Boi na linha: as novas espanadas de Magnano após pedidos de dispensa
Giancarlo Giampietro
Deu boi na linha, gente. Como sempre.
Depois da conquista do Pan e de um breve momento para respiro — e alívio — pela vaga olímpica, a seleção brasileira reuniria a turma campeã para encarar uma Copa América muito interessante, pelo simples fato de esse time poder ser testado contra adversários muito mais fortes, jogando sem pressão alguma.
O grupo não será o mesmo, todavia, devido ao pedido de dispensa de Larry Taylor e Rafael Hettsheimeir. Sinceramente, não via problema algum em relação a esses desfalques. Afinal, Rubén Magnano já deve saber, nos mínimos detalhes, o que o armador do Mogi e o pivô do Bauru podem oferecer, ou não, à seleção. Já foram testados, avaliados nos mais diversos níveis. Além disso, era a chance de ver em ação Deryk, Danilo e talvez mais algum jovem pivô, quiçá Lucas Mariano — o que não aconteceu, com a convocação um tanto deslocada de Giovannoni.
Acontece que, para o treinador, a saída dos atletas não pegou nada bem. Em entrevista ao repórter André Sender, da Gazeta Esportiva, o argentino voltou a espanar ao lidar com um tópico recorrente na hora de se montar a equipe nacional. Não bastava ele se dizer ''surpreso'' uma vez, por exemplo. Não, em suas palavras, ele ficou ''muito, muuuuuuito surpreso'' com o que aconteceu. Não é a primeira vez que ouvimos essa história, e nem mesmo a segunda. Está mais para quinta, sexta vez em que atletas e clubes dão uma versão e o treinador e a seleção, outra.
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Nessa história toda, ao conflitar todos os discursos, o que fica claro em meio à confusão é que falham todos.
Os clubes não ajudam, de fato. Se há o interesse de segurar um jogador, recém-contratado ou não, jovem ou veterano, qual o problema de expressar isso à confederação, ao treinador ou ao seu torcedor? Como no caso de Mogi e Larry. O armador tinha uma contusão para ser tratada, e o clube alega que queria supervisionar o processo, embora a comissão técnica da CBB diga que não fosse nada grave — ele já está jogando normalmente pelo Campeonato Paulista, aliás. Por que esperar o fogo cruzado de críticas públicas do treinador da seleção e a matéria do companheiro Fábio Aleixo, aqui do UOL Esporte, para, aí, emitir nota oficial tentando explicar o que estava acontecendo? A apuração de Aleixo também indica que o clube também estava um tanto ansioso para colocar o norte-americano, uma grande contratação, em quadra. Numa temporada muito longa de seleções, com Pan e Copa América, não deixa de ser compreensível esse anseio. É a mesma discussão que, no futebol, acontece mensalmente a cada convocação de Dunga, gente.
Sabemos bem que o ato de se pedir dispensa da seleção brasileira é um tema ainda bizarramente espinhoso no basquete nacional. Nesse contexto, se o clube tinha alguma preocupação em preservar a imagem de seu jogador, deveria ter se antecipado e assumido essa bronca. Não fizeram, e, depois da ofensiva de Magnano, Larry se sentiu impelido a esclarecer que não foi sua a decisão pelo desligamento e que estava ''triste'' por isso. ''O clube pediu para eu me tratar lá. Fiquei triste, pois era uma coisa que não queria ter feito. É um direito do clube. Por mim eu teria continuado lá. Mas acabou se criando esta situação. Conversei com o Magnano e com a comissão técnica e disse que queriam que eu voltasse para Mogi'', afirmou.
Da parte dos jogadores, de todo modo, também falta transparência e firmeza, convenhamos. Larry, mesmo, poderia ter aberto o jogo antes, embora estivesse numa situação delicada em relação ao clube, sendo o elo mais fraco da história. No caso de Rafael, apenas uma nota oficial, sem maiores detalhes, foi emitida pelo atleta quando ele optou por abrir mão da convocação. Soube, depois, que o pivô tinha uma questão particular, de saúde particular, para ser resolvida, que realmente demandava sua seleção para além dos treinos com a seleção ou um eventual teste para um clube da NBA de que fala Magnano, forçando sua estadia em Bauru.
O que não impediu que o treinador da seleção desse sua alfinetada. ''Ainda estou esperando uma resposta, uma ligação, sobre a situação. Ele disse que faria um teste na NBA, mas ainda não deu respostas porque perguntei ‘quando é essa prova? Onde é essa prova?’ para tentar coordenar a possibilidade de ele voltar e jogar a Copa América”, relatou o técnico. Ao que o pivô respondeu: “Já conversei com o técnico e expliquei minha situação. A dispensa foi por motivos pessoais e já acertei isso com ele'', disse o pivô, via comunicado, à Gazeta.
Uma fonte próxima dessa situação assegura que o argentino tinha total ciência sobre os motivos para Hettsheimeir dizer que não poderia jogar o torneio continental e que, com suas declarações, estaria ''jogando para a torcida''. Ele não estaria necessariamente mentindo, mas omitindo algumas informações em seu discurso para mandar seu recado aos atletas e à nação — e até para manter uma certa coerência com a chiadeira de verões passados. São os ecos de 2013, quando o argentino cuspiu marimbondos depois de campanha vexatória pela Copa América. Na ocasião, generalizou em seu desabafo e acabou atingindo muita gente.
Se Magnano se sentia obrigado a reforçar a mensagem de comprometimento com a seleção, especialmente a um ano das Olimpíadas em casa, talvez houvesse outro meio de fazê-lo. E aí chegamos à CBB, que, supõe-se, deve estar a par do desgosto de seu treinador pelas dispensas e de sua necessidade de se posicionar a respeito. Nesse caso, a entidade não poderia ter assumido o controle do processo e externado essa preocupação e lamentação, mas por outros canais, de preferência mais diplomáticos?
Hã… Sim, claro. Mas esta é a CBB, mesmo. A confederação desacreditada e endividada que não sabe o que é assumir uma posição firme há tempos. Além do mais, internamente, não há quem possa peitar Magnano por lá. E aí o argentino volta a roubar a cena, mas não do modo como o basquete brasileiro espera.