Vinte Um

Bauru conquista 2ª taça internacional numa temporada já histórica

Giancarlo Giampietro

Bauru, Liga das Américas 2015, Rio

O jovem Ricardo Fischer e o experiente Rafael Hettsheimeir repetiram a mesma frase nas entrevistas já celebratórias em quadra: ''A gente montou um time para isso: ser campeão''.

Bem, com três decisões disputadas e três títulos na conta depois de uma vitória sobre o Pioneros, do México, pela final da Liga das Américas, parece não haver dúvidas quanto a isso.  Guerrinha tem, de fato, um elenco totalmente estrelado na mão, mas que, ainda assim, precisaria entrar em quadra e confirmar seu favoritismo. Sem problema: neste domingo, o time conquistou seu 28º triunfo consecutivo na temporada.

''Quando montamos esse time, nosso lema para a temporada era: 'Cabeça nas nuvens, pés no chão'. Estamos conseguindo nossos objetivos, mas temos de continuar trabalhando muito, com humildade e sonhando alto'', afirmou ao SporTV o treinador, que conseguiu um feito inédito: unificar os títulos tanto da LDA e da Liga Sul-Americana, adicionando também o Campeonato Paulista. Estendeu, também, a hegemonia sem precedentes dos clubes brasileiros nas disputas continentais.

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A última vez que Bauru perdeu um jogo foi para Limeira, no dia 3 de dezembro, pelo NBB. De lá para cá, conseguiu 20 vitórias pela competição continental, que se somam aos resultados positivos em toda a sua campanha pela América, o último deles por 86 a 72, contra um adversário realmente encardido.

Não foi uma final fácil para o MVP Alex e o campeão Bauru

Não foi uma final fácil para o MVP Alex e o campeão Bauru

O placar final não conta nada sobre o que foi o confronto. Uma partida tensa, muito tensa – mas bem jogada, sem aquele teatro fora de quadra com o qual já nos acostumamos em quadras brasileiras, de reclamações exageradas. A decisão ao menos não foi atrapalhada por isso, até pela ajuda de uma arbitragem bastante sóbria, que não precisa ficar ensinando nada para ninguém. Foi uma pena, porém, o público diminuto num ginásio tão bonito como o Maracanãzinho.

Aqui, o drama ficava por conta mesmo da imprevisibilidade do confronto, do mistério de não saber o que ia dar de resultado – a vantagem era de apenas três pontos ao final de três quartos, para o time brasileiro, evidentemente mais talentoso, mas que teve bastante trabalho para assegurar o troféu. Poucos atletas adversários teriam lugar em sua rotação. Mas o esporte tem dessas coisas. Coletivamente, as coisas podem se equilibrar.

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O Pioneros manteve as coisas parelhas novamente usando do expediente de faltas – foram 25 em 40 minutos, nove a mais que os bauruenses. Um estilo bastante físico que não abria muitos espaços – e, quando eles surgiram, era só descer a marreta para frear o lance. Não faz muito meu gosto, mas foi desse jeito que os caras alcançaram a decisão, derrubando o atual campeão Flamengo na semi. Num jogo duro como esse, os jogadores mais experimentados do Bauru foram fundamentais.

Hettsheimeir: 30 pontos em tiros de fora e trombadas na decisão

Hettsheimeir: 30 pontos em tiros de fora e trombadas na decisão

Alex levou o MVP com justiça, pelo conjunto da obra no Final Four, acumulando dessa vez 16 pontos, 8 assistências e 5 rebotes na final, com 6-14 nos arremessos, em 33 minutos. Mais importante que isso foi sua ainda impressionante capacidade para brecar os oponentes. O ala-armador marcou feito o garoto revelado pelo Ribeirão Preto. Prova que, para executar uma boa defesa individual, a força física pode até ajudar, mas o que conta, mesmo, é a vontade e a cabeça. Saber como se posicionar e incomodar.

Do outro lado da quadra, Rafael Hettsheimeir estava numa jornada de pura inspiração nos arremessos. Marcou 30 pontos em 38 minutos, convertendo 8-12 nos arremessos de quadra (5-8 de três pontos…) e 9-10 nos lances livres. Deu para ver que, quando o pivô pega confiança, a mecânica sai de modo bastante consistente, o arco é perfeito, e a bola cai de chuá. Ritmo, ritmo e ritmo. Não nos esqueçamos que, na temporada, até a final, o pivô havia convertido 36,3% pela Liga das Américas, enquanto, pelo NBB, tem matado 40,2%.

Na disputa pelos rebotes, completamente dominada pelos brasileiros (41 a 26, com 15 importantíssimos na tábua ofensiva), Rafael contou com uma ajuda inestimável de Murilo Becker, que conseguiu um duplo-duplo de 17 pontos e 11 rebotes em 29 minutos. O pivô pode ainda não ter recuperado sua mobilidade característica depois da última cirurgia, mas mas comprou a briga, respondendo ao jogo de contato de Justin Keenan & cia.

Murilo foi lá embaixo brigar

Murilo foi lá embaixo brigar

Se for fazer as contas, vamos ver que o trio foi responsável por 63 dos 86 pontos do Bauru, ou mais de 73%. Contra uma defesa forte e bem postada, o clube paulista não conseguiu tantos arremessos livres, terminando o jogo com 48% nos chutes em geral e 35% de longa distância – a dificuldade maior foi contra a marcação em zona, algo de certa forma surpreendente. Mas soube movimentar a bola mesmo assim, dando assistências em 24 de suas 30 cestas de quadra, um aproveitamento elevadíssimo. Ainda mais se for levar em conta que só cometeu dez turnovers – cinco deles com Ricardo Fischer, que vai ganhando os calos necessários para virar um grande armador.

Pensando em seleção, não vejo como chamar Larry Taylor neste ano e pensar em deixar o rapaz de lado. Vamos ver. Fischer terminou o jogo com oito pontos e nove assistências, algumas delas com passes bastante criativos, de muita visão. Na defesa, também fez um belo papel no quarto final. Já Larry  parece ter perdido muito de sua explosão, de seu arranque, tendo dificuldade para finalizar lá dentro (1-5 nos chutes de dois pontos), acompanhando sua já sabida deficiência nos tiros de fora (1-4).

Fischer e seus companheiros querem mais.  ''A gente quer sempre mais, não pode ficar satisfeito para isso. O time foi montado para isso: chegar a todas as finais e ser campeão'', disse Fischer ao repórter Edgar Alencar, do SporTV.  ''A gente montou um time para isso: ser campeão'', repetiu Hettsheimeir. ''Agora é pensar no NBB e vamos tentar levantar esse também.''

A temporada vai avançando, e vai ficando cada vez mais difícil de pensar num desfecho diferente.