima apresentação, muito pouco, ou quase nada deu certo. Foi uma derrota de certa forma acachapante.

Nos amistosos e na Copa Tuto Marchand, você dá um desconto. Pode-se bater o pé e dizer que, quando uma seleção vai para a quadra, não existe essa de teste e de observação. Mas, nas últimas temporadas de Fiba Américas, vimos que os jogos preparatórios não serviram de bom parâmetro para o que aconteceria no torneio para valer. E aí chegamos a um ponto: para os uruguaios, o torneio na Cidade do México vale muito. Para o Brasil já classificado, nem tanto. Mas, agora, com jogos oficiais, não há desculpa para apatia ou para uma apresentação como a que acabamos de ver.

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Não que tudo o que aconteça numa quadra de basquete possa se explicar por esforço, obviamente. Isso não justifica os sete lances livres a mais que os uruguaios bateram (e converteram) e até mesmo o fato raro de que tenham conseguido equilibrar a disputa de rebotes com os brasileiros (perdendo por 39 a 37). Mas ajuda a entender o fato de o Brasil ter cometido 20 desperdícios de posse de bola e acertado apenas 35% dos arremessos de quadra.

uruguai-brasil-copa-americaQuando você se depara com números calamitosos como esses, tem de ponderar o quanto o mérito está do outro lado, ou o problema está no seu próprio colo. O nível de competição é bem superior ao do Pan, individualmente, mas, no caso dessa estreia, por mais estruturado que esteja, não podemos dizer que o Uruguai sem Esteban Batista, Jayson Granger e Leandro Garcia Morales seja uma potência continental. As derrapadas vêm da combinação dos dois fatores, queda no rendimento e oposição mais dura. Fato é que o Brasil jogou de modo emperrado novamente, mantendo o padrão das últimas partidas. No ataque, os atletas até se movimentam de lá para cá em jogadas ensaiadas, mas a bola estaciona.

O retorno de Rafael Luz, que está se recuperando de uma lesão que sofreu em treinamento na Argentina, era uma esperança por maior lucidez no ataque, mas talvez seja injusto pedir muito do novo armador do Flamengo, que vai ter de recuperar o ritmo de jogo em plena competição. Contra os uruguaios, Rafael cometeu cinco turnovers e deu quatro assistências. Marquinhos, o cestinha com 21 pontos, também perdeu a posse de bola em cinco ocasiões. O ala centralizou muito o ataque brasileiro, e aí também fica a questão se isso tem mais a ver com a evidente confiança de Magnano em suas habilidades — isto é, se isso está designado –, ou se é mero produto de um time que saiu dos trilhos e acaba dependendo de iniciativas individuais lutando não só contra uma defesa adversária, mas também contra o cronômetro.

Coletivamente, a seleção se mostra incapaz de buscar cestas fáceis em transição ou próximo ao aro. Por ironia, até mesmo quando os pivôs escaparam e se colocaram em boa para finalização, acabaram falhando em conclusões individuais. O que também podemos notar é um desequilíbrio no modo como dois pivôs tão contrastantes como Augusto e João Paulo foram utilizados em determinados momentos. JP foi acionado diversas vezes em pick-and-rolls, enquanto para Lima a bola foi pingada em post-ups, de costas para a cesta — quando os dois são notoriamente mais produtivos justamente em situações inversas. Trocaram as bolas na hora de jogar com eles, o que é difícil de entender depois de tantas semanas de treino.

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Magnano também não conseguiu encontrar uma rotação que ganhe coesão ofensiva e defensiva com Marquinhos e Giovannoni, por exemplo. Os dois mais experientes, por exemplo, estavam fechando este primeiro jogo ao lado de João Paulo na linha de frente e de Rafael, voltando de lesão, e Benite no perímetro. Ok, estava difícil fazer cestas. Beeeem difícil, que era uma tristeza. Mas esse quarteto não inspira confiança nenhuma na retaguarda, por outro lado. Não seria o caso de usar Augusto com os dois alas-pivôs abertos? Coisas desse tipo vêm acontecendo em meio às diversas trocas à procura do time ideal.

Como acontece isso? Como o time pode ter rendido tão bem no Pan e agora esteja capengando? O fator motivacional não deveria, mas influencia, embora, queiramos crer, de novo, que não diz tudo. A próxima dedução apontaria para o desequilíbrio troca por Hettsheimeir e Larry por Giovannoni e Marquinhos. São atletas  de perfil muito diferentes, tanto do ponto de vista técnico como do físico, aliás. sem contar que os dois alas-pivôs estavam vindo de férias e sendo encaixados num time que estava pronto. Não quer dizer que os dois que saíram sejam superiores aos dois que chegaram. Acontece que, entre uma habilidade perdida e outra somada, a rotação entrou em desequilíbrio, fato. Sem Larry, a tendência era de que o Brasil diminuiria os minutos com dois armadores em conjunto — daí que o corte de Danilo Siqueira machuca um pouco mais, de uma outra forma que vai além da simples oportunidade desperdiçada de se dar rodagem a um jovem talento.

Para compensar, Magnano estende os minutos de Benite, que ficou em quadra por 33 minutos. Isso implica em naus desgaste para o agora jogador do Murcia, que já está cercado de enorme responsabilidade no ataque, como a segunda opção de desafogo, logo depois de Marquinhos. Benite não cria muitas situações por conta própria e precisa da ajuda dos corta-luzes e de movimentação de bola mais inteligente e precisa para receber em movimento e agredir. Não vem acontecendo, exigindo um tromba-tromba incessante para ele. Pois, depois de sua ótima exibição em Toronto, as defesas simplesmente vão fazer de tudo para tirá-lo de uma zona de conforto. Benite está sendo contestado sem parar (3-15 nos arremessos, 0-6 nos três pontos). Mas não só ele. O perímetro em geral está supercongestionado, como prioridade de qualquer adversário brasileiro. E o time de Magnano não está conseguindo buscar outras alternativas, deixando no ar já uma série de questões que podem ser respondidas durante a semana. A ver.